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Análise: Dragon Ball Xenoverse 2 (Multi) te coloca no controle da história

O game, que teve uma grande melhora em relação ao seu antecessor, coloca o jogador em batalhas ao lado de Goku, Vegeta e demais guerreiros Z.

No  final da década de 1990, o horário das 18h30 criava grande expectativa entre muitas crianças e jovens, afinal, era o momento em que a TV brasileira transmitia os episódios de Dragon Ball Z. Eu me recordo como as batalhas de Goku infalivelmente se transformavam em assunto nas rodinhas de amigos que se reuniam diariamente nos intervalos entre uma aula e outra. Além de falarmos sobre as técnicas e desafios de cada luta, lembro de criar histórias alternativas e teorias malucas sobre o enredo do desenho com meus colegas. Naquela época, jamais imaginaria que em alguns anos no futuro eu realmente teria o poder de alterar a trama criada por Akira Toriyama.


O primeiro Xenoverse, lançado em março de 2015, veio com a premissa de brincar com a cronologia clássica, criando distorções nos acontecimentos originais. A ideia deu tão certo que demorou apenas cerca de um ano e meio para que o game ganhasse uma continuação: Dragon Ball Xenoverse 2 chegou para PlayStation 4, Xbox One e PC no último dia 25 de outubro. A sequência reaproveita tudo aquilo que deu certo no título anterior e corrige diversos pontos falhos, provando que a lenda das sete Esferas do Dragão ainda possui um vasto universo a ser explorado.

Imaginação me dá forças para voar

E se o Makankosappo de Piccolo tivesse acertado somente Goku, deixando Raditz vivo? É com esse cenário hipotético que a Patrulha do Tempo começa a perceber que algo de errado está acontecendo novamente. Os guerreiros têm a missão de manter o fluxo natural da história e, para isso, conseguem viajar pelas linhas cronológicas para manter a ordem. Como as coisas não vão bem, a Kaioshin do Tempo convoca seu mais talentoso recruta para investigar quem são os responsáveis pela distorção.
Falta algo nessa cena

Nesse momento, me senti o próprio Toriyama criando o personagem que seria protagonista do jogo. As possibilidades de customização são maiores do que as disponíveis no primeiro Xenoverse, com novos modelos de cabelos, formatos de rostos, olhos, narizes e bocas. Além da aparência, outra escolha importante é a da raça do guerreiro, que pode ser terráqueo, saiyajin, namekuseijin, freeza ou majin. O tipo de lutador selecionado interfere diretamente na jogabilidade. Por exemplo, os namekuseijins possuem ataques fracos, porém podem regenerar a energia baixa quando o medidor estiver reduzido. Já os saiyajins têm os golpes mais fortes, com a desvantagem de a barra de vida ser a menor de todos. Para quem estiver em dúvidas sobre qual raça escolher, é possível criar até oito personagens diferentes.

Quem jogou o primeiro Xenoverse e possui os dados salvos no console receberá a opção de importar os arquivos para o novo game. Roupas, equipamentos, algumas técnicas e itens podem ser reaproveitados, porém, o personagem criado no título anterior não será utilizado novamente. O herói que salvou Toki Toki City no passado aparecerá como um importante membro do enredo e terá participação ativa na história. Eu não consegui mandar para Xenoverse 2 o meu antigo guerreiro, pois o meu save vinha de uma plataforma diferente. Entretanto, poder ver dois lutadores criados por você interagindo com Goku e todos os seus amigos é algo bem divertido.
Mais opções para deixar seu guerreiro como você quiser

Com a minha mente vou a mil lugares

Com seu personagem criado, a aventura começa em Conton City, novo centro urbano construído onde antes ficava a Toki Toki City e que funciona como um hub que conecta todas as opções do game. O cenário principal está sete vezes maior do que o do título anterior, suportando até 300 jogadores explorando simultaneamente o jogo por seção no modo online. Quando o protagonista chega na cidade, sua primeira missão é procurar pelo Dai Kaioshin. Essa busca funciona como um pequeno tutorial de exploração em Conton, em que são apresentadas as localizações de todas as estruturas que visitaremos durante toda a jornada.

