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Análise: Agatha Christie - Hercule Poirot: The London Case (Multi) é mais uma excelente história que não fica devendo aos livros

Vivencie a experiência de controlar a mente de um dos maiores criminologistas dos romances policiais em um caso inédito.

Hercule Poirot é um dos mais icônicos detetives da literatura mundial, estando à frente de mais de 40 obras da escritora Agatha Christie - e um dos meus personagens literários favoritos. A exemplo de Sherlock Holmes, o inspetor belga saiu das páginas impressas e ganhou novas dimensões, com filmes, séries e, recentemente, jogos.

Dando sequência ao título First Cases, lançado no ano passado, Agatha Christie - Hercule Poirot: The London Case coloca o detetive em um caso original, que começou com um incidente, mas que agora precisará das suas habilidades de dedução para resolver algo muito maior e complexo.

“Não se apanham moscas com vinagre”

O ponto mais forte de London Case com certeza é sua narrativa e o ritmo no qual os fatos vão se sucedendo. Tudo começa em um navio, no qual Hercule Poirot viaja para Londres com a missão de escoltar o quadro Madalena Arrependida para uma exposição. Ao se deparar com o furto da cigarreira de prata de uma das tripulantes, o detetive tem sua primeira interação com diversos dos personagens que serão importantes no decorrer do jogo, entre eles Sir Arthur Hastings, o seu companheiro no universo literário.

Ao chegarem em território britânico, Poirot e Hastings reencontram novamente as pessoas da viagem na exposição de arte, bem como novas figuras bastante pitorescas e com características marcantes. Após uma sucessão de eventos, o quadro é roubado e agora cabe à dupla encontrar a obra.

Como sempre acontece nos livros de Agatha Christie, a resolução nunca é simples e a situação sempre traz desdobramentos complexos, que envolvem motivos escusos de mais de um suspeito. Não darei detalhes da história aqui para não estragar a experiência de vocês, mas o que posso dizer é que a missão de trazer a mesma tensão dos livros foi cumprida com louvor. 

A estrutura do jogo anterior foi mantida, com Poirot conversando frequentemente com suspeitos e averiguando evidências que confirmem suas teorias. Para isso, ele conta com as suas “Células Cinzentas”, que compõem um esquema de dedução bem parecido com o de Sherlock Holmes: The Awakened.

À medida que descobrimos fatos, vamos armazenando teorias em torno de uma situação específica. Sempre que possível, podemos ligar duas ideias para chegar a uma conclusão, que pode tanto gerar outra teoria quanto abrir o caminho para uma solução. Outro “recurso” que temos é o próprio Hastings, que sempre estará no mesmo ambiente que nós e, assim que descobrirmos algo, ele fará perguntas que ajudarão Poirot a fazer deduções que criarão mais fatos para as Células Cinzentas.

Entretanto, quem não for bom de mistério, não precisa ficar acuado. London Case oferece uma assistência para quem se perder entre os diversos acontecimentos. Se errarmos três vezes a conexão de dois fatos, os dois que devem ser corretamente ligados começarão a brilhar, assim o jogador pode fazer a conexão certa e prosseguir com o mistério.

“A explicação mais simples é sempre a correta”

Em alguns aspectos técnicos, London Case dá derrapadas. Temos que visitar diversos ambientes, pois nem sempre os suspeitos estarão no mesmo local. Temos um mapa, no qual podemos ir e vir de acordo com a progressão na história. Nem sempre o caminho a ser seguido estará claro, até porque se trata de um jogo de investigação, então visitaremos várias vezes o mesmo local para juntarmos partes de um enigma, como abrir um cofre ou até mesmo chamar a atenção de um gato.

O problema é que trocar de ambiente sempre gera uma tela de carregamento que é bastante demorada. Seja passando pelo mapa, ou apenas trocando de aposento em um mesmo ambiente, temos que esperar alguns longos segundos para prosseguir.

Outro entrevero se dá em alguns momentos da exploração dos cenários. O ponto de vista é isométrico e fixo, mas podemos rotacionar cada local para tentar deixar à mostra objetos que estavam escondidos em outro ângulo. Estranhamente, nem sempre o item que aparece para contato é o mais próximo, então por diversas vezes fui obrigado a girar o cômodo e ficar mais distante do que eu queria investigar. É algo que não acontece com frequência, mas ainda assim não deixa de quebrar um pouco o ritmo de jogo.

Alguns closes em Poirot, Hastings e os demais personagens durante as cenas de conversação mostram que os modelos têm alguns defeitos. Não foram raros os momentos de tensão que perderam um pouco do seu impacto porque o personagem não abriu a boca durante um discurso mais acalorado, por exemplo.

Contudo, também preciso dar os devidos créditos à dublagem, que mesmo em inglês, produz ótimas cenas dignas de um filme de mistério. Quem não souber o idioma, pode ficar tranquilo, pois há legendas tanto em inglês quanto em português brasileiro, ambas devidamente localizadas para se adequar ao linguajar inerente à época na qual a história ocorre.

“Uso apenas as células cinzentas. A sorte, deixo-a para os outros.”

Apesar de algumas mancadas, Agatha Christie - Hercule Poirot: The London Case faz um excelente trabalho em fornecer uma trama interativa digna dos livros, nos dando a chance de poder estar mais uma vez na sempre atenta mente de Hercule Poirot.

Prós

  • A trama é muito bem amarrada e cheia de reviravoltas;
  • O uso das células cinzentas é simples, mas ainda assim ampara o jogador;
  • Adicionar a interação com Hastings para ajudar nas soluções foi um ótimo recurso para variar a jogabilidade;
  • Excelente trabalho de dublagem e legendas.

Contras

  • Muitas telas de loading demoradas;
  • Em alguns momentos, as bocas dos personagens não mexem em cena;
  • O modelo dos personagens tem acabamentos feios em algumas cenas;
  • Temos que variar a distância para investigarmos um item.
Agatha Christie - Hercule Poirot: The London Case — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise feita com cópia digital cedida pela Microids

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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