Análise: Kingdom Come: Deliverance II Mysteria Ecclesiae contrapõe fé, ciência e superstição para entregar um DLC imperdível

O último conteúdo adicional do aclamado RPG é uma fácil recomendação para quem aprecia a complexidade do jogo-base.

em 10/11/2025
Kingdom Come: Deliverance II Mysteria Ecclesiae
é o terceiro e último DLC de Kingdom Come: Deliverance II, seguindo os passos de Brushes with Death e Legacy of the Forge. Desta vez, Henry de Skalitz é convidado a embarcar em uma jornada que o levará a um isolado monastério para investigar uma doença misteriosa e extremamente letal. Oferecendo mais de tudo aquilo que consagrou o jogo-base, esta é uma fácil recomendação para os fãs do RPG imersivo e uma ótima conclusão para o ciclo de expansões de um dos melhores jogos de 2025.

Mistério no monastério

Em Mysteria Ecclesiae, Henry é convidado a explorar o Monastério de Sedletz, localidade antes inacessível no jogo-base. Apesar de ser um lugar percebido externamente como abençoado, o que tem ocorrido dentro dele é digno de um filme de terror, com uma estranha e misteriosa doença encerrando rapidamente a vida de muitos monges.

A jornada em si começa com um pedido pessoal de Pedro de Pisek, que solicita ao protagonista que encontre o seu velho amigo e talentoso médico Albich de Uniczow. Responsável pessoal pela saúde do Rei Venceslau, Albich é uma figura muito querida por conta do carinho que tem com seus pacientes, mesmo com seu caráter notavelmente excêntrico.

Uma vez reunidos, o guerreiro decide acompanhar Albich em sua visita ao mosteiro, durante a qual ambos acabam tanto descobrindo a existência quanto testemunhando a letalidade da doença. Então, sendo o bom cristão que é, Henry decide ajudar o doutor a descobrir a causa da praga que está se espalhando — mas, gradualmente o jogador perceberá que a história por trás dela vai muito além de uma simples ocorrência natural.

Executando o trabalho de detetive

Mysteria Ecclesiae é um DLC focado em história, com jogabilidade que envolve missões de detetive nas quais Henry deverá explorar os arredores e interrogar os habitantes para descobrir a causa da doença e, se possível, a solução para finalmente erradicá-la. A maior parte da narrativa se passa dentro do monastério e de seus arredores, sendo que esses permanecerão acessíveis uma vez que o mistério tenha sido desvendado.

Um grande ponto positivo e que precisa ser mencionado é que, seguindo a grande liberdade que o jogo-base entrega, não há um final único para Mysteria Ecclesiae, com o epílogo dependendo totalmente das ações e escolhas realizadas durante a campanha.

Sem entrar no campo dos spoilers — já que a graça está em desvendar os segredos entranhados no mosteiro por conta própria —, os jogadores podem esperar entre dez a doze horas de conteúdo, com missões que podem ser concluídas de múltiplas formas e sidequests que oferecem diversos bônus exclusivos, como uma máscara de médico medieval para Henry e novas poções de alquimia.

Particularmente, gostei bastante de conhecer e explorar o DLC, bem como a sua narrativa que aborda com maestria os interessantes contrastes entre elementos como fé, superstição e ciência para entregar uma adição substancial ao RPG.

Como católico e entusiasta da história antiga, é impressionante ver o carinho e o cuidado dos desenvolvedores ao elaborar uma representação fiel das estruturas religiosas e costumes da Idade Média. As maquinações do Abade Jan — administrador do templo no qual a história ocorre — também são um espetáculo à parte, valendo o ingresso para quem gosta de personagens dúbios.

Também cabe mencionar que, uma vez que o templo religioso é rapidamente colocado em quarentena, recursos como armas, poções e chaves se tornam rapidamente escassos. Assim, para quem gosta de um certo nível de realismo e dificuldade em missões investigativas, Mysteria Ecclesiae entrega isso com folga, resultando em vários momentos tensos e claustrofóbicos que levarão Henry (e o jogador) ao limite de suas escolhas morais.

