Jogamos

Análise: Banishers: Ghosts of New Eden (Multi) nos envolve em meio a dilemas morais e o sobrenatural

Decida o destino dos habitantes de New Eden em uma jornada que testará até onde somos capazes de ir por um grande amor.

Banishers: Ghosts of New Eden
é o mais recente projeto da desenvolvedora Don't Nod Entertainment, reconhecida por criar jogos com narrativas densas e emocionais, como a aclamada série Life is Strange. Em 2024, o estúdio começa o ano com um de seus projetos mais ambiciosos até então, se aprofundando mais no gênero do RPG de ação já explorado em Vampyr, de 2018.

Na trama, seguimos uma dupla de hábeis caçadores de fantasmas conhecidos como banidores, convocados para uma missão de purificação em um assentamento de colonos na América. No entanto, o destino reserva surpresas para ambos, e agora eles se veem confrontados com a necessidade de questionar suas convicções em nome de um grande amor. Acompanhe-nos ao mergulhar nessa intrigante experiência na análise a seguir.

Abominável mundo novo

1695, a América começa a ser colonizada por europeus que se estabelecem em assentamentos para explorar este novo mundo. Um desses locais é New Eden, um importante centro da recente onda de colonização no continente.


O que inicialmente parecia ser um período de prosperidade logo se transformou em um episódio de terror, à medida em que a região começou a sofrer as consequências de uma terrível maldição. Edgar Davenport, preocupado com a situação, envia uma carta para dois antigos conhecidos: Ruaidrigh “Red” Mac Raith e Antea Duarte, que são habilidosos banidores, indivíduos especializados em lidar com o sobrenatural.


O trabalho dos banidores envolve investigar os motivos pelos quais os espíritos de pessoas falecidas permanecem na Terra, compreender suas motivações e os transtornos que causam às pessoas. Eles estão encarregados de combatê-los, se necessário, e conduzir rituais de ascensão (nos quais o espírito é tranquilamente levado para o plano espiritual) ou banimento (nos quais são forçadamente expulsos do mundo dos vivos e condenados ao esquecimento, dependendo das circunstâncias).

Red e Antea não são apenas especialistas em seu ofício, mas também compartilham um forte amor um pelo outro. Eles chegam a New Eden e são informados pelo governador da cidade sobre uma entidade maligna conhecida como Pesadelo, que está causando caos entre os colonos através de doenças, pragas, medo e desesperança.


Determinados a enfrentar a criatura, o casal se depara com um confronto mais difícil do que esperavam. O embate termina de forma trágica, com Antea sendo assassinada pela entidade, e Red sendo lançado à morte na encosta, rumo a uma morte certa.

Por um milagre, Red sobrevive e, sozinho, começa a questionar sua missão. Ele é surpreendido pelo fantasma de Antea, que não descansará até encontrar vingança pela própria morte. Juntos, eles tomam conhecimento de um antigo ritual proibido que pode trazer Antea de volta à vida, mas a um alto custo: Red deve sacrificar vidas humanas para alimentar sua amada com suas essências vitais, recurso essencial para cumprir esta macabra tarefa.


Para realizar o ritual, eles também precisam retornar à capela de New Eden para recuperar o corpo de Antea. Agora, confrontados com uma escolha dolorosa, os dois devem decidir entre manter seus juramentos como banidores ou sacrificar aqueles que juraram proteger em nome de seu amor.

Banishers: Ghosts of New Eden nos leva não apenas a uma formidável aventura, mas a uma jornada moral que nos confronta constantemente com a pergunta: O que estamos dispostos a fazer por um grande amor?

Não existem santos em New Eden

Como esperado de um game da Don’t Nod, o ponto de maior destaque é o roteiro. Red e Antea são excelentes protagonistas, que aos poucos vamos conhecendo e com os quais vamos tomando mais intimidade conforme a narrativa se desenvolve. O escocês pode até ter uma aparência de rufião, mas desde que começou a aprender o ofício dos banidores com Antea se tornou uma pessoa melhor.

A cubana é uma mulher de personalidade forte. Experiente na arte do banimento, foi Antea quem baniu os fantasmas das vítimas de Red quando ele era um mercenário sanguinário. Após sua redenção, e o início de seu treinamento como banidor e aprendiz da senhorita Duarte, um inesperado amor entre os dois nasceu e é este laço que dá forças à dupla e que se torna a chave para o desfecho da história.


