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Análise: Resident Evil Revelations 2 é uma grata surpresa para a franquia

O novo título da Capcom prova que Resident Evil ainda é uma das franquias mais relevantes da indústria.


Resident Evil é uma franquia que vem se perdendo nos últimos anos. Após o lançamento de Resident Evil 4, um jogo que não apenas redefiniu a franquia, como também estabeleceu novos padrões de qualidade para a indústria como um todo, a Capcom parece ter se perdido quanto à direção que deveria dar à franquia. E não é para menos, já que o idealizador da franquia, Shinji Mikami, deixou a companhia logo após o lançamento do título.



O lançamento de Resident Evil Revelations para o ainda recente 3DS, em 2011, voltou a dar esperanças aos fãs por ser uma tentativa de retornar a franquia às suas origens. Contudo, a felicidade logo acabou com o lançamento do controverso Resident Evil 6 (Multi), que transformou o que já fora uma série de terror em algo que parecia mais um filme de ação ruim.

Após um silêncio de quase três anos, eis que a Capcom decidiu tentar de novo e lançou Resident Evil Revelations 2, sequência do jogo lançado para 3DS, constituída por 4 episódios. Não muito alardeado, o jogo chega e se consagra como o melhor da franquia desde que Mikami deixou a empresa.

Voltando aos eixos

Se Resident Evil 6 possuía um enredo megalomaníaco que se refletia nas situações bizarras pelas quais o jogador tinha que passar (nunca me esquecerei de como foi traumático dirigir aquele carro no meio do apocalipse), Revelations 2 preza por algo mais intimista e envolvente.


Passando-se entre os eventos de Resident Evil 5 e 6, a história tem início quando um grupo de pessoas que servem a Terra Save, organização não governamental que luta contra o bioterrorismo, é sequestrado e levado a uma ilha misteriosa. Entre as vítimas, estão Claire Redfield, protagonista de Resident Evil 2 e já muito conhecida pelos fãs da franquia, e Moira Burton, filha de Barry, de Resident Evil.

Sem nem saber o que está se passando, o jogador se vê no controle de Claire em um local desolado que parece uma prisão. Utilizando uma misteriosa pulseira que não pode ser retirada, a protagonista ouve gritos de socorro de Moira e corre para salvá-la. Já juntas, as duas terão que se desdobrar para escapar daquele lugar enquanto investigam o que (ou quem) as levou até lá.


Paralelamente ao que acontece com Claire e Moira, Barry também resolve ir até a ilha para salvar sua filha. Logo ao chegar, o brutamontes encontra Natalia, uma misteriosa menininha que estava vagando pela ilha. Com medo de que a garota corresse perigo, Barry decide levá-la consigo em sua missão, sem saber que a garota se tornaria peça fundamental para seu progresso.

A história, escrita por Dai Sato, responsável pelo roteiro de obras como Ghost in the Shell, Wolf’s Rain e o primeiro Resident Evil Revelations, é um dos pontos mais fortes do título. Com um progresso envolvente e diversos mistérios a serem revelados, Revelations 2 possui diversos momentos memoráveis, além de referências a vários jogos da franquia que arrancarão sorrisos de fãs de longa data da série.


Além disso, a decisão de dividir o título em quatro episódios (lançados semanalmente) se mostrou acertada, já que possibilita que o enredo tenha diversos clímaces que servem de gancho para o capítulo seguinte. Contudo, de nada valeria um bom enredo se o texto não é bem escrito. Felizmente, Revelations 2 também se dá bem neste quesito, e apresenta um texto maduro de maneira que nunca se viu na franquia, sem deixar o bom humor de lado. A habilidade da Capcom em rir de si mesma em certos momentos me fez sorrir alegremente em um jogo tenso como Revelations 2, e isso é excelente.

Balanceando as coisas

Desde 2004, um dos maiores desafios da Capcom com Resident Evil foi o de balancear os momentos de terror, mais introspectivos, com os de ação, que acabaram dominando a franquia principal em seus dois últimos jogos. Resident Evil Revelations 2 não só consegue este feito como também supera qualquer expectativa que os jogadores pudessem ter quanto ao título.

Os cenários do jogo, sempre convincentes, criam tensão constante no jogador, e a escassez de itens voltou, mesmo que não de forma tão intensa quanto nos primeiros títulos da franquia. Contudo, os inimigos não perdoam em momento algum e infernizarão a vida dos heróis como nunca. O resultado é um jogo muito desafiador, que mescla com maestria momentos de suspense com outros mais intensos e recheados de cenas de ação, que felizmente não possuem os polêmicos e desnecessários Quick-Time Events.


