Análise: Death Stranding 2: On the Beach é uma jornada de entregas mais emocional, variada e impactante

A sequência do exótico título de aventura tem melhorias no ritmo e sistemas, mas ainda carrega os problemas do original.

em 10/07/2025

Death Stranding 2: On the Beach é uma daquelas continuações que chegam com muito peso nas costas — tanto pela expectativa quanto pelas ideias que carrega. O primeiro jogo dividiu opiniões com suas mecânicas peculiares e mundo surreal, e agora Hideo Kojima volta ao mesmo universo apostando em algo maior, mais emocional e mais acessível, mas sem abrir mão da estranheza que define seu trabalho. É uma experiência que melhora em quase tudo o que já funcionava, porém ainda pede tempo, paciência e envolvimento de quem estiver disposto a seguir a jornada de entregas novamente.

Estreitando laços ainda mais além

O universo de Death Stranding é denso e repleto de mistérios, com conceitos que não são fáceis de compreender. O ponto central da trama é o evento chamado Death Stranding, que alterou drasticamente o planeta ao criar uma ligação entre os mundos dos vivos e dos mortos. Esse fenômeno fez com que várias regiões se tornassem inabitáveis e a tecnologia falhasse, o que fez a sociedade entrar em colapso.

Em meio a esse cenário, a humanidade se fragmentou e sobrevive com a ajuda de portadores, pessoas dispostas a atravessar territórios perigosos para entregar encomendas e conectar os sobreviventes. Sam Bridges é um desses entregadores, com a habilidade rara de retornar à vida após a morte, o que o torna essencial para a missão de unir os Estados Unidos por meio de uma rede que usa partículas quirais, que surgiram junto do Death Stranding.


O enredo de On the Beach começa 11 meses depois dos eventos do primeiro jogo, com Sam buscando uma vida tranquila ao lado de sua filha adotiva Lou. No entanto, sua paz é interrompida quando Fragile o procura para conectar o México à rede quiral. Sam aceita a missão, que o leva em uma nova jornada, agora com desafios ainda maiores, em uma aventura que se expande até a Austrália. 

A narrativa de On the Beach consegue ser mais direta que a do primeiro jogo, sem deixar de lado o peso emocional e os temas abstratos que Kojima gosta de explorar. O foco na relação entre Sam e os seus novos companheiros dá à trama um coração mais fácil de acompanhar — e mais difícil de ignorar. Ainda há momentos de exposição exagerada e cenas que parecem longas demais, mas, no geral, o ritmo flui melhor. 


O mundo continua estranho, melancólico e silencioso, mas agora há mais humanidade por trás dos silêncios. A ambientação segue impecável: paisagens isoladas, construções abandonadas, variações climáticas pesadas e um constante senso de solidão, que torna cada reencontro ou ajuda online mais significativa.

Courier em um mundo desolado e imprevisível

Death Stranding gira em torno de transportar pacotes através de um mundo pouco amistoso, onde a tarefa aparentemente simples se torna um grande desafio. O ambiente é repleto de perigos, desde terrenos traiçoeiros e facções hostis até criaturas sobrenaturais chamadas EPs. 

O jogo mistura momentos de caminhada, furtividade e combates, oferecendo diversas abordagens para as situações. Sam conta com uma variedade de ferramentas e equipamentos, como escadas e cordas de escalada, além de poder utilizar veículos e construir estruturas para facilitar o percurso. Um detalhe bem legal é a colaboração entre jogadores, mesmo que indireta — você pode usar escadas, pontes ou abrigos deixados por outras pessoas, o que dá uma sensação de estar ajudando e sendo ajudado o tempo todo.


Quem jogou o primeiro já sabe o que esperar: caminhadas longas, planejamento de rota, equilíbrio e o desafio constante de atravessar um mundo quebrado. A grande diferença é que On the Beach está mais preocupado em dar variedade à jornada, com desafios que intercalam entregas, combate e exploração. 

