Análise: Tales of the Shire: A The Lord of the Rings Game nos mostra que ser um hobbit é algo para poucos

Simulador ambientado no universo de J. R. R. Tolkien é mais um produto voltado para entusiastas da Terra-Média.

em 05/08/2025
Nos últimos anos, a Terra-média tem sido palco de diversas experiências distintas no mundo dos games. Depois de lutarmos ao lado de Talion contra as forças de Sauron em Terra-média: Sombras de Mordor e Terra-média: Sombras da Guerra, explorarmos as profundezas de Khazad-dûm em busca de riquezas em The Lord of the Rings: Return to Moria e conhecermos uma perspectiva perturbadora através de Gollum em The Lord of the Rings: Gollum, chegou a hora de vivenciar algo mais tranquilo em Tales of the Shire: A The Lord of the Rings Game.

Neste título de simulação, assumimos o papel de um hobbit levando sua vida simples e serena no Condado, construindo laços com os demais habitantes e descobrindo o cotidiano de um povo que deseja apenas viver em paz.

Bem-vindo a Beirágua

Em Tales of the Shire, assumimos o papel de um hobbit recém-chegado à vila de Beirágua, um lugar pequeno, pacato e tranquilo — às vezes até demais. Após pegarmos carona com um simpático senhor de roupa cinzenta e cachimbo, chegamos na região e herdamos a casa de uma antiga moradora, a velha Rubi.

Já instalados em nossa nova residência, somos calorosamente recebidos pelos habitantes locais como o mais novo morador de Beirágua. A partir daí, começamos nossa vida na vila, conhecendo os demais moradores, cada qual com suas rotinas, ocupações, personalidades e, claro, seus gostos culinários.

Desenvolvido pela Wētā Workshop — empresa especializada no universo de O Senhor dos Anéis e conhecida por produzir artigos como action figures e miniaturas —, o jogo propõe uma experiência do gênero cozy (ou “jogo aconchegante”), semelhante a títulos como Animal Crossing e Stardew Valley, mas ambientado no mundo criado por Tolkien.

Com direção de arte inspirada em um estilo mais suave e encantador, além de uma atmosfera relaxante, o jogo se destaca visualmente. Aqui, a proposta é oferecer uma experiência centrada na ambientação e no cotidiano, em contraste com outros títulos do universo de Tolkien que priorizam a ação.

A representação do Condado é acolhedora e fiel à descrição das obras literárias: colinas verdes, trilhas tranquilas, clima agradável e convites para encontros ao redor do fogão, onde se preparam refeições saborosas para compartilhar com os demais hobbits.

A melancólica vida de um hobbit

A dinâmica principal de Tales of the Shire gira em torno de tarefas cotidianas, como jardinagem, pesca, culinária e interações com outros hobbits. Também é possível decorar a casa, personalizar o visual do avatar e, principalmente, fazer amizades por conta das refeições enquanto expandimos gradualmente a vila com pequenas melhorias. O ciclo de jogabilidade é simples, com foco em atividades leves, sem combates ou desafios complexos de exploração ou habilidade.

A atividade central está ligada a um dos principais costumes dos hobbits: as refeições. É comum que eles façam até sete refeições por dia. Felizmente, no jogo não precisamos comer tantas vezes, mas somos incentivados a investir nesse aspecto para fortalecer os laços com os demais moradores.

À medida em que conhecemos nossos vizinhos, descobrimos suas preferências culinárias — pratos doces ou azedos, assados, cozidos, fritos, sobremesas, entre outros. Uma vez por dia, é possível convidá-los para um desjejum em nossa casa, o que rende pontos de amizade e, com o tempo, presentes quando subimos o nível de relacionamento com cada personagem.

O ato de cozinhar traz uma dinâmica minimamente interessante, ainda que pareça ter sido incluída apenas para ampliar a sensação de interatividade. Durante a preparação, podemos cortar corretamente os ingredientes e escolher diferentes temperos para dar um toque especial aos pratos.

O problema é que essa acaba sendo a única forma realmente eficiente de desenvolver os relacionamentos e avançar, na narrativa, de certa maneira — que se resume a uma discussão entre os hobbits sobre Beirágua atender ou não os critérios necessários para ser reconhecida como uma vila.

