Blast from the Past

Daytona USA (Arcade): um dos maiores sucessos da Sega completa 30 anos

Relembre o primeiro jogo da Model 2 e seu legado nessas três décadas.

em 10/03/2024
O gênero de jogos de corrida era bastante prolífico nos fliperamas e era um dos estilos que mais se beneficiavam das tecnologias disponíveis. Basta lembrar de obras como Pole Position, Outrun e Hard Drivin’ para perceber que as empresas buscavam os limites gráficos e mecânicos para proporcionar uma experiência de ponta aos volantes virtuais.


A Sega foi uma das empresas que mais explorou o meio automobilístico durante os anos 1980 e 1990. Daytona USA, lançado em março de 1994, é lembrado como um dos grandes representantes do gênero, influenciando não apenas os futuros jogos da empresa, mas também os de outras desenvolvedoras.

A poderosa Model 2

O desenvolvimento de Daytona USA está diretamente ligado à criação da Sega Model 2, o hardware que buscou empurrar os limites da renderização 3D em tempo real para a época. Para se ter uma ideia, a capacidade técnica da placa só passou a ficar mais acessível em ambiente doméstico no final da década de 1990, com a evolução das placas de vídeo para PCs.

Com tanto poder em mãos, era necessário ter uma produção que pudesse demonstrá-lo para o mundo. Assim como Virtua Racing, um jogo de corrida foi escolhido para realizar essa tarefa, mas buscando a vertente de NASCAR em vez de Fórmula 1, decisão que se deve à popularidade das corridas de stock car nos Estados Unidos. A Sega obteve a licença para o uso do nome Daytona e da pista Daytona International Speedway, trazendo para o game uma versão inspirada na pista da vida real.

O principal responsável pela direção do projeto foi Toshihiro Nagoshi, que foi responsável pela criação das franquias Like a Dragon/Yakuza e Super Monkey Ball durante os anos 2000, com Daytona USA sendo seu primeiro trabalho como diretor. Nagoshi, junto de parte da equipe de desenvolvimento, realizou diversas pesquisas para entender as regras e sensações de stock car através de vídeos e testes com os automóveis da categoria.


A Sega Model 2 possuía recursos de ponta e suas principais inovações incluíam uma maior contagem poligonal (com mais de 300 mil polígonos por segundo) e a capacidade de mapeamento de texturas. Essas texturas podiam não apenas ser em boa resolução, mas também não sofriam de “tremedeiras” (texture wrapping) e limitações de cor, como os consoles de 32 bits enfrentaram posteriormente. Além disso, a taxa de quadros por segundo foi outra evolução significativa em relação ao hardware anterior, com todos os jogos da placa rodando a 60 fps.

O resultado técnico é evidente em Daytona USA, um jogo que continua belíssimo e impressionante até os dias de hoje. Com cores vibrantes e texturas limpas para a época, o jogo apresenta muitos detalhes nas pistas. A primeira pista, Three-Seven Speedway, é uma excelente introdução para demonstrar essas evoluções, como as árvores, as montanhas de pedra com o Sonic desenhado e até mesmo parte da arquibancada, que conta com uma simulação de reflexo. As outras duas pistas são mais abertas, focando na geometria da pista e na variedade de construções, como túneis e pontes.

Outro detalhe impressionante é a quantidade de carros e a qualidade poligonal deles, que inclusive podem se deformar com batidas. Comparado ao concorrente direto, Ridge Racer, da Namco, a Sega parecia estar alguns anos à frente no ramo de arcades.

Uma experiência puramente arcade

Daytona USA segue uma estrutura semelhante à de Virtua Racing. Os jogadores podem escolher entre marcha manual e automática, competindo em três pistas com diferentes níveis de dificuldade. Enquanto a primeira pista segue o formato de circuito da NASCAR, as outras duas são projetadas como pistas mais tradicionais para um jogo, variando entre cânions, áreas urbanas e pontes. Cada pista tem uma quantidade diferente de voltas e corredores simultâneos.

A direção e a física em Daytona USA são mais descontraídas e não exigem a precisão de um simulador. No entanto, a parte mecânica da máquina inclui detalhes que aprimoram a experiência de jogo, especialmente o volante com force feedback sincronizado com a ação na tela. Além disso, a máquina permitia a conexão de até oito gabinetes para uma experiência multiplayer verdadeiramente única para a época.
Como a maioria dos jogos de corrida de fliperamas da época, o limite de tempo é um fator de desafio.

