Chapolim x Drácula (Master System): o polegar vermelho da TV entre monstros, caixões e vampiros

Relembre a aventura do herói mexicano para o Master System, adaptado pela brasileira Tec Toy a partir de um horror game japonês.

em 16/06/2023
No início dos anos 1990, o mercado brasileiro de videogames passava por uma transição de gerações: novos consoles de 16-bit estavam sendo apresentados ao público já acostumado às maravilhas de seus Master Systems e Famiclones.


Mesmo diante deste cenário, a demanda por videogames da geração 8-bit persistiu por um bom tempo, e as fabricantes buscavam formas de “esticar um pouquinho mais” a vida útil de seus produtos, apesar da diminuição do desenvolvimento de novos jogos para estas plataformas no exterior.

A Tec Toy, distribuidora oficial dos videogames da SEGA no Brasil, tomou algumas medidas interessantes para manter o interesse do público em seu videogame de 8-bits, à época líder de vendas no país: a criação e lançamento tanto de novas versões do Master System (versões temáticas e que já incluíssem jogos na memória) quanto de jogos com personagens e histórias que agradassem ao público local.

Foram lançados games de programas infantis e desenhos queridos pelos brasileiros, tais como Sítio do Picapau Amarelo, Turma da Mônica e Turma do Pica-Pau; em relação a estas iniciativas, um dos primeiros jogos produzidos por parte da Tec Toy envolveu a criação de um jogo para o super-herói mexicano mais cheio de astúcia da TV, enfrentando um desafio pra lá de terrível: em 15 de fevereiro de 1993 era lançado Chapolim x Drácula: Um Duelo Assustador.

Sigam-me os bons!

Em Chapolim x Drácula, o jogador controla o herói mexicano nas mansões mal-assombradas dos Dráculas, enfrentando morcegos, mortos, criaturas que cospem fogo, múmias, entre outros seres macabros. Para enfrentá-los, Chapolim pode dar socos nos inimigos, pular sobre eles ou, após coletar sua marreta biônica pelo cenário, dar boas cacetadas nos monstrengos.

Os inimigos, quando derrotados, podem deixar cair chaves pelo cenário, que são utilizadas por Chapolim para abrir os caixões em que estão dormindo tranquilamente os Dráculas. No total, são cinco vampirões por cenário, sendo que quatro são “aprendizes” e apenas o último é o verdadeiro.

Ao derrotar cada Drácula, uma pedra preciosa é coletada. Após juntar cinco destas pedras, um portal mágico é aberto e, passando pelo mesmo, Chapolim é transportado para o próximo desafio em outra mansão, mais difícil que o anterior.

Nos cenários também são encontradas escadas que levam Chapolim a níveis superiores ou inferiores; janelas pretas que servem como passagem secreta entre partes da mansão; teias de aranha que grudam o herói e impedem seu movimento; lâmpadas que deixam os inimigos atordoados temporariamente; e diversos outros itens que podem ajudar ou retardar o jogador em sua jornada. As mansões se diferenciam pela disposição dos itens, quantidade de inimigos e pela sua coloração.

Uma adaptação “friamente calculada”

A aventura de Chapolim no Master System é uma adaptação autorizada de um jogo japonês da SEGA chamado Ghost House, lançado em 1986. Na aventura nipônica, quem sai em busca dos Dráculas nas mansões é Mick, um jovem caçador de vampiros que, assim como Chapolim, quer eliminar todos os vampiros de cada mansão mal-assombrada. 

As modificações realizadas pela Tec Toy no game foram todas voltadas à inserção de Chapolim no jogo: os inimigos, a ambientação, a música e os objetivos são iguais ao do jogo original, tendo sido modificados o personagem principal, sua arma (marreta biônica em vez de uma espada), indicadores de vida e energia em português na tela, além das telas iniciais e de game over, que apresentam caracterização do personagem mexicano.

Apesar de não haver uma confirmação oficial, há a possibilidade de que a criação da temática do jogo (ou a escolha do jogo-base a ser adaptado) possa ter sido inspirada por um episódio de Chapolin Colorado em que o herói enfrenta um vampiro.

