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Análise: Everdream Valley (Multi) é uma aventura fofinha que se esforça muito para ser boa

Algumas decisões criativas deixam este jogo de fazendinha no meio termo entre o chato e o tolerável.


Deixando de lado as experiências intensas de jogos que examinei no mês de maio, na análise de hoje decidi desfrutar de umas férias no campo com um jogo mais sereno. Em Everdream Valley, temos a chance de desfrutar de alguns momentos agradáveis explorando paisagens encantadoras, interagindo com animais adoráveis e cuidando da nossa plantação. O que poderia dar errado nesse cenário, não é verdade? Vamos descobrir a seguir.

Férias na fazenda

Em Everdream Valley, assumimos o papel de um(a) jovem que decidiu passar as férias de verão com seus avós na fazenda. Com altas expectativas de momentos divertidos, a realidade é que a propriedade já teve dias melhores quando o casal que reside lá era mais jovem.


Ao chegar, deparamo-nos com vegetação alta, uma horta modesta, apenas alguns animais que ainda não fugiram, cercas quebradas e lixo espalhado por toda parte. Vovô e vovó já não conseguem administrar a fazenda com o mesmo cuidado e dedicação de antes, então cabe a nós ajudá-los a transformar o local em um belo lar para o casal e os animais.

Nosso objetivo é resolver todas essas questões que estão causando a aparência de abandono e transformar o lugar em um ambiente acolhedor, bonito e próspero novamente. Assim, começa a nossa grandiosa tarefa de tornar isso uma realidade, exigindo muito tempo, esforço e paciência.

Risco de procrastinação à frente

Everdream Valley é mais um dos jogos de simulação conhecidos como "jogos de fazenda". Nosso objetivo é completar missões que desbloqueiam melhorias, como ferramentas para construção e reparos de estruturas, além de outros objetivos que nos incentivam a explorar o amplo mapa do jogo. Diferente de outros jogos do mesmo gênero, o foco principal aqui não está no gerenciamento da fazenda, mas sim na interação com o mundo ao nosso redor.

Explicando melhor: desde o momento em que assumimos o controle do nosso avatar, somos livres para explorar o mapa como desejarmos, com a única restrição sendo locais inacessíveis devido a barreiras físicas ou obstáculos, como uma ponte quebrada, paredões de pedra ou o mar.


No entanto, eis a faca de dois gumes do jogo: a liberdade para fazer o que quisermos. Embora tenhamos missões que nos ajudem a entender algumas mecânicas, como construir e reparar estruturas, cuidar dos animais, entre outras coisas, essas tarefas não são estritamente obrigatórias e não impedem o jogador de, por exemplo, sair para capturar borboletas.

É importante ressaltar que as missões desbloqueiam elementos importantes para facilitar a exploração e o progresso no jogo, mas não são obrigatórias assim que são atribuídas a nós. Em outras palavras, podemos realizá-las quando desejarmos ou até mesmo ignorá-las completamente, dependendo da situação.

Ruim pelos motivos certos e bom pelos motivos errados

Tornar a propriedade próspera e livrá-la da aparência de abandono com a qual começamos o jogo é algo que exigirá bastante tempo e, principalmente, paciência. Algumas das missões são extremamente monótonas, principalmente aquelas que envolvem recuperar os animais que fugiram da fazenda.

Os controles pouco responsivos, a música genérica e repetitiva, os menus pouco intuitivos e a falta de uma mecânica de viagem rápida para deixar nossas andanças pelo mapa mais ágeis contribuíram para que eu não gostasse tanto do jogo como pretendia. Afinal, para alguém que cresceu jogando Harvest Moon e seus “clones”, esta foi uma das experiências mais abaixo da média que joguei até hoje.


Houve momentos em que preferi deixar o jogo de lado por um tempo e fazer outra coisa, pois as atividades exigidas pelo enredo eram entediantes. Trazer as ovelhas de volta para a fazenda é apenas um exemplo de uma tarefa aparentemente simples, mas mal executada.

