Apesar dos remakes de Katamari Damacy e We Love Katamari, de 2020 e 2023 respectivamente, não vimos nada de novo sobre o pequeno Príncipe de Todo o Cosmos há 14 anos, desde Touch My Katamari, do PSVita. Para nossa alegria, a espera chegou ao fim e Once Upon A KATAMARI traz a maior família da galáxia em uma viagem pelo tempo em uma sequência digna da sua originalidade.
Poxa, pai… de novo? SÉRIO MESMO?!
Estava tudo bem e tranquilo. A Rainha de Todo o Cosmos decidiu fazer uma faxina na casa e recrutou todo mundo, desde os milhares de primos até o Rei e o Príncipe. Claro que — para variar —, o maridão decide se divertir um pouco, e começa a fazer malabarismos com um pergaminho antigo, que estava guardado.
A ideia dá muito errado assim que o artefato atinge o espaço e, mais uma vez, todos os planetas são tragados para a inexistência. Para reconstituir a galáxia, toda a família parte em uma jornada pelas diferentes eras que já existiram — e, consequentemente, para o Príncipe mais uma vez consertar uma mancada de seu pai, que vai acabar levando a fama por ter resolvido algo que aconteceu “do nada”.
Dentro dessa premissa já está um dos maiores charmes de Once Upon A KATAMARI, que é sua ambientação. Retratar períodos e locais clássicos específicos, como o Velho Oeste, a Idade da Pedra, o Antigo Egito, a Grécia e o Japão feudal, por exemplo, dá uma liberdade maior para as missões de algumas fases. Não que isso não existisse nos jogos anteriores, porém a separação por áreas torna certas loucuras mais fáceis de serem retratadas.
As missões clássicas, como atingir um certo tamanho dentro de um limite de tempo, ainda estão presentes, mas agora dividem um espaço com outras mais criativas e que acompanham a temática da região na qual estamos. No Egito, por exemplo, temos que deixar uma planície deserta toda florida. Para isso, devemos encharcar a katamari — a bola empurrada pelo Príncipe, que gruda tudo — em um oásis e levar ela pelo espaço, como se fosse uma esponja gigante.
A jogabilidade também recebeu algumas novidades. Algo que apontei lá atrás, na análise We Love Katamari REROLL + Royal Reverie, é que a possibilidade de controlar a katamari com apenas um direcional seria bem-vinda, e ela foi introduzida em Once Upon A KATAMARI. Esse estilo novo pode causar estranheza para quem aprendeu a jogar na época do PS2, utilizando dois direcionais, mas para quem está conhecendo a franquia agora é uma ótima pedida.
Além disso, foram adicionados alguns dispositivos que podem nos dar uma ajuda momentânea durante as fases. Ao coletá-los, podemos escolher quando serão acionados, porém isso deve ser feito de maneira pensada, pois eles não reaparecem. O ímã, por exemplo, irá atrair tudo que estiver em um curto raio de alcance, desde que possível de capturar. Outro bem interessante é o radar, que mostrará a direção que devemos seguir para encontrar algum item-chave para o objetivo ou os presentes escondidos.
Entretanto, a distância da câmera para o centro da ação ainda é um problema. Como de costume, só podemos grudar em itens menores que nós, e à medida que a katamari cresce, ela pode ir atrás de coisas maiores, que podem variar entre móveis, carros ou furacões. Só que, por causa do ritmo do jogo, é comum trocarmos de ângulo ou de direção para pegar o maior número de coisas pelo caminho. Nisso, a câmera pode gerar alguns momentos que irão dificultar a vida do pequeno Príncipe.
Em Once Upon A KATAMARI esse problema se torna especialmente chato em algumas fases mais estreitas, nas quais não há espaços abertos para circular. Citando novamente o ambiente do Antigo Egito, uma das missões é dentro de uma pirâmide, com corredores apertados, em que foi necessário parar e girar a câmera muitas vezes para então entender o que está acontecendo.
Isso também acaba afetando nosso desempenho na hora de reunir os colecionáveis especiais. Além dos já citados presentes, todas as fases possuem três coroas para serem encontradas, e elas nem sempre têm o mesmo tamanho ou estão tão próximas assim. Logo, não é incomum não conseguir visualizar alguma que seja muito pequena, muito grande, ou esteja camuflada com algum outro objeto pelo cenário.
Ainda é possível utilizar o “ponto de vista do Príncipe” e o “ponto de vista da katamari”, mas não é possível conduzi-la ao acionar esses recursos e isso não faz o tempo da fase congelar, então eles deixam de ser interessantes.
Herança bem aproveitada e atemporal
Por mais que eu seja o integrante da equipe mais suspeito possível para falar sobre essa franquia, eu não estou exagerando quando digo que a parte visual e sonora de Once Upon A KATAMARI é sensacional. Isso, em conjunto com o bom-humor escrachado, que também já é bastante característico, mostra como uma boa dose de loucura pode fazer bem.
