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Análise: Anomaly Collapse (PC) combina combate por turnos e roguelike de maneira interessante, mas tem dificuldade para se destacar

Acompanhe um grupo de animais antropomórficos em sua missão de salvar o mundo.


Produzido pela Rocket Punch Games e publicado pela Spiral Up Games, Anomaly Collapse é um jogo que combina RPG por turnos e roguelike. Ambientado em um mundo dominado por criaturas estranhas, estamos no controle de um grupo de heróis que precisam investigar os recentes acontecimentos para impedir que sua cidade seja destruída. Apesar de não trazer inovações dentro do sistema roguelike, ele é ambicioso em criar uma dinâmica de combate única que nos exige um planejamento cuidadoso de nossas ações.

Anomalias em Episilon

Em Anomaly Collapse, acompanhamos um grupo de oito personagens, todos eles animais antropomórficos, que investigam os estranhos acontecimentos na cidade de Episilon. Começamos a história com Glitch, uma raposa que anda pelo centro da cidade enfrentando criaturas que surgiram a partir de uma infecção fúngica. Em determinado ponto, Glitch é derrotado, mas retorna em sua condição inicial após a interação com uma máquina misteriosa.

A princípio, temos à disposição mais dois personagens para nos acompanhar, Mira e Stray, que, juntos com Glitch, formam um trio para a campanha. Os demais protagonistas são liberados à medida que completamos certos requisitos da história, e cada um deles possui habilidades únicas de combate e variados atributos como alcance de ataque, capacidade de cura e maior mobilidade.




Tanto os protagonistas quantos os inimigos e cenários são desenhados à mão. O grupo de heróis tem mais destaque: possuem designs mais elaborados e maior fluidez em sua movimentação, o que não ocorre com os demais elementos, que acabam tendo uma cara mais genérica. Os cenários, assim como a trilha sonora, não se destacam e não criam uma ambientação marcante. É tudo muito igual e sem graça.

Os inimigos não sofrem tanto com esse problema, mas estão longe de ser relevantes. Cada uma das quatro áreas do mapa possui adversários com temáticas únicas, como fungos mutantes, robôs e mortos-vivos. Um ou outro consegue ser visualmente interessante, mas a maior qualidade de cada grupo é possuir habilidades únicas, que nos obrigam a adotar diferentes estratégias.



Combate tático em uma dimensão

Anomaly Collapse aposta em uma dinâmica única de combate por turnos para tentar se destacar em meio a tantos roguelikes que aparecem no mercado. A princípio, as ideias são boas e funcionam até certo ponto, mas acabam esbarrando em alguns problemas causados pela sua proposta.

A campanha funciona da seguinte forma: começamos escolhendo o líder do nosso trio, que pode ser qualquer personagem que esteja desbloqueado; em seguida, o mapa da área inicial é aberto e alguns pontos de interesse são destacados, que podem ser inimigos para enfrentar, locais de descanso para recuperar vida, eventos aleatórios para a nossa aventura ou um novo integrante para o nosso grupo; por fim, uma barra de investigação é preenchida a cada interação que concluímos e, quando chega a 100%, o chefe local aparece.




O combate em si é que se destaca. A arena é composta por um grid linear de tamanho variado, e os heróis e inimigos são dispostos ao longo dele. Cada personagem possui um limitador de movimento e ações, indicados por pontos verdes e amarelos, respectivamente, que determinam quantos espaços podemos nos mover e quantos ataques cada personagem pode executar.

A grande inovação é a questão tática de posicionamento. Movimentando nosso trio, podemos posicioná-los de diferentes formas pela arena: quando há dois ou mais em um mesmo quadrado, eles realizam um ataque cooperativo; quando há um inimigo entre dois heróis, há um bônus de flanqueamento; prender um monstro nas beiradas do grid também aumenta o dano recebido por eles; e além disso há outras variáveis aleatórias que modificam a dinâmica, como barris de fogo, meteoros e ventanias.




De maneira geral, essa proposta funciona muito bem e exige que os jogadores se planejem cuidadosamente. Saber balancear o time é fundamental, pois alguns personagens são melhores em ataques à longa distância e outros no corpo-a-corpo, assim como os inimigos, que possuem fraquezas específicas.

O grande porém é quando uma arena pequena fica cheia de monstros. Houve casos em minha jogatina nos quais dez monstros ficaram presos em um mesmo quadrado por conta de um evento aleatório de buraco negro. Além de ficar quase impossível escolher o alvo certo para o ataque, a poluição visual fica gritante, principalmente quando há outras coisas acontecendo no grid.



Elementos de roguelike para complementar a jogabilidade

Para dar uma camada maior de complexidade, Anomaly Collapse utiliza elementos tradicionais de roguelike para agregar mais variedade ao gameplay. Ao longo da campanha, podemos desbloquear a utilização de Anomalias, itens equipáveis que dão habilidades ofensivas ou passivas para cada personagem. Da mesma forma, quanto mais utilizamos um herói, mais espaços para equipamento ele irá desbloquear, aumentando as possibilidades de estratégias.

A quantidade de Anomalias é vasta: são habilidades de cura; ataques à distância; bônus de movimentação; aplicação de status, como queimadura ou paralisia, bônus de status; ou aumento do alcance de ataques, por exemplo. Saber combiná-los é fundamental para progredir com mais facilidade na campanha. Ao final de cada combate que saímos vitoriosos, podemos escolher um dentre três itens disponíveis; logo, entender a descrição de cada objeto é fundamental.




Nesse sentido, vale destacar que o jogo não possui tradução para português brasileiro, o que dificulta muito o acesso aos jogadores que não dominam a língua inglesa. Por mais que seja genérica e não tenha muita importância, as descrições dos itens e eventos são muito importantes e devem ser compreendidas para uma boa jogatina.

Uma mescla entre inovação e mais do mesmo

Anomaly Collapse traz boas ideias ao combate tático por turnos ao adotar diferentes componentes de posicionamento em um grid unidimensional. Por mais que, em alguns momentos, as batalhas fiquem confusas pela poluição visual, há uma ideia interessante que pode ser aprimorada em jogos futuros da empresa. Os elementos de roguelike complementam bem a aventura, trazendo itens variados que mudam a dinâmica de combate de maneira significativa, mesmo que não tenha nada de inovador.

A ausência de uma história impactante e os cenários genéricos o fazem menos atrativo, sendo o combate o único fator que se destaca efetivamente. Caso a falta de localização para português não seja um problema, acho que suas qualidades justificam os fãs de combate tático ficarem de olho nele.

Prós

  • O seu combate inova em trazer elementos táticos para um grid unidimensional;
  • Há uma boa variedade de personagens, todos eles com habilidades únicas;
  • Os elementos de roguelike complementam bem a jogabilidade, dando variedade ao combate a partir da disposição de itens aleatórios.

Contras

  • Os cenários e trilha sonora têm um aspecto genérico e não impactam na ambientação;
  • As batalhas com muitos inimigos sofrem com poluição visual;
  • A ausência de localização para português brasileiro pode dificultar o acesso do jogo aos jogadores que não dominam o inglês;
  • A narrativa é fraca e não agrega em praticamente nada.
Anomaly Collapse — PC — Nota: 6.5
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Spiral Up Games


É engenheiro geólogo, graduando em Engenharia Ambiental, entusiasta de novas tecnologias e apenas mais um mineiro que não vive sem café e pão de queijo. Gosta de aproveitar o tempo apreciando RPGs, relaxando em simuladores de fazenda e curtindo uma boa música em jogos de ritmo.
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