O ritmo também passou por melhorias, com ferramentas importantes, como os veículos e estruturas, sendo introduzidos bem mais cedo na jornada. O recurso de planejar rotas, por exemplo, está bem mais robusto com a introdução de novos marcadores e informações sobre os terrenos e perigos. Inclusive, as entregas se tornam imprevisíveis com eventos naturais, como tremores, incêndios e enchentes, que nos forçam a readaptar os trajetos.


A customização também recebeu upgrades interessantes. Com o APAS, é possível customizar Sam com habilidades diversas que são desbloqueadas de acordo com o estilo de jogo. Já a mochila pode receber acoplamentos variados, como dispositivos antigravidade ou mais bolsos para munição. Os veículos, por sua vez, oferecem mais variedade e podem ser personalizados com melhorias. Nada disso muda completamente a forma de jogar, mas essas opções ajudam a trazer novas abordagens aos desafios.

Mesmo com tantas novidades, a essência continua a mesma: o jogo gira em torno de carregar encomendas de um ponto a outro. Com isso, às vezes as coisas ficam meio enfadonhas e repetitivas, especialmente quando precisamos retornar a locais anteriormente visitados em viagens sem surpresas. Para quem já se conectou com essa proposta, tudo que foi adicionado só melhora a experiência. Para quem não curtiu o primeiro, pode ser que a sensação de repetição continue forte.



Em entregas mais perigosas e com mais ação

Embora ainda não seja um jogo de ação no sentido tradicional, On the Beach traz melhorias visíveis nesse aspecto. O combate foi repensado para ser mais responsivo e dar ao jogador mais liberdade na hora de enfrentar ameaças. Agora é possível alternar com mais fluidez entre abordagens furtivas e ofensivas, usando armas que vão desde dispositivos não-letais até armamentos mais pesados, dependendo da situação. 

Além das melhorias técnicas, o design dos encontros foi claramente mais trabalhado. Os cenários onde os combates acontecem geralmente favorecem a verticalidade, cobertura e improviso, o que faz diferença quando precisamos pensar rápido. As mecânicas de física — como equilíbrio do personagem e o peso da carga — continuam influenciando bastante, o que dá um ar único às batalhas. Lutar carregando muito peso ou em terreno instável pode transformar até um combate simples em algo imprevisível. Isso ajuda a manter a identidade do jogo mesmo nos momentos mais intensos.


Os encontros com as EPs continuam sendo momentos de tensão, mas agora têm um ritmo mais dinâmico. A movimentação das criaturas está mais agressiva, e há mais ferramentas para enfrentá-las ou escapar, o que torna cada confronto menos automático e mais estratégico. Além disso, o jogo varia melhor os contextos em que essas batalhas surgem, ajudando a manter o suspense mesmo depois de horas de aventura. Enfrentar uma EP agora envolve mais escolhas e mais urgência, sem perder o peso misterioso que essas aparições sempre carregaram.

As lutas contra chefes, por fim, ganham destaque tanto pelo visual quanto pela atmosfera. São encontros que misturam combate, ambientação e simbolismo, cada um com sua própria identidade. Mesmo sem entrar em detalhes para evitar spoilers, dá pra dizer que esses momentos foram pensados para marcar a experiência com seu impacto, seja pela escala, pela estranheza ou pela carga emocional envolvida. Eles não aparecem o tempo todo, mas, quando surgem, trazem variedade e ajudam a quebrar a rotina das entregas e caminhadas, reforçando que esse mundo ainda esconde perigos reais e inesperados.



Uma experiência cinematográfica e envolvente

Visualmente, Death Stranding 2 impressiona desde os primeiros minutos. É o tipo de jogo que mostra o quanto o PS5 ainda tem espaço pra surpreender. As paisagens são incrivelmente detalhadas, com efeitos de luz e clima que influenciam diretamente na imersão. A parte sonora acompanha esse cuidado: sons ambientes densos, silêncios bem utilizados e uma trilha cuidadosamente posicionada nos momentos certos.

