Ghost of Yōtei: entenda os três modos baseados em cineastas japoneses

Conheça os modos de tela disponíveis no jogo e os diretores aos quais eles prestam homenagens estéticas.

em 05/10/2025

Como Ghost of Yōtei apresenta uma estética profundamente cinematográfica, é muito coerente que se inspire em cineastas japoneses. Ghost of Tsushima já havia trazido a ideia de um Modo Kurosawa, mas sua sequência foi além e homenageou diretamente três diretores de grande nome, apresentando Modos de Tela segundo a estética de cada um.

Os três são Takashi Miike, Shinichiro Watanabe e o retorno do próprio Akira Kurosawa. Vejamos como cada modo funciona e como eles se relacionam com o estilo de suas fontes de inspiração. A propósito, as imagens do jogo foram capturadas com o profundo Modo Foto incluído nele.

Da esquerda para a direita: Watanabe, Kurosawa e Miike.

Modo Watanabe

Quero começar por este por três motivos: é o mais simples, é diferente dos demais e foi o que eu mantive ativado por toda a campanha. Na verdade, mesmo que esteja no menu de configurações de tela, deveria estar no de áudio, pois é disso que se trata: uma trilha musical diferente. Em resumo, essa opção coloca músicas lo-fi originais criadas pelo próprio Watanabe.

Shinichiro Watanabe é um diretor de anime, mais conhecido por Cowboy Bebop (26 episódios, 1998). Com estilo autoral próprio, suas obras não são derivadas de mangás e trazem na música um ponto marcante da estética do diretor. A obra com a qual Ghost of Yōtei compartilha inspiração é a também excelente Samurai Champloo (26 episódios, 2004). De verdade, assistam que é impecável.

A ideia desse anime é fazer uma mistureba (uma “champloo”) de histórias típicas de samurais com vertentes culturais modernas, especialmente a cultura do hip hop. Isso pedia uma trilha sonora marcante, o que Watanabe conseguiu ao convidar vários músicos, entre eles Nujabes (falecido em 2010), que se tornou um grande nome do lo-fi.

Lo-fi (baixa fidelidade ) é uma filosofia musical de produção independente e caseira, em oposição ao hi-fi (alta fidelidade) dos grandes estúdios e produtoras. O estilo é imbuído de uma atmosfera tranquila marcada pela batida hip hop, influências instrumentais do jazz e pelo uso de imperfeições de gravação, como ruído de vinil e de fitas. Pesquise essa palavra e o nome de seu jogo favorito no YouTube e terá boas chances de encontrar rearranjos musicais para relaxar.

Pois é nessa veia de Samurai Champloo que Ghost of Yōtei abraça uma trilha lofi discreta e calma, dando leves toques de modernidade a momentos que, normalmente, seriam do silêncio da exploração ou da percussão do combate.

Essa mistura destoa do peso dramático carregado pelo espírito vingativo de Atsu, a protagonista do jogo, mas combina muito bem com o outro lado da moeda, o de um saudoso retorno para à terra natal, em meio a campos, montes e florestas de impressionante beleza contemplativa. Também encaixa na importância temática da música, uma vez que Atsu toca o shamisen e compõe melodias que dialogam com o vento, tornando-o indicador de caminhos. Mesmo sendo poucas faixas, adorei o Modo Watanabe e o recomendo.

Modo Kurosawa

Este modo já estava desde o lançamento de Ghost of Tsushima e, aqui, repete a dose com vários filtros e efeitos combinados: preto e branco, ruído de filme analógico e elementos da natureza dramáticos, como chuva, vento e poeira aumentados, como podemos ver em clássicos como Os Sete Samurais (1954) e Yojimbo (1961).

Akira Kurosawa não apenas foi um diretor profundamente influente nos filmes de samurais, mas também levou o cinema de seu país para o mundo, provocando inspiração estética e narrativa em toda parte.



O artista japonês aprendeu muito observando o cinema americano, especialmente as obras de John Ford, aproximando os gêneros de filmes de samurais com os de faroeste. Esta foi uma via de mão dupla, pois o faroeste também bebeu da fonte de Kurosawa e chegou a ter adaptações diretas dos dois filmes citados acima que se tornaram alguns dos maiores clássicos do western: Sete Homens e um Destino (1960) e Por um Punhado de Dólares (1961). Parênteses: Os Sete Samurais foi readaptado tantas vezes no ocidente que conta como seus filhos até a animação da Pixar Vida de Inseto (1998).

O estilo de “samurai faroeste” é perceptível na câmera e no ritmo das cenas de Ghost of Yōtei, com a preparação que, sem pressa, constrói a tensão com closes em olhares e armas, contra planos profundos e visão lateral, quase como em jogos bidimensionais.

O título da Sucker Punch não pára no Kurosawa do preto e branco, absorvendo também composições da fase posterior em que o diretor mergulhou nas cores como se pintasse uma tela, marcadamente os grandes campos verdejantes e as vestimentas de cores fortes de Ran (1985), assim como o breve mas icônico campo florido de “Sol através da chuva”, o primeiro segmento que compõe a coletânea Sonhos (1990).



Modo Miike

Takashi Miike fez filmes de vários tipos, mas o Modo Miike referencia apenas o portfólio de violência extrema do diretor. Os que mais se enquadram na categoria “clássicos cults” são Ichi, o Assassino (2001) e Audition (de 1998, no Brasil o título é O Teste Decisivo), mas são os filmes de samurais os mais relevantes para a comparação: A Lâmina do Imortal (de 2017, adaptação do mangá lançado aqui como Blade: A Lâmina do Imortal) e, principalmente, Os 13 Assassinos (2010).

Parte da obra de Miike é comparada à de diretor Quentin Tarantino e, de fato, esses diretores se admiram mutuamente. O americano até chegou a atuar em um filme do japonês, um extravagante faroeste de samurais (é sério, o nome é Sukiyaki Western Django, de 2007).



Em Ghost of Yōtei, o Modo Miike aposta no visual sujo e sanguinolento, aumentando a quantidade de lama e sangue que espalha por toda parte durante o combate em partículas vermelhas. Os envolvidos também ficam muito mais sujos, quase totalmente cobertos pela imundície resultante da luta.

Em complemento, a câmera é um pouco mais aproximada da ação, o que incrementa o efeito cinematográfico pretendido e, em contrapartida, diminui o campo de visão, deixando Atsu mais vulnerável a inimigos fora da tela. O próprio jogo avisa sobre essa questão, pois pode impactar no nível de desafio enfrentado.

Sinceramente, achei a câmera normal mais próxima do que eu gosto e o sangue não é um atrativo em especial para mim, então deixei o Modo Miike desligado. Para os que preferem menos violência gráfica em seus jogos, há a opção de desligar o sangue e também os desmembramentos.



Sangue lo-fi em preto e branco

Como comentário final, é preciso ressaltar que em Ghost of Yōtei é possível ativar dois ou até todos os três modos ao mesmo tempo, só para o caso de você querer curtir um visual dramático em preto e branco com sanguinolência aumentada e ao som de suaves batidas lofi.



Revisão: Ives Boitano

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Victor Vitório
Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies. Veja minhas análises no OpenCritic.
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