Análise: LEGO Horizon Adventures nos leva a um mundo conhecido, mas bem mais divertido

Vivencie a história de Aloy em um mundo pós-apocalíptico dominado por máquinas, um bloquinho de cada vez.

em 13/11/2024

Os jogos de LEGO surgiram no final da década de 1990, com experiências que tinham um viés mais educacional ou remetiam à proposta original dos famosos blocos de montar. Foi em 2005, com o lançamento de LEGO Star Wars: The Video Game, que os jogos licenciados no universo dos blocos encontraram seu espaço na indústria de games.

Ao longo dos anos, diversas franquias da cultura pop mundial ganharam versões em LEGO, divertindo jogadores de todas as idades e perfis. Desde os mais jovens, que gostam de colecionar bonequinhos nas versões de LEGO de Batman, Vingadores ou Harry Potter, até os mais aficionados, que querem explorar e coletar tudo que cada título tem a oferecer.

Seguindo uma fórmula com o humor como ingrediente principal, os jogos de LEGO cresceram de tal forma que logo surgiram experiências ainda baseadas em propriedades intelectuais consagradas, mas com adaptações e roteiros mais originais, mantendo o interesse dos jogadores e expandindo ainda mais o nome LEGO para além dos blocos de montar.

É o caso de LEGO Horizon Adventures. Neste novo título inspirado na franquia do PlayStation, somos levados a uma Terra dominada por máquinas, onde os humanos voltaram a viver de forma primitiva. Apesar de ser uma história já conhecida por conta dos jogos lançados desde 2017, a jornada de Aloy ganha aqui um tom mais amigável e divertido, ideal tanto para quem está conhecendo esse universo pela primeira vez quanto para os fãs de longa data da franquia. Confira os detalhes na análise a seguir.

Recontando uma história, bloco por bloco

LEGO Horizon Adventures nos leva de volta à Terra do futuro, dominada por máquinas após um apocalipse que dizimou o planeta, forçando a humanidade a retornar a uma “nova Idade da Pedra”, com costumes tribais e novas crenças. Na história original, contada em Horizon Zero Dawn, Aloy é uma jovem exilada de sua tribo que descobre a verdade sobre o fim do mundo, percebe que ele pode acontecer novamente e que é a única com capacidade de evitá-lo.

Na versão em blocos da história, o drama foi deixado de lado para dar um tom mais leve e divertido à jornada da heroína. A narrativa foi adaptada para ser mais dinâmica e descontraída, colocando Aloy em uma busca para descobrir a identidade de sua mãe e, posteriormente, sua responsabilidade como única capaz de enfrentar uma seita que quer dominar o mundo.


Ao lado de seus amigos Varl, Teersa e Erend, Aloy deve explorar os quatro cantos do mundo para obter os recursos necessários para construir uma arma capaz de derrotar o verdadeiro vilão por trás da seita: Helis, um sujeito obcecado por manter um bronzeado enquanto tenta destruir o mundo novamente.

Em uma aventura repleta de piadas, combates e bloquinhos, temos uma nova perspectiva sobre o magnífico universo criado pela Guerrilla. Dessa vez, o mundo de Horizon é completamente reimaginado em blocos, mas ainda com uma apresentação igualmente marcante e encantadora.

Mais um jogo de LEGO?

Quando LEGO Horizon Adventures foi anunciado, inicialmente fiquei entusiasmado com a ideia de ver uma de minhas franquias favoritas traduzida para o formato de bloquinhos. Contudo, senti também certa apreensão sobre o que o jogo traria, já que poderia seguir a mesma fórmula dos títulos anteriores da série e cair na armadilha do “mais do mesmo”.

A verdade é que, ao contrário dos demais jogos LEGO, em sua esmagadora maioria desenvolvidos pela TT Games, LEGO Horizon é um dos primeiros jogos sob a licença da marca a ser desenvolvido por um novo estúdio. Em parceria com a própria Guerrilla, o título foi produzido pelo Studio Gobo, inspirado pelo lançamento do conjunto LEGO do Pescoção (Tallneck) de Horizon em 2022.

