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Análise: Moving Out 2 (Multi) repete a dose de diversão com mudanças mais criativas

Nem sempre se deparar com a familiaridade de um “mais do mesmo” é ruim. Até existe um ditado para isso: não se mexe em time que está ganhand... (por Victor Vitório em 11/08/2023, via GameBlast)


Nem sempre se deparar com a familiaridade de um “mais do mesmo” é ruim. Até existe um ditado para isso: não se mexe em time que está ganhando. Moving Out 2 é uma sequência que busca a evolução a partir de suas raízes, sem revolução. Ou seja, quem jogou o primeiro Moving Out, lançado em 2020, sabe bem o que esperar do novo jogo de mudanças da SMG Studios e DEVM Games: caos, piadinhas bobas, vidraças quebradas e muita diversão.

Vale dizer que Moving Out 2 foi lançado diretamente no catálogo do PlayStation Plus Extra/Deluxe e que seu antecessor também está disponível no serviço.

“Se é de vidro a janela, a poltrona passa por ela”

Caso você não conheça o título anterior, deixe-me apresentar como o básico funciona. Os jogadores são funcionários da Leva & Traz, uma transportadora de mudanças, e precisam carregar e descarregar volumes dos mais variados, como flamingos decorativos e vasos sanitários. É tudo num clima brega de anos 1980 que não se leva nem um pouco a sério, cheio de piadinhas.

Parte do humor está na própria sigla da função dos trabalhadores: F.A.R.T., que é "pum" em inglês. Essa é a forma que a versão em português brasileiro usa na maior parte do tempo, mas, às vezes, esquecem isso e usam a adaptação duvidosa TransPUM, abreviação para Transportador Ultracompetente de Móveis.



Como nesse exemplo, a localização cômica consegue ser ao mesmo tempo boa e ruim, com escolhas ora naturais e de boas referências, ora forçada e sem graça, ficando a sensação de que o texto desiste diante de algumas gracinhas intraduzíveis.

O humor de pum não é para todos, mas o jogo não desce o nível abaixo disso. Em geral, as piadas são bobinhas e arrancam uns risinhos, especialmente das crianças. No meu caso, gosto da sátira nos diálogos que mostram que o presidente da companhia (uma caixa de papelão) sempre usa de subterfúgios e legalismos para isentar-se de responsabilidades para com os clientes e os trabalhadores. Estes últimos não percebem que são explorados e expostos ao risco desnecessário e estão sempre ingenuamente empolgados ou completamente apatetados.



Saindo do clima suburbano do primeiro jogo, Moving Out 2 transporta as mudanças para outras dimensões. A campanha começa em Caixolândia, mesma cidade do primeiro título, mas depois são abertos simultaneamente portais para três dimensões: uma cidade ecofuturista nas nuvens, um mundo de doces e um país de magia. Dá para progredir neles ao mesmo tempo, então sempre há opções para quem quer mudar de ares, sem ficar preso a uma sequência única de fases.

Em time que está ganhando...

As mecânicas de personagens são simples: você pode pular, segurar objetos, arremessá-los e dar tapas para ativar mecanismos (ou em seus amigos, sem precisar de motivo). Pronto, bem fácil de aprender, qualquer um pode se juntar à brincadeira. Vale mencionar que a física envolvida nessas ações é um tanto solta para o meu gosto, e por vezes senti falta de maior precisão, mas isso não chegou a ser um problema relevante e até combina com as trapalhadas dos carregadores.



Se é tão simples, onde está a graça? Está nas fases, onde você deverá transportar caixas e mobílias para fazer a mudança dos clientes, carregando e descarregando o caminhão. O design de níveis é o que sacode a simplicidade ao juntá-la a elementos variados e malucos. Você quase sempre fará as mesmas coisas, mas em contextos muito criativos que mudam completamente a maneira de fazê-las.