Os principais problemas que apareceram no primeiro Xenoverse dentro dessa área central foram resolvidos. A movimentação está bem fluída, logo de cara ganhamos um carrinho que aumenta a velocidade de todos os deslocamentos. Com o desenrolar da história, recebemos também a permissão de voo, fazendo com que a circulação fique ainda mais ágil. Como se já não fosse suficiente, estão espalhados em pontos-chaves da cidade pequenos robôs que te teletransportam para outras áreas. Com todas essas possibilidades, explorar Conton é uma tarefa bastante dinâmica.
Seja de carrinho ou voando, a movimentação está muito melhor

Outra mudança positiva é que o hub agora é uma área única e não mais dividida por portais. Com isso, para ir de um lado para o outro não é mais necessário aguardar pelas telas de carregamento, como acontecia no game anterior. Em um primeiro momento, fiquei bastante impressionado com a nova Conton City, principalmente pelo seu tamanho e pelas regiões que fazem referências às ambientações clássicas do anime/mangá. Porém, com o desenrolar da jogatina, fui sentindo que a distribuição dos elementos na cidade está um pouco desbalanceada, com muita coisa concentrada no sul do mapa e poucos atrativos ao norte. A sensação que temos é a de que o centro urbano acabou ficando maior do que o necessário.

Passado, presente e futuro

Sem sombra de dúvidas, o principal atrativo de Xenoverse 2 é o seu enredo, capaz de prender a atenção dos fãs de Dragon Ball por um bom tempo. A história do jogo poderia muito bem ser a de um filme ou de uma saga do anime/mangá. Mesmo aqueles que nunca tiveram contato com a obra conseguirão entender bem a narrativa, porém, esse público pode ter dificuldades em compreender algumas falas e acontecimentos. Tudo começa quando Towa e Mira retornam para causar o caos nas linhas cronológicas. Porém, dessa vez, a dupla de vilões, que foi apresentada no primeiro Xenoverse, conta com conhecidos ajudantes, como Turles e Slug, inimigos que aparecem respectivamente nos OVAs “A Árvore do Poder” e “Goku, o Super Saiyajin”.

Além do saiyajin e do namekuseijin malignos, outros antagonistas de OVAs também estão presentes na trama principal do jogo. Acredito que Xenoverse 2 foi a obra que melhor conseguiu reunir, em uma única história, tanto os acontecimentos mostrados em Dragon Ball Z quanto as batalhas detalhadas nos OVAs. O enredo só não recebeu a nota máxima porque deixou de lado alguns fatos narrados nas séries GT e Super. Do controverso Dragon Ball GT, temos apenas alguns personagens, como a Pan e os Dragões. Já do Super, são mostradas somente as duas primeiras lutas, contra Bills e Freeza Dourado.
Turles e Slug estão no time dos malvados


Confesso que fiquei bastante chateado com a ausência dos confrontos mais recentes de Dragon Ball Super. Quando Hit e Goku Black tiveram suas presenças confirmadas em Xenoverse 2, imaginei que o Torneio dos Deuses da Destruição e a ira de Zamasu estariam na jornada principal. Tanto que, na prévia do game, cheguei a afirmar que: “Fato é que o lançamento do anime Dragon Ball Super, em julho de 2015, foi a principal motivação para um novo Xenoverse. Se não fosse pelo material apresentado na nova obra, dificilmente a sequência chegaria tão rapidamente”.

Hit e Black aparecem apenas como lutadores extras, sem uma participação na história principal. Porém, acredito que há a possibilidade de no futuro ser lançado algum DLC que explore melhor esses dois personagens, assim como aconteceu com o primeiro Xenoverse, em que foi disponibilizado o conteúdo do filme “O Renascimento de F” algum tempo depois do lançamento do jogo. Mas, mesmo com a ausência desses elementos, o enredo conseguiu me surpreender positivamente, apesar da repetição de alguns itens do jogo anterior. A história está bem mais profunda e há uma maior envolvimento dos sentimentos dos personagens. Posso afirmar que, para quem é fã de Dragon Ball, vale a pena investir no jogo só para acompanhar sua trama.

