Blast from the Trash

Terminator Salvation (Multi): o universo expandido que deu errado

No auge da era dos jogos baseados em filmes o exterminador tenta, mas não consegue.


Em 1984 chegava aos cinemas um dos maiores clássicos da ficção científica: dirigido por James Cameron, O Exterminador do Futuro revolucionou os filmes de ação e serviu de inspiração para inúmeras obras. Com esse sucesso, era de se esperar que a franquia ganharia continuações nas décadas seguintes e expandiria sua história para outras mídias. Nos videogames, o exterminador teve altos e baixos, já que muitos jogos conseguiram se destacar, mas um em especifico não teve a mesma sorte e acabou caindo no abismo dos jogos esquecidos: Terminator Salvation.


Após o lançamento de O Exterminador do Futuro 2 em 1991, James Cameron deixou a direção da série para focar em outros projetos. Como consequência disso, a franquia passou nas mãos de diversos diretores no decorrer dos anos e perdeu cada vez mais a qualidade. Em uma tentativa desesperada de reaver seus dias de glória, um novo projeto foi desenvolvido, mas ao invés da trama padrão de robôs voltando ao passado para caçar John Connor, o novo filme se passaria inteiramente no futuro e mostraria o mundo na eterna guerra entre máquinas e humanos.

Essa premissa deu origem ao que é considerado por muitos o pior filme da série: O Exterminador do Futuro - A Salvação, lançado em 2009.



Porém, o novo projeto era grandioso e não se limitava apenas ao filme, já que a ideia era criar todo um universo expandido em diferentes mídias, o que aprofundaria ainda mais a história desse futuro distópico. Além do filme, foram lançados também um livro, uma série animada e o jogo em si.

A ideia era boa, mas infelizmente o tiro saiu pela culatra. Com o fracasso de crítica do filme — o que levaria a um reboot da série em 2015 —, o projeto de continuar expandindo ainda mais o “universo Salvation” foi engavetado.

O filme é ruim, mas e o jogo?

Todas as mídias do universo expandido foram lançadas junto com filme, o problema de mídias lançadas em conjunto é que inevitavelmente uma delas será afetada pela falta de tempo e, como é de se imaginar, desenvolver um jogo leva muito mais tempo do que gravar um filme.

O jogo conta uma história original que precede os acontecimentos do filme. A narrativa se passa em 2016 e coloca John Connor e Blair Williams (personagem de grande importância no universo expandido) em uma missão de resgatar alguns membros da resistência que estão atrás das linhas inimigas.



Alguns companheiros da resistência tentam alertar John de que esta é uma missão suicida e que provavelmente eles já devem estar mortos. John retruca afirmando que todas as vidas importam e que se ele não tentar será igual as máquinas que jurou destruir.

Durante a jornada, John e Blair atravessam os Estados Unidos encontrando pessoas em diversas situações de vulnerabilidade e medo de um inimigo que não sente dor, fome, cansaço ou remorso, apenas uma vontade incessante de matar.

Apesar de a história ser extremamente simples e curta, podendo ser finalizada em menos de quatro horas, ela se torna interessante por ser inédita e dar mais profundidade a alguns personagens vistos no filme, incluindo o próprio John. Porém, as coisas interessantes acabam por aí e todo o resto é um completo desastre.

Mirou em Gears of War, acertou em Kane and Lynch


Em meados de 2009, os jogos de tiro em terceira pessoa de se esconder atrás do murinho estavam no auge graças a influência de Gears of Wars, Terminator Salvation também foi um dos que bebeu dessa influência.

A desenvolvedora sueca Grin, que anteriormente havia produzido Wanted: Weapons of Fate, ficou responsável pelo desenvolvimento e não teve muito tempo para criar algo mais robusto e com uma quantidade satisfatória de conteúdo, o que resulta em um jogo raso, incompleto e sem alma.

Geralmente em jogos de tiro existe uma certa preocupação em fazer a sensação de atirar ser gostosa, mas em Salvation esse é o elemento menos interessante. Apesar de a “trocação franca” contra as máquinas ser interessante e requerer uma certa estratégia, já que é preciso destruir o núcleo de energia na parte de trás dos robôs, toda a movimentação é truncada e imprecisa, fazendo com que o jogador lute mais contra os comandos do que contra os inimigos. Essa estratégia no combate se torna mais divertida (e menos frustrante) jogando em cooperativo, pois enquanto um jogador distrai o inimigo o outro avança pelos flancos para tentar acertar o núcleo de energia.



E falando em modo cooperativo, esse é um dos poucos aspectos nos quais Salvation acerta. Por ter dois personagens que estão sempre juntos durante a campanha, ele funciona melhor jogando em equipe, dando a entender que essa é a forma correta de jogar. Mas por conta da pressa do desenvolvimento, o jogo não conta com nenhum modo online e tem apenas coop local.

Essa pressa também fica evidente em sua parte gráfica que, já em 2009, era defasada e envelheceu tão mal que chega a ser intragável para algumas pessoas, diferente de Wanted que carrega gráficos caprichados e que envelheceram muito bem.

A Série Machinima

Para continuar promovendo o filme, foi lançada também uma minissérie em seis episódios intitulada de Terminator Salvation — The Machinima Series, que se passa antes do jogo e aprofunda a história de Blair Williams em uma missão para encontrar um hacker chamado fantasma.

Toda a trama é muito bem desenvolvida e tem a melhor história de todo o universo Salvation, com Blair sendo uma protagonista bem mais interessante do que o próprio John, o que nos faz imaginar que seria melhor se o material principal tivesse contado essa história.

O interessante é que toda a série é gravada utilizando o motor gráfico do próprio jogo, o que muitas vezes dá a sensação de se estar assistindo a um gameplay. A série completa está disponível gratuitamente no youtube totalmente em português e você pode assistir aqui.



Existe salvação para Salvation?

Se você se pergunta por quê a era de jogos baseados em filmes acabou, Terminator Salvation é uma ótima resposta. Infelizmente, essa é uma daquelas obras as quais é melhor deixar o tempo apagar.

Se você procura um bom jogo de tiro ou uma experiência cooperativa, existem opções muito melhores, mas se você já for muito fã do filme e quer consumir todo o universo expandido, talvez consiga encontrar um pouco de diversão em meio ao desastre.

Revisão: Juliana Piombo dos Santos

Um “arqueólogo de games” que adora falar das gemas ocultas do mundo dos jogos, tem o PS3 como console favorito e ama um bom hack and slash. Mesmo apreciando os jogos modernos, não dispensa uma boa velharia obscura do tempo que videogame era movido à lenha. Segue o pai.
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