Jogamos

Análise: Exoprimal (Multi) entrega muita ação em meio a uma execução deveras confusa

O shooter online da Capcom não é ruim, mas a forma como ele é apresentado gera muitas controvérsias.


Anunciado em março do ano passado, Exoprimal é a primeira grande investida da Capcom em um jogo como serviço, em um mercado que apresenta crescente demanda por este tipo de produto. No jogo, os jogadores assumem o papel de pilotos de exuberantes trajes mecânicos chamados de Exotrajes e devem lutar contra hordas de dinossauros para sobreviver aos impiedosos jogos de guerra de uma inteligência artificial que se tornou independente e deseja usar os combatentes para coletar dados.

Sim, essa premissa é bastante peculiar e pode até ser meio confusa. Na análise a seguir, falarei um pouco sobre como mergulhei nesse mundo para compreender a proposta da Capcom com Exoprimal. Adianto que ainda pode ficar um pouco confuso, mas, como vocês são mais espertos que um T-Rex raivoso, será fácil de entender.

Leviatã e o incidente de Bikitoa

O ano é 2043, e o mundo enfrenta uma estranha anomalia que provoca o surgimento repentino de dinossauros em diversas cidades do planeta. Para combater essa ameaça jurássica, a megacorporação Aibius conta com um seleto grupo de pilotos, os exocombatentes, que são capazes de controlar poderosas armaduras mecânicas chamadas de Exotrajes. Essas armaduras concedem habilidades sobre-humanas aos pilotos, permitindo que eles enfrentem os monstros pré-históricos.
A misteriosa ilha Bikitoa
No entanto, a causa da aparição dos dinossauros e a solução para essa situação estranha ainda são desconhecidas. O jogador assume o papel de Ace, um exocombatente recém-contratado pela Aibius e novo membro do esquadrão Tubarões Martelo. Durante uma missão de rotina sobrevoando a enigmática ilha de Bikitoa, onde se situava a antiga sede da Aibius, uma repentina aparição de um dos vórtices, que trazem os dinossauros, faz com que sua aeronave sofra um acidente e caia na ilha.

Esse incidente transporta Ace no tempo, levando-o de volta três anos no passado, para o ano de 2040, onde ele se vê involuntariamente participando dos Jogos de Guerra da inteligência artificial Leviatã. Por alguma razão desconhecida, a entidade está transportando exocombatentes de diferentes lugares e épocas para participarem dos jogos, que consistem em desafios de sobrevivência contra hordas descontroladas de dinossauros, visando coletar dados sobre o desempenho dos Exotrajes e seus pilotos.
A enigmática inteligência artificial Leviatã
Assim, inicia-se um eterno ciclo de combates enquanto Ace e sua equipe tentam desvendar o maior mistério da ilha Bikitoa: por que Leviatã está realizando esses jogos e qual é a sua intenção ao coletar os dados das batalhas? Essa é apenas uma das inúmeras perguntas que o jogador precisará responder para descobrir do que trata a história de Exoprimal.

Passado e futuro colidem

Exoprimal é um shooter online no qual duas equipes competem nos famigerados jogos de guerra de Leviatã. O jogo possui uma dinâmica de partidas PvPvE, o que significa que os jogadores das duas equipes precisam enfrentar tanto a ameaça dos dinossauros quanto batalhar entre si para decidir quem será o time vencedor.


O modo principal, atualmente o único disponível em Exoprimal, é o Sobrevivência Jurássica. Nesse modo, as partidas acontecem em duas etapas distintas. Na primeira etapa, as duas equipes se encontram no mesmo mapa, mas não interagem diretamente. Os exocombatentes devem completar missões o mais rápido possível para avançar para a próxima fase. Essas missões incluem derrotar uma quantidade específica de dinossauros ou defender pontos de ataques incessantes dos dinos.

A segunda etapa consiste em uma disputa direta entre as equipes, com uma nova série de missões. As tarefas incluem escoltar uma gigantesca chave de dados, coletar pontos no mapa, derrotar adversários para roubar seus pontos, avançar em determinadas seções do mapa antes da equipe rival, derrotar um dinossauro gigante em primeiro lugar, enfrentar uma nova leva de missões de sobrevivência contra os dinos, dentre outras que são escolhidas aleatoriamente pelo Leviatã conforme a história progride.