Enquanto algumas atividades são agradáveis de realizar, como coletar madeira e transformá-la em tábuas para construção, ou cortar a vegetação e secá-la para obter feno, outras são desinteressantes ou tediosas, como a busca pelos animais fugitivos e o trabalho na horta. Como em todo jogo desse gênero, sempre haverá atividades mais divertidas do que outras.

A exploração, algo que geralmente não é o ponto forte desse tipo de jogo, foi o aspecto que mais me estimulou durante a minha jogatina em Everdream Valley. Para tornar minhas sessões mais produtivas, decidi alternar entre concluir uma ou duas missões e explorar uma região específica do mapa. Essa abordagem me ajudou a tornar o jogo mais agradável, por assim dizer.


Outro detalhe que diferencia Everdream Valley são os minijogos que surgem durante a noite, quando vamos dormir para nos preparar para o dia seguinte, sempre que um novo animal é adicionado à fazenda. São pequenas atividades, como assumir o papel do cão e espantar os lobos dos arredores da fazenda ou encarnar o gato para perseguir um ratinho encrenqueiro. Essas atividades esporádicas quebram um pouco a rotina e adicionam um toque adorável ao jogo.

Por outro lado, a experiência do usuário nos menus deixa muito a desejar, especialmente quando se joga apenas com um controle. Como joguei a versão para console, acredito que a interface dos menus tenha sido projetada principalmente para aqueles que jogam no PC, usando mouse e teclado.

No menu de itens, por exemplo, há muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, com alguns atalhos que ajudam no gerenciamento, mas ainda assim é um tanto desconfortável de usar, especialmente quando já temos muitos itens no inventário. Não há opção de descartar itens, então a única maneira de se livrar de algo e ganhar espaço é vendê-lo, mesmo que seja algo menos útil, como lixo.


Outros detalhes, como cuidar dos animais para que não fiquem doentes e parem de produzir, também deixaram a desejar em comparação com o que normalmente é apresentado nesse tipo de jogo. Depois de aprendermos a fazer remédios para os animais, mesmo que fiquem doentes por algum motivo, eles não chegam a morrer, o que elimina a sensação de urgência.

Com base nesses e outros detalhes, posso dizer que Everdream Valley consegue ser minimamente interessante devido a alguns aspectos, como a exploração, que vão além de sua proposta original. Enquanto os pontos que deveriam ser o ponto forte da experiência, como a administração da fazenda, são os menos agradáveis de se vivenciar durante o jogo.

Mesmo que tenha demorado um pouco mais para explorar livremente o mapa do jogo, preferiria estar "preso" às atividades da fazenda antes de ser apresentado a um mundo cheio de coisas para ver. É natural que esse tipo de jogo limite você a uma atividade antes de atribuir outra. Faltou uma organização na forma como as atividades de Everdream Valley são apresentadas.

Enquanto ordenhava Cornelia, a vaca, eu pensava no tal moinho e na bendita pedra de moer que o vovô mencionou estar perdida por aí, esperando para ser encontrada. É como comer a sobremesa antes do jantar. Você perde o interesse na comida pois já experimentou o doce.

Saudades do que a gente não viveu na fazenda

Everdream Valley possui seu charme e alguns poucos méritos, especialmente em aspectos que não são os esperados para um jogo desse gênero. A exploração do mapa e a liberdade de ação se destacam, contrastando com o que se esperava ser o foco principal do jogo: a administração da fazenda. Se você está procurando por uma experiência rural nos moldes de outros títulos com essa temática, infelizmente, este jogo não é uma boa opção.

Prós

  • A direção de arte apresenta um mundo fofinho e carismático;
  • Um grande mapa para explorar;
  • Atividades não relacionadas à fazenda são mais interessantes.

Contras

  • As missões relacionadas à administração da fazenda são desinteressantes;
  • Controles pouco responsivos;
  • Trilha sonora limitada que se torna “enjoável” rapidamente;
  • A experiência de usuário nos menus é desagradável;
  • Ausência de uma mecânica de viagem rápida para deixar a exploração mais ágil;
  • Tradução em português com alguns erros bobos e pontuais.
Everdream Valley — PC/PS5/PS4 — Nota: 5.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise feita com cópia digital cedida pela Untold Tales

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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