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Análise: The Legend of Legacy HD Remastered (Multi): de volta a Avalon

RPG baseado em turnos do 3DS ganhou uma nova oportunidade de alcançar o público em sua remasterização HD.

The Legend of Legacy HD Remastered
é uma nova edição de um dos primeiros jogos da FuRyu a marcar presença no Ocidente. O RPG baseado em turnos trazia a proposta de brincar com elementos da franquia SaGa, mas acabou se mostrando um tanto genérico em execução e tendo uma recepção relativamente morna.

Vindo um ano após o estonteante Bravely Default (3DS) da Square Enix, as expectativas eram altas para que The Legend of Legacy fosse mais um título capaz de demonstrar a engenhosidade do gênero. Agora, quase dez anos após seu lançamento original, a obra retorna em um remaster modesto e que, já adianto, não deve mudar as impressões originais de quem o jogou na época.

Em busca do legado

The Legend of Legacy conta a história de sete aventureiros que decidem explorar a ilha de Avalon, uma terra que guarda segredos em ruínas de uma civilização antiga. A serviço do rei, os personagens se unem para explorar as várias áreas perigosas, repletas de monstros e armadilhas.

Francamente falando, já é bom deixar claro que este não se trata de um RPG particularmente preocupado com a história. A trama é apenas uma leve motivação para a exploração e os personagens não são nem minimamente explorados fora a introdução e breves falas isoladas com trejeitos pessoais. A mitologia da civilização antiga também é apresentada em breves porções por meio de poemas enigmáticos.

A escolha do jogo é bem simples: menos texto, mais gameplay. Ele quer que o jogador sinta a experiência de ser um explorador, desbravando terras ainda inexploradas em busca de tesouros. Para quem quiser algo mais elaborado nessa área, o sucessor espiritual The Alliance Alive também recebeu um remaster HD anteriormente e explora muito mais a fundo a sua trama.

Para passar a sensação da exploração, o jogo tenta deixar o jogador bem solto, não explicando praticamente nada da experiência. Na época de seu lançamento original, isso foi considerado um problema por alguns jogadores e críticos, então a nova edição adiciona um Guidebook com explicações curtas sobre os vários elementos de gameplay. Ele não é especialmente detalhado, mas cobre vários pontos do jogo que poderiam causar confusão.

Um mundo de exploração

De forma geral, é possível dividir o jogo em duas áreas: a exploração e o combate. Fora de Initium, temos várias áreas para desbravar, encontrando inimigos, armadilhas e artefatos da civilização antiga. Cada região do mapa de Avalon é, geralmente, uma espécie de dungeon e precisamos vasculhá-la a fundo.

As localidades exploráveis são divididas em mapas menores e uma das mecânicas do jogo envolve uma recompensa em dinheiro por vender peças cartográficas baseadas nas nossas descobertas. Quanto mais detalhes nossos mapas possuem, mais dinheiro conseguimos na venda. O jogo indica claramente quando se vê tudo de uma mini-área, marcando-a com “Complete” e mostrando cinco estrelas durante a venda do mapa completo, embora seja possível se contentar com uma quantia menor de recompensa.

Enquanto exploramos os lugares, podemos encontrar alguns objetos interativos e áreas de transição. Também podem existir outras saídas que levam à descoberta de mais regiões exploráveis, pouco a pouco expandindo as possibilidades para o jogador.

Em particular, vale a pena buscar todos os cantos para encontrar tesouros e pedras especiais capazes de invocar poderes mágicos. Embora as Singing Shards capazes de alinhar o jogador a certos elementos são obrigatórias, as pedras que abrem opções de magias (Whispering Shards) são opcionais, mas fundamentais para aproveitar a mecânica.

Cabo de forças elementais

Em termos do combate, temos um sistema com clara inspiração na série SaGa da Square Enix. Em vez de contar com níveis com base em experiência ganha ao final da batalha, as mecânicas de Legend of Legacy giram em torno do uso de armas e formações específicas em combate. A ideia é que a evolução dos personagens vem durante o próprio conflito, de acordo com as escolhas feitas em combate.