Por ser uma equipe totalmente nova no projeto, eu esperava finalmente ver algo realmente diferente sendo feito com a temática dos blocos LEGO. Para minha satisfação, o jogo consegue manter a essência dos títulos anteriores com a mesma estética, ao mesmo tempo que introduz uma dinâmica totalmente nova tanto em termos de jogabilidade quanto de visuais.


Diferente de títulos LEGO anteriores, como Star Wars: A Saga Skywalker, o mais recente dentro do gênero de aventura da marca, LEGO Horizon traz um mundo igualmente fascinante, mas com uma estética 100% baseada nas pecinhas. Muitos dos jogos anteriores apresentam cenários com visuais de locais e objetos reais, enquanto outros aspectos, como veículos e algumas estruturas, mantêm as características de brinquedo.

Artisticamente, é evidente que tudo no mundo do jogo foi realmente construído com blocos: desde o chão até árvores, estruturas, corpos d'água e ferramentas. Até a movimentação dos personagens é mais rígida, respeitando a física dos corpinhos de LEGO, com movimentos limitados, como se estivéssemos nós mesmos manuseando as peças. A sensação é de que estamos realmente em um mundo feito inteiramente de peças LEGO, mergulhando na experiência de estar brincando com os blocos.

Divertido até demais

Em termos de dinâmica de jogo, LEGO Horizon permite que até dois jogadores aproveitem a aventura, tanto em modo local quanto online. No início de cada nível, cada jogador pode escolher um dos quatro personagens disponíveis, desbloqueados conforme a história avança.


Aloy conta com seu icônico arco, que lhe permite disparar flechas poderosas contra os alvos, uma habilidade que ela descobriu ainda bebê. Varl, aspirante a chefe da guarda Nora que frequentemente tropeça nas coisas, possui uma lança capaz de causar dano perfurante nos inimigos.

Teersa, uma das três matriarcas de Coração da Mãe, lar da tribo Nora, lança objetos explosivos, como frutas, galinhas, ovos e outras bugigangas. Já Erend, o Oseram canastrão, utiliza seu fiel martelo para esmagar as cabeças dos inimigos. Seu maior sonho é descobrir a localização do Monte Rosquinha, onde, segundo ele, estão as rosquinhas mais deliciosas do mundo — embora só ele conheça essa lenda.


Uma dinâmica interessante do jogo é o uso do Foco, que, assim como nos jogos originais, destaca pontos fracos dos inimigos e itens no cenário para interação, como frutas que restauram pontos de vida e objetos que podem ser usados como armas. Atacar os pontos fracos das máquinas causa dano extra, facilitando os combates. Ao derrotar inimigos, o personagem ganha pontos de experiência e sobe de nível, aprimorando atributos básicos como saúde máxima ou dano com a arma principal.

Como nos demais jogos de LEGO, pinos são usados como moeda para comprar outras melhorias para os heróis, além de desbloquear trajes e estruturas para customizar o visual de Coração da Mãe, deixando a vila com um estilo único e divertido.

A campanha principal se desenrola em capítulos, cada um composto por fases que precisam ser concluídas para avançar na história. Ao término de cada nível, o jogador ganha um bloco dourado, que permite desbloquear novas interações em Coração da Mãe, o hub central, onde se acessam as fases e serviços para desbloquear estruturas e trajes para o grupo de heróis.


Apesar da experiência divertida e envolvente, a estrutura das fases é um dos pontos fracos, pois muitas delas são bastante similares. Algumas requerem um pouco de astúcia, como usar itens específicos ou interagir com determinados elementos, como armas de fogo ou gelo, e possuem segredos simples que incentivam a exploração fora da rota principal.

Entretanto, a repetição das dinâmicas das fases, como obstáculos, batalhas com inimigos e exploração de paisagens, torna a jogabilidade previsível e levemente monótona em alguns momentos. O humor do jogo e a companhia de um amigo ajudam a tornar a experiência mais agradável.