Em um momento, precisará lidar com animais que não param quietos. Em outro, separar comidas por tipo nos respectivos compartimentos. Tem até os de tirar as coisas do caminhão, colocá-las em um trem e depois encaixá-las nos cômodos adequados do destino. Bolas de demolição, drones de transporte, portais mágicos, baterias para ativar portas, nuvens que atrapalham a visão, plataformas móveis... tem todo um caminhão carregado de mecânicas para manter as partidas interessantes.



O que torna a jogatina ainda mais dinâmica é o multiplayer para até quatro jogadores, resultando em um pouco de divisão do trabalho, muita cooperação e confusão sem fim. Os objetos mais pesados são sinalizados de que precisam de duas pessoas para carregá-los ou arremessá-los. Os maiores também exigirão manejo e a dupla terá que girar nos cantos para acertar o ângulo de passar o objeto pelo caminho.

O ideal em Moving Out 2 é ter dois ou mais jogadores, mas ele pode ser muito bem aproveitado sozinho, se for o caso. Os volumes pesados são adaptados para que o carregador solo possa executar a mudança sem ajuda de outra pessoa. Além disso, tem que lidar com menor quantidade de objetos de mudança, que variam de acordo com o número de pessoas trabalhando.


Vejo como consequência do design construído em torno do multiplayer que as modificações para viabilizar o jogo solo tornam essa opção mais fácil que a outra. Provavelmente, isso também é fruto da vantagem de, uma vez sozinho, não depender da coordenação entre os  integrantes de uma equipe, mas a bagunça que vem de um grupo tentando cumprir os objetivos coletivamente é parte intencional da diversão e fortemente recomendável.

Mais caixas para carregar

Além de mover todos os pacotes no tempo estipulado, todas as fases possuem objetivos opcionais que só são revelados após concluir a tarefa pela primeira vez e que, além de trazer desafios interessantes, adicionam bom fator replay para quem quer completar o máximo que puder e alcançar o último nível. O chato é que a lista de objetivos só aparece nas telas de introdução e conclusão dos estágios e não podemos conferi-la enquanto jogamos para nos certificar dos opcionais.



Várias fases também possuem caixas de personagens escondidas para desbloquear novos funcionários ou novos visuais para os já disponíveis. Por sinal, a tela de seleção de personagens é um avanço na interface de usuário, com visualização muito mais prática que no jogo anterior.

Jogar a sequência me deu a impressão de que o primeiro jogo, do qual gosto bastante, foi como um ensaio ou um rascunho. A desenvolvedora teve a ideia, executou, aprendeu com a prática, viu que deu certo e decidiu que poderia fazer ainda melhor em uma sequência com mais liberdade criativa em cima dos mesmos alicerces. Conseguiu.



Viva a evolução!

Simples e criativo, Moving Out 2 é uma evolução divertida em tudo o que seu antecessor tinha a oferecer. A física nem sempre é sua amiga, mas isso também faz parte da hilária bagunça de transportar objetos e realizar mudanças em cenários inventivos.

A variedade das mecânicas refresca o desenrolar da campanha sem se acomodar à mera repetição. O humor, no entanto, pode ser inconstante, dependendo de quem joga. Você pode fazer a mudança sozinho sem problemas, mas o melhor é trazer amigos para carregar sofás e quebrar a mobília em equipe.

Prós

  • Muito divertido para jogar em grupo e eficiente para jogar sozinho;
  • A sequência usa a base sólida do antecessor e a aprimora com ideias mais criativas;
  • Boa variedade de design de fases e objetivos;
  • Muitos personagens esquisitos para escolher em uma tela de seleção de personagens melhorada em relação ao título anterior;
  • Sem se levar minimamente a sério, o humor garante boas risadas (mas também algumas reviradas de olhos);
  • Localização bem-feita para o português brasileiro, ainda que não seja sempre o caso.

Contras

  • Não raro, a comédia pode parecer mais boba do que deveria;
  • Algumas piadas se perdem na tradução;
  • As listas de objetivos podem ser vistas antes das fases, mas não durante;
  • A física e algumas mecânicas de fases específicas podem parecer mais um incômodo que um desafio.
Moving Out 2 — PS4/PS5/PC/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17

Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies.
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