O desempenho também chama atenção. A taxa de quadros é estável e as animações faciais são algumas das melhores da geração. Tecnicamente, o título transmite uma sensação constante de estar jogando algo refinado e ousado, e tudo isso vem embalado por uma direção de arte que mistura o realismo quase fotográfico com elementos surreais que só fazem sentido naquele universo.


As atuações continuam sendo um dos maiores destaques. Norman Reedus entrega um Sam mais comunicativo, mas visivelmente abalado pelo passado. Léa Seydoux (Fragile), Elle Fanning (Tomorrow) e Troy Baker (Higgs) também têm espaço para explorar diferentes nuances de seus personagens, em performances que combinam bem com a direção intimista e exótica do jogo. Já Fatih Akin (Dollman) traz mais leveza com seu humor suave que contrasta com a seriedade de Sam. Destaque especial para Luca Marinelli, que adiciona uma presença enigmática à história na forma de Neil.


A direção cinematográfica é marcada por escolhas visuais que aproximam o jogo de um filme. Apesar das cenas não interativas mais curtas, isso pode cansar quem espera algo mais direto, mas funciona bem dentro da proposta. As transições entre gameplay e cutscenes são fluidas, e a sensação é de estar vendo uma obra cuidadosamente pensada em cada detalhe, mesmo quando nem tudo faz sentido de imediato. A inclusão de um glossário que pode ser ativado de acordo com o contexto ajuda no entendimento dos inúmeros termos difíceis desse universo.


Se o primeiro jogo falava de isolamento e reconexão, On the Beach mergulha mais fundo na ideia de reconstruir laços depois da perda: os personagens passaram por situações traumáticas e cada um tenta lidar como pode com suas ausências. Além disso, o jogo também trata de temas como paternidade, memória, sacrifício e até identidade. A forma como esses temas aparecem varia entre o sutil e o completamente direto, e nem sempre o equilíbrio é perfeito. Mas, mesmo assim, é difícil não se afeiçoar aos personagens e seus dramas.

Os simbolismos estão por toda parte, desde os objetos carregados até o design das criaturas e dos cenários. Em alguns momentos, o excesso pode parecer pretensioso, mas em outros funciona como uma camada extra de significado que amplia a experiência. Kojima continua apostando em metáforas visuais e conceitos abstratos, no entanto parece mais contido e maduro na forma de apresentá-los.



Uma continuação impressionante

Death Stranding 2: On the Beach é uma sequência ambiciosa que sabe refinar sua própria identidade sem abrir mão do que a torna única. A narrativa está mais acessível e emocional, a aventura ganhou variedade e ritmo mais ágil e os aspectos técnicos mostram o que o PS5 pode oferecer em termos de imersão e qualidade visual. É um jogo que equilibra entrega e ação, silêncio e intensidade, sempre guiado por escolhas criativas marcantes.

Ainda assim, é uma experiência que exige tempo e envolvimento. Quem não se conectou com a proposta original provavelmente encontrará os mesmos obstáculos aqui. Além disso, como sequência, o título ousa pouco e aposta mais em melhorias, mantendo a repetição característica. Entretanto, para quem embarcar nessa jornada com mente aberta, há muito a ser explorado, sentido e interpretado. Pode não agradar a todos — mas certamente vai deixar algo para quem estiver disposto a atravessá-la.

Prós

  • Ritmo de jogo mais ágil e variado, alternando agilmente entre entregas, combate e furtividade;
  • Novos recursos, como customização de habilidades e mais informações na montagem de rotas, tornam a experiência mais agradável;
  • Visual impressionante com direção de arte única e detalhada;
  • Narrativa mais acessível, com melhor ritmo e com atuações impecáveis.
  • Ambientação rica que reforça os sentimentos de estranheza e isolação com ambientes vastos e ótima engenharia de som.

Contras

  • Estrutura de entregas sem muitas surpresas ainda pode se tornar repetitiva com o tempo;
  • Excesso de exposição e cenas longas podem quebrar o ritmo em alguns momentos.
Death Stranding 2: On the Beach — PS5 — Nota: 9.0
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sony
OpenCritic
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Farley Santos
é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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