Eventualmente, com a história já alcançando capítulos mais avançados, somos levados a missões únicas roteirizadas com objetivos únicos, como enfrentar chefes ou então distrair o Leviatã para que um personagem da história execute uma tarefa alternativa dentro do mapa.

A ação no jogo é frenética desde o momento em que a primeira horda de dinossauros aparece até os momentos finais de cada partida, proporcionando uma experiência emocionante e rápida. A trilha sonora, em vários momentos, contribui para a sensação de adrenalina, complementando a jogabilidade satisfatória e veloz desenvolvida pela Capcom. Criticar o jogo nesse aspecto seria injusto, pelo menos na minha opinião. Ele pode ser fraco em outros pontos, que discutiremos no tópico seguinte, mas em relação à ação e aos “tiroteios jurássicos”, ele cumpre o que promete e eleva a experiência a um novo patamar.


O jogador tem à sua disposição dez Exotrajes distintos, cada um com especialidades únicas e classes definidas (ataque, tanque e suporte), possibilitando a montagem da equipe ideal para sobreviver aos ataques. Cada Exotraje pode ser personalizado tanto na aparência quanto no desempenho, por meio da obtenção de itens e moedas através dos Baús Bélicos, as lootboxes do jogo. Esses itens também são adquiridos ao subir de nível com cada traje, além do nível do jogador, o que também desbloqueia a compra de melhorias.

Felizmente, as aquisições feitas com dinheiro real se restringem a itens puramente estéticos. Dessa forma, os Exotrajes só podem se tornar mais fortes e aprimorados através da jogatina, dando uma isonomia ao balanceamento do jogo. Se você foi derrotado por um adversário mais forte, é porque ele é mais experiente que você e preparou seu Exotraje melhor que você.

O confuso ciclo de uma história elaborada

Dadas as devidas explicações sobre o funcionamento de Exoprimal, é hora de abordar um ponto delicado da experiência: a forma como o jogador interage com o mundo do jogo, especialmente a progressão e desenvolvimento da história. O roteiro se desenrola à medida que o jogador completa partidas no modo Sobrevivência Jurássica.

Na trama do jogo, sempre que Ace viaja para o passado para participar dos Jogos de Guerra, os Tubarões Martelo têm a oportunidade de coletar dados para desvendar o elaborado quebra-cabeças que leva à fuga do grupo de Bikitoa, onde estão presos.
Os Tubarões Martelo conseguem ser um grupo de personagens bem peculiar
Conforme avançamos nas partidas, a história se desenvolve, introduzindo mais personagens e revelando perguntas adicionais à intrincada trama de Exoprimal. Através de um fluxograma, é possível acompanhar todas as informações coletadas pelo grupo e, aos poucos, entender a história.

No entanto, o problema reside na forma como o roteiro é desenvolvido. É necessário realizar praticamente a mesma atividade repetidas vezes para que a história avance. Para aqueles que apreciam narrativas cheias de mistérios e surpresas, a história pode ser satisfatória. O problema está na lentidão do seu desenvolvimento.

Após horas de combate contra os dinossauros, a história avança apenas um pouco, apresentando versões alternativas de membros dos Tubarões Martelo. Duas horas depois, ainda lutando contra os dinos, conhecemos outro piloto de Exotrajes que tenta nos ajudar a descobrir como deter o Leviatã. Após mais quatro horas de tiroteios, descobrimos a existência de um traidor, e assim por diante.
O ritmo travado da narrativa nos faz ter pouco interesse na história
O fato de haver apenas um modo de jogo, com variações sutis nas etapas finais de cada partida, e a lentidão na progressão da história, tornam Exoprimal um produto, em geral, difícil de recomendar. A experiência fica dividida entre quem joga pela ação e quem busca se envolver na trama. É difícil conciliar ambos os interesses.

Talvez, com a adição já planejada de novos modos de jogo e variantes dos dez Exotrajes existentes, a experiência de jogo se torne mais interessante para aqueles que apreciam uma jogatina mais competitiva. Em agosto, as variantes Alfa dos Exotrajes, com modificações em seus modos de operação, serão lançadas.

