Análise: Ys vs. Trails in the Sky: Alternative Saga traz um jogo peculiar do PSP às plataformas modernas

O jogo de luta que faz crossover entre as duas franquias da Falcom finalmente chega ao Ocidente 15 anos depois.

em 20/10/2025
Originalmente lançado no PSP em 2010 no Japão, Ys vs. Trails in the Sky: Alternative Saga é um jogo que faz crossover entre as duas principais séries da Nihon Falcom. Como um de seus primeiros lançamentos, a publicadora refint/games trouxe o título para o PC, PlayStation 4, PlayStation 5 e Nintendo Switch, aproveitando a ocasião para fazer com que o jogo chegue oficialmente ao Ocidente pela primeira vez.

Um remaster para jogar online com os amigos

A Falcom é uma empresa mais conhecida por seus RPGs, tendo Ys como uma franquia de RPG de ação e Trails mais focado na perspectiva do combate baseado em turnos. Um pouco antes do lançamento de Trails from Zero no PSP, foi produzido um crossover para aproveitar elementos dos então recentes Ys Seven e dos ports de PSP de Trails in the Sky.

Agora, a refint/games lançou uma edição remasterizada completa para os sistemas modernos e essa versão inclui vários elementos de qualidade de vida. A nova edição conta com autosave, permite ajustar resolução e taxa de fps (rodando a 60 por padrão), usar anti-aliasing e filtragem anisotrópica, tornar a interface maior ou menor e fazer vários ajustes. É possível alternar entre as vozes em inglês e japonês a qualquer momento, sendo a dublagem americana totalmente inédita e de boa qualidade (a japonesa dispensa comentários).

Combinando elementos de RPG com uma gameplay geral mais próxima de um jogo de luta em arena top-down, nasceu assim Ys vs. Trails in the Sky: Alternative Saga. É possível aproveitar a experiência sozinho com modos história, arcade e livre ou jogar multiplayer local e online com até quatro pessoas, sendo possível ajustar vários detalhes das partidas.

Em particular, as partidas multiplayer do modo “Network” podem ser feitas em LAN ou Online, tendo opção para colocar senha, restringir a apenas usuários do mesmo sistema e definir limite de jogadores do lobby. Desde o lançamento, o online me pareceu pouco movimentado, sendo aconselhável ter amigos que já possuem o jogo para aproveitar, o que fica mais fácil graças ao fato de o jogo ter crossplay.

Testei jogar com um amigo que possui o jogo no Switch, e a conexão, que tem como base netcode de rollback, foi majoritariamente impecável como se estivéssemos jogando offline na mesma máquina. Em apenas duas das várias partidas que realizamos notei pequenos cortes abruptos devido à conexão, então fui surpreendido positivamente pela experiência. 

A base da gameplay

Em Ys vs. Trails in the Sky: Alternative Saga escolhemos um dos personagens de uma lista que inclui indivíduos de ambas as séries. A lista completa inclui 17 opções jogáveis, mas boa parte deles precisa ser desbloqueada. Cada personagem começa no nível um e deve ser fortalecido com as partidas, conseguindo experiência, itens equipáveis e Mona (dinheiro para comprar mais itens na loja).

Um dos pontos fundamentais da loja é o upgrade dos personagens, cujas armas podem ser melhoradas e golpes adicionais desbloqueados com dinheiro. Ao todo, é possível equipar apenas quatro técnicas e o número de acessórios com habilidades passivas variadas depende do nível atual do personagem, crescendo com o tempo.

Outro elemento que importa aqui é o sistema de suporte, cujas opções são desbloqueadas jogando. Inicialmente temos apenas Mustafa de Ys Seven, que tem como poder o aumento temporário do ataque, mas jogando mais dá para desbloquear outras opções com efeitos bem variados. A lista inclui também personagens advindos de outros jogos da Falcom, como Gurumin ou Zwei!!.

Com isso, o jogo tem um quê de RPG com melhoria de estatísticas e a construção de uma build para cada personagem com os acessórios. Como um jogo de luta, porém, isso pode levar a grandes desbalanceamentos, sendo bem indesejado que os jogadores estejam em níveis desequilibrados de combate. Pensando nisso, nos modos com opção multiplayer, é possível nivelar os personagens para garantir um pouco de equilíbrio (embora isso não leve em conta os equipamentos).

