Apesar de uma temporada marcada pela instabilidade, o segundo ano de The Last of Us ganhou força em sua reta final no episódio desta semana. Intitulado “The Price”, o sexto episódio foca na relação entre Joel e Ellie, enquanto costura um paralelo de traumas geracionais no contexto do apocalipse, construindo um dos capítulos mais emocionalmente impactantes e bem executados de toda a série.
Paternidade
O episódio, que é o segundo dirigido por Neil Druckmann, o diretor do jogo, se abre com um flashback de Joel, Tommy e seu pai — uma grata surpresa inédita da série que mostra como o criador tem plena consciência de sua obra e de todos os pormenores que envolvem essa narrativa. Apesar do trabalho feito no game, ele ainda consegue vir para uma nova mídia e adicionar uma nova camada dramática.
A relação de Joel com seu pai, que claramente é uma figura paterna falha, reflete diretamente como o personagem age com Ellie, desenvolvendo melhor a relação entre os dois para além da morte de Sarah. É um detalhe tão importante que me causa curiosidade como isso ficou de fora dos jogos. Joel é um homem marcado pelos erros do pai, pelos próprios traumas e medos, o que o transforma também em um produto desse ciclo — um trauma geracional continuado.
Um tema recorrente ao longo do episódio é a desconfiança de Ellie sobre a sinceridade de Joel a respeito dos Vagalumes. Durante os anos mostrados, diversas vezes ela pensa, repensa, mergulha na melancolia, chega a escrever um textão, mas desiste de confrontá-lo. Entretanto, a possibilidade de ele ter mentido nunca se afasta completamente de sua mente.
Promete?
Para a audiência, desde o primeiro ano ficou claro que Joel não é uma figura muito confiável. Apesar de sua lealdade para com quem ama, o personagem faz o que julga necessário quando entende que é o caminho certo: mente, dissimula, comete massacres. Para Ellie, que com o tempo se afeiçoou a ele e o vê como uma figura de confiança, a possibilidade de que ele tenha mentido é como uma adaga no peito.
O incidente com Eugene é o ápice para transformar toda essa paranoia em uma possibilidade real. Joel, em sua visão, entende que Eugene deve ser morto ali mesmo, sem concessões. Já Ellie quer dar ao homem uma chance. Joel se aproveita de sua figura paterna e do vínculo de confiança para afirmar que será piedoso, prometendo inclusive levá-lo em segurança até a cidade.
Mas, quando fica sozinho, ele faz exatamente o contrário, quebrando sua promessa e deixando algo claro para Ellie: esse homem vai fazer o que acredita ser certo, vai mentir na sua cara e, no fim, dizer que era a única escolha possível. Este evento é essencial para dar o tom da tensão entre os dois no início da temporada e culminar na cena da varanda — a melhor da série até agora.
Futuro roubado
Um dos pontos mais trágicos da história de The Last of Us é como Ellie tem seu futuro com Joel roubado. Ela poderia melhorar a relação com ele, consertar os erros, perdoar — mas a ação de Abby encerra isso completamente. Na cena da varanda, vemos como os dois finalmente interagem após momentos de tensão entre eles.
Aqui, o Joel de Pedro Pascal parece muito mais fragilizado ao ver Ellie. Fazendo uma referência para a cena com o pai, onde ele diz que falhou mas seu filho deveria fazer melhor, percebemos como a criação — agora tão distante por causa do fim do mundo — ainda afeta o personagem. Joel entende que o que fez foi errado, mas se mantém firme na lógica de que “os fins justificam os meios”. Ele não ia perder outra filha, ele não ia ceder ao niilismo e ao desespero, ele lutaria por quem ama.
Ellie não consegue compreender. Ele mesmo diz: ela não entende o amor que ele sente por ela. A situação se torna ainda mais complexa por serem completos estranhos colocados juntos nessa jornada, sem laço de sangue. Mas os laços emocionais, aqui, falam mais alto do que os genéticos.
A cena é carregada de tensão emocional — e tanto Bella quanto Pedro entregam a melhor performance da série. Principalmente Bella, que funciona e convence muito mais nas cenas emocionais e parentais do que nos conflitos físicos ou nas interações com seus pares. Aqui, ela mostra vulnerabilidade, ódio e também uma certa compreensão. Tudo o que seria necessário para um futuro de cura entre eles — um futuro que foi roubado por Abby.
Pagando o preço
A segunda temporada de The Last of Us está chegando ao fim e os riscos estão em seus níveis mais altos. A prévia do próximo episódio mostra o ápice do conflito entre os Serafitas e os Lobos; a descida de Ellie ao inferno — custe o que custar —; seus pares, Dina e Jessie, sofrendo as consequências dessas ações; e o encontro derradeiro com Abby no horizonte. Todas as peças estão posicionadas para um final explosivo e catártico, que certamente representará apenas um lado da história a ser contada na terceira temporada.
Revisão: Farley Santos