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Análise: Front Mission 1st Remake (Multi): retornando a uma guerra tática de robôs gigantes customizáveis

Remake da Forever Entertainment traz de volta o clássico da Square, mas merecia mais polimento.

Durante os anos em que o Super Nintendo era o console de referência da Big N, a Squaresoft foi uma das grandes desenvolvedoras de RPGs para o sistema. Entre as várias IPs que a empresa começou no sistema 16-bits, Front Mission foi um interessante RPG tático que combinava uma história séria de guerra com um contexto futurista marcado pelo uso de robôs gigantes nos conflitos.

Essa IP deu origem a uma série curiosa, mas que foi sendo deixada de lado ao longo do tempo. Front Mission 1st Remake é o primeiro título de uma parceria entre a Square Enix (empresa atual surgida da fusão entre Squaresoft e Enix Corporation) e a Forever Entertainment para reviver a franquia. Originalmente lançado para Switch, o título chegou recentemente ao PC e demais consoles em um port simples, mas que mantém as qualidades desse relançamento.

Um grande conflito

Em Front Mission 1st Remake, acompanhamos o conflito entre dois grandes países, a OCU e a UCS, no que ficou conhecido como o Segundo Conflito de Huffman. No jogo, temos duas opções de protagonistas que atuam de lados diferentes da guerra. De um lado, acompanhamos Royd Clive, um ex-capitão da OCU desligado da corporação após uma missão fracassada que o exército finge não ter existido, mas que continua trabalhando como um mercenário a serviço deles; do outro, Kevin Greenfield realiza várias missões para a UCS, observando alguns eventos da outra narrativa sob uma ótica diferente.

Em termos gerais da escrita, a obra mantém o foco primariamente centrado nos conflitos de um ponto de vista militar, sendo curiosamente raros os momentos de drama humano pelas suas consequências. De modo geral, a trama é bem direta para dar ao jogador mais tempo de gameplay do que de diálogos, uma direção oposta a jogos mais recentes como Triangle Strategy. Há alguns aspectos éticos e políticos em destaque de vez em quando, mas boa parte da perspectiva é como a de soldados pequenos no meio desse conflito de uma escala muito maior do que eles.

Um futuro de máquinas humanoides

Vale destacar em especial que Front Mission é um jogo futurista em que os wanzers, grandes máquinas com formato humanoide, são uma das ferramentas mais importantes para os conflitos. Assim como os mobile suits de Gundam ou outros robôs similares de séries de animação japonesa do estilo mecha, os wanzers são uma das graças do jogo.

Nesse sentido, a customização dos robôs é um dos principais elementos estratégicos do jogo. Ao longo do tempo, é necessário fazer vários upgrades para garantir a sua capacidade de enfrentar os inimigos. Front Mission 1st Remake é realmente rico em opções de build, permitindo fazer com que o seu robô seja focado em ataques de curta ou longa distância ou priorize certos atributos.

Todos os wanzers podem ser divididos em quatro partes: corpo, braço esquerdo, braço direito e pernas. Ao atacar, o jogador pode atingir qualquer uma dessas partes de uma forma aleatória, tendo a possibilidade de mirar desbloqueada depois como uma habilidade especial muito útil. Destruir o inimigo exige quebrar o seu corpo, mas basta eliminar ambos os braços para que o oponente não consiga mais atacar, já que as armas são acopladas lá. Sem o controle direto de qual parte atacar, um elemento de sorte pesa no desenrolar dos combates.

Conforme o wanzer usa um tipo de ataque (físico, de curta ou longa distância), o seu piloto vai ganhando pontos de experiência específicos que aumentam a sua afinidade com aquela categoria. Dependendo dos pontos já obtidos, o jogador desbloqueia habilidades especiais que fazem uma diferença muito significativa no combate, valendo a pena se especializar.

Dentro do combate em si, além da eliminação das partes dos inimigos, o posicionamento das unidades no campo de batalha é importante. Ataques realizados à curta distância permitem que o oponente contra-ataque, mas armas com maior alcance permitem a execução segura de golpes, muitos dos quais possuem munição limitada como compensação.

Menus que poderiam ser mais detalhados

Na tentativa de deixar o jogo o mais próximo do original possível, o remake manteve as informações dos menus iguais às dos lançamentos anteriores. Porém, isso faz com que alguns detalhes, como nível e experiência dos atributos, fiquem inconvenientemente escondidos.

Na Arena, por exemplo, há um menu para indicar os detalhes do personagem antes de entrar, mas não é possível ver seu nível. Uma vez escolhido o piloto/robô, o jogador também não conseguirá mais ver nenhuma das outras informações sobre ele e as armas além de uma barra simples de atributos de ataque e evasão.

Essa falta de robustez na apresentação de informações também é um problema em outros aspectos do jogo, como a customização, cuja comparação entre armas é ultra simples e não consegue dar conta de modificações mais avançadas. Por exemplo, não há boas indicações de que a retirada de uma arma do tipo físico para priorizar o uso de um braço mais avançado com ataque embutido pode resultar em dano maior, já que os parâmetros dessas duas categorias não são diretamente comparados.

Vale destacar que o jogo só conta com um tutorial simples de controle durante o combate na primeira batalha. Embora o combate não exija mais informações, a evolução dos personagens em especial é bem obscura. Por exemplo, uma vez que o jogador libera habilidades especiais como “Primeiro” (atacar antes do inimigo) ou “Guia” (escolher onde mirar), é possível aumentar o seu nível, mas o jogador não tem informações sobre quando isso ocorre ou o nível máximo possível.

De forma geral, a sensação é a de que os desenvolvedores se empenharam demais em preservar o original a ponto de não perceber os problemas de qualidade de vida em não dar algumas informações a mais ao jogador. Em um jogo estratégico, esse tipo de escolha empobrece a experiência consideravelmente.

Felizmente, ao contrário dos Pixel Remasters de Final Fantasy, o remake de Front Mission possui as adições de relançamentos. Isso inclui a possibilidade de jogar a história de Kevin Greenfield, que foi uma novidade da versão de PS, e múltiplos níveis de dificuldade desbloqueáveis (da versão de DS, que foi a única lançada no Ocidente antes).
Também é importante destacar que a maior novidade de Front Mission 1st Remake é o seu visual. A obra agora usa artes 3D no combate, mas se esforça em manter as ilustrações originais dos personagens. O resultado final é um visual bem elegante e o jogador pode até controlar a câmera para ter uma visão mais clara do campo de batalha usando o modo moderno (ou usar o estilo original isométrico).

Um clássico tático está de volta

Front Mission 1st Remake é uma boa forma de conhecer um clássico dos RPGs táticos desenvolvido originalmente pela Squaresoft no SNES. Embora tenha alguns elementos que poderiam ser melhores em qualidade de disposição das informações, a rica customização de mechas e o foco mais direto nos combates em meio a uma narrativa de guerra mais direta ao ponto são grandes atrativos para quem quiser se aventurar pelo jogo.

Prós

  • Rica customização de mechas;
  • Sistema de combate tático em que o posicionamento e as peças atingidas em combate importam;
  • As habilidades especiais desbloqueadas com a melhoria dos atributos fazem uma grande diferença;
  • História séria de guerra que mostra aspectos éticos e políticos dos grupos envolvidos no conflito;
  • Visualmente elegante e mantém o estilo de arte dos personagens feita para o jogo original.

Contras

  • Informações significativas nem sempre estão disponíveis de prontidão em certos menus;
  • Detalhes de evolução dos parâmetros e habilidades são obscuros e nada explicados.
Front Mission 1st Remake — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Forever Entertainment

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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