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Análise: Ride 5 (Multi) traz em duas rodas toda a emoção, diversão e (principalmente) desafio das pistas de corrida

Mesmo com um nível de dificuldade um tanto elevado, o game é ótimo para amantes de motocicletas e de corridas em geral.


São poucos os games que podem ser jogados por praticamente qualquer público sem maiores complicações. Um dos gêneros que mais reúne títulos assim é o de corrida, normalmente com mecânicas simples e acessíveis para qualquer um experimentar. Indo na contramão dessa ideia, Ride 5 chega como um lançamento voltado para jogadores mais habilidosos, ainda que traga alguns recursos casuais. Vista o macacão, coloque o capacete e faça uma revisão na sua motocicleta, pois esta análise vai começar pisando fundo!

Alinhando no grid

A série Ride tem tradição no mercado dos videogames quando falamos de corridas de motocicletas. Em particular, ela é focada em motovelocidade, ou seja, veículos de alta potência para disputas em pistas pavimentadas. O lançamento anterior da franquia, o seu quarto título, saiu em outubro de 2020 para PC e a geração passada de consoles, enquanto a geração atual recebeu sua versão em janeiro de 2021.
Tradição e competência
Essa informação será relembrada mais à frente nesta análise. Por enquanto, vamos falar de Ride 5, com lançamento no dia 24 de agosto para PC, PlayStation 5 e Xbox Series. As corridas procuram trazer uma experiência realista, simulando todos os desafios encontrados nas corridas, suas pistas variadas e repletas de adversários.

Para utilizar uma analogia automobilística, Ride 5 está (bem) mais para o lado de Gran Turismo do que de Need for Speed. Embora eu particularmente prefira a segunda abordagem, como por exemplo em Grid Legends, admito que o game em duas rodas me surpreendeu. Apesar de ser difícil (mais sobre isso em breve), ele oferece muito conteúdo e recursos para se tornar uma experiência divertida e agradável.

Pilotar numa pista tão icônica é muito divertido
De antemão, deixo um elogio à localização do game: com direito a dublagem de Guilherme Briggs, temos textos e informações bem traduzidos e apresentados. Aliás, a pista de Interlagos está presente, representando a paixão do brasileiro pelas altas velocidades. Mais uma vantagem para a produção geral do título, que é muito positiva.

Praticar é preciso

Lembra que eu falei que o game é difícil? Pois é, Ride 5 tem um grau de exigência bem considerável em vários quesitos. Para começar, controlar uma motocicleta em alta velocidade é uma tarefa complexa, sobretudo para quem só conhece jogos de corrida com automóveis. Qualquer erro no traçado ou inclinação ao dirigir pode levar à zona de escape ou até mesmo a quedas feias.
Mesmo a faixa colorida de ajuda por vezes não é suficiente
Os adversários são outro ponto que torna o jogo mais complicado. Eles se comportam como se o jogador não existisse, fazendo movimentos que levam a colisões sem a menor cerimônia. Finalmente, existe uma grande quantidade de ajustes e opções para customizar a motocicleta, incluindo suspensão, freios, escapamento, pneus, etc. É possível se divertir, mas prepare-se para sofrer bastante até adquirir a experiência necessária para isso.

Mesmo sabendo que Ride 5 é focado no gênero simulação, buscando uma experiência mais próxima da realidade, me pareceu que o nível de dificuldade ficou alto demais. Para piorar, algumas pistas são particularmente irritantes, como Oulton Park, que tem um traçado com pista estreita e curvas em alta velocidade. O alento é que a dificuldade não resulta de problemas técnicos, pois a jogabilidade é sólida e coerente.

