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Análise: Pacific Drive (PS5/PC) transforma a sobrevivência em uma corrida alucinante em quatro rodas

Personalize e melhore seu carro para atravessar zonas desabitadas recheadas de perigos e fenômenos sobrenaturais.


Fundado em 2019, o Ironwood Studios faz a sua estreia com Pacific Drive, um jogo de sobrevivência com forte fio narrativo que leva você e seu carro ao noroeste pacífico para desbravar a natureza e fenômenos estranhos, enquanto tenta descobrir o mistério da Olympic Exclusion Zone (OEZ), um centro de pesquisa abandonado em uma área assustadora dos Estados Unidos.

Baseado em investidas na OEZ, você usa sua base para personalizar seu carro, uma entidade que os cientistas chamam de Remanant, construir melhorias e partir em sessões pelo desconhecido. Enquanto está em campo, você deve coletar recursos, sobreviver e achar uma forma de extrair utilizando uma energia coletada ao longo do trajeto. Pacific Drive é sobre entrar, sobreviver e sair o mais rápido possível, tudo isso enquanto uma história interessante se desenrola com direito a conspirações governamentais, relacionamentos homoafetivos e fracassos profissionais.

Bem-vindo à Olympic Exclusion Zone



A história desse local começa em 1947, quando uma nova tecnologia trouxe diversos cientistas para estudar com a instituição ARDA. Haviam histórias sobre criações avançadas quase utópicas. Depois de alguns anos, o governo americano dominou tudo e diversos relatos de desaparecimentos e evacuações de emergência começaram a surgir. Ainda na década de 1950 os muros foram construídos e assim nasceu a Olympic Exclusion Zone. Depois de 30 anos o governo deixou o local, selou tudo e nunca mais se ouviu falar do que aconteceu dentro dos muros.

No comando do Motorista, como é chamado pelos outros personagens, você entra na OEZ em 1998 por acidente e acaba preso dentro desse local recheado de ameaças, fenômenos paranormais em um pedaço completamente fantasma da sociedade. Com a ajuda de dois desconhecidos no seu rádio, você é guiado em segurança até a garagem que será sua base durante todo o jogo.

Com a ajuda dos cientistas Francis, Tobias e Dra. Oppy, você desvenda os segredos e explora essa região tentando entender para onde foram todos os moradores e o que são todas as criaturas e eventos anormais que está testemunhando, enquanto segue até o epicentro de toda a confusão, a parte interna da OEZ.

Sobrevivendo em quatro rodas



O loop de gameplay se baseia em adentrar as zonas selecionadas no mapa, investigar o local, coletar recursos, fugir das ameaças e extrair. Tudo isso com seu carro, que no começo é uma verdadeira lata velha. O game conta com um amplo sistema de aprimoramentos, seja pro seu personagem,  carro ou base. Isso torna cada investida na OEZ uma oportunidade de achar os materiais necessários para transformar sua lata velha numa verdadeira máquina possante. 

Mas não para por aí, o jogo poderia ter ido na ideia de um sistema infinito de survival, o qual  as incursões nunca teriam fim e você só jogaria pela vontade de  melhorar a si mesmo e sobreviver. É possível fazer isso, mas o foco aqui é narrativo. O jogo tem uma campanha com objetivos claros e que te levam a conhecer os personagens profundamente, entendendo suas derrotas e como todo o projeto da Olympic Exclusion Zone não só destruiu a região e sua população, mas também a vida dessas pessoas.




É incrível como os realizadores conseguiram criar uma experiência que te faz ter uma ligação especial com o carro. Pessoalmente eu não sou um homem muito fã do mundo automobilístico. Nunca tive um carro nem tenho pretensão de ter um dia. Também não sou um fã de jogos de corrida. Mas aqui, a Ironwood Studios cria uma jornada de companheirismo sem igual. Seu carro depende de você e você depende dele. Ele te leva pra fora do perigo, te protege e transporta. Você conserta, limpa, troca peças, personaliza. Isso é essencial para te colocar na pele do Motorista e sentir o medo emanando do carro sempre que vê uma perturbação à frente na estrada.

O sistema de extração torna o final de cada incursão extremamente épico. Ao longo dos locais que você visitou, existem esferas de energias que são coletadas e inseridas no carro. Quando se tem o número suficiente para extração, você seleciona a saída que quer, e ela cria um cone gigante de luz laranja no local que marcou. Nesse momento, uma tempestade radioativa vai cercando o mapa, como o round final de um Battle Royale. É quando você deve pisar fundo no acelerador e entrar na luz o mais rápido possível. O mais interessante é que ela sempre está distante de onde você está, e se chegar perto demais antes de ativar a saída ela fica indisponível. Isso cria um senso de urgência em todo final de incursão.

Um estranho na estrada



Falando especificamente dos perigos que você encontra em suas incursões, existem quase 100 tipos diferentes de inimigos, se é assim que podemos chamá-los. Os fenômenos que você encontra na OEZ não são necessariamente monstros cruéis que querem te matar como em um survival de horror clássico. Aqui os desenvolvedores optaram por um local que é ameaçador quase como uma força da natureza.

O game não tem combate, uma decisão que vejo como tendo sido cirúrgica da parte dos criadores, as ameaças são estranhos acontecimentos que você presencia. Seja os assustadores Turistas, estátuas de manequins que aparecem subitamente na estrada e podem causar dano explosivo no carro caso você encoste neles, os abdutores (naves voadoras que abduzem seu veículo), ou até mesmo pedaços da própria estrada que se soltam e podem jogar o seu carro pro alto.

