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Análise: Heróis e vilões digladiam-se em um mundo de caos em Injustice: Gods Among Us (iOS)

Injustice: Gods Among Us , o mais novo sucesso da NetherRealm – os criadores da franquia Mortal Kombat – tornou-se polêmico por coloca... (por Fellipe Camarossi em 21/04/2013, via GameBlast)


Injustice: Gods Among Us, o mais novo sucesso da NetherRealm – os criadores da franquia Mortal Kombat – tornou-se polêmico por colocar o jogador em meio a uma trama que envolve vilões e heróis da famosa DC Comics em um combate mortal (sem trocadilhos) pelo destino do mundo. De forma surpreendente, eis que surge uma versão do jogo para iOS, e totalmente gratuita. Será que o jogo é tão bom quanto às versões dos consoles? Por que distribuir o jogo gratuitamente? Vejamos então o quão profundo pode ser este inesperado título!

Começo conturbado

Esse traje sim impõe respeito.
Como todos os jogos da App Store da Apple, Injustice possui uma breve descrição para o usuário saber do que se trata o jogo. Isso seria bom, se não fosse a péssima escolha de palavras para tal descrição. A loja de aplicativos afirma que o título é um “jogo gratuito de cartas colecionáveis que permite montar um elenco de personagens”. O que lhes vem a mente ao ler que é um jogo de cartas colecionáveis? Decerto uma ideia totalmente oposta a proposta verdadeira do game. Ao menos uma palavra ali é bem agradável: “gratuito”.

O jogo funciona sim num sistema de cartas, mas não é da forma que se da a entender. As cartas nada mais são do que perfis dos personagens e de poderes adicionais, mas em momento algum são utilizadas realmente como cartas senão para a montagem de sua equipe. Sim, uma equipe. Logo mais falamos disso, antes vamos concluir a primeira impressão do título.

Baixando o game e abrindo-o pela primeira vez, o jogador é agraciado com uma breve apresentação totalmente em inglês, embora os menus sejam em português. Se está procurando história nessa versão, desista; essa parte ficou para os consoles, aqui só temos combate frenético. A parte boa? Ao se focarem apenas nisso, até que fizeram um bom trabalho.

Os menus em português facilitam o entendimento.

Confronto de deuses

Os combates presentes em Injustice são muito semelhantes ao de outros jogos já presentes na biblioteca do iOS, como Infinity Blade e Avengers Initiative, comandada totalmente por movimentos na tela tocável. Posso resumir o tutorial de combate básico em poucas linhas: toque o inimigo para um golpe fraco, arraste o dedo sobre ele para um golpe forte e toque a tela com dois dedos para bloquear. Trocando entre os três comandos o jogador já tem metade da estratégia de vitória pronta.

A simplicidade dos movimentos torna o jogo de fácil aprendizado, porém também o deixa linear e repetitivo. Mesmo cada personagem tendo os seus próprios combos e ataques, a forma de jogar com todos é praticamente igual. A única coisa que torna todos os personagens únicos são os seus especiais, que podem ser liberados conforme evoluem. É, evoluem, acumulam experiência nos combates e aumentam de nível, elevando suas capacidades e permitindo a aquisição de novos especiais que causam mais dano. Tudo se resume em selecionar três personagens para participarem de sua equipe, revezar entre eles ao tocar em suas faces na lateral esquerda da tela e aplicar seus combos da maneira que achar mais conveniente.

Sinestro indo pelos ares em 3... 2... 1...

Os ataques especiais são uma das grandes belezas do jogo e é o que dá a verdadeira individualidade para cada personagem. Cada combatente possui três níveis de especiais, com os mais variados efeitos e formas de ativação – como deslizar o dedo várias vezes em uma direção ou pressionar repetidas vezes um mesmo ponto. Os especiais de nível um nada mais são que um golpe comum com algum efeito extra ou dano sutilmente elevado. Os de nível dois são um ataque mais elaborado, por vezes um combo, e pode causar um belo estrago na barra de vida do adversário. Os de nível três, contudo, são totalmente diferentes dos anteriores; com danos estratosféricos, os personagens fazem uma animação e usam ao máximo o poder com o qual foram agraciados – Flash, por exemplo, dá a volta ao mundo apenas para pegar impulso e atingir o oponente a toda velocidade. Também vale ressaltar que cada um tem uma habilidade característica, sutil, mas útil. Solomon Grundy, por exemplo, consegue ressuscitar uma vez por batalha com menos energia que o normal ao ter a sua barra de vida zerada.

Quando acha que acabou, ele volta.

Além do sistema de evolução, outra particularidade dos combates é que os personagens podem ter seus poderes ampliados por cartas de suporte. Novamente, o uso da palavra “cartas” é totalmente figurativo para as fichas, onde cada uma representa determinado poder extra ou equipamento que pode ser atribuído a determinado personagem. Como exemplo, a Mulher-Gato pode receber uma carta que lhe oferece garras, aumentando seu dano e permitindo que ela cause sangramento nos adversários – o que causa dano constante após o ataque. Os suportes são muito variados, por vezes temos mais de um para cada personagem, e temos uma vasta gama de jogáveis aqui. Entretanto, eles não são assim tão fáceis de conquistar.

