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Análise: Monster Menu: The Scavenger's Cookbook (Multi): quando a fome aperta, qualquer tranqueira vira alimento

Para sobreviver, derrote monstros e os transforme em comida.

A Nippon Ichi Software é uma empresa que possui uma vasta biblioteca de RPGs, com muitos deles apresentando ideias diferentes do que comumente encontramos no gênero. A surpresa da vez é Monster Menu: The Scavenger's Cookbook, título que mistura elementos de dungeon crawler e roguelite para trazer uma inusitada aventura gastronômica.

Uma masmorra para iniciantes?

Logo de cara, somos convidados a criar um personagem e, embora devamos escolher entre oito figuras já existentes, podemos personalizá-lo ao nosso modo, mudando características como cabelo, tamanho, cor, acessórios e classe. Apesar de não existir uma variedade tão grande de modelos, fiquei satisfeito com as possibilidades oferecidas.

Nosso recém-criado herói, então, começa a explorar uma masmorra para iniciantes. Tragicamente, essa aventura acaba não dando muito certo e o protagonista fica perdido, com fome e com sede. Com alguns dias já passados, quando parecia não haver mais luz no fim do túnel, encontramos um cadáver de um monstro e entendemos que comê-lo pode ser a nossa salvação.




Após comer, vomitar e desmaiar, o aventureiro desperta em um acampamento e encontra outros três sobreviventes (que também podemos personalizar à vontade). Juntos, essas quatro pessoas precisam encontrar uma forma de sobreviver, desvendar os mistérios e escapar desse estranho local. 

A história sobre o que está por trás da dungeon é contada, principalmente, por meio das descrições dos itens e de relatos que encontramos de aventureiros anteriores, não havendo qualquer diálogo entre os personagens. Essa decisão acaba criando certo mistério, mas também deixando o enredo menos imersivo. Somado a isso, o jogo não apresenta legendas em português, o que pode acabar desencorajando a leitura.

Não se discute com a fome!

Em Monster Menu, o jogador deve se preocupar com a fome e a sede dos personagens, pois qualquer ação, como andar, correr e atacar, aumenta essas necessidades, que, quando extremas, podem resultar em morte. Para evitar essa triste situação, temos o sistema de culinária, que também possui um papel fundamental durante as batalhas e pode ditar o ritmo do nosso sucesso na exploração.

Para sobreviver, podemos comer qualquer tipo de coisa, de pedras e insetos a carnes suculentas. Além de serem a nossa fonte de calorias e hidratação, cada tipo de alimento fornece atributos diferentes para os personagens, como ataque, defesa e velocidade, além de variados bônus e efeitos passivos.

Para criar novas formas de comida, encontramos receitas durante a exploração ou misturamos os materiais manualmente para descobrir novas fórmulas. Em se tratando de alimentos, o perecimento está presente e nos obriga a ter cuidado com o tempo para evitar que nossos preciosos recursos estraguem.

Essa mecânica de preparar refeições é o que há de mais rico e divertido em The Scavenger's Cookbook, permitindo que o jogador realize diversas ações diferentes, como cortar, assar ou cozinhar. As possibilidades de benefícios são imensas e geram resultados que, muitas vezes, são mais perceptíveis do que os níveis e equipamentos.

Os diferentes tipos de alimentos ainda diminuem ou aumentam a felicidade dos heróis, impactando diretamente nos outros status, pois, conforme a alegria cai, os valores de atributos diminuem. Outro detalhe que merece destaque é a função de censurar algumas comidas que utilizam ingredientes “estranhos”, como olhos e larvas. Essa funcionalidade pode ser ativada e desativada a qualquer momento nas configurações.

Monster Menu ainda possui um sistema de crafting interessante, mas que é muito limitado se comparado ao de alimentos. Ainda assim, muitos objetos importantes podem ser fabricados, como kits de reparação de equipamentos e utensílios que aumentam ainda mais as possibilidades de preparo das refeições, como panelas e frigideiras. 

Exploração totalmente sem gosto

A jogabilidade durante a exploração assume as características de um dungeon crawler no qual navegamos livremente por um cenário 3D enquanto a visualização do mapa é revelada a cada passo. Os ambientes são divididos em sessões de dez andares, com um chefe aguardando a cada dezena.

Em cada andar, encontramos recursos gerados aleatoriamente, como equipamentos e ingredientes, além de diversos inimigos e uma escada que nos leva para o próximo setor. Em alguns momentos, também nos deparamos como uma espécie de altar que fornece alguns efeitos diferentes, como o aumento de atributos, o fortalecimento dos inimigos ou a ressurreição de um personagem. Para utilizar essa ferramenta, gastamos pontos específicos adquiridos ao vencermos as batalhas.




Ao chegar ao ponto de acesso para a próxima camada, temos a possibilidade de voltar à base para descansar, preparar alimentos e utilizar o sistema de crafting. Além de servirem para recuperar as energias, essas pausas são importantes para verificar o que continuará no inventário, pois o jogador também precisa lidar com a capacidade máxima da bolsa de itens. Extrapolar o limite de carregamento deixa a nossa caminhada lenta, o que se torna uma oportunidade para os monstros nos pegarem de surpresa e receberem turnos de vantagem nas lutas.

