LEGO é um brinquedo fascinante, mas caro, especialmente aqui no Brasil. Metade do encanto está nos mundos em miniatura e também em ver como as pequenas partes formam um todo que, pelos afetos que investimos nele, é muito maior do que sua soma.
Felizmente, é possível acessar alguns desses atrativos de forma virtual e menos dispendiosa: faz 30 anos que os bloquinhos entraram no mundo dos videogames, tentando manter suas qualidades lúdicas, criativas e estéticas mesmo ao perder a concretude. LEGO Voyagers é o mais recente desses títulos.
Um tijolo por vez
Baseado apenas no meu “achismo”, imagino que a marca LEGO contenha, em suas prateleiras, um dos maiores crossovers do mundo, incluindo em seus conjuntos de montar temas como The Simpsons, O Estranho Mundo de Jack e a série Friends.
LEGO Voyagers, porém, deixa tudo isso de lado, focando nas próprias pecinhas sem recorrer ao apelo de temas baseados em franquias diversas. É autorreferente, colocando o caráter construtivo do brinquedo em primeiro plano.
Isso quer dizer que tudo no mundo — com exceção da água — é feito com os bloquinhos de montar, em uma longa construção intrincada e muito detalhada. Há o cuidado de manter a verossimilhança, isto é, de fazer cada montagem parecer plausível e possível de reproduzir na vida real com as mesmas peças empregadas. Há concessões convenientes para alguns mecanismos móveis e para a firmeza do encaixe das peças que manipulamos no jogo, porém, de resto, o realismo é marcante.
Voyagers não fica só no realismo arquitetônico, mas também no visual, dando a seus elementos a aparência fidelíssima do material físico que é seu referente. O plástico reluzente parece recém-saído da caixa, as cores seguem os padrões conhecidos e o nome LEGO é visível em alto-relevo em cada pino de encaixe.
O jogo de luz e sombra faz toda a diferença ao dar volume às cenas, e os reflexos nas superfícies lisas são onipresentes, mesmo na versão de PS5, que foi a que joguei. Nem tudo é tão bem polido: há uma constante luz difusa e alaranjada vinda de cima, típica do nascer do sol, deixando a parte superior da tela mais opaca do que eu gostaria. Não demorou que eu desgostasse desse efeito, que permanece insistente ao longo da campanha, aparecendo também com luz branca. No console não há opções gráficas, mas imagino que isso possa ser modificado na versão para PC.
Mesmo com essas qualidades estéticas, os ambientes são tematicamente pouco variados, consistindo majoritariamente de escarpas naturais com muitas plantas. O cenário gradativamente vai ficando mais industrial e com tecnologia espacial, porém uma diversidade maior seria melhor para a sensação de viagem apontada no nome do jogo.
Dois são melhores do que um
A gameplay é bem simples e eficaz. Controlamos duas pecinhas rolando por aí. Elas têm um botão para pular e um para se conectar a outras peças. No começo, achei os comandos de montagem desengonçados, mas, quando peguei o jeito, vi que são bastante práticos, podendo seguir a grade de encaixe e girar no eixo corretamente com outro botão.
Construir coisas é muito importante para criar pontes e continuar a jornada, dando um aspecto de puzzle que fica mais elaborado no decorrer da campanha, mas nunca complexo demais. A quantidade de peças é limitada, e a regra é deixar a dupla fazer como preferir, uma vez que a “construção” geralmente não vai muito além de empilhar blocos.
Os puzzles também envolvem alavancas, plataformas móveis, ímãs e até uns minigames, sempre de forma a engajar ambas as pessoas que jogam. Como disse no título e reforçarei na conclusão, LEGO Voyagers só pode ser jogado por duas pessoas em modo cooperativo local ou online. Logo, não é uma experiência que permita um viajante solo, ficando como uma limitação.
Por outro lado, o online permite o Passe de Amigo, o que significa que apenas uma pessoa precisa comprar o jogo, enquanto seu par deverá baixar essa versão gratuita, o que é um modelo de negócio muito apropriado para jogos desse tipo.
Brincando com LEGO
Para além dos puzzles leves, o mundo é construído com muitas interações lúdicas: plantas que estouram ao ser tocadas, “caranguejos” fujões, artefatos planejados unicamente para brincar (e, às vezes, render um troféu), como um balanço e um giroscópio de treinamento de astronauta.
A viagem dura em torno de cinco horas, divididas em 37 capítulos, que podem ser acessados a qualquer momento pelo menu de seleção.
Senti falta de colecionáveis, algo que incentivaria a explorar os cenários lineares com maior atenção e combinaria tanto com o estilo da aventura e com a natureza de construções de LEGO quanto com a ideia de incitar a curiosidade de procurar essas pequenas interações possíveis.
A identidade lúdica fica ainda mais clara pelo fato de haver um botão dedicado a “falar” (como ruídos de desenho animado) e cantar. Como os dois personagens têm tons distintos, dá para fazer um dueto cacofônico pelo simples prazer de produzir sons. Falando nisso, os efeitos sonoros são feitos para serem suaves e agradáveis, algo particularmente notado no estalinho de conectar peças.
Viajar em boa companhia
A jornada tranquila de duas pecinhas que sonham com o espaço faz de LEGO Voyagers uma experiência bonita e cativante com seu mundo de blocos de montar, especialmente construído para ser percorrido a dois. Isso quer dizer que não há opção para curtir sozinho, mas, felizmente, quem o adquirir pode convidar uma companhia para se juntar à aventura por meio do Passe de Amigo. Com muitas interações lúdicas e puzzles cooperativos, é um bom tempo de qualidade para ser curtido em par.
Prós
- Uma experiência tranquila e relaxante para curtir a dois, tanto em modo cooperativo local quanto online;
- Basta que uma pessoa adquira o jogo, enquanto a outra pode acompanhá-la por meio do Passe de Amigo;
- Belos visuais, contando com iluminação e reflexos bem aplicados;
- Um mundo intrincadamente feito de LEGO.
Contras
- Por sua natureza cooperativa, não pode ser curtido sozinho;
- A ambientação é pouco variada;
- Não há colecionáveis ou objetivos paralelos para incentivar a exploração.
LEGO Voyagers — PC/PS5/PS4/XSX/Switch/Switch 2 — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Annapurna Interactive