Gratuito até os primeiros vinte minutos

Como era de se esperar de um jogo tão bom e gratuito, tinha de haver algo nas letras miúdas. Diferente dos jogos de luta comuns onde uma boa parcela dos personagens está disponível logo de cara e liberam-se outros ao concluir confrontos, aqui somente três estão liberados a princípio. Todos os outros personagens devem ser conquistados como prêmios durante a empreitada ou comprados com créditos adquiridos em combate. Esses mesmos créditos também servem para pegar cartas de suporte e elevar as capacidades dos seus personagens. Infelizmente, o ritmo no qual essa moeda é acumulada é bem lento, e é aí que entra o capitalismo.

Mesmo gratuito, o jogo dispõe de um sistema de compras in-game, podendo usar dinheiro real para conquistar mais facilmente os créditos do jogo. O problema está justamente na quantidade necessária dessas moedas para determinados personagens que tornam o gasto quase que impraticável; Superman requer 220.000 moedas, e 192.000 moedas saem por US$ 19,99. Na loja de compra destes créditos, podem-se comprar pacotes que vão de US$ 1,99 (com 12.000 moedas) até US$ 99,99 (com 1.500.000). Claro, não é obrigatório adquirir créditos desta maneira, ainda mais considerando que é possível conquistá-los no próprio jogo, mas ao ver que cada batalha lhe rende uma média de 500 moedas, o capitalismo vai bater à sua porta.

Não acha que seja algo que realmente incomode? Pois bem. Para entrar numa batalha, os personagens consomem certa quantidade de “energias”. Se essa barra de energia for consumida por completo, o jogador terá de aguardar que ela recarregue para entrar em um novo embate. Até aí tudo bem, o problema é que cada fragmento da barra leva cerca de 12 minutos para se restaurar. Mas é claro, o jogo lhe oferece uma maneira de recarregar a barra totalmente mais rápido, com o uso de cartas de energia. Você começa com quinze delas para poder encurtar o tempo e continuar na sua jogatina. Mas e quando acaba? Você pode adquirir mais... Pelo preço certo.

O tempo voa quando lutando e parece eterno quando esperando a energia voltar. Culpe Einstein.

Um pacote com 20 cartas de energia sai por US$ 1,99, enquanto o pacote com 2.100 pontos fica a disposição por US$ 99,99. A impaciência do jogador em relação ao ritmo bipolar do jogo pode tenta-lo a fazer essas compras (por mais absurdas que possam soar), mas imagine-se na situação: você está enfrentando inimigos consecutivamente, num ritmo de vitórias implacável, acumulando créditos numa velocidade até que razoável. O próximo oponente é o último da sequência e vai lhe render um ótimo bônus e... acabaram suas energias. Vai ter de ficar parado por ao menos doze minutos até poder enfrentá-lo. Dói, não é? Eu sei.

Apesar de ser compreensível este tipo de jogada em um jogo gratuito, isso não a torna menos cruel. Ao menos é sabido que, se o jogador tiver muita, muita, muita paciência, ele pode completar o título sem o uso do dinheiro real. Ao menos é esse o meu objetivo.

A verdadeira injustiça

Ao menos na questão artística o jogo não deixa a desejar. A qualidade dos gráficos é surpreendente, passando perto da versão dos consoles – ainda mais levando em conta que o jogo foi projetado para celulares e tablets. Os personagens parecem ter sido modelados cuidadosamente em cada detalhe, mas o mesmo não pode ser dito dos cenários. Estes podem se tornar repetitivos e enjoativos, mas nada que realmente atrapalhe a beleza do jogo.

Mas a função que torna esse jogo tão único é a sua capacidade de interagir com a versão presente nos consoles: ao desbloquear certos personagens na versão do iOS, é possível enviar novas aparências para os personagens dos consoles, criando uma divertida interatividade proporcionada pela Warner Bros. Infelizmente, é aqui que acontece a verdadeira injustiça: como foi noticiado, essa função não será possível na versão do game para Wii U. Não houve nenhuma explicação sobre os motivos, mesmo o jogo possuindo funções exclusivas no console da Nintendo (como o recurso Off-TV Play), ficou de fora da brincadeira.

Entre mortais e imortais

No fim, o jogo proporciona uma experiência digna de um spin-off. Mesmo sendo um jogo completo por si, ele não substitui a experiência do jogo dos consoles e mais serve como uma ferramenta para apreciar verdadeiramente sua versão oficial. Não posso dizer que é o melhor jogo de luta da App Store, mas que é inovador, é. Isso tudo além de que, literalmente, não custa nada pra ver os seus heróis e vilões favoritos se digladiando na telinha do seu iDevice.

Prós

  • Combate instintivo e de fácil aprendizado;
  • Personagens graficamente impressionantes;
  • Sistema único de evolução;
  • Menus em português;
  • Gratuito;
  • Permite sincronia com as versões dos consoles. 

Contras

  • Linearidade após algum tempo de jogatina;
  • Requer pagamento para maior fluidez do jogo;
  • Cenários pouco criativos;
  • Não é compatível com a versão do Wii U. 
Injustice: Gods Among Us – iOS – Nota: 8,0
Revisão: Ramon Oliveira de Souza
Capa: Daniel Silva

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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