Impressões: EverDeep Aurora é um metroidvania lindo, mas pouquíssimo intuitivo

Jogo de estreia do Nautilus Studio traz uma demo de fazer bater a cabeça na parede.

em 30/05/2025
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Algo que o mundo indie descobriu nos últimos anos é que um gatinho pode ser uma arma poderosa. Stray, por exemplo, recebeu toda sorte de prêmios ao imaginar um felino de rua como personagem principal em um jogo de aventura; já Little Kitty, Big City preferiu soltar o bichano no meio de um mundo aberto e virou um dos mais queridos cozy games do pedaço.

EverDeep Aurora ousa ao perguntar: que tal se tivéssemos uma gata em um metroidvania? Sua demo de cerca de 1 hora, que estará disponível no próximo festival Steam Vem Aí e a qual tivemos a oportunidade de jogar antecipadamente, se presta a apresentar essa ideia. O conceito é apresentado junto de belos visuais à melhor moda Game Boy Color ou Nintendinho, mas os espanhóis do Nautilus Studio parecem ter apostado mais no estilo do que na jogabilidade.

Cavando fundo

A história segue uma sociedade que vive no subterrâneo, sempre morrendo de medo de uma iminente chuva de meteoros que ameaça causar o apocalipse. Nossa protagonista é Shell, uma gatinha em busca de se reencontrar com a mãe e que está munida das instruções: “vá até o lugar de sempre” por motivos pouco claros. 

Tudo o que ela tem é um par de botas que possibilita um único pulo entre paredes e uma furadeira recarregável que só consegue quebrar certos blocos — ferramentas básicas, mas suficientes para desbravar a demo. (A propósito, o M no teclado/LB no Pro Controller faz Shell miar. Fofa…) 

Um de seus grandes charmes é o universo construído pelo título. Nas poucas horas iniciais (aparentemente diferentes da versão final), somos apresentados a vagos contornos do grande enredo: uma mansão com uma “porta fantasma”, um conto sobre duas irmãs em conflito, um panfleto feito por grevistas cansados de sofrer na mão dos chefes. Tudo isso pede a atenção do jogador, mas não consegue se manter em foco por muito tempo, assim gerando um ótimo incentivo para ir atrás da versão completa e criar teorias pré-lançamento.

Também se destacam as paletas de cor mutantes: cada nova fase tem seu próprio tom, algo que vi sendo plenamente explorado em um certo canto do mapa (“se eu não consigo progredir a partir daqui, por que esse lugar tem uma cor diferente do resto da tela?”). Isso possibilita uma constante renovação de expectativas. Mas, infelizmente, nem tudo são flores…

“O que você quer que eu faça?!”

O principal problema com o título no momento é a falta de qualquer tutorial. É sabido que o metroidvania (ou “buscação”, como também é chamado em alguns círculos) é um gênero que prefere que o jogador faça as próprias descobertas, mas EverDeep Aurora vai além e se recusa a sequer contar como usar a bendita furadeira (mapeada ao E no teclado e X no Pro Controller, que também é o botão genérico de interação com o ambiente). 

A sensação é a de que o jogo pouco se importa com a audiência; o que pode também ser algum tipo de comentário sobre como “hoje em dia, todo mundo quer tudo mastigado”, mas que só fica parecendo design ruim mesmo. 

Há uma série de outras decisões que parecem ativamente hostis ao jogador, como no minigame de máquina de garra: mesmo se a máquina ficar vazia depois de menos de três tentativas, ainda temos de usar todos os turnos fornecidos. A mesma coisa acontece caso não haja absolutamente nada ali dentro: azar o seu, vai ter de tentar pegar nada. Eu esmaguei cada botão do controle procurando como sair da tela e nenhum deles me garantiu esse livramento.

Pessoalmente, também tive dificuldade nos segmentos de plataforma, mas essa parte não é culpa do jogo: eu sou só muito ruim no gênero. Devo dizer, contudo, que tudo ficou bem mais fácil quando troquei o teclado por um controle, especialmente os pulos na parede, que requerem a troca do botão direcional no meio da trajetória — algo bem mais tranquilo de se fazer com um analógico.

Só um rostinho bonito?

EverDeep Aurora promete uma boa narrativa — e certamente tem um apelo visual pronto para conquistar vários corações —, mas a gameplay ainda precisa de mais tempo no forno. Para quem for mais acostumado com as convenções do metroidvania, pode ser uma boa pedida. 

Revisão: Juliana Piombo dos Santos


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Hiero de Lima
Jornalista formada pela PUC-SP e eterna apaixonada por videogames, especialmente aqueles japoneses de mistério. Sempre tem alguma redação gigante para escrever depois que zera um Yakuza.
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