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Análise: Risk of Rain Returns (PC/Switch) renova o clássico roguelike em uma edição caprichada

A nova versão do popular título indie melhora praticamente todos os aspectos, deixando-o ainda mais interessante.


Aqueles que curtem o gênero roguelike possivelmente já ouviram falar de Risk of Rain e suas partidas caóticas e viciantes. Depois de uma sequência em 3D, a série volta às origens 2D em Risk of Rain Returns, remasterização do título original. Além de melhorias visuais e técnicas, a nova versão inclui conteúdo inédito e opções de balanceamento, tornando-o ainda mais robusto. E, claro, a atmosfera empolgante e frenética da ação que fica cada vez mais difícil está intocada, resultando em uma experiência viciante.

Encalhado em um mundo perigoso

Em uma viagem interplanetária, uma nave estelar de transporte de mercadorias é atacada por forças misteriosas e acaba caindo no planeta Petrichor V. Alguns tripulantes se ejetam em cápsulas de emergência no último minuto e se salvam, mas a situação não é nada boa: o local está infestado de monstros ferozes e vários perigos. A última chance de escapar é a nave, que ainda parece ser funcional, mas que está perdida em algum canto do planeta.


Para alcançar esse objetivo, os sobreviventes de Risk of Rain atravessam diferentes regiões em uma arriscada jornada de ação e plataforma 2D. Em cada fase, o objetivo é encontrar e ativar um teleportador que, possivelmente, levará os heróis até a nave. Os estágios estão infestados de inimigos, e para enfrentá-los cada personagem tem à disposição quatro habilidades distintas.

As hordas de monstros são implacáveis e bastam poucos deslizes para morrer. Sendo assim, para sobreviver é necessário coletar equipamentos caídos da nave interestelar. Os itens provêm melhorias diversas, como disparar correntes elétricas aleatoriamente, aumentar o poder dos ataques, incendiar o chão ao andar, envenenar inimigos e muito mais. Há uma infinidade de objetos para coletar e desbloquear, tornando cada partida única.


Para deixar as coisas ainda mais tensas, Risk of Rain tem dificuldade associada ao tempo, ou seja, quanto mais demoramos, mais inimigos aparecem. Com isso, criam-se vários dilemas: corro para ativar o teleportador e avançar para o próximo estágio antes que a dificuldade aumente demais? Ou é melhor explorar as áreas cuidadosamente em busca de equipamentos para fortalecer o herói? Equilibrar as opções é essencial para chegar longe.

Morrer é praticamente inevitável, afinal os perigos de Petrichor V são implacáveis. A jornada recomeça do zero a cada nova tentativa, e muitos dos aspectos do jogo mudam, como seleção de estágios, tipos de inimigos e itens. Além disso, conforme concluímos tarefas durante as partidas, novo conteúdo é desbloqueado, como personagens, equipamentos e modificadores de regras. Com isso, aos poucos a experiência vai ficando mais diversa.



Em uma jornada complicada, intensa e diversa

Risk of Rain foi um dos primeiros roguelikes ao qual tive a oportunidade de me dedicar e foram inúmeras horas preso neste planeta viciante. Confesso que não gostei muito da continuação, achei que a transição para o 3D perdeu um pouco da essência, mas fiquei surpreso quando anunciaram Risk of Rain Returns. Fiquei pensando se era realmente necessário revisitar o primeiro título e, depois de experimentá-lo, acredito que é uma decisão acertada.

A minha característica favorita de Risk of Rain é seu caos frenético: é empolgante tentar sobreviver e dar conta dos perigos quando a tela está infestada de inimigos. Para isso, é essencial dominar as habilidades de cada personagem, utilizando-as para aproveitar o máximo da situação, o que nem sempre é fácil. Os inúmeros itens deixam as partidas ainda mais divertidas e imprevisíveis, com combinações malucas e impressionantes. Desbloqueáveis e segredos ajudam a manter a sensação de novidade por longo tempo.


Tensão é uma constante durante as partidas. Muitas vezes fiquei apreensivo por estar demorando demais em algum estágio, pois isso significava que a dificuldade ia aumentar, trazendo mais inimigos para enfrentar. A ação de procurar o teleportador contribui para isso: as áreas são amplas e com muitos caminhos alternativos, então é comum gastar um tempo considerável na busca. E ativar o dispositivo traz mais inquietação, pois é necessário sobreviver por 90 segundos e derrotar o chefe para poder seguir em frente.

É impressionante também a diversidade proporcionada pelos diferentes heróis, que têm estilos de jogo bem diferentes. O Comando usa pistolas para atordoar e acertar inimigos de longe; a Caçadora é bem ágil, conseguindo atacar enquanto anda; o monstro Acrid deixa um rastro de veneno e cospe uma toxina que se espalha entre oponentes; o Mercenário foca em ataques de curto alcance, tornando-o letal, mas difícil de jogar. Há mais de 15 heróis para experimentar e a graça é justamente aprender como cada personagem funciona.


