Dragon Quest V e seu excelente remake para PlayStation 2

Uma das sagas mais emocionantes da franquia recebeu uma ótima revitalização no segundo console da Sony, mas jamais chegou ao Ocidente.

em 29/08/2025
Dragon Quest V: Hand of the Heavenly Bride foi lançado originalmente em 1992 para o Super Nintendo, mas somente no Japão. O Ocidente só o conheceria muitos anos depois, em 2009, através de um remake para o Nintendo DS. No entanto, em 2004, o jogo já havia recebido uma versão refinada e bastante interessante para PlayStation 2, que, infelizmente, também ficou restrita ao território nipônico.

Uma jornada de gerações

Dragon Quest V possui uma estrutura narrativa dividida em arcos bastante peculiar, sendo também uma das mais emocionantes dentro da franquia. Aqui, acompanhamos toda a trajetória de vida do protagonista, desde sua infância até a fase adulta, vivenciando não apenas sua evolução como guerreiro e sua assunção ao papel de salvador do mundo, mas também seu desenvolvimento como filho, marido e pai.

A jornada tem início com o herói ainda criança, viajando ao lado de seu pai Pankraz. Apesar de um prólogo mostrar o nascimento do menino e a felicidade de seus progenitores, não sabemos por que sua mãe não está presente ou para onde exatamente a dupla está indo — um mistério que só é revelado mais adiante na campanha.

Nessa fase, o protagonista divide pequenas aventuras com Bianca, outra criança da sua idade. Essas passagens carregam um tom bastante fantasioso e infantil, como a exploração de um castelo assombrado para defender um Great Sabrecat dos garotos que o maltratavam e a visita a um mundo de fadas, onde precisam restaurar a primavera no local.

Essa etapa inicial transmite muito bem a sensação de ver o mundo pelos olhos de uma criança que ainda não compreende totalmente os perigos ao redor. Pankraz, inclusive, valoriza o espírito altruísta do filho, mas também o repreende por se colocar em risco tão cedo. Infelizmente, o fim desse estágio representa o término da inocência do herói, com um acontecimento trágico que o acompanha pelo resto da vida.

A segunda fase se passa cerca de dez anos depois. Junto do príncipe Harry, amigo que conheceu ainda na infância, nosso personagem consegue escapar de uma situação de escravidão, iniciando um arco que reforça a importância dos vínculos. Além de ajudar o jovem herdeiro a retornar para casa, esse período também aprofunda o sistema de recrutamento de monstros (que veremos mais adiante) e traz uma das escolhas mais importantes de todo o jogo: o casamento.

Após o matrimônio e alguns novos desafios, a trama dá outro salto temporal, e o herói e sua esposa são salvos de uma situação crítica por ninguém menos que seus filhos. É nesse momento que compreendemos melhor as motivações de Pankraz no início da jornada e descobrimos mais detalhes sobre a mãe do protagonista, o que conduz toda a família a uma nova aventura.

Graças a essa abordagem, Dragon Quest V entrega uma transição de arcos carregada de emoção, permitindo ao jogador vivenciar um ciclo de vida completo — acompanhando o protagonista desde a infância, quando seguia os passos do pai, até a fase adulta, em que se torna um guerreiro que luta ao lado da esposa e dos próprios filhos. Esse formato se torna ainda mais impactante quando lembramos que estamos falando de um jogo lançado originalmente no início dos anos 90.

O mundo fica ainda mais interessante em 3D

Dragon Quest V segue a estrutura de exploração tradicional da série, com um grande mapa-múndi que conecta diversas áreas internas, como cidades, castelos e cavernas. Como de costume, tanto dentro das dungeons quanto no mundo exterior, os combates são iniciados aleatoriamente.

Embora seja característico da franquia dar nuances a cada vila e região, DQV vai além ao fazer com que esses locais mudem ao longo do tempo, acompanhando o avanço da narrativa e o envelhecimento do protagonista e das demais pessoas. Dessa forma, revisitar um mesmo lugar em diferentes momentos da trama nunca soa repetitivo, já que sempre há novidades a serem descobertas e novos diálogos com os NPCs.

Em comparação com a experiência original do Super Nintendo, a versão de Dragon Quest V no PlayStation 2 potencializa a construção do mundo, já que seus bons gráficos em 3D permitem representar cada localidade com muito mais riqueza de detalhes e reforçam a identidade de cada região. Além disso, ela acrescenta a opção de ativar uma vista aérea, o que facilita o mapeamento geral dos locais.

