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Dragon Ball Xenoverse (Multi) é você brincando no seu quintal

Jogo da Namco Bandai reforça toda a sensação infantil de brincar de Dragon Ball e lutar ao lado de Goku e amigos.

Nostalgia é um sentimento mais forte que reviver o passado. Ela é uma idealização daquilo que foi vivido, uma lembrança adaptada dos melhores momentos de nosso passado. Às vezes este sentimento cria julgamentos irreais, como afirmar que Battletoads (NES) em algum momento foi bom (falo mal de Battletoads sempre que possível, convivam com isso). Exatamente por isso, afirmo que Shovel Knight (Multi) não é nostálgico. Idem para Rogue Legacy (Multi). Embora sejam fortemente inspirados no passado, esses jogos não são uma idealização do passado. Pelo contrário, eles pegam o melhor do Game Design das últimas décadas e o põem na prática com um visual de Pixel Art.


Um bom exemplo de jogo nostálgico é Sonic Generations (Multi). Lançado sob um ambiente de desconfiança como qualquer jogo recente do ouriço, ele busca idealizar a história da franquia apresentando um passado ora brilhante, ora fracassado, como algo que deve ser revivido. Sua narrativa, a propósito, é a de uma quebra na linha do tempo como justificativa para revisitar o tempo pretérito. Podemos dizer que Dragon Ball Xenoverse, em uma busca pela nostalgia, utiliza-se do mesmo recurso narrativo.

Uma brincadeira de infância

Decerto, eu e grande parte dos meus contemporâneos, passou o tempo fora da escola fingindo ser um cavaleiro do zodíaco, um jogador de Super Campeões ou um Saiyajin. Aí então fingíamos que havia alguma "treta" na linha do tempo original para que a história precisasse da gente. A premissa de Dragon Ball Xenoverse é exatamente essa: criar uma imersão de modo que o jogador seja realmente aquele personagem imaginado e que tenha sua importância na história por causa de uma distorção dos eventos.
Fã emocionada com o jogo
Uma das grandes características que desviou atenção para o jogo foi a capacidade de criar seu próprio personagem. É possível escolher entre as raças Humana, Saiyajin, Majin, Frieza e Namekuseijin, todas com alto grau de liberdade na customização. Não é um recurso inédito em jogos da série: lançado em 2010, Dragon Ball Online (PC) foi um MMORPG lançado com o mesmo propósito. Curiosamente, Xenoverse foi anunciado inicialmente no domínio correspondente a este jogo.

Houve todo um cuidado estético para dar a sensação de que estamos dentro do anime. A arte do jogo é toda baseada nos traços, com um trabalho bem feito a ponto de desejar que o desenho fosse refeito com esta qualidade gráfica. A dublagem original — obrigatória em jogos da mesma origem — está presente em inglês e japonês. Infelizmente, para nós, a dublagem brasileira não está presente.

Foco no combate

O combate é, sem dúvidas, o principal atrativo de jogos de Dragon Ball. É fácil notar o esforço da equipe de desenvolvimento para tornar os momentos de luta agradáveis, e houve sucesso nisso. A movimentação é fluída, dinâmica e, principalmente, todos os comandos são úteis. Em resumo, as lutas de Dragon Ball Xenoverse são o que se espera de lutas em um jogo de Dragon Ball. Isso é importante, porque a maior parte do tempo do jogo será gasta lutando.

Essa qualidade torna a ação de controlar o personagem gostosa, então, é bem agradável sair voando por aí sem rumo e gastando ki. Contudo, por algum motivo que não faz sentido, a movimentação do personagem muda completamente fora do modo batalha. Explico: embora seja um jogo fundamentalmente de ação e combate, fora das lutas o jogo é um RPG. Então existe uma área onde é possível interagir com NPCs, comprar itens e habilidades novas e se inscrever em torneios e side quests. Nessa área nós não podemos voar ou realizar qualquer outra ação que é possível na luta. Até o pulo está em um botão diferente!
Pode parecer um detalhe pequeno, mas, em um jogo preocupado em ter um sistema de combate imersivo, travar bruscamente a movimentação do jogador em uma área em que se passa boa parte do tempo é uma quebra forte na experiência imersiva proposta, além de ser confuso inicialmente.

