Blast from the Past

Tony Hawk’s Pro Skater (Multi): 25 anos do jogo que revolucionou o gênero

Desde 1999 o Birdman voa fingindo ser o Superman.


Há 25 anos era lançado um jogo que estaria entre os principais atores de uma explosão cultural da virada do milênio: Tony Hawk’s Pro Skater (THPS). Publicado em 1999, o jogo trazia famosos skatistas profissionais em seu elenco, misturado a uma trilha sonora marcante, e aproveitava o sucesso crescente do esporte que vinha ficando cada vez mais popular nas décadas de 80 e 90.


Tony Hawk’s Pro Skater foi o jogo a levar o skate a um outro nível no ambiente eletrônico. Ao comemorar seu quarto de século, a franquia conta com dez jogos da linha principal, sete spin-offs, três remakes/remasters e uma série de jogos que seguiram a mesma temática em outros esportes (Kelly Slater’s Pro Surfer, Mat Hoffman’s Pro BMX, entre outros). O sucesso da série é tamanho que já fez mais de US$ 1,4 bilhão em todos esses anos.

A popularização do skate

Para entender como o jogo nasceu, é preciso entender o cenário do esporte naquela época. Os anos 80 foram muito significativos para competições de skate, mas principalmente no modo freestyle — que consiste em realizar diversas manobras em uma área plana, sem o uso de outros equipamentos como corrimãos e rampas. O principal nome dessa modalidade é da lenda Rodney Mullen, criador de inúmeras manobras de street (andando pela rua, no modo “horizontal”) e do próprio freestyle.

O final dessa década trouxe o skate para uma mídia mais convencional. Não era raro aparecer em filmes e séries, geralmente associado a personagens jovens. Tony Hawk mesmo fez pequenas participações ou até atuou como dublê em alguns filmes, como Os Loucos do Skate e Loucademia de Polícia 4: O Cidadão se Defende.


 

A década de 90 trouxe a profissionalização da cena, principalmente pela criação dos X-Games, competição de esportes radicais da ESPN. A primeira edição aconteceu em 1995, contando com a participação de vários dos nomes que apareceriam no game.

Isso não passou batido pelas desenvolvedoras de games. Diversos jogos apareceram tentando aproveitar a popularização do esporte, entre eles o 2Xtreme (desenvolvido pela Sony) em 1996, Top Skater (Sega) em 1997, Street Sk8er (Atelier Double) em 1998, entre outros.

Tudo isso chamou a atenção da Activision, que procurou algum estúdio para desenvolver um game de skate para seu repertório. A missão ficou com a Neversoft, um estúdio fundado em 1994 que foi adquirido pela própria Activision em outubro de 99, apenas dois meses após o lançamento do jogo.

Ainda em 1998, as empresas concordaram em desenvolver um game chamado Apocalypse, usando uma engine criada pela própria Neversoft. No meio do caminho, a Activision pediu um protótipo de um jogo de skate. Daí para frente foi história, com a empresa “do olho” sendo responsável por outros sete jogos do famoso skatista.

O que fez o jogo ser bom

Ao ligar o jogo, já era possível ver a imensa diferença de THPS para seus principais concorrentes. Os jogos acima citados tinham todos a mesma característica: as fases traziam uma espécie de sistema de corrida. O jogador saía de um ponto inicial e tinha um tempo para chegar até o final, enquanto realizava manobras no caminho. Havia pouco espaço para exploração.
Já o jogo do Birdman trazia fases abertas que permitiam o jogador ir para qualquer lado e fazer o que quisesse no tempo disponível. Não havia um ponto inicial e final (isso acontecia apenas em duas fases específicas).

Os comandos do jogo são simples e por isso foi capaz de agradar a todos os jogadores. Um botão para correr que, ao soltar, faz com que o skatista dê um pulo (ollie), que serve para alcançar novos lugares, bem como dar mais altitude nas rampas e quarter-pipes.


 

Outro botão é responsável pelas manobras de flip, que consistem em virar o skate e possuem um tempo determinado de duração. O terceiro é dedicado para as manobras de grab, onde o skatista segura o skate enquanto o jogador mantém o botão pressionado. Por fim, o último realiza manobras de grind (corrimão). Com o passar dos anos, diversas novidades foram implementadas, mas esse núcleo permaneceu o mesmo até os dias de hoje.

Mais uma inovação da série foi o sistema arcade implementado para desbravar o jogo. Em cada nível o jogador tem dois minutos para realizar quaisquer objetivos, fossem eles pontuação, coletar as letras S-K-A-T-E, achar a fita secreta, entre outros. O tempo acabou e ainda tem coisas para fazer? Simples, reinicie e tente de novo.

 


Não é necessário fazer tudo de uma vez e, por ser um tempo muito rápido, não fica repetitivo jogar a mesma fase seguidamente, pois a cada início o foco tende a ser diferente. Esse sistema foi alterado a partir do quarto jogo, mas vira e mexe acaba voltando para agradar os fãs.