O roteiro também nos agracia com uma generosa quantidade de personagens igualmente envolventes, cada um com suas histórias complexas e emaranhados de fios podres que desafiam nosso julgamento na hora de decidir por suas vidas.

Algumas das atividades mais interessantes de Banishers são, justamente, as missões secundárias, aqui chamadas de Casos de Assombração. Cada uma envolve alguns colonos e nos coloca em uma verdadeira saia justa na hora de decidir sobre seus destinos.

Por exemplo, em uma dessas missões nos deparamos com uma mulher que se vê envolvida em um triângulo amoroso durante sua viagem para a América. O marido é retratado como um homem violento e abusivo, enquanto seu amante é um fugitivo da justiça. A investigação revela um plano para a morte do marido, com consequências profundas para todos os envolvidos.


Ao longo do caso, somos confrontados com a escolha de culpar a mulher pela conspiração, banir ou ascender o espírito do marido falecido, ou responsabilizar o amante pelo assassinato. Cada decisão tem ramificações significativas na história, e que certamente terão um peso no desfecho da trama.

Essa interação com dilemas morais, aliada a diálogos bem escritos e trama intrincada, faz de Banishers uma experiência rica e envolvente para quem gosta de uma boa história, merecendo ser jogado mais de uma vez para explorar todas as possibilidades narrativas.

Ação comedida, mas satisfatória

Dadas as devidas considerações sobre mais uma ótima experiência narrativa da Don’t Nod, o gameplay também tem seu destaque, que diferente do roteiro não chega a ser tão envolvente, apesar de fazer bem seu papel. O jogo se passa em um ambiente de mundo aberto com diversos cenários para explorar e segredos para descobrir.


No controle de Red, os jogadores podem alternar para a forma espectral de Antea, aproveitando suas habilidades fantasmagóricas para explorar o mapa e enfrentar inimigos. Ao derrotar oponentes, Red ganha pontos de experiência que rendem pontos de habilidade ao subir de nível para serem usados no desbloqueio de novas habilidades de combate.

Existem vários acampamentos espalhados pelo mapa, servindo como pontos de descanso para que Red recupere seus frascos de vida e pontos de saúde. Além disso, nesses locais é permitido aprimorar os equipamentos da dupla, utilizando os recursos coletados durante a jornada. Os itens evoluem em qualidade e atributos, tornando os banidores mais poderosos.

No entanto, há um desequilíbrio natural nos equipamentos e habilidades, no qual o fortalecimento de um personagem pode enfraquecer o outro de alguma forma. É preciso estar atento a essa dinâmica ao construir as habilidades de cada um.

Red possui uma barra de vida que, se esgotada, resulta em sua morte, enquanto Antea possui uma barra de espírito que precisa ser recarregada através dos ataques de Red para que ela possa se manifestar em combate. As habilidades de cada personagem são mais eficazes contra tipos específicos de inimigos, exigindo uma estratégia bem pensada durante os confrontos.

O mundo revela segredos apenas aos olhos de Antea
A alternância entre Red e Antea é essencial para desvendar segredos e realizar ações exclusivas de cada um no cenário. A jogabilidade foi cuidadosamente elaborada para destacar as habilidades únicas de ambos os personagens.

O sistema de combate, que senti ter se inspirado em jogos como God of War e alguns soulslikes, também funciona bem, embora alguns comandos possam parecer imprecisos em certas ocasiões. Algumas habilidades de Red aparentam ser menos impactantes, enquanto as de Antea se destacam mais, apesar das restrições impostas pelo jogo em relação aos tipos de inimigos mais efetivamente combatidos por cada um dos banidores.


Um dos poucos pontos de pouca inspiração diz respeito aos inimigos em si, que são amplamente reaproveitados durante o jogo. Se na primeira hora estávamos enfrentando um espírito errante, depois de quatro horas de jogo ainda encontramos esse tipo de inimigo, com o mesmo esquema de combate e no máximo uma cor diferente. A variedade é um tanto escassa, resultando no clássico “você de novo, seu bicho feio?”. Os chefes, porém, conseguem ser bem mais originais e interessantes.

