Análise: Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles é uma ótima forma de jogar o SRPG clássico

Quando se fala de RPGs estratégicos ou táticos (SRPG/TRPG), um dos grandes expoentes do gênero que vem à mente é o clássico Final Fantasy Tactics do PlayStation original. Sob direção de Yasumi Matsuno, que também é conhecido por Ogre Battle e Tactics Ogre, o jogo foi uma introdução ao mundo ficcional de Ivalice e é ainda considerado uma das melhores entradas da franquia.

Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles é uma edição remasterizada desse título clássico. Aqui, ele é apresentado de forma a respeitar o estilo do original, mas oferecer, ao mesmo tempo, opções para deixar a experiência mais confortável para a atualidade.

Uma trama política de alto nível

Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles conta a história de Ramza Beoulve, que, entre os homens, é o filho mais novo da família de nobres advindos da região de Eagrose. Por conta de sua linhagem, o jovem se torna parte da academia militar real estudando para se tornar um nobre cavaleiro que possa auxiliar a Order of the Northern Sky.

Durante a sua infância e início da juventude, o rapaz passava boa parte de seu tempo junto com Delita Heiral, um camponês que era seu melhor amigo e até chegou a estudar na mesma academia a pedido do lorde Beoulve. Porém, uma série de eventos trágicos leva os dois a seguirem destinos distintos.

Sem entrar em grandes detalhes, um grande aspecto da obra é a sua trama, a qual é muito bem conduzida. Mesmo o seu primeiro ato já é uma forma bem ágil e inteligente de apresentar o contexto social e político em que Ivalice se encontra, o quão idealista Ramza é e a forma manipuladora de ação de certos personagens. Esse nível de intriga política continua ao longo de toda a história, que cobre as disputas pela sucessão do trono e quem tenta manipular tudo por trás das cenas.

A nova versão usa como base a tradução da edição de PSP, que tem um inglês arcaico e mais pomposo do que a primeira localização do jogo. Não há opções de português ou espanhol, contudo, o estilo, além de combinar com o contexto de história medieval, não chega a ser muito mais difícil para a leitura do que o inglês normal. Comparado com outros RPGs que fazem táticas similares de dialetos e acabam pesando demais a mão, a leitura é fluida.

Uma das adições aqui é a dublagem total das cenas da história tanto em inglês quanto em japonês, sendo possível escolher entre elas. Essa opção só está disponível para o modo Enhanced e vale mencionar que é uma adição muito significativa, deixando as cenas da história mais impactantes. Há um trabalho excelente para dar vida aos personagens e deixar os diálogos ainda mais ricos em sua carga emocional.

Manipulando jobs para ter mais opções estratégicas

Final Fantasy Tactics é um RPG tático, portanto, é necessário conduzir a equipe por pequenos tabuleiros, planejando com cautela o posicionamento de suas unidades. Cada mapa só permite um número pequeno de personagens controlados pelo jogador, assim como alguns convidados que podem agir de forma independente.

Os turnos do combate são definidos de acordo com a velocidade de cada unidade, com alguns golpes específicos como magias exigindo um período adicional para serem ativados. Uma vez no turno de um personagem, é possível movimentá-lo dentro de um limite de passos correspondente ao seu status Movement e executar uma ação, seja ela um ataque, magia ou técnica com capacidade regenerativa ou de buff.

Um dos pontos chave de Final Fantasy Tactics é o sistema de jobs que é o que realmente define as competências das unidades, sendo um elemento mais importante do que o Level. Quanto mais uma unidade é usada, mais JP (Job Points) irá conseguir, o que pode ser convertido em habilidades ativas, reativas, de suporte e movimento.

Uma vez desbloqueadas as habilidades, elas são opções permanentes, em que é possível combiná-las da forma que o jogador quiser enquanto aprende a usar uma nova opção de Job. Apenas uma habilidade de cada formato pode ser equipada, mas o nível estratégico que essa liberdade de combinação permite é altíssimo, na qual a manipulação dos Jobs é o fator mais importante para aproveitar de fato a gameplay.