Tony Hawk e sua trupe

Mais um diferencial do jogo com relação aos demais jogos de skate: um elenco estrelado, utilizando-se de dez skatistas profissionais, que já possuíam vários títulos em competições profissionais. A relação foi simbiótica: o jogo se aproveitava dos nomes conhecidos no meio, enquanto os atletas ganhavam prestígio e fama ao estarem no epicentro desse movimento (além, claro, de receberem pela participação, direitos de imagem etc.).

Tony Hawk mesmo já possuía diversas medalhas do X-Games no vertical, fosse solo ou em dupla. Além disso, foi pouco antes do lançamento do jogo, em junho de 1999, que Hawk realizou pela primeira vez a manobra 900 (que consiste em duas voltas e meia no ar) o que ajudou a aumentar ainda mais o hype para o jogo.

 


O Brasil também marcou presença, com Bob Burnquist. O brasileiro ascendia na carreira naquele momento e já começava a conquistar seus títulos do X-Games, algo que seria comum por outros 15 anos.
O resto do elenco era composto por skatistas que sempre figuravam entre os vencedores de torneios, ou que já haviam conquistado bons patrocínios através do seu talento. São eles: Kareem Campbell, Chad Muska, Andrew Reynolds, Rune Glifberg, Bucky Lasek, Geoff Rowley, Jamie Thomas e Elissa Steamer.

“They see me rolling…”

O game trouxe oito níveis diferentes e, apesar de não parecer muito, foi o suficiente para que cada um tivesse uma distinção dos outros e não ficasse repetitivo.

Entre eles, existem dois mapas de competição, Chicago e Burnside, que acabam por simular um X-Games de certa forma. O jogador tem três tentativas de um minuto para realizar as melhores manobras e evitar quedas, a fim de conquistar a medalha de ouro.


 

Os outros seis são focados nos objetivos e com o tempo de dois minutos para cada tentativa, podendo repetir quantas vezes forem necessárias. Warehouse é o primeiro mapa do jogo e o mais clássico, estando entre os que mais apareceram em toda a franquia. Mesmo pequeno, o seu level design foi tão preciso que serviu de base para o Hangar, primeiro mapa de THPS 2.

Dois dos mapas de objetivos mantiveram, de certa maneira, o propósito de simular uma corrida, tendo um início e um fim. Downhill Jam e Mall estão entre os mais lembrados de THPS justamente por isso. Porém, mesmo tendo essa “mão única”, os mapas ainda permitem um pouco de exploração, além de contar com a lista de objetivos a serem conquistados.


 

A lista fecha com School, que iniciou uma temática recorrente na série de escolas e universidades; Roswell, inspirado na Área 51; e Downtown, outro tema que sempre aparece na série: as cidades.
Nenhum deles simula um lugar verdadeiro. Todos são criações próprias da Neversoft, com alguns tendo apenas referências ou inspirações em locais reais.

Fingido ser o Superman

Que a escolha do PlayStation em usar CDs como mídia para seus jogos foi crucial para seu desempenho em vendas, todo mundo já sabe. Além da facilidade de gravação, não ser um formato proprietário e ter mais espaço para armazenamento, a mídia também trazia uma capacidade melhor de tratar o áudio, muito superior aos cartuchos, o que agradou as desenvolvedoras.


 

E se teve um game que soube aproveitar isso muito bem, foi Tony Hawk’s Pro Skater. O jogo aparece entre os primeiros a utilizar uma trilha sonora com bandas de verdade, usando músicas licenciadas. E isso não passou batido pelo público, que até hoje associa diversos singles ao game das quatro rodinhas.
A trilha sonora foi tão marcante que voltou quase em sua integridade no remake THPS 1+2. Uma das mais lembradas por todos que jogaram é Superman, da banda Goldfinger.

Outros artistas que apareceram foram The Vandals, The Suicide Machines, Primus, Dead Kennedys, The Ernies, Even Rude, Speedealer, Suicidal Tendencies e Unsane. O jogo foi considerado de grande influência em divulgar o punk e o metal para os jovens da época.


 

Legado

Além de fazer de diversos skatistas um certo tipo de celebridades, o jogo também ajudou a popularizar o skate em níveis que nenhum outro produto da indústria do entretenimento foi capaz.

O sucesso foi tamanho que THPS aparece entre os 25 jogos que mais venderam no PlayStation, mesmo sendo um jogo multiplataforma. Com diversas continuações (algumas muito boas e outras nem tanto), muitos ainda esperam um novo game que resgate os melhores momentos da série. 

Revisão: Ives Boitano


Jornalista, Técnico no papel, engenheiro não praticante e mestre Pokémon nas horas vagas. Passa 80% do tempo falando de games. Nos outros 20% torce para alguém falar sobre games, só para poder falar mais um pouco.
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