Com dedicação, é possível se divertir muito
Demorei bastante para me habituar à física do jogo e suas mecânicas, por fim recorrendo à redução da dificuldade e ao aumento do auxílio da IA, principalmente quando a corrida era muito exigente. Recomendo ao leitor fazer uso dessas configurações, que também incluem o nível de dificuldade da IA adversária, ajuda de pilotagem (frenagem, estabilidade, etc.), a agressividade dos adversários e a dinâmica das colisões. Inclusive, essa farta quantidade de customizações é um dos pontos fortes do game.
No melhor estilo viagem no tempo, temos uma mecânica fundamental em Ride 5
Por fim, temos o recurso derradeiro para tornar as corridas acessíveis: Rewind, que gosto de chamar de rebobinar, é razoavelmente comum em jogos do gênero. Com ele, podemos retroceder alguns segundos no tempo para corrigir erros na condução ou evitar acidentes. Ele não tem penalidade e foi bastante útil em vários momentos, sobretudo naquela “rateada” na última curva da última volta, que exigiria recomeçar toda a prova.

Dando a largada

Passando pela jogabilidade competente, mas exigente, chegamos à produção do game como um todo. Exclusivo da nova geração, ele faz bom uso do hardware moderno ao oferecer visuais bonitos e com ótimos efeitos, como a variação da luz ao entardecer e a água saltando dos pneus durante uma corrida sob chuva. O que mais me chamou atenção, no entanto, foram os tempos de carregamento breves e o desempenho suave.
Um jogo competente em quase todos os sentidos
Por falar em gráficos, lembra-se da informação sobre o game anterior ter recebido versões para PS5 e Xbox Series? Quero deixar registrado que a diferença na produção visual não é significativa, apesar dos mais de dois anos de intervalo entre os lançamentos. Ou seja, apesar de ser bonito e trazer efeitos legais, na prática as melhorias em relação a Ride 4 ficam por conta de detalhes.
Corridas no entardecer proporcionam até a ligação dos holofotes

Realmente fiquei com a sensação de que Ride 5 não tem visuais do tipo “nova geração de consoles”. Eles são mais como “nível máximo da geração anterior”, reforçados com um maior nível de detalhes e desempenho superior graças aos videogames mais potentes da atualidade. Quero deixar claro que isso não é uma crítica em si, apenas uma observação que considero importante.

A trilha e os efeitos sonoros de Ride 5 são igualmente competentes, proporcionando emoção na medida certa. Confesso que não sou um conhecedor de motos, mas os roncos dos motores me pareceram autênticos. Pistas – reais e fictícias – e suas localidades estão bem bonitas, com direito a clipes mostrando imagens reais oriundas de Espanha, Brasil, Japão, França, Grã-Bretanha, entre outras.

Uma breve, mas interessante apresentação a Itália
Menus são organizados e claros, mesmo em situações em que temos bastante informação na tela. A única exceção relevante quanto à produção é no que diz respeito aos seres humanos representados no game, que são um pouco limitados visual e mecanicamente. Nada que prejudique o que realmente importa, que são as corridas em si.
Não espere muita beleza quando os capacetes estiverem fora

Uma temporada recheada

São muitas opções para disputar corridas em Ride 5. O ponto alto é o modo carreira, que traz as corridas organizadas em várias categorias, com direito a contagem de pontos. Ele tem uma espécie de linha condutora para organizar os desafios e a progressão do jogador e, embora não chegue a ser um enredo em si, funciona o suficiente para costurar as provas ao longo da campanha.
A satisfação de uma ultrapassagem bem feita
Por meio desse modo é possível adquirir várias motos diferentes, assim como dinheiro para comprar e modificar novos veículos. Caso o jogador não tenha interesse na carreira, é possível disputar corridas personalizadas, incluindo desafios contra o relógio e de resistência, em provas de longa duração com direito a pit stop. É possível customizar a categoria das motocicletas, o circuito, clima e iluminação, entre outros itens.
O pit stop para reabastecimento e troca de pneus pode mudar o rumo da corrida
Uma boa notícia é que é possível emprestar veículos ainda não adquiridos, aumentando as possibilidades disponíveis para correr. Quero deixar outro elogio ao game pelo seu modo multijogador, que traz várias opções para montar ou se juntar a salas ao redor do mundo. É possível criar partidas públicas ou privadas com facilidade.