Os quatro episódios também conseguem se diferenciar bem entre si. Enquanto o primeiro, Penal Colony, foca-se em introduzir as mecânicas do jogo enquanto passa um clima de suspense, o segundo (Contemplation) cria momentos de tensão e desespero que farão qualquer jogador hardcore querer arrancar os cabelos. Judgment, o terceiro episódio, foca-se na resolução de puzzles no melhor estilo dos primeiros títulos da franquia. Finalmente, Metamosphosis introduz novas mecânicas ao jogo enquanto finaliza a aventura com estilo. Após a história principal, o jogo ainda conta com dois episódios extras que pouco adicionam ao enredo e poderiam ter ficado de fora, já que são repetitivos e não chegam nem perto do nível da campanha principal.

Para quem quiser aproveitar ainda mais o título, o modo Raid também está de volta! Mais divertido do que nunca, o título coloca os jogadores em situações complicadas, cheias de inimigos e missões muito divertidas. O grande problema do modo está nas microtransações. Ao invés de conquistarmos novos itens e habilidades com o tempo, apenas jogando, temos que gastar dinheiro real para conseguir determinadas armas e itens. Esta decisão da Capcom pode até ser a mais lucrativa, mas também é impopular e acaba afastando jogadores.

Cooperar é preciso

Desde Resident Evil 5, a Capcom vem investindo em modos cooperativos na série, o que foi um grande acerto, salvo os problemas inerentes ao ritmo da franquia em si, que acabou prezando pela ação ao invés do terror. Revelations 2 retorna com mais uma tentativa, dessa vez mais ousada. O multiplayer do título é assimétrico, ou seja, cada jogador deve desempenhar uma função. Enquanto Barry e Claire portam armas de fogo e são responsáveis pelo combate, Natália e Moira servem para ajudar os protagonistas identificando itens escondidos.


Moira possui apenas uma lanterna e um pé-de-cabra. Enquanto a lanterna serve para encontrar itens perdidos e enfraquecer inimigos no melhor estilo Alan Wake (X360), o pé-de-cabra serve para finalizar os inimigos derrubados por Claire. Já Natalia possui algumas habilidades mais interessantes, como um bizarro poder que possibilita que ela detecte inimigos invisíveis ou até mesmo os pontos fracos de outros. A garota ainda pode, assim como Moira, finalizar inimigos, só que com tijolos.

A parte mais legal de tudo isso é que as parceiras dos protagonistas estimulam tipos diferentes de gameplay. Enquanto Moira pode chamar a atenção dos inimigos para que Claire os finalize, as habilidades de Natalia estimulam um estilo de jogo mais furtivo, que em alguns momentos chega a lembrar até The Last of Us (PS3).


Entretanto, nem tudo são flores. Enquanto o título brilha quando jogado em multiplayer, o modo single player acaba deixando a desejar. Em primeiro lugar, a inteligência artificial de seu parceiro é péssima e ele dificilmente ajuda em alguma coisa, chegando até a atrapalhar em alguns momentos. Para resolver este problema, a Capcom decidiu retornar com a mecânica de troca de personagens de Resident Evil 0, o que acaba não funcionando tão bem justamente pelas diferenças entre os personagens.

Quando controlamos Moira, por exemplo, não podemos atacar os inimigos decentemente (e precisamos comprar um upgrade para que Claire os ataque). Em contrapartida, se controlamos Claire, Moira acaba não ajudando em absolutamente nada e acabamos deixando muita coisa passar batida.

Experiência refinada

Apesar dos problemas citados acima, a jogabilidade de Revelations 2 é excelente, e bebe da fonte de vários títulos de sucesso. Os controles são muito parecidos com os do primeiro Revelations, mas o título ainda se aproveita de mecânicas de jogos de sucesso como The Last of Us.


Os gráficos do jogo também são muito bons, apesar do design genérico de alguns inimigos, que não trazem nada de novo em relação ao que já estamos cansados de ver em jogos de terror. A trilha sonora colabora para criar o clima de tensão da aventura e deixa tudo ainda mais atmosférico e divertido. Infelizmente, o jogo claramente não teve o mesmo nível de investimento dos títulos da série principal, mesmo que a sua qualidade seja claramente maior.

Resident Evil Revelations 2 é uma ode à maior franquia de terror de todos os tempos. Apesar dos defeitos, suas qualidades se sobressaem e fazem com que uma sub-série seja melhor do que a principal. Contando com um enredo envolvente, referências espetaculares a jogos antigos da franquia e jogabilidade variada e divertida, o jogo cumpre o que promete e traz novamente alguma esperança para aqueles que gostariam de ver um pouco de terror em Resident Evil.

Prós

  • História excelente;
  • Personagens carismáticos;
  • Bom balanceamento entre ação e terror;
  • Jogabilidade excelente;
  • Modo Raid dá sobrevida ao jogo após a campanha.

Contras

  • Inteligência artificial fraca;
  • Inimigos genéricos;
  • Capítulos extras pouco adicionam ao pacote;
  • Microtransações desnecessárias.
Resident Evil Revelations 2 — Multi — Nota 9.0

Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Ângelo Gustavo 

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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