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Análise: Spirit Hunter: Death Mark II (Multi) é uma experiência de terror envolvente, ainda que desgastante

Na pele de Kazuo Yashiki, embarque em uma jornada para desvendar a origem do mal que assombra a Konoehara Academy.

Desenvolvido pela Experience e publicado pela Aksys Games, Spirit Hunter: Death Mark II é um intrigante jogo de terror e suspense que combina momentos de exploração em uma dinâmica side-scrolling 2D com investigações no formato point-and-click. Embora sua jogabilidade possa se mostrar fatigante em certos aspectos, a construção de horror que ele oferece é exemplar.

Uma escola assombrada

Em Spirit Hunter: Death Mark II, somos apresentados a Kazuo Yashiki, uma espécie de detetive espiritual solicitado pelo diretor da Konoehara Academy para investigar eventos perturbadores que assolam o local.

Nesse contexto, a escola é o epicentro de estranhos avisos ameaçadores e do desaparecimento de alunos, ocorrências que parecem estar intrinsecamente ligadas a um espírito conhecido como The Departed. Assim, cabe ao nosso protagonista, auxiliado por alguns aliados, desvendar a verdade por trás desses acontecimentos e encontrar uma maneira de pôr um fim a essa misteriosa maldição.

Devo admitir que este foi o meu primeiro contato com a série Spirit Hunter, e imediatamente percebi que o título mantém uma conexão direta com seu antecessor numerado, reintroduzindo personagens familiares e referenciando eventos passados. 

Surpreendentemente, mesmo sendo iniciante, não me senti desorientado, pois o protagonista oferece resumos sobre a história dessas pessoas e a sua relação com elas. No entanto, é muito provável que os veteranos da franquia possam desfrutar de uma conexão mais profunda com essa entrada, dada sua familiaridade com esse universo.

Uma narrativa de terror bem-executada

Como uma obra de terror e suspense, Death Mark II consegue entregar uma narrativa envolvente e bem-elaborada, fundamentada em elementos dos contos japoneses. No game, temos a presença do fenômeno comum em obras nipônicas, em que indivíduos que faleceram imbuídos de sentimentos negativos intensos acabam por se transformar em espíritos vingativos, capazes de fazer mal aos vivos.

Embora The Departed seja mencionado logo no início e o jogo insinue constantemente que ele é o principal responsável pelas atuais tragédias, há diversos outros fantasmas intrigantes que encontramos durante a jornada, cada um com seu próprio passado trágico que justifica sua existência.

Com grandes momentos narrativos que se assemelham a uma visual novel, o título consegue construir uma atmosfera profundamente aterrorizante. Essa sensação é ampliada não somente pela apresentação de ilustrações belíssimas e, por vezes, explícitas, mas também pelo excelente uso do som. Nesse aspecto, os desenvolvedores foram extremamente perspicazes até mesmo com a utilização do silêncio, a qual contribui significativamente para criar uma expectativa palpável de que algo perigoso está à espreita.

Apesar de não ser uma falha propriamente dita, confesso que fiquei intrigado com a possibilidade de ver o jogo totalmente dublado em vez de exibir vozes apenas em ocasiões pontuais, predominantemente gritos ou sussurros. No entanto, a ausência de legendas em português representa uma lacuna significativa, especialmente considerando a quantidade massiva de texto presente no título.

Em suma, Spirit Hunter: Death Mark II oferece uma experiência de terror extremamente cativante, com uma narrativa imersiva que é bem-sucedida em manter o jogador ansioso por conhecer a origem de cada espírito. No entanto, sua jogabilidade pode se tornar muito cansativa a longo prazo, como veremos adiante.

Explorando Konoehara Academy

Death Mark II se passa majoritariamente dentro dos limites da academia, nos permitindo investigar o ambiente em uma dinâmica side-scrolling 2D. Além de interagir com os alunos, temos a oportunidade de encontrar itens essenciais que nos fornecem contexto e informações sobre o que está acontecendo no local, ou que possuem alguma utilidade física para superar determinados obstáculos.

Durante a aventura, também existem algumas áreas em que a jogabilidade muda para um estilo point-and-click, permitindo que o jogador pesquise as peças que compõem o cenário em uma perspectiva em primeira pessoa e, em certos pontos, utilize objetos para desbloquear elementos inicialmente inacessíveis. 

É importante mencionar que o protagonista é constantemente acompanhado por um aliado durante a jornada, e a escolha desse companheiro pode alterar significativamente a exploração, já que diferentes indivíduos possuem “habilidades” específicas que se mostram úteis em determinadas situações, como mãos mais delicadas para adentrar espaços apertados. Ainda que muitos dos artigos adquiridos dessa forma sejam opcionais, alguns deles são essenciais para melhorar os atributos dos personagens.

Num geral, a investigação não dispõe de nenhum problema grave e é até divertida inicialmente; no entanto, à medida que avançamos, a familiaridade com os ambientes da escola traz a percepção de que os andares se assemelham muito entre si. Consequentemente, após algumas horas de jogo, o ato de vagar pela mesma região em busca de algo ou alguém em uma sala específica se torna bastante monótono.

A repetição não deveria ser tão importante quanto a atenção

Spirit Hunter: Death Mark II também ostenta momentos semelhantes a confrontos, geralmente envolvendo a interação com espíritos hostis ou pessoas relutantes em cooperar com a pesquisa. Nessas ocasiões, o jogador deve escolher entre várias opções de diálogo ou ação, sendo apenas uma delas a correta, geralmente relacionada às informações recém-adquiridas. O curioso é que todas as alternativas, incluindo a verdadeira, possuem uma chance de sucesso ou falha.

Caso falhemos em qualquer tentativa ou tenhamos sucesso em uma escolha errada, perdemos pontos de energia, que, se chegarem a zero, resultam em um game over.
Como só existe uma possibilidade certa e até mesmo ela pode falhar, as porcentagens se tornam completamente inúteis e servem somente para prolongar artificialmente a campanha, já que essa característica gera situações em que precisamos repetir o embate simplesmente porque o caminho ideal não funcionou.

Nesse sentido, ainda que Spirit Hunter: Death Mark II apresente um grau de investigação bastante interessante, com as informações, diários e objetos coletados durante a jornada possuindo uma grande utilidade para a resolução dos desafios, na prática, o título demanda um grau muito alto de repetição.

Apesar das ressalvas, um bom jogo de terror

A despeito de suas falhas, Spirit Hunter: Death Mark II destaca-se como uma obra de terror cativante, oferecendo personagens (vivos e mortos) fascinantes dentro de uma trama bem-construída. Embora a jogabilidade possa ser desgastante em alguns aspectos, sua atmosfera sinistra e enredo intrigante compensam suas deficiências.

Prós:

  • Trama bem-construída centrada no terror japonês, apresentando personagens cativantes e situações aterrorizantes;
  • Diversidade de espíritos interessantes, cada um com seu próprio passado trágico;
  • O uso inteligente do som (e sua ausência) contribui muito com a construção de tensão;
  • As imagens deslumbrantes utilizadas nos momentos narrativos são assustadoras e acrescentam peso aos eventos bizarros;
  • O protagonista fornece um contexto breve, mas essencial, sobre os eventos passados e os personagens que retornam nesta história, o que ajuda bastante os iniciantes na série.

Contras:

  • A jogabilidade nos momentos de exploração se torna rapidamente cansativa, especialmente devido à repetição de ambientes;
  • A possibilidade de falha, mesmo nas opções corretas, durante os embates, gera uma necessidade constante de repetição;
  • Ausência de legendas em português.
Spirit Hunter: Death Mark II  — PC/PS5/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aksys Games

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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