Chapolim com ‘M’?

Você, leitor que já assistiu às aventuras do polegar vermelho na TV, pode estar estranhando o fato de que neste jogo a escrita do nome do personagem é com ‘M’ no final... Palma, palma, não priemos cânico!

Diferentemente do seriado dublado, que usa a grafia parecida à mexicana (Chapolin Colorado / El Chapulín Colorado), a Tec Toy decidiu usar o nome com ‘M’ no final assim como outras obras autorizadas fora da TV também foram batizadas, como o gibi da Editora Globo de 1991 (Chapolim e Chaves).

Nos três casos (seriado dublado, mídia impressa e videogames), Roberto Gómez Bolaños, criador do personagem, autorizou as adaptações; então, seja com ‘N’ ou ‘M’, “não priemos cânico”, pois são todos oficiais.

Gosto de quero mais

Para outros jogos de 1993, mesmo os de Master System, Chapolim x Drácula: Um Duelo Assustador não apresentava grande variedade de cenários e recursos gráficos, além de ser um jogo relativamente curto. Isso deve-se tanto ao fato de ser uma adaptação de um jogo desenvolvido no começo do ciclo de vida do Mark III (console japonês de 1985 que serviu de base para o Master System lançado internacionalmente) quanto pelo fato do jogo original ter sido lançado inicialmente no formato Sega Card.


As primeiras versões do Master System e do Mark III aceitavam jogos tanto em formato de cartuchos quanto por meio de pequenos cartões plásticos, conhecidos como Sega Cards. Tratava-se de um formato de mídia mais compacto e econômico do que os cartuchos, mas que tinha um inconveniente: a possibilidade de armazenamento de dados em um Sega Card era bem menor do que a de um cartucho, em torno de 25% da capacidade deste último.

Um efeito colateral do desenvolvimento de Ghost House no formato Sega Card é que, tendo menos espaço de armazenamento, menos informações, itens, gráficos e conteúdo puderam ser introduzidos no jogo.

A SEGA abandonou a produção de Sega Cards em 1987, focando apenas na distribuição dos jogos por meio de cartuchos.

Legado

A experiência da Tec Toy na adaptação de jogos para o gosto nacional prosseguiu nos anos seguintes após a experiência com Chapolim X Drácula, e conforme seus engenheiros e técnicos progrediram nas habilidades de programação para consoles, outros jogos foram adaptados e alguns até mesmo criados do zero, como foi o caso da versão nacional para Master System de Street Fighter II e do jogo Férias Frustradas do Pica-Pau, disponível para Master System e Mega Drive. Aqui no GameBlast você pode conhecer um pouco mais sobre esses jogos no texto disponibilizado por esse link.

Quanto às propriedades intelectuais de Roberto Gómez Bolaños no mundo dos games, anos depois foram desenvolvidos mais jogos baseados no universo de seu outro “filho querido”, El Chavo (Chaves), sendo Chapolin Colorado (agora com ‘N’) um dos personagens jogáveis em Chaves Kart (X360/PS3) a partir de uma atualização feita em 2014 pela desenvolvedora do game.

Outras obras mais recentes prestaram homenagens ao polegar vermelho da TV: a EA Sports liberou, em uma atualização do jogo FIFA 20 (Multi), um uniforme especial de Chapolin Colorado para utilização no modo FUT, e em Fortnite: Battle Royale (Multi), desde 2021 Chapolin é uma das skins de personagem disponíveis.

Agora, se o que você procura mesmo é uma aventura horripilante de um herói mais rápido que uma tartaruga e mais forte que um rato contra vampiros e monstros, não tem jeito: é hora de ligar seu Master System e curtir o eterno duelo do Chapolim (com ‘M’) contra o Drácula.

Revisão: Davi Sousa

Entendo videogames como sendo uma expressão de arte e lazer e, também, como uma impactante ferramenta de educação. No momento, doutorando em Sistemas da Informação pela EACH-USP, desenvolvendo jogos e sistemas desde 2020. Se quiser bater um papo comigo, nas redes sociais procure por @RodrigoGPontes.
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