Durante as mudanças de estação — outro elemento típico do gênero —, certos ingredientes que podem ser colhidos na natureza ou adquiridos no mercado local são alterados. Isso nos dá acesso a novos itens, como hortaliças, carnes e ervas, o que amplia as possibilidades na hora de preparar receitas variadas.

Ser um hobbit é assim

Quem conhece as obras de Tolkien sabe: hobbits são criaturas que prezam pela paz, pelo sossego e por um forte senso de comunidade. Raramente são citados em histórias da Terra-média por feitos grandiosos ou memoráveis — com exceção dos Bolseiros, como Bilbo e Frodo, casos bastante específicos.

Andar pelo Condado rende pequenas surpresas, além das atividades cotidianas: colher frutos e ervas, conversar com outros hobbits e cuidar da casa. À medida em que aumentamos nosso nível de relacionamento com os moradores de Beirágua, novas recompensas — como móveis ou itens de decoração — são desbloqueadas, o que mantém um ritmo constante de progresso.

Apesar do clima acolhedor que Tales of the Shire transmite, seu ritmo de jogo — mesmo dentro da proposta de um cozy game — carece de profundidade. As atividades não despertam aquela sensação de empolgação que nos faz pensar “mal posso esperar para fazer isso de novo”. Com o tempo, desbloqueamos mais móveis, roupas, receitas e ingredientes, mas o processo é pouco estimulante.

Até mesmo a horta pessoal é bastante simples, servindo apenas para atender demandas pontuais, como cultivar ingredientes específicos ou cumprir tarefas solicitadas por moradores — por exemplo, colher vegetais de alta qualidade para presenteá-los ou melhorar a qualidade de um prato.

Mesmo para jogadores que apreciam o gênero, Tales of the Shire dificilmente seria uma das primeiras recomendações. Há sim aspectos agradáveis na estadia pelo Condado, mas são poucos — e para quem está acostumado com experiências mais dinâmicas ou grandiosas, pode ser decepcionante ver um jogo que leva tão ao pé da letra a rotina pacata de um hobbit.

A ausência de elementos cooperativos (como a possibilidade de jogar com um amigo para trocar itens ou colaborar em tarefas) faz falta. Atividades diárias variadas também ajudariam a quebrar a repetitividade e tornariam o ritmo mais dinâmico e envolvente.

No fim, o que temos é uma experiência voltada principalmente para os fãs do universo de Tolkien. Apesar do charme oferecido por sua direção de arte, Tales of the Shire entrega o básico dentro do gênero ao qual pertence — de forma monótona, limitada e pouco cativante.

Lá e de volta outra vez, em um jogo voltado para os fãs dedicados

Tales of the Shire: A The Lord of the Rings Game é uma proposta charmosa à primeira vista, trazendo uma visão inédita da Terra-média ao focar no cotidiano dos hobbits. Sua estética acolhedora e o respeito ao espírito da obra de Tolkien certamente agradam os fãs do universo. No entanto, a falta de profundidade em suas mecânicas, a ausência de inovação dentro do próprio gênero cozy e o ritmo excessivamente lento fazem com que a experiência se torne repetitiva e maçante.

É um título que funciona como uma curiosidade simpática para quem deseja revisitar ou conhecer a região do Condado de forma descontraída, mas que dificilmente se sustentará por muitas horas, principalmente para jogadores que buscam mais variedade, objetivos claros ou sistemas que evoluam ao longo da jornada.

Prós

  • Direção de arte encantadora que casa com a proposta relaxante do jogo;
  • Ambientação convincente do Condado, com atmosfera relaxante e acolhedora;
  • O minigame de cozinha é a parte mais criativa do jogo, apesar da dinâmica rasa e repetitiva;
  • Personagens simpáticos e elementos narrativos leves.

Contras

  • Ritmo extremamente lento e pouco estimulante;
  • Mecânicas superficiais e repetitivas;
  • Falta de profundidade nas interações e progressão;
  • Ausência de modos ou atividades que deixem a experiência mais estimulante;
  • Tarefas pouco desenvolvidas, sem evolução significativa;
  • Recompensas modestas que não geram motivação a longo prazo.
Tales of the Shire: A The Lord of the Rings Game — PC/PS5/XSX/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia cedida pela Private Division
OpenCritic
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Alexandre Galvão
Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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