Sai daí magnífico poder agora

As mecânicas de combate de Xenoverse 2 são extremamente semelhantes às do seu antecessor. As batalhas acontecem em grandes arenas abertas e o jogador pode correr ou voar na direção que bem entender. A lista de técnicas do protagonista pode ser personalizada e adaptada de acordo com o gosto de cada jogador. Isso deixa o personagem principal ainda mais próximo de quem o controla.
Batalhas estão mais intensas


Durante as lutas, é preciso ficar atento a três barras que ficam no canto superior esquerdo da tela. A primeira é a de vida; a segunda é a de Ki, que mostra a energia para ataques especiais e que é carregada conforme acertamos o inimigo ou quando recebemos danos; já a última é a de vigor, usada para desaparecer e evitar combos dos rivais, ou voar com uma velocidade maior. Se essa última barra se esgotar, seu lutador ficará cansado e com a guarda aberta.

O sucesso nas batalhas, que estão bem mais rápidas se comparadas com as do game anterior, depende de boas combinações de golpes físicos e especiais. Um Kamehameha disparado no momento errado pode abrir a sua defesa e dar ao oponente a chance de revidar com um ataque ainda mais forte. Os comandos não são difíceis de serem dominados, a curva de aprendizado é bem suave e jogadores de qualquer nível conseguem rapidamente chegar a um nível competitivo.

A grande novidade nas lutas é a possibilidade de seu personagem se transformar. Quando o guerreiro for um saiyajin, é possível aprender com Vegeta a transformação em super saiyajin para usá-la em momentos cruciais dos confrontos, tornando o seu personagem ainda mais forte. Dependendo do nível da sua barra de Ki, a transformação poderá ser a de um super saiyajin 1, 2 ou 3.
Super saiyajin nível 3


Em  certos momentos, outro inimigo que você terá que enfrentar é o movimento das câmeras. Como as lutas ocorrem em grande velocidade, a tela encontra uma certa dificuldade em acompanhar os goles de vez em quando e tudo fica tremendo, o que traz um certo potencial para atrapalhar bastante.

Além de lutas um contra um, é possível reunir vários guerreiros em batalhas em grupo. Dependendo do modo de jogo, seus aliados ou inimigos serão controlados pela CPU ou por outros jogadores pela rede. Fugindo um pouco dos duelos clássicos, outro tipo de missão bastante comum é a de explorar o cenário em busca das Esferas do Dragão. Nesses casos, o objetivo é encontrar os objetos o mais rápido possível com o auxílio do Radar do Dragão. Para complicar ainda mais, existem inimigos que te perseguem durante a procura. Essas fases de caça às esferas são divertidas no começo, porém, acabam se tornando bastante repetitivas e ficam maçantes depois de um certo tempo.

Muito além da Genki Dama

Cansou de socar o Freeza ou o Cell na trama principal? Sem problemas, Xenoverse 2 oferece diversas outras atividades ao jogador. Alguns modos foram trazidos do primeiro game, como as batalhas online e as missões paralelas. Os confrontos pela internet contra pessoas do mundo todo costumam ser bastante desafiadores, ainda mais quando as partidas são ranqueadas. Já as missões paralelas são interessantes até certo ponto, pois apresentam diversas opções de batalha distribuídas em diferentes níveis de dificuldade. Entretanto, como existem 100 dessas missões, elas acabam se tornando bastante repetitivas.
Alguns fatos do GT estão nas missões paralelas

A principal novidade da sequência é a academia do patrulheiro. Nessa escola, os personagens de Dragon Ball recebem o protagonista como um aprendiz e, dependendo das habilidades do jogador, ensinam as suas famosas técnicas, que posteriormente poderão ser aproveitadas em todas as demais lutas. Outro modo interessante são as fendas do tempo, elas recriam cinco cenários: Corporação Cápsula, Casa do Mr. Satan, Casa do Boo, Nave do Freeza e Casa do Patriarca de Namek. Em cada um desses locais existem tarefas que precisam ser cumpridas, trazendo itens raros como recompensa. Dependendo da raça do personagem, os itens podem ser melhores ou piores. Por exemplo, um majin recebe uma maior quantidade de materiais na Casa do Boo, enquanto que um humano tem benefícios ao visitar o campeão do mundo, Mr. Satan.

Kuririn e Yamcha, de vez em quando, convidam o seu personagem para um treinamento especial. Enquanto o carequinha pede para que o protagonista faça entregas de leite (achei um fanservice lindo), o cabeludo espalha pedras por Conton City que precisam ser recuperadas. Essas tarefas rendem poucas recompensas, mas servem para explorar um pouco melhor o mapa.