Cada era que visitamos tem um mapa, que de início está vazio, mostrando apenas a primeira fase. À medida que progredimos e liberamos novas missões, o mapa também vai sendo povoado por figuras históricas, animais e até os primos que salvamos aparecem para dar oi.
No contexto do universo de Katamari, é engraçado ver dinossauros, filósofos, múmias, shoguns e astronautas, só para citar uma pequena parcela da variedade de seres que habitam essa doideira, partilhando as mesmas feições exageradas de desespero enquanto tentam fugir do seu insólito e grudento destino.
Durante as missões, agora temos animações com transições que ajudam a indicar para onde devemos ir a seguir ou qual o próximo ponto de interesse. Nesse quesito, a minha favorita foi na Era dos Piratas. Na fase em questão, estamos em um barco e ao atingirmos um certo tamanho, uma cena mostra a chegada de um barco fantasma e a partir daí, zumbis invadem e outro barco surge ao lado para continuar nosso objetivo.
Contudo, nesse quesito nosso pai aparece para atrapalhar de novo. Parece que em Once Upon A KATAMARI ele está mais falante do que nunca, e seus balões de diálogo aparecem bem no meio da tela, enquanto a missão está em andamento, e nem sempre é algo relevante. Isso acaba se tornando muito chato, pois as fases já são propositalmente cheias de elementos, e dependendo do contexto, elas podem parecer um pouco confusas e poluídas para quem não está acostumado com o estilo da franquia. Então, ficar olhando para a cara do Rei no meio da fase enquanto tentamos descobrir para onde ir enquanto ele só quer dialogar sobre cavalos-marinhos, por exemplo, não ajuda muito.
Ainda falando de animações, agora também há mais cenas entre as fases que dão foco nas aventuras da Rainha de Todo o Cosmos pelas diferentes eras desbloqueadas. Enquanto o Príncipe e o Rei seguem pela rota tradicional de fazer novos planetas, ela simplesmente mexe onde não deve e arranja confusões, enquanto os primos acompanham a bagunça.
A trilha sonora de Once Upon A KATAMARI é tão viciante quanto as anteriores, com faixas vibrantes, alegres e que combinam perfeitamente com a aventura do Príncipe, seus pais e suas dezenas de primos. À medida que vamos liberando novas faixas, podemos escolher quais serão executadas em cada fase e até criar uma playlist contínua que irá reproduzir nossas favoritas.
O único ponto contra com as canções, pelo menos para mim, foi a de ter deixado as músicas clássicas como DLC pago. Como entusiasta de clássicos como Lonely Rolling Star, Que Sera Sera e Katamari On the Swing, eu acho justo que todos tivessem acesso às faixas dos jogos anteriores no conteúdo básico de Once Upon A KATAMARI.
No meio dessa quantidade bastante generosa de conteúdo, algumas novidades acabaram perdendo um pouco de destaque. Para quem não se contentar com a quantidade de parentes disponíveis para seleção, é possível criar nosso próprio familiar real, escolhendo como base um dos primos já desbloqueados e fazendo leves alterações em seu padrão de cor. Não deixa de ser algo diferente, mas ainda assim um pouco limitado.
Por fim, há um modo de jogo multiplayer, chamado KatamariBall, que pode ser jogado online ou de maneira solo contra três oponentes controlados pela CPU. Apesar dele trazer uma pegada diferente, em ritmo de disputa, ele acaba sendo bem menos interessante que as missões convencionais.
Era uma vez uma família real que voltou com um jogo excelente
Once Upon A KATAMARI pode ter demorado para chegar, porém compensou a espera dos fãs com um ótimo título. Manteve as coisas boas que os remakes dos dois primeiros títulos trouxeram para as atuais gerações e incrementou com ótimos elementos narrativos e uma trilha sonora encantadora. O Rei de Todo o Cosmos pode até ter tentado atrapalhar, de mais de uma maneira, mas o Príncipe conseguiu trazer sua katamari da maneira que tanto esperávamos.
Prós
- Além da jogabilidade clássica, foi adicionada uma simplificada, utilizando apenas um direcional;
- A ideia de usar a viagem no tempo para criar ambientes e fases novas culminou em missões bem criativas;
- As cenas da narrativa e as animações no meio da fase para mostrar transições foram ótimas adições;
- O bom humor clássico da franquia continua sendo um diferencial;
- As novas músicas são excelentes.
Contras
- Lidar com a proximidade ou distanciamento da câmera em algumas partes pode ser um problema, principalmente em fases estreitas;
- Os balões frequentes de fala do Rei no meio das fases em andamento são incômodos;
- KatamariBall não consegue ser tão interessante quanto o restante do jogo, apesar da proposta diferenciada;
- Músicas clássicas como DLC pago.
Once Upon A KATAMARI — PC/PS5/Switch/XSX — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Thomaz Farias
Análise feita com cópia digital cedida pela Bandai Namco















