Análise: KAKU: Ancient Seal é uma aventura divertida que tropeça em problemas comuns de mundo aberto

A escolha por um estilo artístico mais voltado para o tribal foi um diferencial.

em 24/10/2025

Em Kaku: Ancient Seal, os jogadores acompanham Kaku, um jovem guerreiro com a missão divina de resgatar os quatro elementos primordiais — Água, Fogo, Terra e Vento — que foram tomados por forças sombrias. Para salvar o mundo de uma catástrofe iminente, Kaku deve enfrentar inimigos poderosos e resolver enigmas complexos em ruínas ancestrais nesta aventura de ação em mundo aberto com elementos de plataforma.

Uma aventura desorganizada

A narrativa de Kaku é simples, um pouco apressada e, em certos pontos importantes, mal desenvolvida. O protagonista, por exemplo, em questão de cinco minutos, passa de caçador de leitões voadores para salvador de uma missão divina ao lado do deus Saga, criador do mundo, enfrentando forças malignas.


O herói mal tem uma personalidade definida, agindo muitas vezes sem motivação clara, apenas na base do "porque sim". Essa falta de profundidade se estende aos personagens secundários, como o porquinho voador Porquin, seu fiel escudeiro, e até mesmo aos antagonistas.

A trama não me cativou. Entretanto, para a proposta do jogo de ser uma aventura simples sobre herói salvando o mundo, está dentro do esperado, mas mesmo assim acredito que perder um pouco mais de tempo desenvolvendo o protagonista ou os personagens que o cercam teria melhorado a trama.

Embora o jogo disponha de legendas em português, essas apresentam inconsistências como a ausência de maiúsculas em nomes próprios e a presença de nomes de chefes em inglês, sendo que são traduzidos quando citados em outras partes do jogo. 



Além disso, o áudio em algumas cenas animadas está dessincronizado, adiantando-se à imagem. Contudo, tais falhas não comprometem a compreensão da trama e devem ser corrigidas assim que saírem atualizações. 

Um guerreiro prodígio 

O protagonista se destaca como um combatente excepcional, desferindo golpes rápidos e pesados de forma cadenciada. Isso possibilita a execução de combos básicos, esquivas precisas, deflexão de ataques e a utilização de habilidades poderosas, desbloqueadas por uma árvore de habilidades e potencializadas pelos poderes da saga.


O combate é simples e competente. No começo, antes de começar a adquirir os golpes novos, parece que o combate será travado, mas, conforme progride, ele se torna diversificado ao incluir golpes extravagantes e, mesmo assim, é desafiador, já que é necessário tomar cuidado com o vigor do protagonista.

Porém, achei que os monstros enfrentados, às vezes, são resistentes até demais, podendo tornar os confrontos monótonos. Mesmo quando o vigor deles esgotam, deixando-os atordoados e vulneráveis, o dano recebido por eles é baixo, dando a entender que o jogador está golpeando uma parede

Adicionalmente, o protagonista pode se transformar temporariamente, manifestando os poderes da divindade criadora do mundo, Saga, em si, desencadeando ataques extravagantes e poderosos. Novas habilidades divinas são desbloqueadas ao coletar fragmentos do monólito da divindade espalhados pelo mapa. Esse seu “Devil Trigger” é extremamente forte e divertido de usar e me ajudou muito em algumas lutas contra os chefões ou para exterminar grupos de inimigos rapidamente.

É possível realizar ataques à distância usando um estilingue, que dispara Pelotas especiais de fogo, raio ou veneno. Elas são úteis para resolver quebra-cabeças, superar obstáculos como vinhas que bloqueiam caminhos e também podem ser empregadas em combate para causar condições como envenenamento.



No entanto, essa última função foi mais explorada por mim apenas no final do jogo, quando as Pelotas se tornaram mais potentes, pois tinha achado uma runa que fazia todos os disparos serem explosivos. Quando isso ocorreu, elas se tornaram úteis em combate. Mas, mesmo assim, em muitos casos, elas dão pouco dano, principalmente em chefes.