Entre o clássico e o moderno

Na edição The Ivalice Chronicles, temos dois modos de jogo: Enhanced e Classic. A segunda opção é uma reprodução majoritariamente fiel do original, adicionando apenas um sistema de autosave e trocando a tradução do PlayStation para a que foi usada em The War of the Lions (PSP/Mobile).

Já a versão Enhanced traz vários ajustes, incluindo a já mencionada dublagem total em inglês e japonês. Os aspectos visuais e interface também foram alterados e a impossibilidade de mudar o estilo dos personagens para uma aparência mais pixelada como a do Classic é a única alteração que considero ser um pouco negativa pessoalmente. O estilo em pixel continua sendo mais charmoso, embora o novo seja funcional e até um pouco melhor quando é feito um zoom nas fases, já que o original borrava a aparência dos personagens nessa ocasião.

A primeira mudança a se ter em mente na edição Enhanced é a adição de três níveis de dificuldade. Dessa forma, públicos com níveis diferentes de competência em jogos táticos podem escolher o que mais se adequa ao seu perfil para aproveitar melhor a experiência e é possível alterar entre elas em qualquer momento para testar se outra opção é mais agradável.

Há também vários ajustes de qualidade de vida, como a visualização constante da linha do tempo para os turnos, o que torna o controle estratégico das ações mais dinâmico e claro. Outra novidade é a possibilidade de cancelar o movimento para poder replanejar suas ações em vez de ser obrigado a firmar a decisão de forma definitiva. Esses elementos são considerados básicos para o gênero atualmente, porém não estavam presentes na versão original, com a ordem de turnos tendo um menu próprio que o jogador precisava acessar para ter uma noção da tendência dos personagens.

Enquanto a versão Original já conta com a possibilidade de pular cenas de história apertando um botão durante os diálogos, a versão Enhanced oferece as opções de pausar e acelerar essas cenas em vez de saltá-las totalmente. Infelizmente, não foi adicionado um log de diálogos para poder reler as falas, embora algumas cenas da história possam ser revistas no menu Chronicle, que, além disso, apresenta em mais detalhes os contextos da trama, bem como engloba os menus de terminologia e tutorial do Classic e incluir cutscenes da versão War of the Lions como forma alternativa de ver as cenas.

A técnica de Fast Forward também é válida para o combate, sendo uma forma de tornar o desenrolar dos turnos mais ágil. Não só isso: a versão Enhanced traz a opção de interagir com menus e executar algumas ações com o apoio do mouse no PC, sendo que o Classic apenas mapeia os botões do PlayStation ao teclado.

Uma joia em ótima forma

Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles é uma ótima forma de revisitar o clássico jogo tático da franquia da Square Enix. Fiel ao lançamento original, mas realmente preocupado em oferecer uma experiência confortável para uma nova geração, o título continua sendo um RPG tático de altíssima qualidade e uma opção indispensável para fãs do gênero.

Prós

Gameplay tático viciante que permite que o jogador manipule e abuse do sistema de jobs para ampliar suas opções estratégicas;
Trama extremamente bem conduzida tanto em sua intriga política quanto na construção de personagens;
A dublagem das cenas torna os eventos ainda mais impactantes emocionalmente;
As três dificuldades da versão Enhanced ajudam jogadores com níveis diferentes de habilidade possam aproveitar o jogo;
A versão Enhanced traz ajustes de qualidade de vida que tornam a gameplay mais confortável.

Contras

A versão Enhanced não permite usar os gráficos mais pixelados do original;
Ausência de log para os diálogos.

Final Fantasy Tactics: The Ivalice Chronicles — PC/PS4/PS5/XSX/Switch/Switch 2 — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Thomaz Farias
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix