The Pagemaster: O Mestre da Fantasia (PC): uma aventura pelo mundo mágico dos livros

Originalmente lançado para Windows 3.x, a nova jornada do jovem Richard funciona como uma interessante continuação do filme homônimo.

em 06/08/2023

A década de 90 e o início dos anos 2000 trouxeram muitas novidades em termos de tecnologia, especialmente no Brasil; infelizmente, esses avanços não fizeram parte da vida da grande maioria da população, mas talvez eu tenha sido uma criança de sorte ao ter o privilégio de crescer já com acesso a computadores e internet.


Durante minha infância, vários joguinhos antigos para PC alegraram meus dias, em especial The Pagemaster: O Mestre da Fantasia, originalmente lançado em 1994 para Windows 3.x, mas que rodava perfeitamente bem no meu finado Windows 98.

Este título, desenvolvido pela Mammoth Micro Productions e publicado pela Turner Interactive, serviu como uma interessante continuação do filme de mesmo nome estrelado pelo então ator-mirim Macaulay Culkin e, curiosamente, no Brasil o jogo contou com interface totalmente em português e o elenco original de dublagem do longa-metragem.

Revisitando o mundo mágico dos livros

Certa noite, o jovem Richard Tyler recebe um aviso de Aventura, Fantasia e Horror, livros antropomórficos que fizeram a infância de muitas crianças da década de 1990: o Pagemaster sumiu novamente. Com isso, a imaginação das pessoas está mais uma vez em risco e cabe ao garotinho viajar pelo mundo da literatura em busca do Mestre da Fantasia.

Não demora muito para o quarteto descobrir que o desaparecimento do Pagemaster foi obra de Mr. Hyde, o alter-ego de Dr. Jekyll, e todos os livros da biblioteca estão misturados e fora do lugar. Sendo assim, para resgatar a ordem literária e a imaginação das pessoas do mundo todo, Richard deve procurar por pistas em três diferentes realidades: Mundo da Aventura, Mundo da Fantasia e Mundo do Horror. Com acesso a essas três realidades fantásticas, controlamos o menino com ajuda do mouse.


Em termos de jogabilidade, The Pagemaster nada mais é que um simples adventure point-and-click no qual saímos interagindo com os objetos nos cenários para coletar itens e fragmentos literários, que podem ser visualizados ao clicarmos no botão central da Estrela de Decisão, uma espécie de rosa dos ventos simplificada, que também serve para responder às eventuais perguntas que aparecem ao longo da campanha.

Acredito que a parte mais interessante em termos de progresso é o fato de podermos ir e voltar dos Mundos a qualquer momento, já que o jogo se pauta no conceito de backtracking para coletar e desvendar pistas. Talvez o único ponto negativo seja a falta de dicas sobre o que fazer ou aonde ir em alguns momentos, resultando em “game overs” — entre aspas mesmo, pois, nesses casos, só precisamos refazer alguns passos.

Um point-and-click minuciosamente animado

Se no longa-metragem tínhamos uma alternância entre animação 2D e atuação em live-action, o jogo para Windows preferiu apostar no primeiro estilo para criar uma atmosfera mais convidativa às crianças. Hoje em dia, é inegável que The Pagemaster possui pouco (ou nenhum) apelo visual, dado o avanço da tecnologia, mas, à época, ter um jogo completamente animado à moda antiga — e com total suporte ao português brasileiro, inclusive dublagem — era um feito incrível, mesmo com alguns defeitinhos aqui e ali, como as estranhas pausas entre falas e alguns engasguinhos entre transições de tela.


Embora a campanha não siga à risca a história de alguns dos livros que introduz, como Frankenstein, O Cão dos Baskervilles, Moby Dick, João e o Pé de Feijão, entre outros, e se apoie em alguns clichês literários, a ambientação é bastante agradável e convidativa. Mesmo que algumas imagens tenham sido tiradas do filme, o conjunto da obra é um belíssimo deleite audiovisual, que provavelmente ajudou a moldar o imaginário das crianças na década de 1990.

A cereja do bolo, contudo, fica a cargo da dublagem em português, que trouxe várias falas divertidas. Quem não se lembra de Horror gritando “Santuário! Santuário!” ou de Aventura falando que a biblioteca se tornou um caos? O estúdio Delart trouxe o ápice da dublagem brasileira da época para a tela dos computadores!

“Capas duras misturadas com brochuras! Eu vi livros sobre bordado juntos a Capitão Coragem!”

Perto de outras produções da época, algumas já apostando em sprites poligonais, The Pagemaster: O Mestre da Fantasia pode até deixar a desejar em vários aspectos, mas é inegável que se trata de uma produção de alto padrão se pensarmos nos joguinhos para PC do século XX, não apenas com suas animações à moda antiga, mas também com interface e dublagem totalmente em português brasileiro. Como não sentir medo da transformação de Dr. Jekyll em Mr. Hyde?

Hoje, revisitando o jogo já adulta, é difícil não reparar nos diversos furos de roteiro aqui e ali, em especial se tratando da história de vários clássicos da Literatura, mas acredito que tenha sido uma escolha proposital; afinal, estamos falando de uma aventura voltada ao público infantil. No entanto, ainda sinto grande nostalgia ao ouvir o nome Pagemaster, pois, de certa forma, o título contribuiu para que eu me interessasse pela leitura de uma forma magicamente divertida.


Revisão: Davi Sousa
Capa: Thais Santos
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Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por Heru.
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