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Análise: Dokapon Kingdom: Connect (PC/Switch): prepare-se para perder amizades na frustração de um RPG à la Banco Imobiliário

Misturando jogo de tabuleiro e RPG, o jogo de PS2 e Wii está de volta, agora com a possibilidade de jogar online.

Dokapon Kingdom: Connect
é a nova edição de um jogo clássico do PS2 e Wii que combinava dois estilos de jogo aparentemente bem diferentes: jogo de tabuleiro e RPG. Em cima dessa proposta inusitada, somos convidados a viajar pelo reino em busca de dinheiro, dinheiro e mais dinheiro.

Um reino movido a cifrões

O reino de Dokapon está em perigo, com ataques de monstros afetando as pequenas cidades e vilas por toda parte. O rei está muito preocupado com isso, afinal a situação impede seus cidadãos de pagar impostos. Para poder voltar a encher os cofres reais, o soberano convoca aventureiros do mundo todo com a promessa de que aquele que conseguir mais dinheiro terá a mão de sua filha e poderá se tornar o próximo rei (o que é válido mesmo se o seu personagem for uma garota).
 
Essa premissa básica se estende para todos os modos do jogo, dando o pontapé inicial para a experiência das campanhas. Dokapon Kingdom tem uma proposta bem única dentro do mercado de combinar RPG com um jogo de tabuleiro que lembra um pouco o clássico Banco Imobiliário. Conforme nos movimentamos pelo mapa, liberamos novas cidades, arrecadamos impostos, batalhamos contra inimigos comuns, encontramos NPCs esquisitos, achamos itens (ou os compramos nas lojas) e até ativamos magias para atrapalhar nossos rivais ou enfraquecer os chefões que dominam as cidades.
Ao final de uma semana (sete turnos), temos uma avaliação geral de como todos os jogadores estão posicionados na tabela de ranking como uma espécie de resultado preliminar. Até quatro pessoas podem jogar em multiplayer local ou online, mas também é possível preencher o tabuleiro com CPUs controladas por IA. A opção de online, inclusive, é a principal adição do jogo em relação a seu lançamento anterior no Wii e PS2, que só possuía as opções de jogar localmente com amigos nesses consoles.
 
De modo geral, tudo em Dokapon Kingdom é movido a dinheiro, sendo necessário que o jogador avalie riscos e benefícios em sua movimentação pelo tabuleiro. Com um grande fator sorte envolvido nas disputas, jogadores mais acostumados a ter um controle muito preciso de suas ações em RPGs mais tradicionais podem se sentir um pouco frustrados com o conceito, mas é algo bem divertido sem compromisso como um party game.
Um ponto muito importante da experiência é a capacidade de ferrar os rivais, seja contratando assassinos e usando magias, seja até mesmo lutando contra eles diretamente. Aqui, vale de tudo para vencer, até mesmo virar um demônio que destrói todas as conquistas dos jogadores até o momento.

Mudando o objetivo

Em Dokapon Kingdom, temos as opções de Story Mode, Normal Mode e Battle Royale. A primeira é o modo mais demorado em que acompanhamos o desenrolar das desventuras pelo reino de Dokapon em capítulos. Cada arco de história envolve a abertura de mais áreas para explorar com inimigos mais poderosos e os jogadores precisam competir entre si para concluir determinada missão (como derrotar um chefão), que se desdobra em outras tarefas até que haja uma conclusão parcial da trama até ali.
No Normal Mode, o foco é no tempo de jogo. Podemos selecionar quantas semanas queremos para a disputa, realizando a avaliação dos personagens independentemente da situação do reino ao final. Esse é o único modo realmente indicado para quem está com um tempo curto para jogar, já que todos os outros podem facilmente se prolongar, para o azar dos envolvidos.

Battle Royale é focado em dar a apenas um jogador a vitória e fazer todos os outros serem fracassados, cuja classificação pouco importa para o objetivo final. São ao todo três opções de missões: Town Race, Kill Race e Shopping Race. Os nomes são autoexplicativos, mas os objetivos delas são, respectivamente, conseguir liberar uma cidade, matar rivais um número X de vezes e trazer um item específico para o rei.
Embora a maior parte dos seus modos exija que os jogadores possam dedicar muitas horas que podem até se dividir em múltiplas sessões de jogo, há uma boa diversidade de opções de como jogar, sendo o “Normal Mode” uma forma excelente de dedicar apenas o tempo certo. Ajudam também nesse sentido algumas opções nas configurações que agilizam a movimentação dos personagens e cortam trechos como as batalhas dos rivais controlados por computador.

