Em 2008, a G.Rev lançou o shooter Mamorukun Curse!, que ganhou ports e expansões ao ser portado para Xbox 360 e PlayStation 3, se tornando uma espécie de queridinho em terras nipônicas. Agora, as atuais gerações poderão sentir a frenesi sobrenatural do título com Mamorukun ReCurse!, que traz todos os incrementos lançados junto ao jogo original e mais alguns extras.
Patrulha sobrenatural
Ao falar em shooter, é meio básico já pensar em jogos de navinha, mas Mamorukun traz uma abordagem diferenciada e criativa. Com uma temática sobrenatural, carregada de referências culturais e folclóricas do Japão, podemos escolher entre sete personagens, cada um com seu padrão diferente de tiro, graças a um companheiro que se assemelha a um fantasminha.
Por mais que a ação seja vertical ascendente, a progressão não é feita com a tela rolando continuamente. O jogador controla o seu boneco por um mapa, infestado de inimigos e caminhos bifurcados, repletos de projéteis no melhor estilo bullet hell. Logo, nós determinamos quando a tela irá se mexer e para onde no nosso ritmo, mas é melhor não demorar muito, senão o tempo se esgota e a morte em “pessoa” vem nos dar uma lição.
Esse tipo de abordagem por si só já torna Mamorukun um título atipicamente charmoso para quem curte o gênero, o que é meu caso. Além disso, a jogabilidade também desempenha um papel fundamental para tornar a aventura mais interessante.
É possível atirar em quase todas direções, menos para trás, já que os projéteis sempre são orientados para o ponto de vista do boneco. Para devolver a saraivada de balas, é possível criar uma região de maldição, que deixa os inimigos mais fortes e portadores de recompensas melhores ao serem abatidos, ou funciona a nosso favor, aumentando a força e a dispersão dos nossos disparos.
Em ReCurse! foi implementada uma segunda maneira de controlar o personagem: o twin-stick. Ao escolhê-lo, não é mais necessário apertar um botão para atirar. Os dois direcionais se encarregam de descer chumbo nas criaturas sem dó. Com o esquerdo nos movimentamos e com o direito escolhemos a direção dos tiros, o que corrige o defeito do modo clássico de não poder atirar para trás, e isso reduz bastante a chances de sermos surpreendidos por algum ponto cego.
Pelo menos para mim, o único pecado deste jogo é que às vezes a tela fica muito poluída por causa da velocidade necessária para concluir as fases. As fases são curtas e por vezes temos que correr, mesmo com a tela lotada de bolinhas brilhando pra lá e pra cá, preparadas para nos roubar um coração. Como a pressa é inimiga da perfeição, se os nossos reflexos não estiverem em dia, é inevitável sermos pegos de surpresa.
O mundo sobrenatural tem seu charme
Referente aos modos de jogo, Mamorukun ReCurse! traz de tudo para agradar os fãs do gênero que ainda não o conheciam, mas também não esquece de quem já conhecia Mamoru e sua turma desde 2008.O Arcade mantém o formato de tela original, centralizado, com o resto do espaço preenchido por um papel de parede. Nele, podemos escolher a ordem das missões até chegar ao confronto final.
Inclusive, aproveito para relatar um problema que aconteceu durante minha análise. Exatamente na fase final do Arcade, houve um soft lock, que me impediu de progredir. A barra de vida do chefe sumiu ao atingir sua última forma, então ele simplesmente largou a mão de morrer e ficou lá, piscando. O cronômetro também desapareceu, mas os fantasmas que surgem quando ele zera apareceram normalmente, o que me obrigou a retornar ao menu principal e começar de novo.
O Story já funciona um pouco diferente. Além de ter a narrativa com diálogos ao estilo Visual Novel, escolhemos cinco personagens para concluir as fases. Assim que um é atingido, outro toma seu lugar. Se todos forem derrotados, é Game Over na hora, mas encontrar um coração pelo caminho revive um aliado caído. Este é o único modo no qual podemos alternar entre a tela em disposição original ou widescreen, ocupando todo o espaço de maneira natural, sem ficar esticada para se adaptar.
Tanto o Story quanto o Arcade contam com a possibilidade de praticar um certo tipo de situação. Escolhemos a fase, nosso nível de poder e a dificuldade e usamos isso para afiar nossa habilidade. Entretanto, é basicamente a mesma coisa que jogar um desafio isolado, faltando algo que possibilite aprender com os erros, como um recurso de voltar alguns segundos no tempo (rewind).
O último modo disponível é o Netherworld Adventures, no qual escolhemos um trio para uma sequência de fases com algum tipo de modificador, como alteração na velocidade da ação. Diferente do Story, se um integrante do time é derrotado, ele não volta ao encontrarmos um coração. Todos os estágios do desafio escolhido devem ser feitos de uma vez.
A medida que jogamos cada um deles, novas ilustrações são liberadas na extensa galeria que tem uma sessão para cada personagem principal, além de uma para os vilões, uma sessão de imagens promocionais e até as páginas do manual do arcade, em japonês. Também foram incluídas roupas alternativas para todos os heróis do jogo, que podem ser trocadas livremente no menu principal desde o começo.
Diferente do que ocorre em alguns outros shooters, que tentam criar artifícios para que joguemos várias partidas, às vezes sem uma recompensa válida, Mamorukun, com suas fases curtas e desafios elevados, consegue cativar o jogador a sempre ir atrás de mais uma tentativa, seja para achar uma ilustração que falta ou para testar as habilidades de um novo personagem contra algum padrão específico de inimigos.
Particularmente, só achei que faltou a possibilidade de jogar o Arcade em widescreen. Como ele foi bem implementado nos outros dois modos, não seria ruim tê-lo disponível para este também, mesmo que só depois de finalizá-lo uma vez pelo menos.
Por fim, a trilha sonora também foi feita para ser aproveitada a gosto do jogador. As músicas originais estão presentes, assim como as versões com arranjos das mesmas, faixas introduzidas agora em ReCurse! e um quarto álbum só com remixes variados das principais trilhas dos outros três. Cabe a quem está no controle deixar tudo como está ou aproveitar a liberdade de personalizar a sua playlist com as suas favoritas para cada momento. E vale frisar que cada modo de jogo tem a sua, então as possibilidades de customização sonora são inúmeras.
Uma (re)estreia infernalmente caprichada
Se você é fã do estilo bullet hell, Mamorukun ReCurse! com certeza é uma opção mais do que acertada para a sua biblioteca. Este título tem ação e conteúdo de sobra e a implementação do twin-sticker deixa tudo mais frenético e dinâmico. Agora, se este não é um gênero que lhe é muito familiar, pode ficar tranquilo, pois há recursos de sobra para que ele se torne um de seus favoritos.
Prós
- A jogabilidade twin-stick é perfeita para o ritmo frenético de jogo;
- Os modos disponíveis têm diferentes abordagens, o que cria desafios distintos;
- Ótimos personagens com poderes únicos;
- Grande quantidade de itens desbloqueáveis na galeria;
- A trilha sonora nova é tão boa quanto a original e todas as faixas disponíveis podem compor playlists próprias para cada modo.
Contras
- A tela pode ficar muito cheia de coisas em trechos mais estreitos e isso nos leva a tomar alguns danos bobos;
- O modo Arcade poderia ter a opção de disposição widescreen;
- Faltou a implementação de um recurso de rewind para ficar mais fácil retomar algumas decisões ao praticar;
- Pode ocorrer uma situação de soft lock no final do Arcade.
Mamorukun ReCurse! — PC/PS4/PS5/Switch/XSX — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Clear River Games