Em outubro, com a chegada da Temporada 2, haverá uma colaboração com Street Fighter 6, e em janeiro de 2024, no lançamento da Temporada 3, as variações Beta dos trajes e a colaboração com Monster Hunter serão os destaques. Sendo assim, até o início do ano que vem o jogo já terá “maturado” um pouco mais.
O jogo já conta com um cronograma de conteúdo planejado até o início de 2024
Será um desafio segurar a atenção dos jogadores ou despertar um real interesse de mais pessoas até que o conteúdo de Exoprimal se torne mais amplo. Apesar de oferecer uma jogabilidade empolgante e viciante, em relação à história, mesmo não sendo ruim, sua progressão é muito lenta, o que desinteressa rapidamente aqueles que não estão tão focados na ação online, uma vez que para avançar na trama eles precisam jogar muito.

Assim como ocorreu com Street Fighter V, que só se destacou como um jogo realmente bom após alguns anos, Exoprimal talvez não tenha o mesmo luxo do principal título da desenvolvedora para conquistar o investimento, especialmente em relação ao tempo dos jogadores. A inclusão do jogo no catálogo do Xbox Game Pass desde o lançamento e o suporte total ao crossplay com PC e consoles contribuem para manter o jogo ativo, mas por quanto tempo ele conseguirá se sustentar até revelar seu verdadeiro potencial?

Risco de extinção

Exoprimal precisa superar desafios como a lentidão na progressão da história e quantidade de conteúdo para conquistar a confiança e o interesse dos jogadores a longo prazo. A disponibilização no Xbox Game Pass certamente atrai uma base de jogadores inicial, mas a retenção desse público dependerá da capacidade do jogo em entregar uma experiência cativante e atraente ao longo do tempo.


A expectativa de que o jogo se torne mais interessante com o lançamento de novos modos de jogo e variantes dos Exotrajes pode ser um ponto positivo, mas também é importante que a narrativa se desenvolva de forma mais dinâmica e envolvente. Além disso, a colaboração com outras franquias populares, como Street Fighter 6 e Monster Hunter, pode atrair novos jogadores e proporcionar uma maior variedade de conteúdo.

O suporte ao crossplay é uma vantagem significativa, pois amplia a base de jogadores potenciais, permitindo que amigos de diferentes plataformas joguem juntos. No entanto, a sustentabilidade do jogo dependerá da capacidade da desenvolvedora em manter uma comunicação próxima com a comunidade, ouvindo o feedback dos jogadores e implementando melhorias e novidades de forma constante.

Por fim, o sucesso a longo prazo de Exoprimal dependerá de como a Capcom abordará as questões levantadas pelos jogadores e como o jogo evoluirá com o tempo. Se a equipe de desenvolvimento conseguir abordar as deficiências atuais e continuar aprimorando o jogo com conteúdo relevante, atualizações e eventos, há uma chance de que Exoprimal possa revelar suas verdadeiras garras e se tornar uma experiência de jogo gratificante e duradoura. No entanto, apenas o tempo dirá se isso será alcançado.

Controversamente audacioso

Exoprimal é um jogo difícil de recomendar devido às suas propostas distintas em relação à jogabilidade e à experiência geral. A jogabilidade focada na ação é, indiscutivelmente, a melhor parte da experiência, proporcionando partidas cheias de adrenalina e situações empolgantes que ressaltam a importância do trabalho em equipe. A adição de novos conteúdos ao longo do ano determinará se a Capcom acertou novamente em 2023.

Por outro lado, o jogo também busca oferecer uma narrativa densa e elaborada, mas enfrenta dificuldades para se encaixar nessa proposta. Apesar de apresentar um roteiro interessante — depois que finalmente o compreendemos —, ele fica preso a uma trava de jogabilidade que pode impedir que exploremos um mundo que parece confuso, mas que, de alguma forma, faz sentido.

Prós

  • Jogabilidade conta com ação empolgante o tempo todo;
  • A variedade de Exotrajes permite uma constante experimentação para descobrir novas formas de jogar;
  • Suporte ao crossplay torna o ambiente online mais ativo.

Contras

  • A progressão da história é lenta, travada pela necessidade de realizar muitas partidas;
  • Grinding excessivo para obter as melhorias de cada Exotraje;
  • Choque de propostas entre a jogabilidade competitiva com a narrativa do jogo o tornam um produto difícil de recomendar;
  • A ausência de outros modos de jogo no período de lançamento cria desinteresse e não agrega valor ao produto.
Exoprimal — PC/PS5/PS4/XSX/XBO — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google