Deadly Premonition (Multi), um misterioso caso de esquecimento

De uma maneira única, o jogo da Access Games consegue combinar terror e investigação em mundo-aberto repleto de personagens carismáticos e envolventes.

em 16/04/2015

Dirigido por Hidetaka Suehiro, o mesmo diretor de D4: Dark Dreams Don’t Die (XBO), Deadly Premonition (Multi) ou Red Seeds Profile, como é conhecido no Japão, foi desenvolvido pela Access Games e distribuído pela Rising Star Games. Seu lançamento ocorreu em 2010, exclusivamente para Xbox 360 e PlayStation 3 e apenas em 2013, com o lançamento de sua nova versão, Deadly Premonition: Director’s Cut (Multi), o game também deu as caras no PC. Essa nova versão do jogo melhorou a jogabilidade, os gráficos foram remasterizados (HD), foi acrescentado suporte ao PlayStation Move, além de vários conteúdos exclusivos para aqueles que fizeram sua pré-compra. Todavia, tanto em 2010 quanto em 2013, o game não foi bem-sucedido comercialmente no Ocidente, mas, ainda assim, ele foi muito comentado em fóruns e pela internet afora, o que, posteriormente fez com que ele se torna-se um cult.

A história do game se passa na fictícia cidade de GreenValle, Washington, onde o recém-chegado agente especial do FBI, Francis York Morgan, investiga o misterioso assassinato de Anna, uma garota de 18 anos, cujo corpo foi encontrado em circunstâncias estranhas. Ao chegar à cidade, o agente York sofre um acidente inesperado e se depara com criaturas fantasmagóricas, inicialmente chamadas simplesmente de They (Eles). O interessante é que em quase todas as ocasiões nas quais essas criaturas aparecem, o Agente está sozinho ou afasta outras pessoas para isso, levando o jogador a pensar na possibilidade de que esses seres sejam apenas uma fantasia da mente de York. O fato é que, pelo menos no começo, o agente do FBI decide não contar a ninguém o que realmente está acontecendo, pois tem receio de que aqueles que souberem enlouqueçam. Mas o problema é que o próprio jogador também fica perdido, sem saber o que está ocorrendo.

E então Zach... O que você acha?

Deadly Premonition se destaca por ser um dos poucos jogos de terror de mundo-aberto, permitindo explorar toda cidade de GreenValle de maneira não linear. Para isso, George Woodman, o xerife da cidade, lhe dá uma espécie de chave-mestra que permite abrir e dirigir todos os veículos policiais da cidade, o que é de grande ajuda, pois, apesar de, na teoria, GreenValle ser uma cidade pequena, há muito quilômetros a serem percorridos, muitos lugares e pessoas para serem visitados.

O sistema de combate do jogo é mediano. Não é possível andar e atirar ao mesmo tempo, nem ao menos correr segurando uma arma, é preciso sempre desembainhá-la no momento de utilizá-la e logo depois ela é guardada novamente, o que nesse quesito torna a jogabilidade do game muito estática e travada. Há também o problema da munição da arma principal do Agente, a 9mm Hand Gun FBI Custom I (Pistola 9mm do FBI customizada), que é infinita e, apesar dela estar longe de ser a melhor arma, isso influencia negativamente o clima do jogo. Em outras palavras, esses problemas prejudicam muito a jogatina, mas isso também nos leva a uma questão interessante: será que as mecânicas de combate são tão importantes para um jogo onde o foco são a investigação, o mistério e o terror? Será que os últimos jogos da franquia Resident Evil (com exceção da série Revelations) se beneficiaram focando mais em novas mecânicas de batalha do que no terror de sua história?

Prosseguindo com as mecânicas do game, haverá momentos em que você terá que escolher entre matar as criaturas, conseguindo assim itens e dinheiro, ou simplesmente correr pela sua vida. O jogo deixa isso claro logo nos primeiros minutos de gameplay.

Entretanto, esses monstros não são os únicos inimigos do jogo, há ainda outros inevitáveis, como a fome e a sede. Da mesma maneira que ocorre com os atuais jogos de sobrevivência, York terá que estar sempre bem alimentado e com seu sono em dia, o que não é difícil visto que há vários doces, sanduiches e cafés, que podem ser tanto encontrados aleatoriamente pela cidade, como comprados em estabelecimentos e máquinas específicas.

Diferentemente de outros jogos com a temática detetive, aqui há de fato um sistema de investigação. Há momentos do jogo nos quais o agente do FBI se deparará com uma cena de crime e não poderá prosseguir até que encontre todas as pistas. O grande diferencial desse sistema é, com certeza, a reconstituição mental que York faz do ocorrido, sendo que esta ação pode ser feita a qualquer momento do jogo, mas, é claro, que quanto mais provas e cenários investigados, menos lacunas e mais completa será a reconstituição.

Outro ponto forte do jogo são seus personagens extremamente carismáticos e até mesmo um pouco excêntricos, como o fiel assistente de xerife, Thomas MacLaine. Sempre se comportando de maneira tímida e insegura, esse policial passa seu tempo livre como bartender e cozinheiro do Galaxy of Terror, um dos pubs de GreenValle, onde produz maravilhosos quitutes capazes de conquistar até os gostos mais exigentes, como acontece com York, logo quando eles se conhecem.

Quanto aos gráficos, não tenho nada contra as gerações anteriores ou mesmo com relação aos jogos pixelados, mas o problema é que em 2013, na versão Director’s Cut foram prometidos gráficos remasterizados em HD, entretanto, apesar das cores terem ficado mais vivas comparadas à versão anterior, o jogo graficamente ainda parece do início da geração passada, cheio de serrilhados. Na versão de PC, as coisas foram ainda piores, o jogo veio repleto de bugs, o que impossibilitou qualquer jogatina em suas primeiras semanas, além disso, não há qualquer opção gráfica, de modo que o game só roda em 720p, sem qualquer tipo de filtro ou customização. Hoje em dia, por outro lado, já é possível jogá-lo quase sem nenhum bug e, além disso, um fã da comunidade criou um mod chamado DPfix, que permite jogar em resoluções maiores e customizar os gráficos do jogo.

O café está esquentando


Por fim, não há como não comparar DP à cult e famosa série de TV de David Lynch, que foi exibida no inicio dos anos 90. Nesta o agente do FBI, Dale Cooper, tenta desvendar o assassinato de Laura Palmer. Coincidentemente, este crime também ocorreu em uma pequena cidade de Washington, chamada Twin Peaks, que dá nome à série. O seriado possui uma história complexa, com personagens estranhos (para não dizer excêntricos), repleta de surrealismo, mistério e terror psicológico. E as coincidências não param por aí, mas eu irei por aqui, para não dar mais nenhum spoiler desse belíssimo clássico.

Em suma, Deadly Premonition: Director’s Cut (Multi) é um dos melhores jogos a mesclar terror e investigação e, apesar disso, colocá-lo em uma categoria muito específica, também o torna interessante e distinto como poucos games de terror atualmente o são, mostrando que ele não se transformou em um clássico cult à toa.

Prós

  • História muito bem construída
  • Personagens carismáticos
  • Sistema de investigação

Contras

  • Gráfico do início da geração passada
  • Mecânicas de combate muito estáticas

Deadly Premonition: Director’s Cut — PC / PS3 / Xbox 360 — Nota: 8.0          Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Alberto Canen
Capa: Guilherme Kennio

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