Tomonobu Itagaki, criador de Dead or Alive, morre aos 58 anos

Excêntrico desenvolvedor também é creditado pela revitalização da série Ninja Gaiden nos anos 2000.

em 16/10/2025


Morre, aos 58 anos, o produtor e desenvolvedor Tomonobu Itagaki. A informação veio através de um comunicado postado hoje, 16 de outubro, no seu Facebook, escrito por ele próprio, de forma prévia. A causa da morte não foi informada.

Nascido em 1 de abril de 1967, Itagaki ganhou notoriedade por produzir e dirigir vários projetos para a Tecmo (antes mesmo da fusão com a Koei), onde começou a trabalhar em 1992. Lá, ele foi o fundador do Team Ninja, time de desenvolvimento responsável pela criação da série Dead or Alive — da qual serviu como criador e produtor, hoje em dia boicotada pela comunidade de jogos de luta —, além de revitalizar a marca Ninja Gaiden para uma jogabilidade de ação tridimensional em hack and slash, cujo primeiro lançamento se deu em 2004 (e tem uma nova iteração que chega no fim do mês).

Adicionalmente, ele serviu de consultor de consultor especial em Fatal Frame II: Crimson Butterfly, que conta com um remake previsto para o ano que vem, e de Super Swing Golf, uma versão local e offline lançada para Wii de PangYa. O último projeto de Itagaki como diretor foi Devil's Third, lançado para o Wii U, em 2015, embora ele também tenha sido creditado como consultor em Samurai Jack: Battle Through Time, de 2020.

Figura controversa nas comunidades de fãs, Itagaki tinha como principal filosofia de design a integração perfeita e equilibrada entre gráficos, interatividade e jogabilidade, acreditando que os inputs dos jogadores deveriam ser a prioridade em detrimento de sequências cinematográficas cujo grau de interação fosse mínimo — mencionando, por exemplo, a quantidade exagerada de cutscenes em Final Fantasy X e em Metal Gear Solid 2 —, enquanto também era adepto da simplicidade nos controles e da precisão técnica presente em títulos como Virtua Fighter.

Esse ideal acompanhava a ideia de que jogos poderiam ser constantemente revisados de acordo com o feedback do jogador, sendo um dos primeiros entusiastas de patch de correção, como aconteceu ao longo da vida de mercado de Dead or Alive 4 e que acarretou no lançamento de Ninja Gaiden Black, a edição definitiva do primeiro game sob sua tutela. 

De caráter protecionista, Itagaki era obtuso em relação a decisões que ele julgava incoerentes com o perfil de suas séries, defendendo uma coerência geral dos projetos. Essa visão também guiava seus pitacos criativos, uma vez que ele os dividia entre os de viés comercial e de alegada excelência técnica, como os DoA, no mesmo passo que era entusiasta de pequenos prazeres profissionais, como Dead or Alive Xtreme Beach Volleyball, concebidos primariamente para fanservice — embora alegasse que não houvesse qualquer vulgaridade em suas abordagens. 

Nos últimos anos, ele colecionou algumas polêmicas, como quando, em tom jocoso, insistia que Tekken era um produto de baixa qualidade, o que, eventualmente, levou a um pedido de desculpas à Bandai e posterior admissão de que as declarações eram apenas uma jogada de marketing a fim de chamar atenção, uma vez que ele, na verdade, era entusiasta da franquia. 

Itagaki, inclusive, era amigo próximo de Katsuhiro Harada, o principal responsável por Tekken. A partida do colega, rendeu um depoimento verdadeiramente emocionado em seu perfil no X (antigo Twitter), onde é bastante ativo. Chamando Itagaki de mentor, rival, e "irmão de armas", Harada lamenta que o parceiro tenha ido tão cedo e ainda comenta que a última mensagem que tinha recebido dele era um convite para sair para beber. "Você não disse que eu poderia sempre recorrer a você sempre que eu estivesse em apuros?", declarou, complementando ainda que, infelizmente, ele nunca chegou a precisar dessa ajuda.

O desenvolvedor também cultivava uma relação com Hideki Kamiya, com quem chegou a ser considerado rival desde o lançamento do primeiro Bayonetta. O mal-entendido surgiu após uma entrevista em que Kamiya afirmou não ter jogado Ninja Gaiden, o que foi interpretado como desinteresse ou desprezo por Itagaki, que respondeu publicamente. O caso ganhou proporções entre fãs e imprensa, que acusavam uma rivalidade entre ambos. Entretanto, segundo um depoimento posterior de Kamiya, ambos se encontraram por acaso durante uma Tokyo Game Show anos depois e acabaram esclarecendo a confusão, sendo que o diretor de Okami até admitiu a culpa na ocasião. 

Com personalidade forte, Itagaki manteve-se distante de projetos de maior escala nos últimos anos, em parte por ser considerado um profissional de temperamento difícil e de convivência complexa. Conhecido por sua sinceridade e atitude combativa, ele valorizava a objetividade e o confronto direto, postura que ele encarava como uma forma eficaz para o gerenciamento de seus trabalhos. Essa mesma personalidade, porém, o colocou no centro de controvérsias. Em 2006, o desenvolvedor foi acusado de assédio sexual por uma ex-funcionária da Tecmo. O caso, que terminou com sua absolvição judicial, ainda deixou marcas em sua imagem pública, uma vez que a defesa apresentada por ele invertia a culpa para a alegada vítima, que supostamente o acusou por frustrações pessoais. 

Confira o último depoimento oficial de Itagaki em suas redes sociais:
Palavras que Deixo para Trás 

A chama da minha vida está finalmente prestes a se apagar.
Se esta mensagem foi publicada, significa que a hora chegou. Não estou mais neste mundo.
(Esta última publicação foi confiada a alguém que me é querido.)
Minha vida foi uma série de batalhas. E eu as continuei vencendo.
Sei que causei problemas para muitos ao longo do caminho.
Mas segui minhas convicções e lutei até o fim.
Não guardo arrependimentos.
Só tenho um último ressentimento: peço desculpas a todos os meus fãs por não poder trazer um novo trabalho para vocês, sinceramente.
É assim que as coisas são.
Então é assim que é. 

Tomonobu Itagaki
Fonte: Facebook
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João Pedro Boaventura
É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.