Um mundo e tanto

A exploração em Banishers nos proporciona uma variedade de atividades paralelas para desfrutar durante a jornada, desde encontrar colecionáveis até enfrentar ninhos de inimigos sob regras específicas. Descobrir atalhos, coletar equipamentos e resolver os já citados Casos de Assombração também são uma parte importante da experiência, oferecendo horas de entretenimento enquanto nos aventuramos pelas paisagens deslumbrantes de New Eden.

As viagens rápidas, uma convenção comum em jogos de mundo aberto, são ágeis e convenientes, permitindo-nos revisitar locais anteriormente explorados após adquirir novas habilidades que expandem nossas possibilidades no mapa e nos ajudam a obter os numerosos colecionáveis disponíveis.


Assim como mencionei em minha análise de A Plague Tale: Requiem em 2022 (também lançado pela Focus Entertainment), Banishers também mostra as qualidades da nova geração graficamente. Os visuais dos diversos ambientes de New Eden são verdadeiramente deslumbrantes e certamente agradarão qualquer pessoa que aprecia jogos visualmente impressionantes e têm essa expectativa para jogos lançados para os consoles mais recentes.

Embora as animações dos protagonistas se destaquem, as dos demais personagens podem carecer de um pouco mais de polimento, com movimentos corporais e faciais limitados durante as interações. Isso pode ser uma fonte de descontentamento para jogadores mais exigentes. Esses mesmos jogadores também talvez questionem o desempenho técnico do jogo, que, em geral, pode apresentar alguns pontos de incômodo.


No PlayStation 5, jogando no modo performance (minha preferência pessoal), as cenas cinemáticas são exibidas a 30FPS, enquanto o gameplay geralmente mantém uma taxa de quadros de 60, ideal para momentos de ação. Embora ocorram quedas pontuais em ambientes mais fechados, como minas ou cavernas, este detalhe não compromete significativamente nossa experiência.

Os carregamentos rápidos e o uso inteligente do controle DualSense, com diferentes padrões de luz indicando ações ou eventos, acrescentam um charme extra à experiência no console da Sony, contribuindo levemente para a imersão do jogador.

“Vida aos vivos, morte aos mortos”

Banishers: Ghosts of New Eden oferece uma experiência que nos envolve, na qual o brilhante roteiro se une a uma jogabilidade sólida e a visuais deslumbrantes para criar um universo original e cativante. A narrativa rica em nuances morais e escolhas difíceis nos mantém imersos em uma jornada emocionante, enquanto a exploração do mundo aberto de New Eden oferece uma variedade de atividades para desfrutar.

Embora apresente alguns pontos que necessitam um pouco mais de atenção, como animações secundárias e desempenho técnico, a experiência geral de Banishers é profundamente gratificante. A sinergia do gameplay de Red e Antea, as estratégias de combate e a riqueza de atenção dada às missões paralelas tornam o jogo cativante, instigando os jogadores a fazerem escolhas complicadas até o último momento.


Mantendo seu compromisso em criar experiências imersivas e memoráveis, a Don’t Nod Entertainment certamente deixará uma marca duradoura nos corações dos jogadores que se aventurarem nas profundezas sobrenaturais de seu novo jogo. Banishers: Ghosts of New Eden já é, sem dúvidas, um dos melhores títulos de 2024.

Prós

  • Roteiro envolvente, repleto de nuances morais e escolhas difíceis;
  • Personagens cativantes, com desenvolvimento significativo ao longo da história;
  • Visuais deslumbrantes, que retratam com maestria os ambientes de New Eden no século XVII;
  • Jogabilidade sólida, com mecânicas de combate e exploração bem desenvolvidas;
  • Os Casos de Assombração oferecem horas de entretenimento adicional e enriquecimento à trama;
  • A alternância entre os protagonistas cria uma profundidade estratégica ao jogo, tanto na exploração quanto no combate;
  • Uso inteligente do controle DualSense do PlayStation 5, adicionando imersão à experiência.

Contras

  • Animações secundárias carecem de polimento, especialmente em personagens não jogáveis;
  • Desempenho técnico inconsistente mesmo jogando no modo performance do PS5;
  • Os comandos de combate trazem imprecisões, prejudicando a fluidez das batalhas;
  • O desbalanceamento nos equipamentos e habilidades pode deixar o poder de combate da dupla muito desigual.
Banishers: Ghosts of New Eden — PC/PS5/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Focus Entertainment

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google