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Análise: Shinorubi (Multi) consegue revitalizar a fórmula dos jogos de navinha sem perder a essência

Finalmente temos um shooter de progressão vertical que utiliza todo o espaço da tela e traz gráficos que não se prendem ao passado.

Os shoot’ em ups fazem parte de um nicho que se manteve apegado às suas raízes da época de ouro dos games. Mesmo décadas após o boom de títulos como Darius e R-Type, grande parte dos “jogos de navinha” atuais busca fidelizar o público mantendo a mesma estética dos anos 80 e 90, contendo jornadas espaciais em 8 ou 16 bits.

Felizmente, vez ou outra aparece um título que ousa um pouco mais e mostra que há espaço para evoluções significativas nesses shooters. É o caso de Shinorubi, que traz boas ideias aliadas a um conteúdo bacana e estética mais atual.

Depondo uma tirania na base da bala

Shinorubi é um planeta isolado que está sendo governado pelo tirano R. Loyd III desde os últimos 1000 anos. Essa longa ditadura só foi possível por causa da substância R-R, que existe em abundância em Shinorubi e é monopolizada pelo ditador. Tanto que ele nomeou seus cinco filhos e sua filha como generais do seu exército.

Para combater a dinastia imposta com mão de ferro pelo patriarca da família BAÄA, oito mercenários se reuniram contra os filhos do general. Por essa premissa, já dá para notar que cada general será o confronto final de cada fase, sendo a filha o oponente derradeiro.

Cada um dos oito pilotos tem suas características distintas, como velocidade, força e, a mais notória de todas, a própria nave. Além de elas terem tamanhos consideravelmente diferentes, também possuem um raio de ação único. Enquanto uns contam apenas com disparos em linha reta vertical, outros possuem uma abrangência de área maior, com rajadas diagonais e até mesmo laterais.

Além disso, há a bomba, que faz uma limpa geral pelo cenário, e o laser. Este segundo é um disparo concentrado e mais poderoso, muito mais destrutivo que nossa arma tradicional, mas com o custo de deixar nossa nave mais lenta. Ambos influenciam na nossa pontuação, bem como a quantidade de vidas gastas, o que nos faz pensar bem antes de sair gastando bombas ou apostando apenas na melhor ofensiva.

É aí que entra em cena um dos pontos altos de Shinorubi: a disposição widescreen. Faz toda a diferença curtir um shoot’ em up que preencha 100% da tela, sem parecer que está esticado. Essa afirmação se torna ainda mais relevante por se tratar de um jogo com progressão vertical, já que esses em sua maioria trazem a ação focada no centro da tela e ocupam as laterais com alguma imagem estática.

A satisfação que senti em poder percorrer o espaço todo da tela foi algo similar com a de VASARA Collection, que trazia os dois jogos originais, mas também um modo de jogo novo mais moderno e que não se prendia às amarras do passado.

Entretanto, também sou obrigado a lembrar que Shinorubi é um bullet hell, logo, é comum a tela ficar bastante poluída, principalmente nas dificuldades mais altas, que trazem inimigos mais agressivos. Quem já tem intimidade com o gênero não achará tão estranho assim, mas no geral é algo que causa certas confusões que podem nos arrancar algumas vidas, principalmente com os inimigos maiores, como trens, tanques e os chefes, que ocupam praticamente a tela toda.

Um planeta pequeno, mas com muita coisa para fazer

Em questão de conteúdo, Shinorubi também traz uma boa diversidade de modos de jogo, mas todos eles acabam apostando em estruturas muito similares. O Arcade é o mais tradicional, trazendo seis fases principais. Há também um modo de treino, para praticar cada área isoladamente, o Boss Rush, que foca só nas batalhas contra os chefes sequencialmente, e o Caravan, que funciona como Time Attack.

Fora essas opções, que são mais corriqueiras no gênero, há também outros tipos diferenciados de desafios: 
  • Shield Mode, no qual contamos com um escudo que diminui de tamanho com o tempo de uso; 
  • Super Rank Mode, que faz a dificuldade aumentar sempre que o laser é utilizado; 
  • Scratch Mode, no qual a pontuação é baseada na proximidade da nossa nave em relação aos projéteis inimigos; 
  • Cancel Mode, que faz toda a chuva de balas rivais desaparecerem ao acertarmos um oponente específico; 
  • Journey Mode, que funciona como uma corrida infinita que vai ficando mais difícil; 
  • Pink Pig Mode, de longe o mais criativo, no qual porquinhos cinza aparecem para cada nave eliminada. Devemos esperar eles chegarem até o final da tela e voltar para mudarem para uma coloração rosa e aí sim coletá-los;
  • Laser/Shot Mode, no qual temos que optar entre o laser ou os projéteis e apenas um deles serve para destruir os inimigos.
Essa variedade de modos ajuda a criar novos cenários que aumentam o fator replay de Shinorubi, mas isso é atrapalhado justamente pela composição visual dos cenários e inimigos. Todos eles são muito parecidos entre si, o que cria uma sensação iminente de repetitividade, mesmo tendo objetivos distintos.

Seria mais proveitoso se cada fase retratasse uma paisagem diferente, mas todas elas trazem o mesmo conjunto de cidades em ruínas intercaladas com florestas. Os inimigos também, inclusive sempre mantendo o padrão esverdeado que se estende até os chefes. Nesse quesito, infelizmente Shinorubi derrapa feio, pois seus gráficos em HD serviriam perfeitamente para retratar locais mais vibrantes e únicos.

Junte isso ao fato de tudo se passar sempre na mesma sequência sextavada de áreas, e temos uma replicação chata que interfere de forma direta no potencial de Shinorubi. Mais uma vez, entramos naquele quadro de que os jogadores mais casuais podem acabar perdendo o interesse por achar que tudo é muito parecido, ou até “mais do mesmo”.

Um voo potente, mas que poderia ter ido mais longe

O maior mérito de Shinorubi está em quebrar um molde saudosista que limita todo o potencial que os shoot ‘ em ups podem alcançar nas gerações de games atuais. Os diversos modos de jogo também são muitíssimo bem-vindos, e as naves diferenciadas não só nos tiros, mas no tamanho, adicionam um fator diferenciado. 

Ao meu ver, se houvesse uma variedade maior entre os ambientes e cenários, este título teria tudo para marcar seu nome como um exemplo a ser seguido para futuros projetos. Não precisaria nem aumentar o número de fases.

Prós

  • Mesmo com a ação na vertical, a disposição ocupa a tela toda;
  • Variação de projéteis e tamanhos das naves ajuda a variar o estilo de pilotagem;
  • Diversos modos de jogo;
  • Gráficos muito bonitos.

Contras

  • Os ambientes das fases e inimigos são muito parecidos uns com os outros;
  • O fato de todos os modos de jogo usarem o andamento do Arcade causa uma sensação de repetitividade;
  • Alguns momentos de poluição visual.
Shinorubi — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisor: Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela Red Art Games

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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