Seja dentro do carro ou quando se explora a pé, existe um sentimento constante de estar sendo vigiado. Os elementos assustadores das zonas são imprevisíveis e se misturam com ameaças naturais como névoa, tempestades ou estradas escorregadias da chuva. Tudo isso cria a simples tarefa de atravessar um vale, um verdadeiro perigo que pode acabar com você e com seu carro. Morrer nesse jogo significa não apenas perder boa parte das peças do seu carro, como também seus itens coletados, o forçando a começar a rota novamente.

Belezas assustadoras



Para não tornar a tarefa de entrar em incursões seguidas um loop tediante, existe uma grande variedade de zonas e seus comportamentos. Cada local que você passa uma vez se torna instável, o que traz ainda mais perigo para próxima vez que você for se aventurar lá. Além disso, existem tipos diferentes de zonas, algumas mais urbanas, outras mais rurais, tem aquelas recheadas de fenômenos nas estradas, e outras com uma quantidade absurda de abdutores. 

Mudanças climáticas também interferem no seu trajeto, você pode ser surpreendido por uma zona que está em escuridão perpétua, o que te faz abusar dos faróis. Isso pode drenar a bateria do carro, o que assim como a gasolina, é um fator que deve ser levado em consideração nas viagens. Até a forma como se coleta muda de um local para o outro: áreas mais urbanas são sobre destruir carros e aparelhos eletrônicos, enquanto os locais com mais natureza são abundantes em recursos extraídos como pedaços de árvores ou ovos no pântano.

Tudo isso banhado com uma beleza estonteante em cada paisagem. O design aqui busca algo parecido com jogos como Firewatch, mas com alguns truques de fotorrealismo, já que por mais que os modelos sejam mais cartunizados, os ambientes e luzes transformam os cenários em verdadeiras pinturas digitais. 




Vale também um destaque para a excelente trilha sonora, tanto a original quanto as músicas licenciadas. O trabalho de Wilbert Roget, II consegue trazer toda a estranheza de trilhas clássicas do cinema de terror dos anos 80 com muita precisão. As músicas das rádios também variam entre baladas de rock oitentistas e batidas deprimentes que combinam com os momentos de agitação e solitude que as paisagens causam no jogador. O projeto só não alcança a perfeição por alguns problemas de design e performance. A começar pela péssima otimização nos PCs, com placas potentes mal conseguindo alcançar os 60 quadros e a escolha da equipe pelo sistema de salvamento. 

Como funciona: você escolhe seu destino e começa sua incursão, que passa por diversas zonas. Uma vez que tenha começado o jogo salva automaticamente e não permite que você volte antes da incursão iniciar, obviamente, para se caso você morra, perca tudo e seja obrigado a começar novamente. O problema é que o jogo sofre com crashes aleatórios, que têm pouca frequência, mas  podem arruinar uma sessão de jogatina. Eu pessoalmente experienciei isso, estando no final de uma zona: sofri um crash que me fez ter que começar todo o progresso novamente, perdendo todos os materiais e itens coletados. 

Além disso, bugs menores estiveram presentes durante todas as minhas quase 30 horas de jogo. O sistema de informações também é um ponto negativo, já que é confuso, carregado de informações e a disposição dos elementos nos menus e telas não é nem um pouco intuitiva, demandando um esforço extra do jogador para compreender o básico da tela do jogo.

Entre estradas, fenômenos e peças automotivas



Com um elenco de voz carismático, vasto sistema de aprimoramento e um mundo misterioso fascinante, Pacific Drive é uma experiência daquelas que são únicas em cada aspecto. Eu pessoalmente nunca joguei nada como ele.  Parecido sim, mas como essa experiência, nunca. A ideia de criar um jogo com base em filmes roadtrip com o aspecto de mistério e terror, combinando elementos de sobrevivência e crafting foi uma escolha assertiva. A estreia da Ironwood Studios é um grande acerto e me deixou extremamente curioso para os próximos trabalhos da desenvolvedora.

Prós

  • Carro e personagem com grande sistema de aprimoramento que transforma cada melhoria em uma possibilidade de explorar as zonas de novas formas;
  • Trilha sonora original e licenciada de alto nível que adiciona a atmosfera do jogo;
  • Elenco de voz pequeno mas potente, que entrega nas personalidades de Tobias, Francis e Oppy companheiros complexos;
  • Cada zona tem suas características próprias, seja pelos inimigos nela, ou seus recursos disponíveis.

Contras

  • A performance deixa a desejar com baixo FPS e crashs;
  • Os elementos em tela são muito pesados, deixando a compreensão confusa e pouco intuitiva;
  • O sistema de salvamento, devido aos crashes, mais atrapalha do que ajuda na experiência.
Pacific Drive — PC/PS5 — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Kepler Interactive

Redator publicitário em tempo integral e amante de games nas horas vagas. Provavelmente aprendi a segurar um controle mais rápido do que uma mamadeira. Cresci com os maiores clássicos da Big N como Zelda, Mario e Pokémon. Hoje aproveito os pequenos momentos de descanso da vida corrida para me perder em Hyrule, em uma Tóquio pós-apocalíptica ou em um mundo de encanadores e cogumelos.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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