Infelizmente, as áreas não são muito inspiradas, com as mudanças visuais se destacando muito mais nas cores usadas do que na geografia do ambiente. Assim, por diversas vezes, a impressão que fica é a de que estamos repetindo o exato mesmo cenário que já visitamos anteriormente. Para piorar, não há nada que desperte a curiosidade ou interesse nesses momentos de aventura, como obstáculos ou locais trancados, sendo apenas um constante ciclo de andar, coletar itens, derrotar criaturas e ir para a escada.

Batalhas com pouco sabor

Os confrontos em Monster Menu: The Scavenger's Cookbook não possuem melhor sorte que a exploração. A abordagem escolhida neste caso foi a de um RPG tático por turnos, no qual caminhamos e atacamos em um cenário que se assemelha a um tabuleiro. Somado a isso, há elementos do roguelite, pois, sempre que nosso protagonista morre, retornamos ao primeiro andar da dungeon. Além disso, perdemos a maioria dos recursos adquiridos e os personagens têm os seus níveis reiniciados, permanecendo no inventário apenas os equipamentos para as próximas tentativas.

Os combates se iniciam quando encostamos em um inimigo, com a vantagem pertencendo a quem surpreendeu o outro pelas costas, e a transição entre a exploração e a luta é imediata e acontece no mesmo local. Além disso, não precisamos escolher uma opção de menu para andar e podemos movimentar livremente o personagem nas casas disponíveis. Nesse sentido, essas duas características são elogiáveis e tornam os confrontos mais rápidos e dinâmicos.

Vencer as batalhas nos recompensa com os itens que podem ser usados como ingredientes para os pratos mais elaborados ou comidos diretamente. Também recebemos equipamentos, pontos de experiência que aumentam os níveis dos personagens e pontos que podem ser usados nos já mencionados altares.

Embora não haja grandes problemas, o sistema de batalhas de The Scavenger's Cookbook é muito pobre se comparado a outros bons jogos do gênero, como o ótimo God Wars ou os títulos da série Disgaea, ambos publicados pela própria NIS (isso para não ser injusto e citar obras mais conceituadas como Final Fantasy Tactics, Tactics Ogre ou a franquia Fire Emblem). 

Em Monster Menu, cada classe e tipo de arma fornece habilidades próprias que vão sendo adquiridas com o tempo. Além disso, o já mencionado sistema de culinária permite certa customização dos atributos dos exploradores.

No entanto, não há grandes possibilidades de criação de builds, variações táticas e mistura de classes como nos exemplos acima mencionados. Ainda que Monster Menu apresente uma excelente variedade de efeitos passivos, o número de habilidades de ação e equipamentos é muito limitado.

Também incomoda o fato de como os inimigos possuem um padrão de dificuldade muito semelhante durante os nove andares, enquanto o chefe da décima camada apresenta um poder exageradamente superior, mesmo nas dificuldades mais baixas de jogo e quando nossos personagens estão em níveis maiores que o seu. Por esse motivo, somos obrigados a repetir o processo de escalada algumas vezes, até que tenhamos a sorte de adquirir equipamentos mais fortes ou consigamos melhor gerenciamento dos alimentos e atributos recebidos com eles.

Derrotar um boss permite que, a partir da base no primeiro andar, voltemos diretamente para a camada posterior a ele. Apesar disso, esse aspecto só é efetivo em momentos mais avançados do jogo, pois nas primeiras corridas é praticamente impossível sobreviver nos andares mais altos com os personagens estando no nível um.

Se muitos roguelites proporcionam uma punitividade divertida, definitivamente não é o caso de Monster Menu, pois repetir os mesmo ambientes sem graça é uma tarefa cansativa e monótona. Isso seria mais fácil de ignorar se o jogo possuísse características mais únicas nos confrontos, o que também não é o caso. Por todos esses fatores, a nossa progressão se torna extremamente lenta e requer muitas horas de repetição.

Um arroz com feijão bem-feito, mas quase sem complementos

Para aqueles que desejam conhecer títulos do gênero RPG, seja a vertente estratégica, o roguelite ou o dungeon crawler, há opções no mercado mais amistosas e convidativas para iniciantes. Já para aqueles que são amantes desses gêneros, principalmente o último, Monster Menu: The Scavenger's Cookbook faz um arroz com feijão bem-feito, com o sistema de culinária sendo o único grande incremento e o maior ponto de destaque.

Infelizmente, o novo jogo da Nippon Ichi Software apresenta o básico do que o gênero de RPGs táticos tem a oferecer e se limita a isso, não introduzindo nenhum aspecto que o faça ser memorável. A exploração realizada em cenários sem alma também não se destaca positivamente, tornando a repetição algo muito mais frustrante do que apreciativo.

Prós:

  • O sistema de culinária é incrivelmente rico e fornece uma imensa gama de opções ao jogador;
  • Possibilidade de customizar a aparência dos personagens;
  • Os combates são ágeis e dinâmicos;
  • O enredo contado a partir das descrições de itens cria certo mistério;
  • No geral, o jogo não possui falhas gritantes e executa com efetividade o básico de vários gêneros.

Contras:

  • A exploração é limitada por cenários sem inspiração e repetitivos;
  • As batalhas táticas por turnos não oferecem nada de novo ou diferente e executam apenas o mais básico dentro do gênero;
  • A ausência de diálogos entre os personagens e a história pouco imersiva podem afastar algumas pessoas;
  • A progressão do jogador é lenta e requer muita repetição;
  • Não é um jogo convidativo para iniciantes, mesmo nas dificuldades mais baixas;
  • Ausência de legendas em português.
Monster Menu: The Scavenger's Cookbook — PS4/PS5/Switch — Nota 6.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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