Escolha a armadura que melhor lhe convém

Kaku oferece uma vasta variedade de armaduras e espadas (que se assemelham mais a machados ou clavas). Contudo, elas não possuem características como maior defesa ou ataque. Em vez disso, conferem bônus únicos e espaços para runas, concedendo ao jogador a liberdade de escolher o que melhor se adapta ao seu estilo de jogo.

Mais do que liberdade, essa possibilidade permite diversificar mais o combate. É possível, por exemplo, pegar uma espada que recupera vida a cada ataque e incrementá-la com uma runa que causa envenenamento. Logo, o jogador já está pensando em uma variedade de combinações diferentes que vão mudar a forma de lutar.

Por mais simples que seja, a desenvolvedora BingoBell soube criar mecânicas criativas para diversificar o combate sem precisar acrescentar uma enxurrada de habilidades. Minha única crítica é que a aparência de algumas armaduras é muito parecida e faltou uma possibilidade de ocultar os capacetes, já que alguns são bem feios, como uma cabeça de javali.

Porquin, o porco voador com mil e uma utilidades

O pequeno leitão voador, que acompanha o protagonista, possui habilidades úteis para exploração e resolução de quebra-cabeças. Ele pode abrir portais para o reino das ruínas, onde talentos são liberados, realizar um super pulo, criar uma esfera para andar sobre a água e disfarçar o protagonista para permitir sua entrada em acampamentos inimigos.

Apesar da fofura do pequeno "torresmo voador", senti que nem todas as suas habilidades foram devidamente exploradas. O disfarce, por exemplo, dura muito pouco, o que muitas vezes leva o jogador a ter que confrontar os acampamentos diretamente. 

Seria interessante ter a opção de aprimorar essas habilidades, já que o maior motivo de eu não usá-las mais vezes era a leve demora para evocar tal poder e a curta duração, que muitas vezes se esgotava durante alguma utilização, como nos acampamentos.

Pelos quatro cantos do mundo 

O mundo criado por Saga é composto por quatro continentes distintos, cada um com sua própria associação elemental: o Deserto do Osso Dracônico (Terra), a Montanha Flamejante (Fogo), os Campos Nevados Uivantes (Vento) e os Pântanos Nebulosos (Água). A Ilha Voadora, embora seja uma exceção, serve como base principal.


As áreas são ricas em conteúdo, incluindo baús, torres de cristal (que funcionam como pontos de viagem rápida), missões secundárias para a tribo Ponpon, monólitos e recursos como cogumelos, abóboras, fogo de Kyle para recuperar vida e minérios para liberar poderes. 

As regiões são bem variadas, mas possuem o mesmo tamanho, o que é ótimo, pois são medianas e é possível percorrer toda sua extensão em pouco tempo. O que me incomodou foi o fato de o vigor acabar muito rápido ao correr pelo mapa. Acredito que se o vigor não se esgotasse durante a exploração, sendo consumido somente no combate, e o encontro com abelhas fosse reduzido, proporcionaria uma melhor experiência aos jogadores.

Contudo, as torres de cristal revelam um ponto repetitivo do jogo: a quantidade excessiva de quebra-cabeças em algumas atividades. Em cada uma das dez torres presentes por região, o mesmo quebra-cabeça envolvendo caixas se repete, o que torna essa atividade monótona.


Visualmente, os cenários são levemente detalhados e agradáveis. O design dos personagens e monstros lembra o desenho animado Tak and The Power of Juju, com um estilo tribal e selvagem que evoca a "idade da pedra". O idioma falado pelos personagens reforça essa ideia.

Adorei a originalidade do jogo, que se destaca por apostar em um tema pouco explorado pela indústria. Apesar de achar a quantidade de quebra-cabeças um tanto excessiva, a aventura por este mundo colorido e vibrante nunca se tornou monótona.

Reino das Ruínas

O Reino das Ruínas é uma dimensão onde ficam os pilares que são as árvores de habilidades, divididas em Maestria (aumenta o dano ou defesa máxima), Cozinha (onde se pode melhorar a qualidade dos alimentos), Pelotas (melhorando os efeitos da munição do estilingue) e Combate. O lugar é acessível a qualquer momento através de uma das habilidades do porquinho, e é um dos pontos altos do jogo.