Apesar dos problemas, que também incluem uma tendência a favorecer os personagens com longo alcance, a experiência completa é sólida e divertida. Há uma boa variedade de personagens com suas próprias características e golpes, embora não sejam uma representação muito ampla de suas respectivas IPs, e é interessante explorar a disposição dos objetos de cada fase.

Modos de combate

No modo Story, acompanhamos um personagem (em uma lista de cinco) em uma jornada pelo mundo de Xanadu. Transportados para esse lugar, personagens de Ys e Trails in the Sky precisam lutar para derrubar o rei dos dragões que ameaça a estabilidade do mundo e conseguiu fazer uma lavagem cerebral nos outros. A história é relativamente simples e não consegue trabalhar de forma particularmente interessante os personagens, tendo um tom de “mais do mesmo” apesar de algumas leves diferenças nos diálogos de cada um.

Enquanto no Story temos que escolher os inimigos desejados em um mapa, sendo possível até mudar a ordem, o Arcade é uma sequência contínua de batalhas. Infelizmente, por conta desse ritmo, o jogador fica impedido de acessar a loja ou fazer ajustes de equipamento entre as batalhas nesse modo, ficando restrito ao que já estava em sua posse antes de começar.

Por fim, ainda temos o modo Free, que permite montar as suas próprias partidas, ajustando os detalhes de acordo com o desejado. Nesse modo é possível fazer disputas locais contra outros jogadores ou contra a máquina e ativar a funcionalidade de treinamento (com efeitos como recuperação de vida e energia, como em um Training de outros jogos de luta).

Repetição e desbloqueio

Além da compra de equipamentos e da melhoria dos personagens, jogar repetidas vezes também serve para desbloquear mais coisas. É possível liberar com o tempo ou comprar com as moedas in-game estágios adicionais, ilustrações oficiais de diversas origens de várias obras e músicas que podem ser usadas para as batalhas. Vale destacar que a quantidade de grinding para obter tudo pode ser bem alta, mas não considero isso um problema, sendo mais uma forma de recompensar o jogador pelo esforço.

Um ponto que merece grande destaque é que a trilha sonora do jogo é de uma qualidade altíssima, tendo uma verdadeira representatividade histórica da empresa. Temos uma lista com centenas de opções, incluindo músicas de vários jogos que vão além de Ys e Trails (como Xanadu Next) e de álbuns de rearranjos como a versão Super Arrange de Silver Will (Trails in the Sky) ou a do Theme of Chester (Ys III). Até mesmo as originais como Childlike Eyes, D.A.Y. / BREAK e Blaze on My Feet são extremamente vibrantes e ótimas adições para o repertório que fazem com que o jogo seja um espetáculo para os fãs das músicas da empresa.

Um relançamento histórico

Ys vs. Trails in the Sky: Alternative Saga é um curioso pedaço da história da Falcom que finalmente chega oficialmente ao Ocidente. Embora tenha suas peculiaridades que podem afastá-lo do que se espera de um jogo de luta competitivo, trata-se de um jogo consistentemente divertido e que vale a pena explorar especialmente para os fãs da desenvolvedora japonesa.

Prós

  • Combate divertido com boa variedade de personagens;
  • O sistema de equipamentos é bem rico em opções para explorar;
  • Dublagens em inglês ou japonês com alta qualidade;
  • Funcionalidade online com rollback e crossplay;
  • Excelente trilha sonora que inclui tanto músicas de obras anteriores quanto originais do jogo de luta;
  • Galeria com várias ilustrações da Falcom que são obtidas nos momentos de loading.

Contras

  • Combates podem ser bem desequilibrados, especialmente quando se leva em conta os sistemas de níveis e upgrades;
  • Impossibilidade de fazer ajustes no meio do modo Arcade;
  • Modo história muito similar para todos os personagens não consegue aproveitar bem os traços individuais de cada um.

Ys vs. Trails in the Sky: Alternative Saga — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela refint/games

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Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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