O combate, por outro lado, se destaca positivamente, pois consegue traduzir, ainda que de forma simplificada, a principal dinâmica da série Horizon: os ataques aos pontos fracos das máquinas e a possibilidade de se esconder em moitas para uma abordagem furtiva. Mesmo quem nunca enfrentou um Dente Serrado vai se sentir um verdadeiro caçador — nas devidas proporções, é claro — neste mundo de blocos.

Um destaque visual do jogo é a inspiração em outras linhas da própria LEGO, como as séries City e Ninjago, que trazem trajes e estruturas inspiradas nestas linhas da empresa. Em certo ponto, não resisti e vesti Aloy e companhia com trajes de Kai e seus amigos e coloquei um semáforo no meio da vila. É possível misturar peças de trajes e criar visuais cada vez mais engraçados, que capturam perfeitamente o clima descontraído do jogo.


O roteiro traz diálogos e cenas extremamente engraçadas, com falas e atitudes surpreendentes de cada personagem nas cutscenes e durante o jogo. Uma das cenas que me arrancou uma risada bem sincera foi ouvir a própria Aloy questionando sua importância, dizendo: “sou só uma mina com um arco”.

A adaptação do jogo para o português enriqueceu ainda mais a experiência, com termos e piadas adaptados para a nossa língua, e, principalmente, com o retorno dos mesmos dubladores dos jogos originais, como Tatiane Keplmair (Aloy), Mauro Ramos (Sylens), Nestor Chiesse (Erend), entre outros.

Todos esses elementos fazem de LEGO Horizon Adventures uma recomendação fácil para jogadores de todas as idades e com qualquer nível de familiaridade com a série Horizon. Garanto que você vai se divertir imensamente neste mundo dominado por máquinas, ainda que feitas de brinquedo.

Uma aventura muito bem montada

LEGO Horizon Adventures é uma cativante interpretação do universo de Horizon, trazendo a aventura e o combate característicos da série para um mundo construído inteiramente com blocos de LEGO. Com humor leve e uma abordagem visual encantadora, o jogo consegue balancear elementos tradicionais da franquia LEGO com a essência única de Horizon. É uma experiência acessível e divertida tanto para os fãs da história de Aloy e do mundo dominado por máquinas quanto para jogadores novos, oferecendo uma campanha que amplifica o prazer de explorar esse universo colorido e repleto de criatividade.

Ainda que apresente algumas limitações na variedade das fases, isso é compensado com uma estética vibrante, personagens carismáticos e uma excelente adaptação para o público em geral, que não conhece ou não teve a oportunidade de conhecer o universo de Aloy em outra ocasião, seja por qualquer motivo.

Em suma, LEGO Horizon Adventures proporciona boas horas de diversão em um mundo familiar, mas com uma abordagem nova e descontraída. É um título que consegue unir o melhor de dois mundos: a criatividade do universo LEGO e a intensidade do mundo de Horizon, resultando em uma aventura que vale a pena explorar, um bloco de cada vez.

Prós

  • Os cenários e personagens possuem um nível de detalhe que realmente captura a essência de um mundo feito de LEGO;
  • Roteiro com diálogos engraçados e cenas bem-humoradas garantem uma experiência leve e agradável para todas as idades;
  • A possibilidade de jogar com amigos, tanto localmente quanto online, adiciona uma camada extra de diversão;
  • Localização com o elenco dos jogos originais e adaptações bem feitas para o português ampliam a acessibilidade e imersão;
  • Elementos icônicos, como ataques aos pontos fracos e furtividade em moitas, foram bem traduzidos para o estilo de jogo de LEGO.

Contras

  • A falta de variedade na dinâmica das fases torna a experiência previsível e pode causar certa monotonia;
  • O elemento de exploração é raso, limitando a sensação de descoberta, que é outra característica dos jogos de Horizon;
  • A interação com o cenário e os puzzles são simplificados, evidenciando que o jogo é mais voltado ao público casual.
LEGO Horizon Adventures — PC/PS5/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sony Interactive Entertainment
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Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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