Entre a fé e a ciência, as devidas respostas

Se há uma única crítica a ser tecida a Mysteria Ecclesiae, é o fato de que nada no DLC é inteiramente inovador; logo, se você não aprecia o caráter imersivo do RPG da Warhorse, não será este conteúdo adicional que te converterá em um fiel seguidor, apesar da maior parte de sua narrativa se passar em um templo religioso. Porém, quando todos os elementos — da ambientação ao realismo da gameplay — seguem o altíssimo padrão de qualidade do jogo-base, é difícil contemplar isso como um defeito em si.

Também há de se mencionar o fato de que Mysteria Ecclesiae é um DLC de “meio do jogo”, por assim dizer. Não há level scaling ou mecânicas similares que aumentem o desafio de personagens já no endgame, e, para poder acessá-lo, é necessário estar pelo menos no segundo dia da missão “The Sword and the Quill” em Kuttenberg, o que equivale a mais ou menos metade da campanha principal. Logo, para quem está começando um novo jogo e queria ir direto ao monastério, será preciso avançar de maneira considerável antes de poder fazer isso.

No mais, além do conteúdo novo, Mysteria Ecclesiae também marca a chegada de várias melhorias e adições de qualidade de vida a Kingdom Come Deliverance II, juntamente com o patch 1.5.

O maior destaque fica por conta do aprimoramento das animações faciais e sincronias labiais para outros idiomas de dublagem além do inglês. Infelizmente o português brasileiro ficou de fora, visto que só está presente nos textos e menus do game, mas para quem quer jogar com as vozes em outro idioma que não seja o inglês essa não deixa de ser uma boa notícia.

Ainda sobre os aspectos técnicos, os jogadores também podem esperar a costumeira correção de bugs e mais notáveis adições à já rica trilha sonora do game, com uma menção honrosa à belíssima nova rendição do tema de Santa Bárbara, que pode ser ouvida no trailer de anúncio do DLC. Confira:

Fechando com chave de ouro uma jornada autêntica e imersiva

Sendo perfeitamente honesto, se você gostou da jornada de Kingdom Come: Deliverance II, Mysteria Ecclesiae é uma oportunidade de ouro de voltar ao mundo da Warhorse para solucionar um mistério meticulosamente desenhado. Explorando este último DLC, fica claro que os desenvolvedores notaram o feedback extremamente positivo das missões no monastério no primeiro jogo da franquia e decidiram explorar ainda mais essa temática, entregando algo realmente especial no processo de contrapor fé e ciência.

No fim, a verdade é que Henry não pediu para ser um detetive eclesial, mas, como disseram os produtores, “o destino raramente aceita pedidos”. Neste caso, melhor para nós, que ganhamos um encerramento digno — e muito divertido — para o ciclo de expansões de um dos melhores jogos de 2025. Audentes Fortuna iuvat!

Prós

  • O DLC apresenta um enredo bastante atmosférico, que aproveita a ambientação do monastério e o gancho da doença rara para contrapor fé e ciência enquanto convida o jogador à uma investigação mais profunda;
  • Para os fãs do caráter imersivo do RPG da Warhorse, apresenta um divertido desafio investigativo, visto que com o isolamento do templo os recursos básicos tendem a se tornar escassos;
  • Demonstra frequentemente as várias qualidades que consagraram o jogo-base como um dos melhores de 2025, como atenção meticulosa aos detalhes e uma exímia representação histórica-religiosa;
  • A presença de mais de um final possível para a missão principal, bem como a possibilidade de adquirir itens exclusivos como a máscara de médico, aumentam o fator replay.

Contras

  • A complexidade habitual do game continua presente, de modo que quem não aprecia essa característica do jogo-base não se converterá com este DLC;
  • A ausência de level-scaling e o caráter de “meio de jogo” podem frustrar tanto os jogadores que esperavam um fechamento completo para a saga de Henry quanto quem está iniciando uma nova campanha e desejava explorar logo o Monastério de Sedletz.
Kingdom Come: Deliverance II Mysteria Ecclesiae — PC/PS5/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Deep Silver
OpenCritic
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Alan Murilo
é publicitário e copywriter que aprecia um bom jogo tanto quanto um bom café. Gamer desde que segurou um controle de Super Nintendo pela primeira vez, tem um apreço especial pelos títulos independentes e pelas diversas franquias da Big N.
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