Os louros, entretanto, vão para a possibilidade de partidas com tela dividida, ou seja, disputas entre jogadores de forma local. Pode parecer meio piegas, mas fico triste ao ver que vários lançamentos atuais ignoram tal recurso, que foi tão importante para permitir uma interação entre os amigos em tempos sem Internet. Mesmo com tantas opções, creio que ainda ficou faltando um modo em Ride 5: treinamento.

Provas de resistência contam com animações únicas
Com ele, o jogador poderia entender mais adequadamente o mundo de Ride 5. Existe um breve tutorial na primeira vez que abrimos o game, mas ele é bem simplista. Considerando o nível de dificuldade do título, a ausência de tal recurso foi ainda mais sentida. Seria importante ser instruído sobre coisas como a (des)aceleração ser mais eficiente com o piloto em pé e a facilidade das quedas em meio a frenagens mais bruscas e contatos com adversários.

Fazendo o “X”

Jogadores do PlayStation 5 podem ficar tranquilos, pois o DualSense proporciona uma experiência muito interessante no game. É possível sentir a intensidade do motor ao segurar o acelerador ou a redução das marchas em freadas bruscas. A vibração realmente ajuda na imersão e considero isso um ponto bastante positivo.
Corridas competitivas te esperam a cada prova
Além disso, a sensibilidade dos gatilhos do joystick permite um controle mais refinado das motos em Ride 5. Como eu abordei antes, a jogabilidade é difícil, tornando crítica a intensidade dos comandos para acelerar e frear (sem contar o controle lateral). Logo, contar com botões sensíveis – no caso, L2 e R2 – é útil para garantir o nível correto de ação durante curvas e ultrapassagens.

Outro ponto positivo são as extensas opções disponíveis para customizar piloto e motocicleta, com inúmeros adesivos, acessórios, capacetes, pinturas e até a postura usada durante a pilotagem. Somando a isso a grande quantidade de veículos que o jogador pode obter, é possível criar um estilo único e personalizado. Provavelmente existirão conteúdos exclusivos para compra (existe uma opção “Loja” no menu principal), mas eles não estavam disponíveis no game até o fechamento desta análise.

São muitas motos para adquirir, incluindo várias marcas famosas e modelos de vários anos diferentes
O mesmo vale para as partidas multijogador online, que não puderam ser testadas pela falta de salas disponíveis (vale lembrar que o lançamento do jogo é em 24 de agosto) e que prometem conexão entre plataformas diferentes. Finalmente, fico na torcida para que futuras atualizações refinem os problemas do game e o tornem ainda mais acessível e divertido, mas sem abrir mão de um nível equilibrado de competitividade.

Pódio garantido!

Ainda que bastante exigente em vários aspectos, Ride 5 é uma boa pedida para todos, amantes de motovelocidade ou não. Com uma farta variedade de customizações, pistas e veículos para escolher, todos os modos de jogo se tornam divertidos: carreira, campeonatos e multijogador, incluindo opções online e local. Além disso, o game conta com uma boa produção e um desempenho competente, ótimos para disputar corridas e mais corridas sob duas rodas.

Pise fundo em Ride 5!

Prós

  • Jogo de corrida divertido e com muitas formas diferentes de disputas;
  • Apesar de exigente, jogabilidade é sólida;
  • Grande variedade de pistas e motocicletas;
  • Produção de ótima qualidade, com visuais bonitos e bom desempenho;
  • Recurso de rebobinar é fundamental para tornar as partidas mais acessíveis;
  • Modos multijogador local e online estão disponíveis.

Contras

  • Nível de dificuldade é elevado tanto no controle da moto quanto nos adversários e nos tempos das pistas;
  • Faltaram mais tutoriais e dicas para auxiliar nos desafios e entender como funcionam as customizações.
Ride 5 — PC/PS5/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Ives Boitano
Análise redigida com cópia digital cedida pela Milestone


é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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