Lançado em 22 de junho de 2023, Final Fantasy XVI marca a aposta da Square Enix em um épico de fantasia medieval mais sombrio, guiado por guerras políticas, magia ancestral e violência brutal. Nesse cenário, acompanhamos a jornada de Clive, o príncipe do Grão-Ducado de Rosaria, cuja maior ambição sempre foi proteger seu irmão mais novo, Joshua Rosfield, o dominante da Fênix.
Mas, quando o ducado é destruído, seu pai é assassinado diante de seus olhos e Joshua desaparece em meio ao caos, o sonho de Clive se desfaz, dando lugar a uma chama ardente de vingança que moldará todo o seu destino.
Cuidado com os spoilers.
Fênix
A infância de Clive Rosfield no Grão-Ducado de Rosaria foi marcada por expectativas e tradições que precediam seu próprio nascimento. Como primogênito do Arquiduque, todos acreditavam que ele herdaria o poder da Fênix, tornando-se o próximo dominante do fogo e símbolo vivo da nação. No entanto, quando o poder despertou em Joshua, seu irmão mais novo, essas expectativas desabaram sobre Clive como um peso silencioso, um lembrete constante de que seu destino não seguiria o caminho que todos previam.
Mesmo assim, Clive nunca permitiu que essa frustração o definisse. Em vez disso, dedicou-se com disciplina absoluta ao caminho da espada. Desde muito jovem, treinava com uma determinação feroz, buscando criar para si um propósito que não dependesse de poderes divinos. Sua habilidade marcial floresceu rapidamente, chamando a atenção dos mestres de Rosaria, que viam no garoto uma força de vontade rara e um talento natural capaz de rivalizar com guerreiros veteranos.
Conforme crescia, Clive se tornava não apenas um lutador habilidoso, mas também um símbolo de perseverança entre os soldados do ducado. Muitos o admiravam justamente pelo fato de que sua força não vinha de um Eikon, mas de sua própria dedicação. Cada treino, cada cicatriz e cada vitória reforçavam a ideia de que Clive Rosfield estava moldando seu próprio caminho — um que não precisava da bênção da Fênix para ser grandioso.
Essa devoção o levou, aos 15 anos, a conquistar o título de Primeiro Escudo de Rosaria, tornando-se o protetor oficial de Joshua. Era um reconhecimento não apenas de sua habilidade excepcional, mas também de seu caráter. Clive havia transformado a dor de não ser escolhido em combustível para se tornar um guerreiro ainda mais formidável e, naquele momento, ele acreditava que sua vida inteira seria dedicada a proteger a luz que brilhava em seu irmão.
Ifrit
Durante uma missão de rotina, o exército de Rosaria é emboscado e, no caos que se segue, o Arquiduque Elwin, pai de Clive e Joshua, é brutalmente assassinado. A morte não é apenas uma perda política: é a destruição da figura que representava força, bondade e estabilidade na vida de Clive. Ver o pai cair diante de seus olhos quebra algo dentro dele, abrindo espaço para uma dor que jamais cicatriza.
O horror se aprofunda quando a Fênix, Joshua, manifesta seu poder em desespero diante da tragédia. O que seria um ato de esperança se transforma em terror quando surge um segundo Eikon de fogo: Ifrit, uma criatura colossal, selvagem e destrutiva, cuja presença é tão inesperada quanto impossível. A batalha entre a Fênix e Ifrit é devastadora, uma tempestade de chamas e fúria que Clive observa sem poder compreender. É nesse confronto que Joshua desaparece, deixando Clive apenas com memórias fragmentadas do combate e a culpa torturante de não ter conseguido salvá-lo.
Esse trauma se torna o ponto de ruptura em sua vida. Com Rosaria em ruínas, seu pai morto e seu irmão considerado perdido, Clive é capturado e escravizado por uma nação rival. Carregando correntes nos pulsos e vingança no peito, ele se agarra apenas a um propósito: encontrar o Eikon que matou Joshua, o misterioso Ifrit, e destruí-lo. A jornada de Clive nasce desse fogo interno, que queima com igual intensidade ódio, dor e dúvida. Esse é o primeiro passo para a longa trilha que o levará a confrontar não apenas inimigos, mas verdades sobre si mesmo que ele nunca imaginaria.
No campo de batalha, Clive se destaca como um dos protagonistas mais dinâmicos da série. Sem depender exclusivamente de magia, ele combina ataques precisos de espada com habilidades emprestadas dos Eikons cuja essência ele conquista ao longo da história. A Fênix lhe garante movimentos rápidos e habilidades de cura; Garuda lhe oferece garras e projeções aéreas; Titan lhe concede força bruta e defesas inquebráveis. Conforme avança, Clive absorve novas bênçãos e altera totalmente seu estilo de combate, ampliando sua versatilidade e permitindo ao jogador alternar entre diferentes poderes em tempo real. Essa fusão harmoniosa entre aço e magia torna as batalhas não apenas intensas, mas profundamente conectadas à própria evolução emocional de Clive, um guerreiro que carrega o peso de muitos Eikons, mas luta, acima de tudo, com o fogo de sua própria alma.
Ultima
Quando Clive finalmente destrói o último dos cristais-máter, ele rompe as correntes que mantinham Valisthea presa a um destino de exploração, decadência e morte. Mas essa vitória tem um preço: sem os cristais, os Eikons começam a desaparecer e, com eles, sua própria existência se torna instável. Mesmo assim, Clive segue em frente, porque o fim de sua jornada não é sobre sobreviver, e sim sobre libertar o mundo que tirou tudo dele.
A batalha final contra Ultima é o clímax de toda a tragédia de sua vida. Ultima revela que desejava usar Clive como recipiente perfeito para um renascimento divino, um corpo moldado por perdas, guerras e poder. Mas Clive, marcado por cicatrizes que não se veem na pele, se recusa a aceitar esse destino. Ele luta com a força de todos os Eikons que conquistou, com a coragem que herdou do pai e com o amor que sempre carregou por Joshua. É uma luta não apenas pela sua vida, mas por aquilo que resta da humanidade.
No confronto derradeiro, Clive finalmente alcança aquilo que perseguiu durante toda a história: proteger Joshua. Ao destruir Ultima, ele liberta seu irmão da influência que o consumia e, com suas últimas forças, cura as feridas deixadas pela guerra. É um gesto final de devoção, a confirmação de que, mesmo após anos de sofrimento, sua promessa de guardião nunca foi quebrada. Ele salva Joshua uma última vez, mesmo que isso signifique desaparecer com o restante do poder que o mantinha de pé.
Seu sacrifício, porém, não pesa apenas sobre seu irmão. Jill Warrick, a mulher que caminhou ao seu lado desde a infância, é deixada para trás com o coração despedaçado. Clive parte sem saber se será lembrado como salvador ou como mártir, mas acreditando que Jill será forte o suficiente para viver no mundo que ele ajudou a reconstruir. No fim, Clive Rosfield abraça o destino com serenidade: um guerreiro que lutou até seu último fôlego não por glória, mas pela esperança de um futuro livre, mesmo que ele não pudesse caminhar até lá.
Revisão: Ives Boitano


