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Análise: Gravity Circuit (Multi) traz ação ágil e veloz em uma impressionante aventura de plataforma

Atravesse estágios repletos de desafios criativos neste frenético título indie 2D.


Quando um exército de robôs malignos surge espalhando a destruição, o herói Gravity Circuit entra em ação para impedir o pior. O título é uma aventura de ação e plataforma tradicional que preza pela velocidade e flexibilidade, funcionando como uma interpretação mais ágil de Mega Man X. Movimentação precisa, ritmo acelerado e estágios criativos são algumas das qualidades do jogo, que moderniza com maestria conceitos clássicos ao mesmo tempo em que mantém a atmosfera retrô. O resultado é uma experiência fenomenal e difícil de largar.

Um único androide contra uma grande ameaça

Um dia, em um mundo habitado por máquinas, a paz foi interrompida pelo Virus Army, um exército maligno que almejava destruir tudo. Um grupo de robôs poderosos conhecido como Circuits foi capaz de acabar com a rebelião, porém o conflito não foi fácil: dos nove heróis, restou somente Kai, o Gravity Circuit, que perdeu a consciência. Muitos anos depois, o Virus Army ressurge, agora comandado pelos Circuits desaparecidos. Por sorte, Kai acorda e decide enfrentar os perigos enquanto tenta descobrir o motivo da mudança de seus aliados do passado.


Em sua essência, Gravity Circuit é um jogo de ação 2D bem tradicional. No controle do robô Kai, atravessamos estágios lineares destruindo inimigos, pulando por plataformas, evitando armadilhas e enfrentando um chefe no final. O herói prefere usar os punhos para atacar, sendo capaz de desferir diferentes golpes de acordo com a direção segurada, como uma joelhada para cima capaz de lançar os oponentes no ar ou socos baixos para acertar obstáculos no solo.

Agilidade é uma das principais características do protagonista, o que traz versatilidade na hora de atravessar os estágios. Kai corre com velocidade com o simples segurar de um botão, e consegue pular pelas paredes para alcançar locais altos. Ele conta também com um gancho, que pode ser preso em diferentes superfícies, nos permitindo balançar para atravessar grandes buracos. O arpão também pode ser utilizado para agarrar objetos e inimigos, que podem ser lançados para acertar outros oponentes.


Fora os movimentos básicos, Kai tem mais duas categorias de habilidades. As técnicas Burst são ativadas manualmente ao custo de pontos de energia, como uma cotovelada que lança inimigos para longe, um imenso tiro de laser e um soco ascendente. A maioria delas é ofensiva, mas há também opções de suporte, como recuperar um pouco da vida ou aumentar a velocidade de ataque. O robô também conta com habilidades passivas, como um salto adicional no ar, atração automática de itens ou diminuição de dano recebido de armadilhas.

Ao contrário do bombardeiro azul, Gravity Circuit não adquire novos poderes após derrotar os chefes. Para liberar novas habilidades, precisamos comprá-las de vendedores no centro de operações entre as missões. Um detalhe importante é que somente um número limitado de técnicas podem ser equipadas por vez (quatro do tipo Burst e três passivas), porém a customização é flexível, bastando acessar o menu de pausa para alterá-las a qualquer momento.

Quebrando tudo em alta velocidade

Gravity Circuit me surpreendeu com sua ação repleta de fluidez. Os controles são bem precisos, o que me permitiu avançar com agilidade: é muito recompensador correr e saltar com precisão enquanto evitamos armadilhas e atacamos outros robôs. Aqueles que gostam de fazer speedruns vão se divertir com o jogo, pois ele oferece muitas possibilidades para atravessar os estágios rapidamente.

O combate também segue essa filosofia com combos impressionantes fáceis de executar — gostei demais de correr, desferir alguns socos, lançar o inimigo no ar, agarrá-lo com o gancho e, por fim, lançá-lo em outro oponente. Muitas situações claramente foram pensadas para abusar da mecânica de lançar objetos, e é muito recompensador lançar inimigos uns contra os outros na ação caótica. Os golpes especiais são bem divertidos de usar e curti experimentar as possibilidades de combo.


Os estágios têm um ótimo equilíbrio entre batalhas, plataformas e exploração. Individualmente esses aspectos não parecem nada de mais, mas desafios interessantes aparecem quando eles são combinados: é comum tentar evitar espinhos enquanto rebatemos projéteis e lutamos contra inimigos. Além disso, cada fase tem obstáculos temáticos próprios que trazem identidade. Em uma caldeira, precisamos navegar por esteiras e plataformas enquanto tentamos não cair na lava; no ciberespaço, o desafio é apertar botões para alterar estruturas do local; em um centro urbano, saltamos em carros em movimento para conseguir avançar.


