Hades II abre a porta do submundo com grande esplendor. Eu cheguei com a régua lá em cima por causa do primeiro jogo e, poucas salas depois, já estava naquele transe que só a série provoca: runs que parecem conversas, não tarefas. O loop continua sendo sobre tentar de novo, mas raramente sobre repetir os mesmos acontecimentos; o charme de Hades sempre foi o fato de cada run ser única.
A Filha de Hades
A mudança de protagonista dá o novo tom. Melinoë, irmã de Zagreus, foi criada por Hécate, Bruxa e Deusa da magia, para enfrentar Cronos, o titã do tempo que tomou a Casa de Hades e sequestrou toda a família do submundo (Zagreus e Cérbero inclusos). O conflito respinga no Olimpo, pois, de alguma forma, o titã organizou duas ofensivas para seu plano. O roteiro encontra um bom equilíbrio entre urgência mítica e intimidade: Melinoë é carinhosa e sagaz, e a forma como ela se relaciona com as figuras da mitologia — mestres, aliados, rivais — sustenta a fantasia de “crescer” dentro desse panteão sem soar derivativo.Some a isso à novidade das conjurações: círculos que restringem inimigos e explodem ao fim, ótimos para ditar o espaço e punir aglomerações. É aquele combate elástico de Hades, mas com outra cadência: nas lutas, a decisão não é só o que bater, e sim quando canalizar, onde conjurar e quanto da sua mana merece cada aposta.
Bençãos do Olimpo
As bênçãos dos deuses continuam sendo a argamassa que transforma runs em histórias próprias. Velhos conhecidos como Zeus e Poseidon mantêm sinergias claras — relâmpagos em cadeia, ondas de empurrão —, o destaque vai para adições. Héstia (Deusa da chama) introduz queimaduras progressivas e até truques de recarga de mana ao agredir, enquanto Hera (Deusa do casamento) cria um efeito de “união” que liga dois inimigos: feriu um, o outro sente o reflexo. Isto é só um pouco sobre como o arsenal se expande para novos Deuses, bênçãos e novas interações com personagens novos e antigos. É o tipo de ideia simples que multiplica decisões e abre espaço para builds deliciosamente oportunistas.
Os Martelos de Dédalo, que já existiam no jogo anterior, seguem como chave de identidade. Eles atuam como upgrades que distorcem armas de maneiras que parecem “novas versões” de uma mesma peça. E os Aspectos das armas continuam caprichados: além de mudarem a aparência com a assinatura de outras divindades, realmente deslocam a leitura do kit. No papel, é continuação; na mão, é novidade.
Os Martelos de Dédalo, que já existiam no jogo anterior, seguem como chave de identidade. Eles atuam como upgrades que distorcem armas de maneiras que parecem “novas versões” de uma mesma peça. E os Aspectos das armas continuam caprichados: além de mudarem a aparência com a assinatura de outras divindades, realmente deslocam a leitura do kit. No papel, é continuação; na mão, é novidade.
Novidades
Outra camada bem-vinda é Selene, avatar da Lua, oferecendo “Sortilégios”: habilidades especiais de feitiçaria que vão de polimorfismo (transformar inimigos em… ovelhas) a explosões de grande área. Esses poderes têm árvore de upgrades própria ao longo da run, o que incentiva a planejar o próximo encontro com Selene como quem mira um mini-endgame portátil.Fora do campo de batalha, o jogo se expande de forma ambiciosa. Os Materiais — novidade mecânica de Hades 2 — coletados nas runs ou cultivados no acampamento das bruxas, alimentam um caldeirão de receitas que alteram o mundo (fontes de cura extras nas áreas por exemplo), liberam melhorias de armas e destravam conveniências. É uma progressão que conversa com o que você encontra nas salas e com o que você prepara em casa.
Paralelamente, os Arcanos (um conjunto de cartas ao estilo tarô) substituem o Espelho do primeiro jogo: você distribui um orçamento de pontos para montar sua “constituição” — de Desafios à Morte a bônus situacionais — e ainda os reforça com poeira lunar. O resultado é um personagem que reflete seu gosto mecânico sem perder a maleabilidade do roguelite.
Aspecto Técnico
Tudo isso vem embrulhado numa direção de arte que continua um colírio. Personagens redesenhados, cenários do submundo ao Olimpo cheios de micro detalhes e animações que não são apenas bonitas: são legíveis. A clareza visual em meio ao caos segue impecável. Em termos de som, a trilha volta a ser bússola e motor. Chefões rugem com rock sinfônico que casa com a identidade de cada encontro; florestas suspiram um misticismo de reverberação longa; e os efeitos de magia ajudam a “marcar” o tempo das canalizações. Na parte técnica, a experiência foi estável durante a minha jogatina: sem quedas de desempenho ou bugs dignos de nota. O controle responde sempre que o cérebro decide e os loads não interrompem o fluxo — essencial para que o jogo não quebre o feitiço entre uma sala e outra.
Em nome de Hades!
Foi fácil perder a noção do relógio. Passei horas seguidas em sequência de runs que sempre ofereciam um ângulo novo: um martelo que vira a arma de cabeça para baixo, uma bênção lunar que muda prioridades, uma sinergia improvável que pede mais uma tentativa “só para ver até onde vai”. Se há uma pedra nesse caminho, ela está no grind de materiais. A estrutura de receitas e desbloqueios é inteligente, mas em determinados momentos a progressão de história ficou à mercê de tarefas repetidas apenas para juntar recursos. Não é um tropeço que desfaça o encanto, porém impõe um ritmo que nem sempre combina com o ímpeto da narrativa.
Hades II, no fim, é a rara sequência que amplia sem diluir. Ele respeita o passado, mas não vive dele e mantém o que importa. Nos dando o prazer quase táctil de entrar numa sala sem saber qual versão de você vai sair de lá. Entre o aço e o feitiço, a Supergiant entrega um dos indies mais fortes do ano.
Hades II, no fim, é a rara sequência que amplia sem diluir. Ele respeita o passado, mas não vive dele e mantém o que importa. Nos dando o prazer quase táctil de entrar numa sala sem saber qual versão de você vai sair de lá. Entre o aço e o feitiço, a Supergiant entrega um dos indies mais fortes do ano.
Prós
- Combate com magia canalizada e conjurações que alteram o ritmo e ampliam expressão de jogo.
- Bênçãos novas (Héstia, Hera por exemplo) que abrem sinergias frescas e interessantes.
- Selene/Sortilégios adicionam poder situacional e progressão dentro da própria run.
- Direção de arte de altíssima legibilidade e personalidade.
- Trilha sonora que contextualiza cada encontro e não cansa.
- Arcanos e caldeirão de receitas dão profundidade ao meta sem engessar builds.
Contras
- Grind de materiais por vezes interrompe o fluxo e atrasa a progressão da história.
Hades II - PC/Switch/Switch 2 - Nota: 9.0Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Jhonnie Brian
Análise feita com cópia digital cedida pela Supergiant Games