A inteligência artificial dos carros também foi inovadora. Ela se adapta às habilidades do jogador, tornando os oponentes mais agressivos para corredores experientes e oferecendo assistência para iniciantes. Os outros pilotos abrem espaço na pista e diminuem a velocidade para os menos habilidosos. Mesmo assim, chegar ao topo do pódio não é tarefa fácil.

A experiência completa de Daytona USA inclui sua trilha sonora. A Sega já se destacava nessa área em seus fliperamas, usando músicas e efeitos sonoros como um dos principais atrativos para o público. A placa Model 2 da Sega já vinha equipada com hardware poderoso para lidar com áudio, e o compositor Takenobu Mitsuyoshi aproveitou bem as novas possibilidades.


Mitsuyoshi também era conhecido por sua contribuição musical em Virtua Racing. Em Daytona USA, ele explorou uma abordagem mais voltada para o jazz e o rock, com melodias animadas e vocais próprios na trilha sonora. O icônico grito “DAYTONAAAAA!” no tema principal é um dos detalhes que definem essa experiência inesquecível.

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The King of Speed

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O legado nos consoles e as sequências

Daytona USA ganhou diversas versões para vários consoles nos anos seguintes. O primeiro port foi lançado para o Sega Saturn em 1995, sendo um título de lançamento para o console nos EUA e na Europa, o que prejudicou o seu polimento. A qualidade gráfica sofreu uma queda esperada: a distância de renderização das pistas era mínima e a taxa de quadros lutava para se manter nos 20 fps.  Além disso, não havia modo multiplayer local, mas as músicas receberam novos arranjos para aproveitar os benefícios do CD, e 10 carros foram adicionados (e dois cavalos).

A recepção foi ainda mais negativa quando comparada ao concorrente, Ridge Racer, no PlayStation, que era um port de arcade superior — fatores que ajudaram na baixa adesão do 32 bits da Sega. O PC recebeu uma versão baseada nessa edição, com os mesmos problemas do videogame com excessão da resolução mais alta.

Assim como aconteceu com Virtua Fighter no Saturn, Daytona USA recebeu uma versão melhorada no ano seguinte, chamada de Championship Circuit Edition. Todos os defeitos técnicos da edição de 1995 foram resolvidos, duas pistas foram adicionadas e houve suporte para controle de volante e controle analógico lançados para o console. Além disso, a trilha sonora foi remixada. O lado ruim é que a jogabilidade é menos fiel ao de fliperama.

Uma sequência do título, Daytona USA 2: Battle on the Edge, foi lançada em 1998 para a sofisticada Model 3, mas não recebeu nenhum port caseiro até o lançamento de Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name (Multi), em 2023. Em vez disso, o Dreamcast recebeu um remake em 2000 do primeiro jogo, que trouxe todo o conteúdo das versões anteriores, três novas pistas, mais carros para escolher e compatibilidade com jogatinas online na época, além de novas músicas.

Finalmente, uma versão caseira fiel às origens de 1994 foi lançada vários anos depois, só em 2011, para PlayStation 3 e Xbox 360 digitalmente. Essa versão trouxe multijogador online para até oito jogadores, tela com proporção 16:9, um novo modo survival e customização completa da jogabilidade em controles e periféricos.

A franquia ainda recebeu um terceiro título em 2017, lançado apenas para arcades. Intitulado Daytona Championship USA — ou Daytona USA 3, como é mais popularmente chamado —, o título traz as três pistas originais refeitas, além de outras três inéditas, incluindo uma versão fiel do circuito Daytona International Speedway pela primeira vez, e visuais modernizados. É triste que não tenha recebido uma edição para consoles até hoje.

“DAYTONAAAAA, LET’S GO AWAY!”

Sendo um dos grandes nomes da divisão de fliperamas da Sega, Daytona USA tem seu nome cravado entre os grandes clássicos de uma época ambiciosa para os jogos eletrônicos. Até hoje, é possível encontrar máquinas desse título por aí, e ele continuará sempre sendo chamativo e curioso, mesmo 30 anos depois.


Revisão: Ives Boitano

Estudante de enfermagem de 24 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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