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Análise: Randal's Monday (PC) é bonito e falador, mas nada muito além disso

O novo jogo da Daedalic Entertainment trás uma aventura peculiar repleta de easter eggs, mas tropeça bastante no caminho rumo à diversão.

O chamado Point ‘n’ Click foi um dos primeiros gêneros de games criados. Bastante popular nos anos 1980, ele ficou sumido por um tempo mas retornou com o estouro dos games indies há alguns anos. Com o gênero reformulado para os dias de hoje, as possibilidades se multiplicaram e os desenvolvedores puderam dar asas à criatividade, sempre buscando meios de homenagear aqueles anos dourados nos quais a maioria viveu sua infância e adolescência.


Nesse meio, a Daedalic Entertainment, que já não é necessariamente uma empresa considerada indie, lançou um novo Point ‘n’ Click que causa boas risadas e traz uma trama um tanto quanto peculiar. Esse é Randal’s Monday (PC), jogo com traços que lembram histórias em quadrinhos e um enredo complexo e simples ao mesmo tempo. Mas os seus problemas passam longe da arte e da história, errando em um ponto bem mais básico que esse.


A segunda de Randal

A trama do jogo acompanha o sociopata e cleptomaníaco Randal. Essa figura, que é a coisa mais perto de “caristmática” que você vai encontrar nesse jogo, tem como característica marcante o humor negro e cínico. Em um de seus momentos perversos, Randal rouba a carteira do seu melhor amigo e com ela, o anel de noivado com o qual o amigo pediria a namorada em casamento.

As coisas começam a se enrolar quando Randal penhora o anel para pagar seu aluguel. Na verdade o anel possuía algum tipo de maldição que despertou quando o protagonista o vendeu de maneira tão perversa. Dessa forma, Randal é condenado a viver num loop infinito de segundas-feiras até que resolva a situação, mesmo que não saiba ao certo como resolvê-la. Assim o jogo começa a se desenvolver, com vários personagens semi interessantes e os tradicionais puzzles, dos quais falaremos mais para baixo.



Um dos pontos marcantes do título é o seu humor: negro e cínico. Isso pode atrair uma gama de jogadores, porém pode afastar um outro grupo, tornando-se então uma faca de dois gumes. O outro ponto alto são as referências à cultura geek e gamer dos anos 1980 e 1990. Outra faca de dois gumes, pois além do fato de que easter eggs já estão se tornando clichês, muitas pessoas podem não se sentir atraídas pelo jogo somente por isso. Mas eles não deixam de ser divertidos, para quem os identifica (tarefa que não é difícil, devido à sua grande quantidade).

E os diálogos começam…

Logo no início da história você é bombardeado por um dos principais problemas do jogo: diálogos excessivamente extensos. Mas ao jogar, como em vários outros jogos de diversos gêneros diferentes, você é levado a pensar: “isso é porque está no início do jogo, com o tempo vai diminuindo”. Entretanto em Randal’s Monday tudo acontece de uma forma um pouco diferente e os extensos e cansativos diálogos permeiam praticamente toda a aventura.



Longos diálogos somados a piadas de humor negro com referências à cultura geek e nerd, com nenhuma tradução. Essa fórmula afasta diversos jogadores, mesmo com poucas horas de jogo. A sensação que temos ao jogá-lo é que quando a diversão parece começar, surge um diálogo de quase cinco minutos que retira toda a sensação que o jogador começara a sentir no início. E esse é o seu principal problema, pois um jogo que não diverte de alguma forma, não atrai jogadores.

Entretanto, é importante realçar também que se esse jogador se sentir atraído pelo tema, ser um bom entendedor de inglês e não se importar com longos diálogos, existe a chance dele gostar do jogo. Porém, como já havia dito, esse é um grupo muito seleto que é capaz de não considerar isso como um ponto negativo do título.

A lógica mais ilógica dos games

O carro-chefe de qualquer Point ‘n’ Click são, sem dúvidas, os seus puzzles. Como esse tipo de jogo não possui movimentações complexas e nem ações rápidas, o foco da jogabilidade gira em torno de puzzles a serem resolvidos. Dessa forma, um dos quesitos mais necessários para um bom jogo desse gênero é o bom uso da lógica, de forma que o jogador se sinta recompensado por seus acertos e seja condicionado a raciocinar, tornando-se mais acostumado com seus enigmas, ao longo que esses enigmas se tornam mais complexos no decorrer do jogo.



Randal’s Monday simplesmente não segue essa linha de evolução e aprendizagem. Alguns de seus puzzles não são difíceis, são absurdos! Se não for por tentativa e erro ou com a ajuda de algum guia, certos puzzles são impossíveis de serem resolvidos. Em contrapartida, outros puzzles são terrivelmente óbvios, porém, essa discrepância não segue uma ordem exata, o que leva o jogo a ter puzzles impossíveis e óbvios distribuídos de forma quase aleatória dentro das missões.

Unindo-se a tudo isso, o jogo conta com uma espécie de guia interno que pode ser utilizadopelo jogador a custo de receber um troféu “vergonhoso” por conta disso. Esse guia traz um passo a passo detalhado do que, como e onde fazer para resolver todos os puzzles em ordem. A presença desse guia é uma prova clara de que o jogo se autodestrói, uma vez que nos diz “temos os melhores puzzles, mas sei que eles são horríveis, por isso tome este guia”.



Não só de defeitos é formado um jogo

Mesmo com tantas bolas fora, Randal’s Monday ainda acerta em certos pontos. Um dos principais é em sua arte. Os traços de quadrinhos, mesclados ao melhor estilo cartunesco com toques de flash são coloridos, vivos e engraçados. Uma das maiores diversões do jogo é apreciar os cenários muito bem detalhados e cheios de easter eggs, pena não ser esse o objetivo final dele.

Outro acerto é em seus controles que foram todos bem adaptados para o mouse. Com uma rolagem você acessa seu inventário, com um clique do botão de rolagem você analisa o cenário, com o botão direito você interage e anda, com o esquerdo você acessa detalhes da interação. Isso torna tudo mais confortável para o jogador, que não precisa fazer muito esforço além de controlar dois dedos.



As dublagens também são interessantes, mesmo que não excepcionais. Alguns personagens se tornam bem mais caricatos por conta de suas vozes, porém, como dito anteriormente, os diálogos longos demais acabam com o charme que alguns personagens poderíam ter. Infelizmente esse é um jogo para uma minoria, com força de vontade e gosto pelo tema.

Dessa forma, Randal’s Monday não inova muito e nem trás o melhor do seu gênero. Indo no sentido oposto, com apelações clichês e personagens manchados pelos longos diálogos. Só uma bela arte e seus ótimos controles não são suficientes para fazer desse um dos melhores títulos da Daedalic, e nem muito menos um bom Point ‘n’ Click. O jogo peca naquilo que é mais básico em qualquer jogo: sua diversão.



Prós

  • Controles bem adaptados para o uso do mouse;
  • Arte no melhor estilo de quadrinhos e cartoons;
  • Cenários bem detalhados;
  • Easter eggs dão um toque extra ao ambiente;
  • Humor negro e easter eggs podem atrair alguns jogadores.

Contras

  • Diálogos exaustivamente longos;
  • Trilha sonora rasa demais;
  • Puzzles ilógicos;
  • Guia de puzzles retira a necessidade do uso de lógica;
  • Ritmo de jogo monótono;
  • Humor negro e falta de tradução podem espantar alguns jogadores;
  • Ausência de diversão.

Randal’s Monday  — PC  — Nota: 4.0

Revisão: Marcos Silveira
Capa: Stefano Genachi


Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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