Análise: Into the Restless Ruins é uma experiência inventiva de construção e exploração

Mesmo contando com mecânicas criativas, o jogo sofre com problemas em seu combate pouco elaborado.

em 04/06/2025
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Produzido pela Ant Workshop Ltd e publicado pela Wales Interactive, Into the Restless Ruins é um roguelike com construção de baralhos que se destaca por oferecer uma experiência única de montagem e exploração de calabouços. Além disso, ele conta com gráficos em pixel art que constroem uma estética retrô belíssima. Em contrapartida, seu combate acaba decepcionando pela falta de ousadia, caindo em uma espiral de monotonia.

Direto das lendas escocesas

“As lendas escocesas contam que aqueles que possuem desejos que não podem ser atendidos por meios mundanos devem procurar a Donzela da Ceifa. Em troca de seus esforços, ela satisfará suas ambições.”

Into the Restless Ruins nos coloca no papel de um explorador que passou anos em busca da lendária Donzela da Ceifa. Em uma de suas expedições, o nosso  protagonista finalmente encontra uma caverna onde a entidade está aprisionada, mas a vê enfraquecida pela corrupção dos guardiões que a mantêm sob controle.




Dessa forma, cabe ao jogador explorar os seis andares da masmorra, romper os selos corrompidos que a enfraquecem e derrotar os inimigos que habitam o local. Embora simples, a narrativa mantém o interesse ao longo da campanha, com a introdução gradual de NPCs que oferecem apoio com melhorias em nossas habilidades.

O aspecto retrô dos elementos audiovisuais é um charme à parte. Apesar da simplicidade, os gráficos em pixel art são bem elaborados e ajudam a compor uma atmosfera sombria e envolvente. A trilha sonora, por sua vez, mesmo que não seja das mais elaboradas, dita com precisão o ritmo frenético das partidas, que frequentemente duram apenas alguns minutos.



Faça você mesmo

O grande diferencial de Into the Restless Ruins é sua mecânica de construção de salas. Em cada andar da masmorra, nós somos os  responsáveis por criar o caminho da entrada até a sala do chefe. Para isso, utilizamos um baralho de cartas, cada uma representando um aposento com diferentes formas, tamanhos e configurações de entradas e saídas.

Para utilizá-las, são consumidos Pontos de Construção ao posicioná-las corretamente no mapa. Além da entrada e da sala do chefe, cada masmorra contém salas encobertas por névoa. Esses espaços ocultam segredos importantes, como pontos de experiência, armadilhas e os selos necessários para libertar a Donzela. Em cada andar, é preciso encontrar uma quantidade mínima desses selos antes de enfrentar o chefe. Como a construção das fases é procedural, dificilmente duas partidas serão iguais.




Desde o início, essa mecânica foi o elemento que mais se destacou para mim em Into the Restless Ruins. A variedade de cartas disponíveis é excelente: são 116 cartas, com formatos e efeitos distintos, o que exige planejamento para evitar a criação de fases confusas ou ineficientes. Quebrar a cabeça pensando nas melhores possibilidades é, sem dúvidas, uma das melhores partes do jogo.

Um fator que adiciona tensão à exploração é o tempo limitado. Ao iniciar uma fase, a tocha do personagem começa a se consumir gradualmente. Quando ela se apaga, a vida do jogador começa a diminuir rapidamente até resultar na morte. Existem mecanismos para estender a duração da luz, mas, de modo geral, o tempo é escasso. Em cada partida, temos que aproveitar esse tempo para explorar e voltar ao ponto de partida e finalizar o dia antes que nossa vida acabe. 

Por isso, saber construir uma fase coesa é essencial, especialmente porque diversos aposentos concedem bônus valiosos, como vida, força e iluminação. Imagine, por exemplo, que a sala do chefe esteja em uma direção, enquanto as salas com bônus foram posicionadas em outra. Com o tempo sendo um recurso tão limitado, alguns segundos de desvio podem ser fatais.



Um combate que não faz jus a aventura

A mecânica de montagem de salas e a exploração são, sem dúvida, os grandes destaques de Into the Restless Ruins. Por outro lado, o sistema de combate deixa a desejar e está longe de ser um dos pontos fortes do jogo. O título adota um estilo semelhante ao dos chamados bullet heavens, como Vampire Survivors, mas de maneira simplificada. 

O protagonista ataca automaticamente sempre que um inimigo entra em seu raio de alcance. Com isso, boa parte da ação se resume a desviar dos oponentes para evitar ser atingido. Ao derrotar os inimigos, eles deixam para trás pontos de experiência. Ao subir de nível, novas cartas de salas são adicionadas ao nosso baralho. Esse sistema faz com que a exploração ganhe ainda mais importância, já que é por meio dela que acumulamos experiência e expandimos nossas opções de construção.




Ainda que seja possível equipar novas armas com diferentes alcances e níveis de dano, o processo de eliminar inimigos se torna repetitivo rapidamente. Essa sensação de monotonia se intensifica nas batalhas contra os chefes, as quais precisamos decorar os padrões de movimento e tentar mantê-los dentro do alcance de ataque.

No fim das contas, o combate se mostra tedioso. Os confrontos com os chefes, que deveriam ser o ponto alto de cada fase, acabam sendo os momentos mais arrastados e frustrantes. Uma mecânica de batalha mais criativa — que acompanhasse a originalidade vista no sistema de construção — faria toda a diferença.



Construa, explore e se divirta

Into the Restless Ruins se destaca pela forma que conduz a aventura, dando ao jogador a obrigação de montar o seu próprio caminho dentro das masmorras. Quebrar a cabeça montando o melhor caminho é uma atividade divertida e mostra ser uma ideia capaz de ser desenvolvida em novos títulos. Infelizmente, o combate deixa muito a desejar pela sua falta de originalidade, o que estraga um pouco a experiência. Por fim, mesmo com os problemas, ele é inventivo e uma ótima sugestão para quem quiser algo diferente.

Prós

  • A mecânica de construção de masmorras é criativa e divertida graças a grande variedade de cartas, itens e eventos;
  • O estilo retrô em pixel art é bem executado, criando uma ambientação bela e sombria;
  • A geração procedural dos mapas ajuda  a garantir um fator replay mais agradável.

Contras

  • O sistema de combate é monótono e destoa completamente do restante;
  • As batalhas contra os chefes são tediosas, resumindo-se a decorar padrões de movimentação e evitar contato direto.
Into the Restless Ruins — PS5/XSX/Switch/PC — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Farley Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela Wales Interactive

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Gustavo Souza
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