O primeiro Lone Fungus é um daqueles casos felizes de jogos feitos por desenvolvedor solo que demonstra não apenas conhecer a fundo um gênero, mas também executa suas ideias com muita qualidade. Lançado em 2023 pelo croata Sebastian Brkic, da Basti Games, aquele título tinha uma clara e forte inspiração em Hollow Knight.
O novo jogo, Lone Fungus: Melody of Spores, se mantém no campo metroidvania, mas muda perceptivelmente a abordagem para algo mais próximo de Castlevania.
Cogumelovania
O novo estilo é manifestado em vários aspectos do jogo. O principal é o chicote, que muda a dinâmica do combate com seu ataque em oito direções, no estilo Super Castlevania IV.
A mecânica de pogo (atacar para baixo para quicar e se lançar no ar) ainda está presente, mas não domina a gameplay tal qual no primeiro título. Há boa variedade de chicotes para equipar, cada um com suas particularidades de vantagens e desvantagens.
O estilo do mapa também mudou, optando pelo formato clássico de blocos quadrados que vemos desde Super Metroid e a série Castlevania adotou em seguida. À primeira vista, esse estilo parece pouco detalhado, mas é tudo muito bem sinalizado, marcando automaticamente as descobertas misteriosas com legendas, como “unreachable” (inalcançável) e “weird barrier” (barreira estranha). É possível desligar isso nas opções.
Um grande ponto positivo é o recurso de aplicar uma captura de tela como um marcador, uma dádiva que vimos em Prince of Persia: The Lost Crown e que é tão útil que deveria ser mais comum nesse tipo de jogo. Basta segurar o botão do mapa e pronto, aquela tela ficará gravada no quadradinho correspondente.
Exemplo de qualidade de vida
Não é só no mapa que Melody of Spores dá aula de recursos de qualidade de vida. Os ajustes de dificuldade são detalhados, começando com um modo Normal acessível que pode ser ajustado para mais ou para menos. Isso vai tanto no mero ajuste de números de dano a questões de design que fazem toda a diferença para dosar a experiência.
Por exemplo: boa parte do público vai ficar aliviada em saber que não perdemos recursos ao morrer, mas quem prefere ser punido dessa maneira não precisa se preocupar, é só ativar uma opção com essa mecânica de soulslike.
Há um grande "porém" nisso tudo: o ajuste só pode ser feito ao começar um novo jogo. Ou seja, customizável quando a pessoa ainda não sabe quais são suas necessidades de adaptação, mas sem a mesma flexibilidade no momento de necessidade.
Os entusiastas de desafios de plataforma podem optar por um modo que torna esse modo mais difícil, disponível com uma NPC perto do início da aventura. Preferi evitar dor de cabeça e não me arriscar nisso.
Um fungo não tão solitário assim
Ainda batendo na tecla da mudança de rumo, a história de Melody of Spores é uma prequela, acontecendo milênios antes do primeiro Lone Fungus. Isso permite um novo tom para a aventura, já que, em vez de ruínas subterrâneas, nessa época as terras dos cogumelos eram cheias de vida e proliferavam em vilas pela superfície.
Essa direção rende uma atmosfera diferente, mais calorosa e com muitos NPCs para interagir, negociar, rir de seus diálogos cômicos e, claro, ajudar com seus pedidos. Assim, o herói Green Cap passa por vilarejos e se envolve com o povo, seus conflitos e esperanças, resultando em mais possibilidades para aprofundar a construção de mundo para além do que já havia antes.
Visualmente, a arte permanece no estilo 16-bits, embora siga um rumo diferente que se aproxima do Game Boy Advance. Certamente, é bem-feito e agradável com sua paleta de cores, mas não tem paisagens marcantes. Na verdade, achei a direção de arte prosaica com suas florestas, cavernas e arquitetura de pedra e madeira. Senti falta de algo que valorizasse a peculiaridade de uma civilização mágica de cogumelos. A maior exceção está na imagem abaixo.
A aventura em si é mais concisa e fluida, com uma boa densidade de descobertas que beneficiam o ritmo da exploração. É um jogo que consegue oferecer uma boa variedade de conteúdo sem cair no excesso de distrações e pontas soltas, fornecendo sempre uma sensação de progresso.
Em contrapartida, o jogo como um todo é mais curto que o primeiro. Comparando as experiências, concluí Lone Fungus em 17 horas, enquanto Melody of Spores me levou doze horas para fechar. Mesmo que a redução não seja um problema em si mesma, já que afeta apenas a quantidade e mantém o nível de qualidade, fica a sensação de que houve uma falta de ambição na escala do projeto.
Para compensar, um modo aleatório (randomizer) fica disponível após finalizar a campanha pela primeira vez, o que aumenta consideravelmente o fator replay.
Uma melodia refinada
Lone Fungus: Melody of Spores é um metroidvania que adensa bastante conteúdo e segredos em uma campanha muito bem planejada. A direção de arte e a brevidade das doze horas de campanha não impressionam, mas não maculam a elegância desse mundo bem planejado e a riqueza de opções e recursos de qualidade de vida que nos é oferecida.
Prós
- O design de níveis preciso e a densidade de conteúdo dão excelente ritmo à campanha;
- Muitos recursos de qualidade de vida e opções de dificuldade detalhadas;
- O mapa apresenta muitos marcadores automáticos e tem embutida uma muito útil função de captura de tela;
- Um mundo agradável, dotado de uma história simples, mas bem escrita.
Contras
- Mesmo com pixel art bonitinha, a direção de arte é prosaica, sem valorizar o potencial da ambientação de fantasia fúngica;
- Os ajustes de dificuldade só podem ser feitos ao iniciar um novo jogo;
- Campanha de proporções pouco ambiciosas, quando comparada ao título anterior;
- Sem português brasileiro.
Lone Fungus: Melody of Spores — PC — Nota: 8.5
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Basti Games