Os elementos aleatórios deixam as partidas imprevisíveis e empolgantes, afinal não há como saber o que vamos encontrar pelo caminho. No entanto, esse é também o maior problema do título. Nas inúmeras partidas que joguei, houve variações estranhas para os extremos: ou eu ficava extremamente poderoso e destruía tudo, ou então aparecia uma combinação muito ruim de itens e era praticamente impossível avançar. Além disso, às vezes há tanta coisa na tela que é difícil identificar nosso herói, tornando a situação frustrante. Por sorte a irritação é pequena, pois os demais aspectos, como o ciclo de jogo viciante, conseguem compensar isso.

Chuvarada renovada

Risk of Rain já era ótimo e a remasterização Returns aprimora diversos aspectos, resultando em uma experiência mais polida, mas sem se afastar demais do original.

Para começar, a parte técnica recebeu melhorias significativas com gráficos mais elaborados, personagens maiores e novos efeitos visuais. A excelente trilha sonora foi remasterizada e recebeu remixes inéditos. Além disso, o terrível slowdown do original foi completamente eliminado, então a ação roda com fluidez. Por fim, a interface está melhor organizada e o texto está completamente em português, apesar do tamanho diminuto da fonte que atrapalha um pouco a leitura. Há uma fonte alternativa maior que ajuda um pouco, apesar de seu estilo destoar do restante da interface.


A mudança mais notável está no multiplayer, que comporta até quatro jogadores online ou localmente. A modalidade online foi completamente retrabalhada e agora conta com salas públicas e privadas, funcionando de maneira natural e intuitiva — no original era complicadíssimo configurar as partidas pela internet. Já o modo local segue intocado, com a câmera focando em um único personagem, o que força todos participantes a andarem juntos o tempo todo. Para ajudar na clareza visual, é possível ativar contornos coloridos nos personagens.

O conteúdo recebeu novidades notáveis, muitas delas inspiradas em Risk of Rain 2. Agora há regras modernas que visam minimizar alguns dos problemas do primeiro jogo — o balanceamento original também está disponível para aqueles que procuram uma experiência mais clássica. Foram adicionados inúmeros inimigos, novos itens, elementos nos estágios, três personagens inéditos e todos os heróis receberam habilidades alternativas e skins.


A inclusão mais significativa é um novo modo chamado Provações de Providência, que é composto de inúmeros desafios individuais que exploram as mecânicas e habilidades dos personagens de forma única. Alguns são simples, exigindo derrotar inimigos sob certas condições; já outros apresentam estágios e situações elaboradas, como escalar uma torre com a ajuda de uma técnica de teletransporte da Caçadora, correr e sobreviver por uma pista de obstáculos ou até mesmo explorar um pequeno calabouço. Fiquei impressionado com a variedade e me diverti com as possibilidades.

A soma de todos esses aspectos faz com que a remasterização seja interessante para diferentes públicos. Quem nunca experimentou o original ou jogou somente o segundo tem agora a oportunidade de aproveitá-lo com inúmeras melhorias. Já os veteranos têm motivos para revisitá-lo, pois o conteúdo inédito é significativo e interessante.



Um retorno imperdível

Risk of Rain Returns não apenas resgata a essência viciante do título original, mas também aprimora diversos aspectos, resultando em uma experiência mais rica e polida. A volta ao formato 2D, após uma incursão no 3D, parece ser uma escolha acertada, proporcionando melhorias visuais, técnicas e adicionando conteúdo inédito. A atmosfera frenética e desafiadora, característica marcante da série, permanece intacta, garantindo partidas empolgantes.

A narrativa centrada em sobreviventes encalhados em um planeta perigoso oferece uma jornada intensa e diversificada, incentivando os jogadores a explorarem habilidades únicas de mais de 15 heróis distintos. A imprevisibilidade das partidas, marcadas pela coleta de equipamentos e pela corrida contra o tempo, adiciona uma camada de tensão constante, tornando cada escolha crucial para o sucesso.

A remasterização vai além das melhorias técnicas, introduzindo um modo multiplayer mais acessível, novos desafios no modo Provações de Providência e uma série de adições inspiradas em Risk of Rain 2. Seja para os iniciantes que buscam uma experiência envolvente ou para os veteranos que desejam redescobrir o jogo com conteúdo inédito, Risk of Rain Returns se destaca como uma chuva renovada capaz de agradar a uma ampla gama de jogadores.

Prós

  • Ótima interpretação do gênero de ação e plataforma com elementos de roguelike;
  • Dificuldade crescente traz tensão empolgante aos estágios;
  • Extensa variedade de personagens, itens, inimigos e fases faz com que cada partida seja bem única;
  • Boa quantidade de conteúdo, que é liberado aos poucos;
  • Melhorias técnicas deixam a ação mais fluída e descomplica o multiplayer online;
  • Conteúdo inédito, como as Provações de Providência, enriquece ainda mais o jogo;
  • Atmosfera bem trabalhada com elaborados gráficos em pixel art e trilha sonora misteriosa.

Contras

  • A aleatoriedade às vezes cria situações difíceis ou fáceis demais;
  • Caos visual atrapalha nos momentos mais intensos;
  • A interface tem elementos pequenos demais, o que atrapalha a leitura.
Risk of Rain Returns — PC/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Gearbox Publishing

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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