Além das tradicionais mini medals, que conseguimos coletar ao redor do mundo e trocar por prêmios úteis, o remake traz a mecânica dos Knick-knacks. Esses itens funcionam como artefatos colecionáveis que podem ser exibidos em um museu dedicado, mas alguns também possuem utilidade prática, podendo ser equipados para conceder efeitos distintos.

Outra adição excelente do PS2 é a Party Chat, originária de Dragon Quest VII. Esse sistema permite que o jogador converse com os membros do grupo, ouvindo seus comentários e opiniões em tempo real sobre os eventos da história, o ambiente ou as falas dos NPCs. Como se pode imaginar, esses diálogos ajudam a aprofundar a caracterização dos personagens e dão mais vida à equipe.

Em Dragon Quest V, diversos elementos se combinam para tornar a exploração sempre recompensadora — seja pela curiosidade de revisitar locais e observar como o tempo transformou seus habitantes, pela busca por itens escondidos relevantes ou, no caso do remake, pelo simples prazer de examinar cada detalhe do mundo.

Batalhas clássicas, mas com monstrinhos aliados

O sistema de combate de DQV também mantém a base mais clássica da série, com batalhas em turnos e visão em primeira pessoa exibindo apenas os inimigos. Para quem conhece a franquia, a estrutura é familiar: temos comandos de ataque, magia e itens, sendo que cada personagem possui um inventário separado e as habilidades disponíveis geram diversas possibilidades estratégicas.

O recurso Tactics também está presente, permitindo definir comportamentos automáticos para os aliados. No remake, a inteligência artificial se mostra mais refinada em comparação à versão para Super Nintendo, que, curiosamente, dava a impressão de um certo retrocesso em relação ao que havia sido implementado originalmente em Dragon Quest IV, no Nintendinho.

Um dos grandes diferenciais de Dragon Quest V é a possibilidade de recrutar monstros. Ao derrotar determinadas criaturas, há uma chance de que elas peçam para se unir ao grupo, incentivando o jogador a batalhar constantemente em busca de aliados cada vez mais poderosos. Nesta versão para PS2, o número de monstros disponíveis aumenta de pouco mais de 40 para cerca de 70, e o grupo ativo em batalha passa a ter quatro membros, em vez dos três da versão mais antiga.

Além de cada bichinho possuir atributos, visuais e habilidades distintas, eles também podem utilizar diferentes equipamentos, dependendo de suas características físicas — como garras em criaturas com unhas grandes ou espadas em seres humanoides.

Vale destacar que, juntamente com os primeiros títulos da série Shin Megami Tensei, Dragon Quest V foi um dos primeiros RPGs a explorar de forma aprofundada o conceito de monstros aliados em batalha. Essa inovação não apenas originou uma série spin-off própria, como também inspirou diversos outros jogos e franquias importantes desse subgênero.

Outro ponto interessante é como o modelo narrativo influencia o combate. Isso porque as duas candidatas a esposa do protagonista possuem habilidades e estilos de luta distintos, fazendo com que a escolha da pretendente tenha peso nos confrontos. Ademais, a passagem do tempo ao longo da campanha afeta as espécies de monstros encontradas pelo mundo.

Ainda é importante salientar que o remake para PlayStation 2 apresenta visuais extremamente charmosos durante os combates. Além de movimentos de ataque impressionantes, os modelos dos monstros adversários são detalhados e transmitem com precisão o charme inconfundível de Akira Toriyama.

Por fim, o remake de PlayStation 2 não apenas aprimorou os visuais e sistemas da versão original de Super Nintendo, mas também serviu de base para a edição lançada posteriormente para Nintendo DS, que finalmente chegou ao Ocidente em 2009. Além de incorporar as principais melhorias do PS2, essa versão portátil adicionou Debora como terceira candidata a esposa, ao lado das originais Bianca e Nera.

Uma obra incrível e um remake especial

Com uma abordagem que se aprofunda nos laços familiares e na passagem do tempo, Dragon Quest V: Hand of the Heavenly Bride oferece uma experiência única e emocionante, provando-se uma obra à frente de seu período de lançamento. Como se não bastasse, além de reunir muitas das qualidades clássicas da franquia, o jogo foi um dos primeiros RPGs a explorar com maestria o conceito de monstros aliados, inspirando a criação de uma série própria e influenciando inúmeros outros títulos e franquias do gênero.

O remake para PlayStation 2, em especial, aprimora ainda mais a fórmula do original, apresentando visuais encantadores que tornam o mundo mais envolvente de explorar e reforçam a singularidade do design do genial Akira Toriyama, consolidando esta aventura como uma das mais ricas e memoráveis da franquia.

Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
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Lucas Oliveira
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