A progressão é linear, e isso não é um problema, pelo contrário: é tudo muito bem dosado e de bom ritmo. Além disso, há variedade na estrutura com áreas de progressão vertical, pequenos puzzles de navegação e alguns obstáculos criativos. Fora isso, há um pouco de exploração na forma de alguns segredos, como robôs a serem resgatados e itens que melhoram as características de Kai. Muitos desses extras estão escondidos em locais de difícil alcance ou salas especiais com desafios elaborados que exigem destreza com os saltos e com o gancho, trazendo bons momentos de desafio.

O clímax de cada fase é uma luta contra um chefe em batalhas interessantes e elaboradas. Os outros Circuits atacam com golpes complexos e precisei de muita observação e agilidade para conseguir sair vitorioso. Assim como as fases, os mestres são temáticos e me surpreendi com a variedade de situações, como o show musical promovido por Wave Circuit ou os vários lasers rebatendo por espelhos ao lutar contra Optic Circuit.



Lançando-se em desafios nem sempre justos

A ação frenética e os cenários estão infestados de armadilhas, fazendo de Gravity Circuit uma aventura de plataforma intensa. O jogo tem desafio moderado e morri inúmeras vezes, mas raramente me senti frustrado por causa de algumas decisões inteligentes.

Para começar, não há morte instantânea: cair em um buraco ou tocar espinhos consome um pouco da vida e faz Kai voltar para a última plataforma segura. Além disso, há uma boa quantidade de checkpoints espalhados pelas fases. Por fim, algumas habilidades ajudam na exploração, como o pulo duplo ou a redução de dano. A soma desses elementos faz com que a experiência seja pouco punitiva.


Porém, o título explora umas ideias duvidosas, especialmente no conteúdo opcional. Pela jornada, observei vários pontos de salto cego, ou seja, lugares nos quais pulamos sem saber o que tem embaixo, o que muitas vezes resulta em dano. Fora isso, aparecem também trechos confusos que exigem tentativa e erro para serem superados. A ausência de morte instantânea ajuda a amenizar a frustração desses momentos, mas não deixam de ser irritantes quando aparecem.

Em um estonteante mundo old school

Por se inspirar em clássicos, Gravity Circuit usa a temática retrô na ambientação. O visual em pixel art inspirado em gráficos 8-bits lembra um jogo de Game Boy Color com sua paleta de cores limitada, mas surpreende com cenários elaborados, elementos imensos, animações estilosas e uma sensação constante de velocidade. Destaco também as belas ilustrações que retratam os pontos principais da trama, que é mais complexa do que parece.


A trilha sonora acompanha a atmosfera clássica com faixas repletas de sintetizadores, samples eletrônicos e alguns poucos instrumentos reais. A música é pulsante e repleta de melodias memoráveis, como a excelente Theme of Kai - Gravity Circuit, o icônico jingle de apresentação de chefes e as trilhas de cada fase que reforçam suas atmosferas. O resultado é uma trilha sonora que consegue ser ao mesmo tempo retrô e contemporânea.

No aspecto de conteúdo, o jogo é uma experiência compacta, com 12 estágios que levam por volta de três horas para serem completados, um pouco mais se você for atrás de todos os segredos e conquistas. Depois de terminar a aventura uma vez, são liberados o modo difícil e uma modalidade que permite usar a vida como energia para os ataques especiais. A duração é correta e sem exageros, no entanto, senti falta de alguns modos extras — torço para que novidades apareçam no futuro.



Uma jornada sensacional

Gravity Circuit moderniza ideias clássicas de ação e plataforma 2D em uma aventura fenomenal. Seu maior trunfo está na agilidade: é fácil correr, pular e atacar inimigos enquanto tentamos evitar perigos diversos. Dominar as habilidades de Kai é essencial, pois os estágios nos desafiam com muitos trechos criativos e interessantes. A atmosfera retrô nos conquista com seus visuais em pixel art e trilha sonora recheada de sintetizadores.

A ação é intensa e acelerada, com muitos trechos complicados. Algumas partes são chatas por exigirem tentativa e erro, porém algumas mecânicas, como a ausência de morte instantânea, impedem que as coisas fiquem frustrantes. A jornada é breve, no entanto desafios adicionais nos incentivam a revisitá-la.

Com ritmo frenético, ótimos estágios e jogabilidade fluida, Gravity Circuit se mostra um plataformer excepcional e imperdível.

Prós

  • Jogabilidade ágil e precisa;
  • Grande variedade de movimentos e habilidades abrem muitas opções na hora de enfrentar os desafios;
  • Estágios criativos e interessantes cujo level design dosa bem momentos de combate, exploração e plataforma;
  • Visual retrô charmoso e fluido;
  • Trilha sonora pulsante e repleta de melodias memoráveis.

Contras

  • Alguns trechos são irritantes com saltos cegos e tentativa e erro;
  • Poucos extras.
Gravity Circuit — PC/PS4/PS5/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela PID Games

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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