Por fim, a última grande novidade são as missões especiais que são realizadas em grupos de seis guerreiros e que têm regras diferentes, como o inimigo controlando sua mente. Nesse modo, seus aliados podem ser controlados pela CPU ou por outros jogadores online. Pela minha própria experiência, achei bem mais divertido optar pelo auxílio de outras pessoas, pois a inteligência artificial nem sempre é muito “inteligente” e pode complicar a tarefa com atitudes inexplicáveis, como deixar você apanhando e não fazer nada para ajudar.
Repetindo o treinamento de Mestre Kame

Vegeta, olha bem!

Se Xenoverse 2 fosse um saiyajin, sua cauda seria a dublagem e a localização para o português. As vozes vêm, por padrão, configuradas para o idioma inglês, o que já não é bom devido às falhas de sincronia. São vários os momentos em que vemos os personagens mexer a boca sem sair nenhum som dela, ou então os ouvimos dizer algo sem nem movimentar os lábios. Por sorte, é possível alterar o idioma para o japonês, o que faz com que o sincronismo da dublagem seja perfeito. Outra vantagem na mudança da língua é que os dubladores japoneses originais do anime foram escalados para o jogo. Seria interessante se o mesmo ocorresse com os brasileiros, já imaginou o Wendel Bezerra gritando Kamehameha cada vez que o golpe fosse usado por Goku? Quem sabe em um próximo jogo...

Outro problema de comunicação são as legendas em português, que apresentam diversos erros absurdos. Parece que alguém usou o Google Tradutor para fazer a localização para o nosso idioma, fazendo com que Cell virasse Célula, por exemplo. Os erros não param por aí, o personagem que eu criei era do gênero feminino, mas as legendas se referiam a ela como se fosse um homem, inclusive chamando-a de “garoto” em alguns momentos. Como se já não bastasse, alguns textos aparecem em espanhol ou italiano.
Posso te chamar de Célula?

Batalhas nem tão violentas assim...

Explosões de Ki, socos capazes de derrubar montanhas e velocidade que deixa o lutador invisível parece que não são suficientes para deformar os campos de batalha. Por mais violentos que os confrontos sejam, os cenários quase não sofrem alterações e os poucos buracos que surgem logo desaparecem. A grande resistência da paisagem é um detalhe pouco importante, mas que acabou me incomodando, ainda mais quando lembro que no anime/mangá várias rochas eram destruídas quando alguém era arremessado na direção delas.

Ainda não atingi minha forma perfeita

Comparando o primeiro jogo da série com essa sequência, não é difícil concluir que o novo game conseguiu superar o seu antecessor. Os modos de jogo que foram adicionados, somados àqueles já consagrados, conseguem entreter e divertir por boas horas, porém, em um determinado ponto, começam a ficar um tanto repetitivos. A sensação é a de que faltou um pouco de ousadia para apresentar algo diferente, apostando em mais novidades como o treinamento com as latas de leite que é uma referência bacana ao Dragon Ball clássico. Contribui também para o lado negativo a ausência de mais fatos e personagens de DB Super.

Porém, mesmo com esses detalhes, Dragon Ball Xenoverse 2 é um jogo que deve obrigatoriamente ser experimentado por quem é fã de Goku. O enredo por si só é uma obra muito bem trabalhada e que merece todos os elogios. Além disso, as batalhas aceleradas e os belos gráficos fazem com que o jogador sinta-se dentro da história. Com tudo isso, o game tem espaço garantido entre os que melhor transportaram as memoráveis lutas do anime/mangá para o universo dos videogames.
Posso ficar ainda mais forte

Prós

  • Excelente enredo;
  • Mecânicas de combate bastante simples;
  • A movimentação em Conton City foi melhorada;
  • Novos modos de jogo bastante interessante;
  • Personalização ainda mais profunda.

Contras

  • Problemas nas dublagens e legendas;
  • Câmera com movimentos estranhos em alguns momentos;
  • Alguns modos, como as missões paralelas, acabam sendo repetitivos;
  • Faltou explorar melhor o universo de Dragon Ball Super.
Dragon Ball Xenoverse 2 - PS4 / XBO / PC - Nota: 9.0

Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Érika Honda

É jornalista e obcecado por games (não necessariamente nessa ordem). Seu vício começou com uma primeira dose de Super Mario World e, desde então, não consegue mais ficar muito tempo sem se aventurar em um bom jogo. Diretor de Redação do Nintendo Blast.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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