Resenha

The Witcher: O Sangue dos Elfos traz mudanças e mais aventuras

O terceiro livro da série tem mudanças na narrativa e foco da história, resultando em uma experiência diferente.

A série de livros The Witcher tem como foco o caçador de monstros Geralt de Rívia e suas aventuras em um mundo fantástico. Os dois primeiros volumes consistiam em coleções de contos, mas tudo muda na terceira obra, The Witcher: O Sangue dos Elfos. Esse livro tem formato de romance e muda um pouco o foco da história: agora Ciri e os conflitos desse mundo são o centro das atenções.

De conto para romance

Os livros O Último Desejo e A Espada do Destino serviram como introdução ao universo de The Witcher e seus principais personagens. Conhecemos o bruxo Geralt de Rívia, entendemos as particularidades desse mundo repleto de monstros e outras criaturas, e tivemos deslumbres de algumas questões sociais e conflitos. Mas, por se tratarem de compilações de contos, a sensação era a de ler histórias desconexas.

Já em O Sangue dos Elfos, o autor aproveita toda a ambientação construída nos livros anteriores e investe no formato de romance, com uma trama mais elaborada. A história foca em Ciri, uma garota que foi prometida à Geralt como pagamento. Além de ser tema de uma grande profecia que promete mudar o mundo, ela parece ter grandes capacidades mágicas e é também a sucessora do trono de Cintra — um país localizado em posição estratégica de um conflito militar, entre o reino de Nilfgard e outros vários reinos. Geralt vai fazer de tudo para proteger a garota nesse ambiente de guerra, enquanto tenta manter a neutralidade natural dos bruxos.

Ciri, a garota do destino

Mesmo não sendo diretamente a protagonista, tudo gira em torno de Ciri — afinal, praticamente, o mundo todo está atrás dela. Por conta disso, Geralt é quase um coadjuvante: ele mal se desenvolve como personagem, sendo que nem caçadas a monstros são retratadas na história. O autor aproveita, então, para introduzir e desenvolver os vários outros personagens desse universo.
Ciri e Triss Merigold
O principal deles é a própria Ciri. É difícil não gostar da garota: ela é divertida, curiosa e de personalidade forte. Suas cenas são muito interessantes por conta de seu grande carisma e ousadia. Outra ótima personagem é a irreverente feiticeira Triss Merigold, em especial sua relação com Geralt — ela é praticamente o contrário de Yennefer. Outros vários nomes como Dijkstra, Yarpen Zigrin e Philippa Eilhart aparecem e têm grande importância para a trama. Muitos trechos são protagonizados por estes outros personagens, o que ajuda a desenvolvê-los ainda mais.
— Será que você compreende agora em que consiste a neutralidade, que tanto a agita? Ser neutro não significa ser indiferente e insensível. Não devemos matar sentimentos dentro de nós mesmos. Basta matar em nós o ódio. Entendeu? (Pág. 164)

Um mundo em conflito

Boa parte da motivação da história são os vários problemas e conflitos que estão acontecendo nesse mundo. Um reino chamado Nilfgard está em guerra contra vários outros reinos, o que causa vários problemas. Além disso, existe a explosão dos problemas sociais entre humanos e inumanos: nos outros livros, o preconceito e suas consequências eram somente mencionados; já aqui, o confronto é real e sangrento, sendo a segregação bem clara. É fácil se perder no meio de tantos nomes, convenções e discussões entre monarcas — prepare-se para ficar um pouco confuso.

Fora isso, O Sangue dos Elfos expande mais um pouco o universo da série. Um dos melhores pontos é o treinamento de Ciri em Kaer Morhen, a fortaleza e sede dos bruxos. Geralt a leva para lá e faz a garota aprender algumas coisas sobre o seu ofício. É interessante conhecer outros bruxos, seus métodos e alguns poucos detalhes de suas origens e treinamento.

Narrativa truncada

A narrativa do livro é leve e instigante. O autor Andrzej Sapkowski foca em um personagem diferente de cada vez, o que traz variedade de pontos de vista e uma visão geral da situação — por mais que em um primeiro momento isso pareça um pouco confuso, mas logo as coisas fazem sentido. O autor usa de recursos interessantes, como revelar pequenos detalhes das cenas só no final dos trechos, deixando a leitura surpreendente. Já a extensa quantidade de diálogos deixa a leitura bem ágil.

Mas o livro tem um problema um pouco irritante: é tudo meio truncado, parece que são contos longos costurados e não um romance propriamente dito. A transição entre os pontos de vista é brusca e a sensação, em vários momentos, é de algo meio desconexo. Por conta disso, o ritmo é um pouco desequilibrado, com cenas de clímax no meio do livro e trechos finais lentos e inconclusivos. A ausência de uma conclusão é justificável pelo fato da história continuar nos livros seguintes, mas, mesmo assim, isso causa estranheza. Mesmo com os problemas, é difícil não querer saber o que vai acontecer em seguida.

Uma ótima história

O Sangue dos Elfos traz uma ótima mudança à série The Witcher. O livro conta com uma narrativa bem distinta dos anteriores e é uma leitura envolvente por conta de seu estilo ágil e história interessante. É bom também conhecer de perto alguns personagens e entender melhor alguns temas importantes desse mundo. O principal problema fica por conta da progressão meio truncada e abrupta, o que pode causar confusão. De qualquer maneira, O Sangue dos Elfos é uma ótima leitura, tanto para os fãs da série quanto para outros eventuais leitores.

Revisão: Jaime Ninice

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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