Quanto mais um personagem usa um tipo específico de arma, mais oportunidades tem para desbloquear habilidades especiais referentes a ela. Especialmente em situações de luta contra chefes e inimigos mais poderosos, é mais comum que momentos chamados de “Awakening” aconteçam, liberando novas habilidades.

Em particular, o combate envolve três personagens jogáveis, que podem assumir as posturas Attack, Guard e Support. Cada uma delas é focada em melhorar os efeitos de determinados golpes, aumentando os atributos correspondentes à quantidade de dano causado, proteção contra ataques inimigos e agilidade de ação.

Todo golpe possui valores para essas três categorias e podemos melhorá-los ao usá-los repetidas vezes enquanto nossos personagens estão na postura correspondente. Apesar da lógica por trás dessa evolução ser relativamente clara, o desbloqueio na prática envolve um forte fator de sorte, fazendo com que seja possível tanto usar apenas uma vez um golpe e já aumentar o seu nível quanto demorar dezenas de usos.

Em termos do combate, escolhemos as ações dos nossos três personagens de uma vez e a execução dos golpes deles e dos inimigos ocorre após o término da seleção. Caso ocorra um Awakening, o novo golpe liberado substitui o anterior, o que pode ser tanto uma benção (quando liberamos um poder melhor do que o escolhido) quanto uma maldição (quando isso altera totalmente o propósito da ação, trocando uma magia de cura por uma de ataque).

Nossas escolhas são totalmente baseadas nos equipamentos dos personagens. Não há itens consumíveis utilizáveis durante a batalha, o que reduz consideravelmente o nosso leque de opções estratégicas. Habilidades especiais são associadas a armas específicas e magias são ligadas a pedras que podem ser usadas como acessórios e algumas armas peculiares. Para aprender magias, é necessário usar um golpe daquele elemento, fazendo com que baste um equipamento com afinidade elemental para poder usar uma lista de habilidades já aprendidas.

Porém, o mais curioso do combate é que temos um fator particular para as magias. Para usar uma técnica dessa natureza, é necessário primeiro estabelecer um contrato durante o combate ou estar próximo a uma relíquia previamente ativada. Sem essa primeira etapa, os golpes elementais simplesmente falham.

Alguns inimigos também conseguem estabelecer contratos elementais para usar magia. Apenas um dos grupos pode ter um pacto ativo com um elemento, fazendo com que haja uma espécie de cabo de guerra entre os dois lados para poder usufruir das suas benesses. Além das técnicas, temos benefícios específicos pelos pactos, com recuperação de HP e MP ou aumento da taxa de efeitos em inimigos.

Porém, elas também possuem outros efeitos adicionais em caso de dominância elemental, favorecendo por vezes o uso de ataques físicos ou mágicos. Entender esse sistema e usá-lo bem é fundamental, podendo oferecer uma diferença tremenda em combate. No caso específico de lutas contra inimigos comuns que roubam elementais, é bom tentar eliminá-los primeiro para evitar ter suas ações anuladas, uma situação bastante frustrante.

De fora geral, o jogo se esforça para oferecer grandes desafios, colocando grupos comuns com muitos inimigos em algumas lutas. A dificuldade pode oscilar desproporcionalmente até mesmo em um mesmo mapa, então é importante estar sempre atento e ter cautela nas suas ações.

Diversos inimigos comuns podem causar danos altíssimos, sendo importante ter um aliado capaz de defender os demais em postura Guard. Ao final da batalha, o HP é totalmente restaurado, mas se um dos personagens for morto, o seu valor máximo será reduzido até que volte para Initium e descanse na cama. O MP continua gasto, mas há itens para recuperá-lo entre batalhas.

A remasterização

Para resgatar o jogo do 3DS, foi necessário atualizar consideravelmente o seu visual para uma edição HD. Porém, fora a melhoria visual e a adição do Guidebook, não temos grandes mudanças para o relançamento. Não temos nem ao menos melhorias de qualidade de vida suficientes para modernizar um pouco a experiência.

