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Análise: Front Mission 2 Remake (Multi) traz renovação, mas nem tanta inovação

Remake do exclusivo japonês do PlayStation chega melhorando muita coisa, mas não tudo.

Com o lançamento do Front Mission 1st: Remake, inicialmente para o Switch em 2022 e para as demais plataformas no ano seguinte, era natural esperar que sua sequência, Front Mission 2, também recebesse um remake. Atendendo às expectativas, Front Mission 2 Remake segue os passos de seu antecessor, sendo lançado primeiramente para o Switch em 2023 e chegando aos demais consoles neste ano. Hora de conferir o que esta nova versão de um exclusivo do mercado japonês tem a oferecer em 2024.

Um tático militar exclusivo de um novo console

Front Mission 2 é um RPG tático lançado exclusivamente para o primeiro PlayStation em 25 de setembro de 1997. Desenvolvido e publicado pela Squaresoft, o jogo teve seu lançamento e distribuição limitados ao mercado japonês.
Capa de Front Mission 2 (PS)
Na época do lançamento, Koichiro Sakamoto, que atuava como gerente de relações públicas da Squaresoft, revelou que o jogo nunca foi lançado fora do Japão devido à presença de situações e vocabulário que poderiam ser mal interpretados na América do Norte, devido à semelhança com conflitos retratados no enredo, embora com nomes fictícios. Na época, diversos conflitos armados estavam ocorrendo na região da Ásia ocidental.

A trama de Front Mission 2 se passa em uma versão futurista e fictícia do ano de 2102, em Alordesh (uma nação alternativa originária de Bangladesh), um estado membro separado da União Cooperativa da Oceania (OCU). A ascensão da OCU no início do século 21 impulsionou a industrialização rápida de países em desenvolvimento como Bangladesh, que serviu como base para muitas fábricas de guerra durante o primeiro conflito de Huffman em 2070.


No entanto, o crescimento econômico de Bangladesh começou a desacelerar em 2080, com a perda de investimentos estrangeiros e a saída de várias empresas do país. A economia do país teve um breve ressurgimento durante o 2º Conflito de Huffman, durante os eventos do primeiro Front Mission.

Após a guerra, os sentimentos anti-OCU aumentaram e, em 2094, Bangladesh mudou seu nome para "República Popular de Alordesh". Quatro anos depois, as Forças de Alordesh, o ramo militar do país, tentaram um golpe de estado, que falhou, mas aumentou o apoio anti-OCU e levou a um segundo golpe em 2102.

A trama de Front Mission 2 começa em 12 de junho de 2102, com as Forças de Alordesh declarando independência da OCU. Por meio de um plano cuidadosamente elaborado, as tropas alordeshianas subjugaram as forças da OCU em suas bases militares no país enquanto o governo era destituído.


No meio do caos, os membros da unidade Muddy Otters, Ash Faruk, Amia McCalum, Joyce Whitfield e Griff Burnam, tentam escapar do país e ao longo do caminho encontram outros sobreviventes da OCU. O grupo agora tem como missão principal libertar prisioneiros de guerra, enquanto investigam os movimentos das forças golpistas para tentar libertar o país e, consequentemente, salvar suas próprias vidas.

A trama apresenta outros núcleos de personagens, permitindo ao jogador ver o conflito sob diferentes ângulos e perspectivas. O roteiro é elaborado e possui méritos, especialmente para aqueles que apreciam narrativas que envolvem temas como geopolítica, conspirações e ficção.

Robôs gigantes em combates estratégicos

Front Mission 2 Remake, assim como seu predecessor e sua versão original, é um jogo de estratégia em turnos onde assumimos o controle das poderosas máquinas de combate conhecidas como Wanzers, em uma variedade de conflitos ao longo da trama.


O objetivo do jogador é completar objetivos em dezenas de missões que se desenrolam simultaneamente à narrativa do jogo, destacando-se pela alta capacidade de customização das unidades e pela vasta gama de opções disponíveis para tal.

A jogabilidade de Front Mission 2 Remake mantém semelhanças significativas com seu antecessor, embora apresente evoluções nas mecânicas e dinâmicas de uso dos armamentos, introduzindo novos tipos de armas. A gestão de munição limitada confere importância estratégica a cada movimento, evitando que o jogador se veja em situações críticas com as armas descarregadas. Além disso, o posicionamento das unidades no campo de batalha é influenciado pela geografia, afetando a eficácia das armas, especialmente nos combates diretos.

O diferencial notável em relação ao primeiro Front Mission é o sistema de Action Points (AP), que determina quantas ações cada combatente pode realizar. A movimentação e os ataques consomem AP, que é restaurado no final de cada turno, durante as fases de Jogador e Inimigo.


Os valores e a carga de AP aumentam à medida que os pilotos ganham níveis, adicionando uma camada estratégica valiosa ao jogo. A quantidade de AP também influencia a precisão dos ataques e a chance de evasão bem-sucedida. Além disso, o gerenciamento cuidadoso do AP é crucial, pois afeta a ativação de habilidades passivas dos pilotos.

O sistema de Honra, que avalia o respeito dos inimigos e aliados por cada combatente, está integrado ao sistema de AP. Destaca-se o efeito de equipe, onde viajar com aliados próximos concede vantagens sobre as forças inimigas, proporcionando AP extra e aumento de estatísticas vitais para o combate. Algumas habilidades passivas também afetam diretamente os inimigos próximos, facilitando sua derrota.