Batalhas em turno e evolução

Como Dokapon Kingdom é um RPG, não poderia deixar de existir um método de evolução dos personagens para que eles fiquem cada vez melhores, mesmo que isso seja exclusivo de cada partida. Temos aqui o dinheiro como carro-chefe da aventura, mas as lutas servem como fonte de experiência e o ganho de níveis permite melhorarmos nossos atributos com o tempo, aumentando níveis de força para enfrentar os desafios de forma mais segura.
Inicialmente, podemos selecionar a classe (no jogo, isso é chamado de “Job”) guerreiro (focada em ataque), ladrão (focada em agilidade e capaz de roubar itens ao passar por um rival) ou mago (focada em magia). Com o tempo, aumentamos o nosso nível de classe (diferente do nível de personagem), o que abre espaço para habilidades mais poderosas. Indo até o castelo de Dokapon, podemos também mudar de classe e a progressão das disputas pode levar ao desbloqueio de outras opções, como clérigo e ninja.

Ficar mais poderoso é bem importante para poder enfrentar os inimigos, que vão se tornar cada vez mais fortes conforme o jogador viaja para áreas mais avançadas do mapa. Além dos atributos, temos lojas de equipamentos, itens e magias nos vários continentes de Dokapon. Enquanto itens e magias são elementos mais volúveis de consumo imediato, melhorar a força de nossas armas, armaduras e golpes especiais é uma parte fundamental da progressão do jogo.

Vale destacar que a estética do jogo é bem simples, então os personagens de mesmas classes são bem iguais. Para facilitar a diferenciação, cada jogador é obrigado a usar uma cor diferente para o seu personagem. Porém, podemos alterar o corte de cabelo visitando o rei e mais opções dessa mudança cosmética podem ser desbloqueadas com o tempo.

Os lados engraçados e feios

Com tudo que mencionei acima, já deve ter sido possível perceber que Dokapon Kingdom é um jogo complexo. Vários detalhes impactam a capacidade do jogador de avançar e é natural se sentir perdido quanto às melhores possibilidades de ação no início. Infelizmente, apesar do modo história até ter um prólogo para ajudar a dar um tempo de preparo e aprendizado para os jogadores, a verdade é que o título não faz um bom trabalho de explicar suas mecânicas.

Considerando a natureza única da combinação de gêneros, isso é um fator especialmente frustrante. Mesmo com uma espécie de ajuda textual dentro do menu e blocos enormes de texto antes do primeiro contato dos jogadores com alguns eventos, as explicações são simplistas demais e ignoram aspectos importantes do entendimento das mecânicas.
Junto a isso, outra parte que é uma das principais barreiras ao jogo é que partidas com CPUs muitas vezes parecem desequilibradas. Temos oponentes IAs que podem tomar decisões “roubadas” com muita facilidade mesmo se o jogador tentar usar um inimigo de “CPU fraca”. Dependendo da sorte do jogador e do quão longa a partida é, é fácil que as competições fiquem maçantes.

Outro elemento que precisa ser mencionado é que a obra não consegue evitar a sensação de datado em seu visual, com modelos muito simples e texturas que poderiam ser melhores. É perceptível as suas origens como um título de Wii e PS2 com baixo orçamento, mas pessoalmente acho que o estilo ultra colorido e mais estilizado ajuda a suavizar o peso disso e mantê-lo bem agradável. Junto com o bom humor da experiência, que é uma grande palhaçada pensada para fazer o jogador achar aquele mundo esquisito e inusitado, temos uma experiência muito carismática.

Uma joia única no mercado

Dokapon Kingdom: Connect
é um jogo único no mercado, explorando o conceito de fazer uma mistura de RPG e jogo de tabuleiro em que ambas as partes não apenas se respeitam, mas também se complementam. Embora alguns elementos de desbalanceamento e a falha em explicar suas regras façam com que o jogo tenha uma barreira inicial alta para novos jogadores, é uma experiência charmosa que vale muito a pena conhecer.

Prós

  • Combinação incomum de RPG e jogo de tabuleiro oferece um estilo de jogo único no mercado;
  • Grande variedade de ações e eventos fazem com que o jogo nunca fique monótono;
  • Múltiplos modos ajudam a diversificar a experiência um pouco;
  • Incluir tanto multiplayer local quanto online aumenta as chances de jogar com amigos;
  • Possibilidade de agilizar a movimentação e cortar tempo das CPUs melhora bastante a experiência das partidas;
  • Com tiradas engraçadas, o jogo é muito bem-humorado e carismático.

Contras

  • A habilidade de planejamento da IA pode ser bem desequilibrada e incomodar novatos em especial;
  • Muitos detalhes de gameplay mereciam boas explicações dada a natureza incomum da combinação de gêneros;
  • O peso excessivo do fator sorte pode ser frustrante para os jogadores acostumados a ter um controle mais estratégico de suas opções em RPGs;
  • Visualmente, é nítido que o jogo está datado, embora o estilo colorido ajude a mantê-lo bem agradável mesmo assim.
Dokapon Kingdom: Connect — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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