Achei muito interessante existir um local onde se tem acesso a tal árvore de habilidade, em vez de ela ser apenas uma mecânica não física existente em jogos. A versão de Ancient Seal realmente está lá. Mas o que vou realmente destacar são as masmorras que cercam esses reinos. Em seu centro, estão os pilares e, ao seu redor, as masmorras, divididas por região e com temáticas baseadas nelas. Ou seja, o mapa de fogo terá masmorras que envolvem fogo.

Dentro dessas masmorras, que são acessadas usando chaves de ruínas espalhadas pelo mapa, temos percursos recheados de plataformas e, às vezes, inimigos. Superando tal adversidade, o jogador é recompensado com o aumento da vida máxima ou vigor.

Conforme se progride, fases cada vez mais difíceis são liberadas, com a mesma recompensa e um adicional, como baús com equipamentos(espada ou armaduras) ou recursos para serem gastos em habilidades. Eu achei muito criativo o método usado para ter acesso à melhoria de atributo básico. Cada masmorra que fiz foi muito diferente da anterior.


Em uma ocasião, tive que pular em vitória-régias sobre um lago até chegar ao meu objetivo. Em outra, estava em um mar de lava, tendo que enfrentar inimigos para abrir um caminho seguro para chegar ao final do percurso. Todas as variações foram, acima de tudo, divertidas e não causaram frustrações.

Guardiões elementais

Os chefes em cada região possuem visuais interessantes, embora não se destaquem. Eles apresentam um bom conjunto de movimentos e oferecem a possibilidade de repetir as lutas para buscar equipamentos melhores. Contudo, a obtenção desses itens não é garantida, exigindo múltiplas tentativas.


Achei peculiar a inclusão de uma mecânica de farming em um jogo single-player, mas ela não compromete a experiência. No entanto, as fases que precedem as arenas dos chefes são um ponto negativo. Após adentrar um templo onde o inimigo se localiza, é necessário superar dois trechos de plataforma tediosos para liberar o caminho antes de chegar ao confronto principal.

Essa escolha de design interrompe o ritmo do jogo, pois tais trechos são recheados de momentos de plataformas, machados gigantes, rolos compressores e espinhos. Eles lembram muito os corredores cheios de armadilhas de Prince of Persia. Embora não sejam difíceis, tornam-se chatos, principalmente porque todos os chefes têm isso, tornando a experiência monótona. Uma opção para pular esses trechos seria interessante.

A variedade de inimigos comuns é boa, com uma mistura de dragões, javalis, ursos e zumbis. No entanto, a tribo Ponpon é repetitiva e irritante, aparecendo em todas as regiões. Seria interessante se eles tivessem aparências diferentes em cada área para maior diversificação.

Uma sólida aventura 


KAKU: Ancient Seal
oferece uma aventura sólida com jogabilidade simples, mas muito versátil, tanto pela variedade de armaduras únicas quanto pela possibilidade de encarnar os poderes do deus Saga. A exploração é envolvente em um mundo primitivo colorido e repleto de atividades. Apesar disso, a história peca um pouco no desenvolvimento do protagonista, não o deixando tão carismático quanto poderia, e o jogo sofre com repetições devido ao excesso de quebra-cabeças em algumas atividades.

Prós

  • Combate simples, mas competente e divertido com boa variedade de habilidades e armaduras;
  • Mundo aberto com ambientes variados distintos e com atividades divertidas;
  • Estilo artístico cartunesco usando a idade da pedra é um diferencial excelente;
  • Manifestar os poderes divinos de Saga é extremamente divertido e gratificante;
  • O Reino das Ruínas é uma maneira criativa de adquirir vigor e vitalidade extra.

Contras

  • Quebra-cabeças divertidos, mas a quantidade exagerada em algumas atividades torna eles repetitivos;
  • Alguns bugs de som e tradução que devem ser arrumados logo;
  • História apressada, carecendo  um pouco de desenvolvimento para os personagens. 

KAKU: Ancient Seal — PS5/XSX/PC — 8.0
Versão usada para análise: PlayStation 5
Revisão: Beatriz Castro 
Análise produzida com cópia digital cedida pela BINGOBELL 

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Thiago da Silva e Silva
É um universitário se formando em engenharia na UFRRJ,apaixonado por jogos desde a infância, principalmente RPGs.
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