Por último, é importante destacar que, apesar da qualidade das lutas ser ótima, a curva de crescimento não possui a mesma qualidade. Por exemplo, após vencer a saga Ginyu deparamo-nos com uma luta contra um Freeza muito mais poderoso, de forma que fica impraticável prosseguir sem partir para missões paralelas. É relevante reforçar que essa diferença de poder é verossimilhante ao que acontece no cenário de Dragon Ball, mas isso poderia ser melhor adaptado para não quebrar a progressão do jogo.

É fato que já existiam erros da mesma dimensão em outros títulos da série, mas só era aceitável no RPG Dragon Ball Z: Super Saiya Densetsu (SNES), por um padrão da época (que, felizmente, evoluiu). Por consequência disso e por outras decisões (como, em geral, personagens de mesmo nível causarem pouco dano entre si), surge outro fator negativo nas lutas: o tempo longo delas. Não é incomum levar 20 minutos em uma única luta e perdê-la próximo de concluir porque um dos critérios para a vitória era manter um aliado vivo.

Tudo tem seu preço, e isso é bom

Conforme dito anteriormente, a customização é um dos pontos fortes de Dragon Ball Xenoverse e não apenas pela liberdade oferecida para se criar seu personagem. É possível obter ou comprar peças de roupa utilizadas por outros lutadores da série que influenciam diretamente nos atributos do personagem. Dentre eles, a roupa do Raditz, por exemplo, garante mais poder nos ataques básicos, mas há uma perda nos ataques especiais. Da mesma forma, é possível obter novos poderes especiais e itens que auxiliam a batalha.
Passa realmente por toda a história
Vencer missões paralelas é também uma das formas de se obter utilitários de customização. Em geral, são lutas que acontecem na história, mas que não encaixaram na trama principal do jogo. Ao se cumprir certas condições, é possível liberar utilitários mais raros. Em um tipo particular de missão paralela, é possível ser discípulo de um dentre diversos personagens principais da história, e obter itens deles (por exemplo, ao vencer seu mestre Vegeta pela primeira vez, você se torna capaz de utilizar o Gallick Gun). Outra forma de obtê-los — mais apropriada para os menos pacientes — é através da compra, com o dinheiro obtido nas lutas.

Sensação de missão cumprida

Apesar de problemas importantes no núcleo do design do jogo, Dragon Ball Xenoverse é bem competente no que se propõe. É necessário tempo e paciência para aproveitar tudo que o jogo tem a oferecer. Diferente de diversos títulos AAA recentes, que tentam incluir muita coisa desnecessária ao jogo, tudo presente em Xenoverse é bem utilizado.

Sucesso!
No geral, os desenvolvedores não foram capazes de resolver os principais problemas de jogos da marca, em especial o de equilíbrio e ritmo de jogo, mas também não pareceram dispostos a isso. Sem ser um jogo excepcional, Xenoverse conhece bem suas limitações e, em especial, cumprem a missão nos inserir no cenário de DBZ como sempre queríamos na nossa infância.

Prós

  • Modo de batalha atrativo e bem feito
  • Customização rica e útil ao jogo
  • Imersão no cenário de Dragon Ball Z
  • Direção de Arte coerente com o anime

Contras

  • Lutas excessivamente longas
  • Perda de liberdade fora do cenário de luta
  • Progressão de jogo desequilibrada
  • Falta da dublagem brasileira
*Versão de XBO utilizada para a análise. 
Dragon Ball Xenoverse — PC, PS3, PS4, X360, XBO — Nota: 8.0
Revisão: Alan Murilo
Capa: Stefano Genachi

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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