Front Mission 2 Remake oferece uma experiência estratégica complexa e envolvente, com uma curva de aprendizado desafiadora. Desde as primeiras missões, os jogadores enfrentam desafios que os instigam a planejar cuidadosamente cada movimento para evitar situações desfavoráveis em poucos minutos.

Inovações modestas

O cerne da jogabilidade e o enredo de Front Mission 2 Remake permanecem intactos quase 30 anos após o lançamento original. No entanto, apesar das melhorias significativas em termos visuais, sonoros e de desempenho, o remake falha ao tentar permanecer fiel às suas raízes.


As informações, como os tipos de forças e fraquezas das armas e modelos de Wanzers, objetivos das missões, registros de conversas e até mesmo uma navegação mais eficiente da câmera no mapa são elementos que jogos mais contemporâneos dentro do gênero oferecem e são importantes, senão cruciais, para uma melhor experiência de jogo.

Apesar de o combate ser bem explicado no modo tutorial, não há a mesma facilidade de acesso a essas informações durante o jogo. Não é possível saber quanto de AP será restaurado e, caso não seja, o que afetou esse parâmetro, por exemplo.

A interface do usuário também deixa a desejar, pois tenta se manter fiel ao material original. São muitos textos e abreviações que mais confundem do que ajudam na hora de ler informações sobre todos os atributos de um equipamento. Nem mesmo ícones estão presentes para auxiliar visualmente na identificação.


Embora o jogo tenha uma inclinação para a complexidade, estamos lidando com um título que está prestes a completar 27 anos, e mesmo no PlayStation original já era um desafio decifrar todas as informações na tela. No remake, temos a oportunidade de desfrutar de uma apresentação mais limpa, fluida e esteticamente agradável. Manter tudo em uma escala 1:1 em relação ao jogo de 1997 foi, na minha opinião, algo desnecessário, o que prejudica um dos propósitos de se fazer um remake.

Até mesmo o movimento da câmera durante a execução dos ataques, que dá voltas excessivas, permaneceu inalterado. O que parecia interessante em 1997, quando os jogos em 3D estavam em ascensão, hoje torna as batalhas mais demoradas e visualmente confusas. Minha preferência foi desativar as animações de batalha e observar as miniaturas lutando diretamente no mapa, pela praticidade e agilidade na jogabilidade.

Quanto à localização, Front Mission 2 Remake oferece as mesmas opções do primeiro remake, ou seja, o português utilizado é o de Portugal. Diferentemente do meu colega Ivanir, ao analisar a versão do Switch, optei por jogar em inglês para não perder muito da narrativa e não me confundir ainda mais com o excesso de textos e menus.

Por fim, na versão para PC, utilizada para esta análise, destaco o suporte total para controles, incluindo o Pro Controller da Nintendo e o DualSense da Sony, além da óbvia compatibilidade com controles no padrão Xbox. Jogar com o mouse, nesse caso, foi bastante desagradável. Como a interface de usuário, em sua maioria, se dá por meio de menus, a naturalidade de clicar em uma unidade, escolher uma ação e clicar onde executá-la simplesmente não existe.

É preferível jogar usando apenas o teclado e deixar o mouse de lado, o que é meio que "andar na contramão" nesse tipo de jogo, onde o uso deste periférico proporciona uma jogabilidade mais natural e intuitiva. Felizmente, tenho diversos controles à minha disposição e pude escolher o mais confortável para jogar o remake.

Novinho, mas ainda engessado

Front Mission 2 Remake oferece aos fãs do gênero de estratégia em turnos uma oportunidade única de revisitar, ou mesmo ter seu primeiro contato, com um clássico cult dos anos 90, repleto de mecânicas profundas e uma trama envolvente. Embora mantenha a essência do jogo original, o remake apresenta melhorias significativas em termos de visual, som e desempenho, proporcionando uma experiência mais imersiva e acessível para os jogadores contemporâneos.

No entanto, algumas decisões criativas e de design, como a fidelidade excessiva ao material original e a falta de atualizações na interface de usuário, podem afetar a experiência de jogo e frustrar os jogadores em busca de conveniência e praticidade, principalmente para novos jogadores que já estejam acostumados com experiências mais atuais dentro do gênero de estratégia. Ainda assim, é bom ter este importante título de volta em nossas vidas.

Prós

  • Melhorias significativas no visual, áudio e apresentação geral;
  • Profundidade nas mecânicas de jogo, como o sistema de AP, posicionamento e gestão de arsenal adicionam poderosas camadas de estratégia;
  • O alto grau de customização dos Wanzers e estratégias de combate variadas são uma assinatura da franquia;
  • Suporte total para uma variedade de controles, oferecendo opções para os jogadores escolherem o periférico mais confortável;
  • O tutorial é bem didático e eficiente em ensinar as mecânicas do jogo.

Contras

  • A trama é bem complexa, o que pode afastar jogadores que não estejam envolvidos, pelos menos, com a gameplay;
  • Fidelidade excessiva ao jogo original, limitando a inovação do título em diversos aspectos, como interfaces de usuário pouco eficientes e navegação em menus excessiva e cansativa;
  • A ausência de atualizações nas mecânicas de jogo para atender aos padrões contemporâneos do gênero denuncia uma perda significativa da razão de fazer um remake;
  • Limitações na jogabilidade com mouse, tornando a experiência menos intuitiva para os jogadores na versão de PC;
  • Ausência de melhorias na apresentação de informações durante o jogo, como o sistema de Action Points (AP), vantagens de armas e outros detalhes essenciais para o planejamento estratégico.
Front Mission 2 Remake — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Forever Entertainment

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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