Nos últimos anos, o mercado brasileiro de jogos tem nos surpreendido bastante. A facilidade de acesso às ferramentas e aos métodos de distribuição não apenas permitiu que os desenvolvedores locais exibissem seu talento, mas também proporcionaram a oportunidade de apresentar nossa cultura ao mundo por meio dos videogames.
Aviãozinho do Tráfico 3: Abri um Portal pro Inferno na Favela Tentando Ressuscitar Mit Aia e Preciso Fechar é um dos mais destacados exemplos de algo que só poderia ter sido originado no Brasil. O boomer shooter, liderado pelo youtuber Joeveno, começou a atrair atenção pelo inusitado, mas será que consegue se sustentar?
Um apocalipse demoníaco no Brasil
O subtítulo extremamente explicativo de Aviãozinho do Tráfico 3 sintetiza toda a ideia do título. Você gerencia um fã fervoroso do cantor Mit Aia — sim, uma alusão ao Tim Maia — que tentou trazê-lo de volta à vida. O processo acaba falhando, liberando não apenas demônios do submundo, mas também fazendo com que eles possuam os humanos.
Diante dessa situação catastrófica, agora somos obrigados a percorrer o Rio de Janeiro e até outras regiões do Brasil para fechar o portal. Ao longo do percurso, encontramos personagens como Salvio, Seu Manhã e outras sátiras bastante evidentes.
É nesse caos que reside o principal atrativo de Aviãozinho do Tráfico 3: a sátira que apenas o brasileiro é capaz de fazer de si mesmo. O título é ambientado principalmente na nossa cultura pop, especialmente no lado mais periférico da nossa história.
Devemos passar por diversas fases ambientadas em locais como comunidades do Rio de Janeiro, o subterrâneo do MetrôRio, parte da floresta amazônica e até os estúdios do BCT (que, apesar da sigla sugestiva, é o SBT), em São Paulo. O objetivo é sempre chegar ao final da fase, matando tudo que vê pelo caminho e encontrando chaves para progredir.
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Atirando à moda antiga
Aviãozinho do Tráfico 3 é, basicamente, uma modificação do Quake. Desenvolvido na idTech 2, os inimigos, a maneira como os cenários são construídos, os controles e outros componentes são originários do clássico da id Software, porém, com essa estética estranha por cima.
Portanto, todas as qualidades da jogabilidade de Quake estão presentes aqui. Estamos em um ritmo bastante rápido, com várias armas para descobrir, todas também sendo variações do jogo original.
No entanto, o level design dos mapas é bastante diferente, sendo mais básico. Não há grandes momentos de estar perdido, buscando chaves de cores específicas, como geralmente acontece em boomer shooters dos anos 90, o que, para mim, é até um alívio.
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Aviãozinho do Tráfico 3 pode ser um jogo bastante desafiador, com ênfase na parte de tiroteio. Basta reunir cinco demônios flamenguistas em um ambiente mais fechado para que possamos nos tornar alvos fáceis, se não ficarmos atentos — ao menos o tradicional savescan, o ato de salvar a qualquer momento, está presente para nos ajudar.
Isso não quer dizer que o design dos mapas seja perfeito; muito pelo contrário. Durante a campanha, há corredores estranhos, plataformas colocadas de forma maliciosa e inimigos posicionados em locais irritantes, o que evidencia uma produção mais "amadora".
Caso busque ainda mais conteúdo, o jogo tem suporte à Oficina Steam, facilitando a busca e instalação de mods feitos pela comunidade.
Uma completa alegoria
Aviãozinho do Tráfico 3 é um jogo que se destaca visualmente de várias maneiras. Desde a primeira vez que jogamos, notamos o uso de fontes em Comic Sans, sem muita preocupação com a gramática, e o restante do jogo mantém esse tom de sátira.
As texturas, que parecem ter sido extraídas de fotografias; a sátira com marcas como McDonald's e Brahma, modificadas; e os personagens representados apenas como PNGs estáticos conferem um aspecto de jogo 3D dos anos 1990.
A diferença reside na energia despreocupada em qualquer aspecto que envolva acabamento visual. Existem bordas mal recortadas, memes de emoji que representam o estado de saúde do protagonista e botões com textos incomuns por toda parte, e isso acaba se adequando à proposta do título.
No entanto, a trilha sonora é um caso peculiar, ao passo que os gráficos são de fácil compreensão. Trata-se de músicas eletrônicas muito hardcore, que combinam músicas brasileiras com samples estourados e reconhecíveis.
Algumas faixas são bacanas, mas chega um momento que elas realmente irritam, seja por repetirem após um quick load, seja por tocarem em looping em algumas fases. Os efeitos sonoros são praticamente os mesmos de Quake, sendo bem reconhecíveis.
Não tentem reviver seus ídolos no Rio
Aviãozinho do Tráfico 3: Abri um Portal pro Inferno na Favela Tentando Ressuscitar Mit Aia e Preciso Fechar representa a essência da cultura brasileira — particularmente a carioca — em um jogo. É possível perceber que Joeveno e sua pequena equipe de colaboradores se divertiram com o que realizaram, apesar da simplicidade.
É um título que requer que você mergulhe em seu estado de espírito, já que não esconde suas inúmeras imperfeições. Nesse vasto mercado de boomer shooters, este é, sem dúvida, um dos mais singulares — pelo menos em termos de proposta.
Prós:
- Por ser um mod de Quake, a ágil e divertida jogabilidade permanece aqui;
- Tematicamente, é muito diferente do que estamos acostumados em produções brasileiras;
- Suporte nativo à Oficina Steam dá oportunidade para a comunidade aumentar a longevidade;
- As fases mais lineares podem ser uma boa porta de entrada para novatos em boomer shooter.
Contras:
- A parte gráfica é bastante “incompleta”, o que está de acordo com a proposta, mas pode incomodar;
- O level design é um tanto amador, com corredores sem fim e algumas plataformas posicionadas de maneira estranha em certos momentos;
- A trilha sonora pode irritar pela repetitividade e agitação.
Aviãozinho do Tráfico 3: Abri um Portal pro Inferno na Favela Tentando Ressuscitar Mit Aia e Preciso Fechar — PC — Nota: 7.5
Revisão: Mariana Marçal
Análise produzida com cópia digital cedida por Joeveno