Como um título que possui muito grinding, The Legend of Legacy conta com um modo turbo em que é possível acelerar um pouco as animações em batalha. Essa funcionalidade já estava no jogo original e depende do jogador manter o botão pressionado o tempo inteiro. Com isso, a aceleração é bem inferior a boa parte dos modos turbos disponíveis em outros jogos, especialmente remasterizações similares.

Graficamente, agora podemos ver os modelos de personagens e objetos em alta resolução. Apesar disso, nem todos os elementos tiveram um trabalho de qualidade, tendo áreas significativamente borradas e algumas texturas que mereciam mais trabalho. No PC, há várias opções de resolução e dois elementos técnicos para ativar: anti-aliasing e rendering scale.

A obra tem um estilo gráfico baseado no conceito de livro ilustrado, com os elementos do ambiente aparecendo pouco a pouco. Apesar de ser uma escolha estilística, o remaster não executa isso bem, ativando o pop-in de uma forma que os inimigos podem ficar escondidos até o momento em que o jogador já está muito próximo. Além disso, elementos do cenário, como paredes, podem tampar a tela, dificultando a visibilidade dos mapas.

Já o aspecto sonoro é um dos pontos mais fortes do jogo no quesito música. As trilhas foram compostas por Masashi Hamauzu, que já trabalhou anteriormente em obras como SaGa Frontier 2, Final Fantasy X (junto com Nobuo Uematsu e Junya Nakano), Final Fantasy XIII, entre outros. As trilhas possuem um estilo clássico, reforçando especialmente o senso de aventura e dinamismo do combate. Porém, alguns efeitos sonoros podem ser muito incômodos em alguns momentos, como o coaxar do príncipe sapo Filmia e o som de tesouros que é reativado várias vezes.

Fora todos esses quesitos, preciso destacar que encontrei um bug que congela o jogo. A ideia é que, às vezes, o Guidebook abria erroneamente, mostrando entradas em japonês e travando totalmente a gameplay. Por conta disso, é interessante realizar um quick-save antes de abrir esse sistema caso as empresas não corrijam esse bug em breve.

Como um elemento positivo, o sistema de quick-save é infinito. Podemos usá-lo a qualquer momento e ele não é eliminado no uso, eliminando a escolha bastante desagradável de só poder salvar em Initium.

Um remaster modesto demais de um RPG mediano

No fim das contas, The Legend of Legacy HD Remastered não faz um grande esforço para renovar sua obra original. Temos aqui um RPG que pode ser interessante apenas para quem é muito viciado no gênero e está em busca de uma experiência mais solta e focada em combate e grinding.

Prós

  • Sistema de combate curioso que envolve o desbloqueio de habilidades e evolução dos personagens com base no uso de equipamentos e formações durante o combate;
  • Preencher os mapas das áreas e vendê-los completos é um sistema bem recompensador para quem gosta de explorar todos os cantos;
  • O conceito de cabo de guerra de elementais é uma forma muito divertida de explorar magia, embora potencialmente frustrante;
  • Trilha sonora empolgante com várias músicas marcantes, especialmente para os combates;
  • Sistema de quick-save infinito efetivamente quebra a limitação do salvamento manual que só é possível na cidade de Avalon;
  • Guidebook com explicações básicas sobre os sistemas do jogo.

Contras

  • O remaster não atualiza a gameplay de nenhuma forma significativa;
  • A ausência de itens além dos equipamentos e recursos para venda e recuperação de SP fora de batalhas limita as estratégias possíveis;
  • Bug no menu Guidebook leva ao congelamento total do jogo no PC;
  • Desenvolvimento limitado da trama pode não agradar a alguns jogadores;
  • Embora seja uma escolha estilística, o efeito de pop-in e os objetos muito altos acabam dificultando a visibilidade do mapa durante a exploração;
  • Visual remasterizado inclui borrões e texturas que mereciam mais polimento, especialmente nos ambientes;
  • Falta de sistema de batalha automática e necessidade de manter o botão de turbo pressionado fazem com que o processo de repetição no enfrentamento de criaturas fracas seja mais enfadonho;
  • Efeitos sonoros mal empregados podem incomodar.

The Legend of Legacy HD Remastered — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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