Resenha

The Witcher: A Espada do Destino mostra mais aventuras do bruxo Geralt

A segunda coleção de contos expande o universo da série e aprofunda a relação entre os personagens.


Geralt de Rívia é um bruxo: um humano que passou por várias mutações para conseguir caçar monstros e outros perigos. O personagem é o protagonista da série de jogos The Witcher, que é baseada em uma série de livros escritos pelo polonês Andrzej Sapkowski. A Espada do Destino é o segundo livro da série e tem como foco mais aventuras de Geralt, ao mesmo tempo que mostra mais um pouco desse mundo inusitado e de seus habitantes.

Novamente na companhia do bruxo

A Espada do Destino é a segunda compilação de contos do universo de The Witcher. Na Polônia, ele foi o primeiro livro da série publicado, por mais que cronologicamente suas histórias aconteçam depois dos fatos de O Último Desejo. No Brasil os lançamentos seguiram a ordem cronológica da história e, realmente, é muito melhor seguir essa ordem — a trama fica mais clara e personagens e fatos importantes são apresentados no momento certo.

A escrita de Sapkowski é leve e clara, com uma narrativa bem envolvente — por conta disso, a leitura flui fácil. Assim como o anterior, o segundo livro continua a desconstruir algumas fábulas famosas de forma sutil, com resultados surpreendentes. Os contos abordam assuntos variados e são bem distintos, sempre tendo como ponto em comum o bruxo Geralt de Rívia. Algumas histórias são mais complexas do que aparentam e contam até com pequenas subtramas — felizmente o autor consegue amarrar tudo muito bem e praticamente nada fica sem resolução.
Aproveitando o sucesso de The Witcher 3: Wild Hunt (Multi), a editora WMF Martins Fontes lançou uma nova edição dos livros. Os novos volumes têm a arte de capa baseada no jogo e mostram Geralt de Rívia em variadas situações. O papel do miolo e da capa também são diferentes, enquanto a tradução está intocada. Em um primeiro momento, não tinha gostado do novo visual dessa edição, mas depois de ver os livros pessoalmente, eu gostei muito: as artes são bonitas e o acabamento é ótimo. Só faltou mesmo mais variedade nas ilustrações — elas são todas muito parecidas. A editora continuará comercializando a edição anterior em paralelo à versão baseada no jogo.

Estreitando relações

Enquanto O Último Desejo era uma introdução ao universo e aos personagens, mostrando como funcionava esse mundo e como as pessoas reagiam aos bruxos, A Espada do Destino foca nas relações de Geralt com outros personagens, em especial Jaskier e Yennefer. É aqui que vemos fortalecer a amizade entre o bruxo e Jaskier, e conhecemos ainda mais o bardo — que ainda continua mulherengo, escandaloso e divertido. Já a história de Yennefer é um pouco mais complexa: acompanhamos o relacionamento complicado da feiticeira e do bruxo e conhecemos também um pouco de suas motivações e objetivos.

Outro ponto interessante é o encontro de Geralt e Ciri. No livro anterior conhecemos as origens da garota, já em A Espada do Destino vemos o primeiro encontro entre os dois. São extremamente interessantes e curiosas as circunstâncias desse encontro, assim como a reação de Geralt — ele age de uma maneira que eu realmente não esperava. É também fácil perceber a importância de Ciri, já que a garota é um dos temas centrais dos livros seguintes.


A personalidade de Geralt de Rívia também se desenvolve bem no decorrer dos contos. O personagem continua leal e justo, mas em alguns momentos é possível observar a indiferença característica dos bruxos. Essa mistura de questões traz uma dualidade única e deixa Geralt ainda mais interessante. Isso fica ainda mais aparente em momentos em que o passado e as origens do bruxo são explorados.
— Você é sensível — falou Essi em voz baixa — No fundo da sua alma, você está cheio de inquietude. Não me engana sua expressão pétrea nem sua voz pausada. Você é sensível, e é exatamente essa sua sensibilidade que o faz temer que aquilo que você enfrentará com uma espada na mão poderá ter lá as próprias razões, levando, com isso, uma vantagem moral sobre você…
— Não, Essi — respondeu Geralt lentamente — Não procure em mim um tema para uma balada sentimental, uma balada sobre um bruxo com dramas de consciência. É possível que meu desejo fosse esse, mas a verdade é outra. Todos meus dilemas morais são resolvidos por meu código de conduta e pela maneira como fui educado… ou adestrado. (Pág. 220)

Universo complicado

Geralt é um caçador de monstros, mas ele prefere não matar certas criaturas. Os motivos dessa atitude são explorados sutilmente em algumas histórias da compilação, mas sem deixar muito claro os reais motivos disso — em um conto específico é possível ver dicas de uma motivação por trás, algo que vai além da simples necessidade de dinheiro. Tudo isso é exibido de forma ambígua e incompleta, sem deixar de ser instigante. O mais curioso é que pouquíssimos momentos das histórias são focadas em Geralt caçando alguma criatura.

Outro ponto interessante é a complexidade desse mundo. O Último Desejo apresentava o universo de The Witcher como uma terra na qual nem tudo é o que aparenta, ou seja, monstros de aparência pavorosa não são necessariamente malignos e vice-versa. Já A Espada do Destino explora também questões sociais e outros problemas. Um exemplo forte é a relação entre as Raças Antigas (compostas de criaturas como elfos, dríades e outras entidades) e os humanos: os dois grupos não conseguem lidar bem com suas diferenças, por isso, a tensão é constante. O autor explora isso de maneira sutil e é possível sentir que um conflito está bem próximo.

— Pare com isso. Para ser totalmente sincero, eu devo mais a você do que você a mim. Lá, naquela ponte… Afinal, esse é meu trabalho, Yurga, minha profissão. Eu defendo as pessoas em troca de dinheiro, e não por ter bom coração. Yurga, você não ouviu o que as pessoas falam dos bruxos? Que não se sabe quem é pior: se eles ou os monstros que eles matam… (Pág. 360)

Uma ótima compilação de aventuras

A Espada do Destino continua muito bem as aventuras do bruxo Geralt de Rívia. Esse livro, que se trata de um conjunto de contos, tem personagens carismáticos, tramas interessantes e uma narrativa envolvente — é difícil não querer saber o desfecho dos vários contos. As histórias também fazem um ótimo trabalho ao expandir o universo da série. O defeito fica por conta da natureza truncada das aventuras: cada conto é bem distinto e não existe uma história de interlúdio para amarrar tudo e ajudar na construção da linha do tempo. Com tantas qualidades, A Espada do Destino tem tudo para agradar aos fãs da série e eventuais leitores.

Revisão: Luigi Santana
Capa: Diego Migueis

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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